Vi uma palestra famosa do
TED de
Sir Ken Robinson
Nela, o palestrante afirma que as escolas estão matando a criatividade.
Não concordo muito com isso não. Creio que ele mostra uma simplificação de um processo muito complexo: o processo educacional.
Mas eu quero que o leitor perceba alguns pontos:
- A questão da estigmatização do erro é muito mais penetrante na sociedade do que foi mostrada (não é só na escola, mas na sociedade como um todo). A idéia que todos devem ter espaço para erros é muito bonita, mas tem furos graves. Que um exemplo que desmonta o argumento? A crise econômica de 2008, que foi causada por uma série de erros de pessoas muito inteligentes e supostamente criativas. Errar é permitido, desde que não faça uma caca gigantesca! Então temos de ter mais cuidado, pois erros de proporções globais são caros e custam não só dinheiro, mas vidas.
- Identificar exemplos específicos, de sucesso ou fracasso de pessoas que saíram fora do sistema tradicional de ensino (como ele fala de Gillian Lynne) não validam ou invalidam o sistema existente. O que estas pessoas provam é que o sistema não funciona bem para todos. E esta é uma falha inerente a um sistema que tenta ser universal.
Ou seja, não concordo com tudo que ele diz, mas ele definitivamente levanta alguns pontos importantes. E neles é que vou me concentrar.
A primeira coisa que temos que entender é que a escola, seja ela boa ou ruim, tem como objetivo educar, segundo um currículo pré-determinado, os seus alunos. O que significa educar neste caso?
De modo simples, "educar" é fazer com que os alunos passem a ter algum grau de proficiência nos tópicos que são ministrados. O grau de proficiência mínimo é determinado pela escola, por orgãos superiores ou coisa que valha.
A partir da definição deste grau de proficiência é que as coisas passam a ficar complicadas.
A primeira barreira é: nem todo mundo tem facilidade para aprender os tópicos que se deseja ensinar. Isso por si é um tremendo problema, pois alguns terão graus diferentes de dificuldade no aprendizado deste ou daquele tópico. E nisto não estamos incluindo o efeito de professores ruins, ou de métodos defasados.
E aí vem um dos grandes problemas: em um sistema que se deseja ser universal, estas discrepâncias irão levar a tratar os alunos de forma uniforme e mais ou menos homogênea - promovendo o que chamamos de mediocridade (mas que é na realidade uma palavra que virou estigma -
medíocre significa mediano).
Claro, não é possível que todos estejam acima da média! Aliás,
para termos pessoas acima da média,
temos de ter pessoas abaixo da média. Então já aí começa uma tendência esquizóide da educação:
não é possível educar para que todos sejam acima da média (para ser mais exato a palavra deveria ser mediana).
Isso é intrínseco ao sistema.
Mas o problema ainda é mais complexo.
No caso, a maior dificuldade para um tratamento educacional individualizado é justamente uma das características do sistema: massificação. Ao decidirmos levar a educação para as massas, torna-se impraticável justamente o acompanhamento individualizado.
Então o processo toma forma de uma escolha: como não é possível atender a 100% dos alunos, passa-se a admitir um percentual de "sucesso". No entanto ignoramos se é de 70%, 80%, 90%, ou mais.
Mas o palestrante tem razão em diversos pontos, e em particular em um ponto principal: este sistema pode ser melhorado e muito. A criatividade pode ser melhor estimulada, o sistema pode admitir mais inter disciplinaridade e não precisa necessariamente ficar focado somente no lado analítico do ensino.
De qualquer modo é importante frisar um ponto: o sistema educacional moderno não foi desenvolvido por
extra-terrestres, não veio escrito nas tábuas dos dez mandamentos, e nem está imbuído no nosso código genético. O sistema é uma construção humana, e portanto é reflexo da sociedade em que se desenvolveu.
Isso é sempre importante lembrar.