Bem, a verdade é simples: as atuais eleições destroem o humor e a sanidade de qualquer pessoa.
Infelizmente, devido a estratégias baseadas em polarização, não há mais como debater. O que temos são apenas conjuntos de monólogos
O culpado disso foi, como já era de se esperar, o PT.
Durante muitos anos, o PT se baseou em campanhas polarizadas, desumanizando seus adversários, e mesmo quem os apoiava.
Era questão de tempo até que aparecesse um adversário que utilizaria as mesmas estratégias.
E fez isso de modo muito melhor que o PT.
Mas não se engane, caro leitor, qualquer que seja o vencedor, a contagem dos votos não vai encerrar a disputa.
Nossa paciência e sanidade terão de se segurar durante muito tempo.
Este blog tem como propósito sincero esclarecer as notícias e novidades sem confundir.
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
sexta-feira, 8 de junho de 2018
Mais valia mais uma vez...
É impressionante...
As pessoas caem nas mesmas histórias absolutamente toda vez. A de sempre, é claro, é sobre a mais valia.
Essencialmente, as pessoas leem e não pensam. Bem, a verdade é que não fazem perguntas...
Vamos a um dos ofensores mais repetidos: Operário em Construção de Vinícius de Moraes:
Vamos ao texto:
"Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção."
Aqui cabem algumas colocações, sendo a primeira a mais óbvia: é nessa lógica que a maioria dos não iniciados aprende sobre mais valia.
Vamos ao mais óbvio em seguida: este poema foi escrito por alguém que se encaixava com tranquilidade na descrição dos 0.1% mais ricos do país. Uma pessoa educada, viajada, e com círculo de amizades na elite do país. Esta pessoa não era, sob qualquer definição da palavra, um proletário.
Bem, e aí vamos ao menos óbvio: as matérias primas são transformadas em bens e serviços por um número enorme de pessoas. A enorme maioria destas recebe compensação pelo trabalho realizado na forma de um salário ou benefício.
Se o mesmo é justo ou não, talvez seja motivo para debate. Mas o fato é que não há apenas um trabalhador responsável. O tijolo, o pão e a manufatura são feitos através de uma cadeia de produção. E esta inclui empresários (alguém que arranja o dinheiro para comprar a matéria prima para o bem em questão). A matéria prima para manufatura, assim como trabalho da manufatura, não surge do nada sem custo associado.
E naturalmente, há a questão dos equipamentos necessários para produção dos bens. Ao contrário do que é dito, os mesmos tem um custo associado. Mesmo o camarada do tijolo precisa da pá, da colher, do forno, do combustível e do local para realizar o processo de manufatura. Nada disso é grátis.
E claro, há a figura do patrão. Aqui ele se comporta mais como um antagonista ao operário do que alguém que cuida para que o processo funcione. Isso pode ser legal em narrativas de bem contra o mal, mas não corresponde ao real (lembro ao leitor, que este papel é, por vezes, atribuído ao Estado - que por sua vez age como representante do povo, do qual faz parte o próprio operário).
E, não menos importante, há a questão da demanda pelo bem manufaturado. É o problema da venda, que como qualquer vendedor pode confirmar é, em grande parte, aleatório. As pessoas podem ou não comprar o bem.
Claro que há desculpas: a narrativa é mais alegórica do que real, o poema trata da classe trabalhadora como um todo colocando um operário como protagonista... e assim por diante. Porém, mesmo usando alegorias e tudo mais, a conta não fecha.
E é isso que realmente importa: para haver lucro a conta tem de fechar. O preço de venda tem que levar em conta o trabalho do operário, os equipamentos envolvidos, o custo da matéria prima e a incerteza da venda.
O poema tem beleza. Mas não é uma descrição da realidade.
As pessoas caem nas mesmas histórias absolutamente toda vez. A de sempre, é claro, é sobre a mais valia.
Essencialmente, as pessoas leem e não pensam. Bem, a verdade é que não fazem perguntas...
Vamos a um dos ofensores mais repetidos: Operário em Construção de Vinícius de Moraes:
Vamos ao texto:
"Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção."
Aqui cabem algumas colocações, sendo a primeira a mais óbvia: é nessa lógica que a maioria dos não iniciados aprende sobre mais valia.
Vamos ao mais óbvio em seguida: este poema foi escrito por alguém que se encaixava com tranquilidade na descrição dos 0.1% mais ricos do país. Uma pessoa educada, viajada, e com círculo de amizades na elite do país. Esta pessoa não era, sob qualquer definição da palavra, um proletário.
Bem, e aí vamos ao menos óbvio: as matérias primas são transformadas em bens e serviços por um número enorme de pessoas. A enorme maioria destas recebe compensação pelo trabalho realizado na forma de um salário ou benefício.
Se o mesmo é justo ou não, talvez seja motivo para debate. Mas o fato é que não há apenas um trabalhador responsável. O tijolo, o pão e a manufatura são feitos através de uma cadeia de produção. E esta inclui empresários (alguém que arranja o dinheiro para comprar a matéria prima para o bem em questão). A matéria prima para manufatura, assim como trabalho da manufatura, não surge do nada sem custo associado.
E naturalmente, há a questão dos equipamentos necessários para produção dos bens. Ao contrário do que é dito, os mesmos tem um custo associado. Mesmo o camarada do tijolo precisa da pá, da colher, do forno, do combustível e do local para realizar o processo de manufatura. Nada disso é grátis.
E claro, há a figura do patrão. Aqui ele se comporta mais como um antagonista ao operário do que alguém que cuida para que o processo funcione. Isso pode ser legal em narrativas de bem contra o mal, mas não corresponde ao real (lembro ao leitor, que este papel é, por vezes, atribuído ao Estado - que por sua vez age como representante do povo, do qual faz parte o próprio operário).
E, não menos importante, há a questão da demanda pelo bem manufaturado. É o problema da venda, que como qualquer vendedor pode confirmar é, em grande parte, aleatório. As pessoas podem ou não comprar o bem.
Claro que há desculpas: a narrativa é mais alegórica do que real, o poema trata da classe trabalhadora como um todo colocando um operário como protagonista... e assim por diante. Porém, mesmo usando alegorias e tudo mais, a conta não fecha.
E é isso que realmente importa: para haver lucro a conta tem de fechar. O preço de venda tem que levar em conta o trabalho do operário, os equipamentos envolvidos, o custo da matéria prima e a incerteza da venda.
O poema tem beleza. Mas não é uma descrição da realidade.
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