terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Mais sobre Mais Valia

Estou agora na parte de "O Capital" que fala sobre a taxa de Mais Valia

Francamente, estou ficando um pouco sem paciência com o Sr. Marx. Em muitos comentários, ele passa boa parte do tempo simplesmente desancando outros economistas. Se não fosse o modo deselegante, eu até acharia interessante. Mas isto depõe contra o autor.

De qualquer modo, vejo que para Marx a economia é algo muito similar a um relógio - tudo funciona perfeitamente e de maneira absolutamente previsível.

Naturalmente, isto contradiz a evidência empírica. Mas isto eu entro em mais detalhes em outra hora.

A Mais Valia, que é o valor excedente, é criada (segundo Marx) quando o trabalhador ultrapassa o tempo para realização do trabalho e passa a trabalhar além do necessário para realizar o trabalho.

O exemplo de Marx é um trabalhador que realiza um trabalho de 6 horas, mas é obrigado a trabalhar 12 horas. A taxa de mais valia neste caso é de 100% (segundo Marx).

Se o trabalhador realiza um trabalho de 12 horas, sendo obrigado a trabalhar 12 horas, então a taxa de mais valia é zero.

O interessante nesta análise é que o dono dos meios de produção não ganha nada. Ele não recebe nada pelo risco que corre ao ao assumir as obrigações financeiras com bancos e trabalhadores. Como o número de unidades vendidas é uma variável aleatória, então a não ser que o empresário seja um monge disposto a perder dinheiro então NECESSARIAMENTE ele tem de adicionar algum percentual de valor à mercadoria.

Nada disto é considerado em Marx. E isto depõe contra a obra

Mas vamos ver aonde a coisa vai

domingo, 28 de dezembro de 2008

Mais sobre trabalho e energia

Como já mencionei aqui estou falando sobre trabalho no sentido de agregar valor. Ao ler Marx, fiquei com bastante interesse na questão vista sob o prisma da energia.

Nos cálculos chegamos a um gasto de 450 kJ ou 125 Wh como equivalente ao homem-hora.

Mas e o efeito do treinamento para o trabalho na produtividade?

Neste caso podemos fazer uma regra simples -pelo menos como aproximação

Se uma pessoa tem como treinamento 8 anos para realizar o trabalho, podemos assumir 25 anos trabalhando, isto significa um aumento equivalente de (25+8)/25 = 1.32 (594 kJ)

Se uma pessoa tem como treinamento 11 anos para realizar o trabalho, podemos assumir um aumento equivalente de (25+11)/25= 1.44 (648 kJ)

Já se for algo como 16 anos temos um aumento equivalente de 1.64 (738 kJ)

O problema desta abordagem é que conta com o tempo de vida útil em que o trabalho será realizado.

Um abordagem mais próxima do real seria considerar o ganho diferencial que o estudo introduz no equivalente de homens-hora. Isto implica em descobrir

a) Quanto tempo uma pessoa não treinada leva para realizar a tarefa
b) Quanto tempo uma pessoa treinada leva para realizar a tarefa

No entanto, mesmo a pessoa não treinada iria, ao longo do tempo, adquirir o treinamento. Portanto voltamos ao ponto inicial. De qualquer forma o dispêndio de energia em homens-hora seria equivalente nos dois casos - apenas a produtividade seria diferente.

Mas a questão da energia traz alguns pontos interessantes. Um deles é justamente a possibilidade de levantar a energia gasta pela natureza na criação de um determinado objeto.

Começa pelas fontes naturais de energia. A terra tem 0.5 bilhões de quilômetros quadrados. Deste total cerca de 70% são de água, portanto temos 0.15 bilhões de km2 de terra.

Supondo que a vegetação cubra 10% deste total, temos cerca de 0.015 bilhões de km2 de matas.

Assumindo uma radiação incidente de 500 W/m2 temos cerca de 7500 bilhões de kW ou 7.5 trilhões de kW de energia fornecida do sol para as matas ou 7.5 petaWatts

Vamos supor que apenas 1% desta potência seja convertida em energia. Neste caso temos em 1 dia 648 exaJoules.

Mas vamos para uma árvore. Para simplificar vou considerar uma área de 10 m2 e uma vida útil de 10 anos. A potência incidente nesta árvore é de 5 kW. Em 10 anos e 1% de eficiência esta potência corresponde a 1,576,800 kJ ou 1.6 GJ.

Vamos considerar que o processo de manufatura em questão é fazer uma mesa (sem pregos).

Assumindo que a árvore tem uma altura de 10 metros de uma largura de 1 metro, temos um volume de cerca de 7.9 metros cúbicos.

A mesa padrão que estamos pensando tem um volume de 0.01+0.02 = 0.03 metros cúbicos. Isto significa que seriam possíveis cerca de 263 mesas com o material.

Isto significa que a energia que a natureza gastou para prover a matéria prima para mesa é de 0.0061 GJ ou 6.1 MJ

Agora a parte humana. Temos o lenhador que provavelmente corta esta árvore em uma hora (450 kJ), mais machado, transporte, serraria e finalmente carpinteiro (que provavelmente levará 2 dias - 7.2 MJ). Fica difícil estimar a parte do machado, transporte e serraria. Mas uma boa suposição seria algo em torno do trabalho do lenhador para cada um

Natureza: 6.1 MJ

Homem: 450 kJ+450 kJ+450 kJ+450 kJ+7.2MJ = 9MJ

Aí teríamos a agregação de valor introduzida ao fazer a mesa.

Mas o problema é que esta agregação de valor não se traduz no valor de troca final.

Existem diversos tipos de mesa que o mesmo carpinteiro pode fazer no tempo alocado. Será que todas terão o mesmo valor de troca?

Creio que não. Isto mostra para mim que a troca em si tem influência na determinação do valor

sábado, 27 de dezembro de 2008

Chegada da mais valia

Finalmente cheguei no capítulo sobre mais valia - (Parte III do primeiro livro de "O Capital")

Dado o que já discuti em posts anteriores, fico aguardando para saber mais sobre o que Marx irá dizer.

Mas já tenho uma idéia razoável. Imagino que irá dizer que o ganho no processo advém da exploração da mão de obra. Mas vou esperar para ver.

No entanto, em um ponto devo dizer que entendo parte do raciocínio.

Em física Trabalho e Energia. Os dois são medidos exatamente na mesma quantidade: Joules

E o processo de manufatura consiste no gasto de energia para se realizar um determinado produto. E este gasto pode, para processos mecânicos, ser medido em Joules

Portanto, realmente existe uma agregação de Joules em um processo de manufatura - tudo perfeitamente mensurável.

Podemos imaginar então que seria possível converter o trabalho realizado por uma pessoa em 8, 12 ou mesmo 24 horas no equivalente de energia

Uma Caloria de comida são 1000 calorias físicas (por motivos totalmente tolos, mas é a verdade).

Como uma caloria física é igual 4.2 Joules (aproximadamente), então podemos dizer que o 1 Caloria de nutrição tem 4200 Joules. Como a taxa metabólica basal varia de 1700 a 2000 kcal (quilocalorias ou Calorias) por dia então temos que a capacidade diária é algo entre:
- 7140000 Joules ( 7.41 MJ)
- 8400000 Joules (8.4 MJ)

Para se ter uma noção de energia 1 kWh (quilowatt-hora) - é de 3.6 MJ

Então podemos dizer que a capacidade de trabalho de uma pessoa é em torno de 2 kWh. Assumindo que 75% da energia é gasta no horário de trabalho temos que:

Capacidade de trabalho diária (Jornada de 12 horas): 1.5 kWh. Portanto 1 homem-hora é algo em torno de 125 Wh ou 450 kJ.

Portanto, seguindo a lógica de Marx cada homem pode agregar até 450 kJ por hora. Esta conta, apesar de superdimensionada, permite ter alguma noção sobre o real valor do trabalho realizado.

E fica bem claro só para início que o ganho no processo não advém APENAS do trabalho humano.

A determinação do valor de uso do bem depende TAMBÉM do mercado.

Mas eu vou ver aonde o livro vai com isto...

Um adendo: como curiosidade resolvi ver como fica a conversão de energia para reais.

Então ficamos com isto:

Gasolina - 13 MJ/R$ @ 2.7 R$/litro
Ethanol - 13 MJ/R$ @ 1.9 R$/litro
Diesel - 18 MJ/R$ @ 2.2 R$/litro
Humanos - 252 MJ/mes @ salário de R$ 400 = 0.5 MJ/R$ =500kJ/R$

Nos Estados Unidos, o Minimum Wage federal é de 6.55 US$/hora

- O que resulta em 69 kJ/US$ ou 29 kJ/R$

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Um mercado mais justo?

Como vimos, mercados baseados na inexistência de lucro causam:

a) Diminuição no número de comerciantes
b) Compradores que ficam sem o produto independente do grau de necessidade do mesmo

Como seria algo mais justo?

Bem, quem precisa mais deveria ser capaz de conseguir comprar o artigo em necessidade. E naturalmente, estas pessoas deveriam ou ser servidas primeiro, ou possuir algum meio de conseguir o que necessitam.

Para começar, um mercado baseado no lucro tem de ter como premissa básica que as pessoas estão dispostas a pagar além do custo de manufatura/exploração do item. A razão para tanto pode ser comodidade, tempo, distância ou o que seja.

Por este motivo, os compradores irão tolerar o lucro do vendedor como um "mal necessário" intrínseco ao processo.

Aqui temos duas vertentes que podem ser seguidas:
a) o comprador não sabe o valor do produto nem a cadeia de agregação de valor envolvida na determinação do valor de etiqueta
b) o comprador tem conhecimento de todos os elementos agregadores de valor na cadeia produtiva bem como do valor de manufatura

O caso intermediário é uma combinação dos anteriores e só depois será tratado.

Se o comprador não possui informação sobre o valor de venda do produto, então somente a troca terá como limitação o valor percebido da mercadoria. Se o valor percebido for inferior ao preço para troca então a mesma não será realizada.

Caso o comprador possuir toda a informação disponível, ele pode decidir se o custo associado que ele assume da mercadoria é inferior ou não do custo da troca. Se o mesmo for inferior, ele irá procurar meios para realizar a troca em outro nível (mais abaixo na cadeia produtiva).

No caso de toda informação disponível, o comprador pode inferir sobre o lucro sobre o produto. E claro este lucro será em última análise o fator determinante na troca. Mesmo nos casos em que o vendedor possua ganhos devido a escala em que atua, o lucro percebido será a chave para a realização ou não da troca.

No caso intermediário, a coisa se complica um pouco. O comprador tem algumas informações, mas nem de longe pode saber exatamente como todos os elementos da cadeia agregam valor. Este é o caso mais comum.

Além destes existem os mecanismos do crédito na compra, que por sua vez incluem de certa forma os detalhes discutidos nos posts anteriores.

E como funciona este lucro? Bom, neste caso é bem claro que o vendedor quer maximizar seu lucro. Se inicialmente existir apenas um vendedor, então mesmo que ele tenha lucros grandes no início, a mera introdução de novos vendedores irá diminuir o valor destes lucros. A existência dos diversos tipos de compradores certamente também afeta a percepção do preço que o vendedor pode cobrar.

Se em um determinado ponto geográfico o preço for X e em outro for Y então, dado o custo de transporte T da mercadoria se X+T=Y então temos um equilibrio de preços e tanto faz o comprador realizar a troca em qualquer dos pontos geográficos.

Portanto idealmente temos que quando todos os compradores sabem os mecanismos de agregação de valor, o preço de venda será provavelmente o mais baixo possível

Quando nenhum dos compradores sabe sobre os mecanismos o preço será limitado pelo vendedor e pela capacidade de pagamento do comprador (dado o que ele esta disposto a pagar).

Quando os compradores tem informações parciais sobre os mecanismos, então o preço deve estar entre os dois fatores limitantes descritos acima.

Pode-se argumentar sobre a justiça deste tipo de mercado.

Mas considere o seguinte: se um comprador não estiver com tempo ou capacidade de ser um dos primeiros a participar na troca, ele pode remunerar alguém para atuar em seu lugar. E assim temos nova agregação de valor no processo.

No fim, isto pode explicar porque nossa sociedade tem a visão do lucro imbuída no seu funcionamento.

Estratégias sem Lucro

Este problema da venda e da agregação de valor tem vários pontos interessantes que merecem alguma exploração adicional.

Em primeiro lugar, o excedente de mercadorias pode levar ao prejuízo. O ideal seria minimizar o número de mercadorias oferecidas. Mas ao mesmo tempo, isto traz maior número de vendedores e certamente causa uma eventual diminuição de preço.

Em segundo lugar, em um mundo real aonde vários comerciantes estão competindo entre si por consumidores e não sabem da quantidade que cada um está vendendo, então MUITO provavelmente o preço mínimo estável de uma mercadoria deve ser função da sobra.

(D+C0)/N*1/(1-M/N)

Este modelo é por si muito interessante, mas faltam pontos para se tornar mais próximo do real. Talvez os pontos que faltem sejam justamente o conjunto de premissas para fazer este processo próximo do real

Premissas:

1) O vendedor não irá realizar sua função se tiver prejuízo
2) O comprador irá procurar gastar o mínimo possível na compra

Vamos dizer que o vendedor comprou N mercadorias a um custo unitário D0. O seu custo inicial após as compras de mercadorias será:

D=D0*N

Além disto, o vendedor tem custos fixos e outros dependentes do volume de mercadoria, logo em uma aproximação de primeira ordem:

C=C0+C1*N

Então o menor custo unitário de venda para que o vendedor não tenha prejuízo será

(D+C)/N = D0+C1+C0/N

Para que o vendedor não tenha prejuízo ele deve vender pelo menos 1 unidade ao preço de:

(D+C) = D0*N+C1*N+C0

E isto é absurdamente alto. Nenhum comprador irá realizar a troca.

Assim, temos de incluir algumas premissas que podem solucionar o problema. Inicialmente vamos supor que existe uma demanda de K mercadorias. Se houver um único vendedor o valor total de venda será:

(D+C)*K/N com a restrição que K é menor ou igual a N. Neste caso, o vendedor provavelmente terá prejuízo. A única chance que ele tem de empatar é se vender precisamente K=N mercadorias.

Para aumentar a probabilidade que ele empate então necessariamente ele terá que vender a um preço V tal que:

V>(D+C)/N=D0+C1+C0/N

Quanto deve ser este valor? Bem, ele depende no número esperado de mercadorias vendidas ou E{K}. Mas além disto ele depende também na distribuição de probabilidade de K (mais especificamente da variância de K). Se usarmos a pdf de uma distribuição uniforme, podemos dizer que o número de mercadorias vendidas estará entre K-delta e K+delta

O resultado é evidentemente que o valor vendido é exatamente

(D+C)*K/N

Portanto para evitar prejuízo temos de multiplicar o valor por um certo f tal que:

f*(D+C)*K/N=(D+C)

E isto faz com que: f =N/K.

Assim mais uma vez temos que neste sistema (sem prejuízo) o preço será determinado pela quantidade de itens vendidos.

O que acontece então quando K é menor do que N? Nesta situação os preços serão bastante altos e aumentarão na medida que o número de mercadorias vendidas for menor. E naturalmente o aumento de vendedores não irá simplificar o problema e sim complicá-lo

O problema com este sistema - em que o lucro não faz parte do funcionamento do processo - é que ele trabalha EXATAMENTE de modo oposto ao que vemos funcionando hoje em dia. E mais: ele seria um sistema "justo"

Vamos ver como funcionaria este mercado?

Existiriam L vendedores no mercado, cada um teria comprado de um produtor um certo número de mercadorias N_L. Cada um teria gasto um certo valor D_L (podendo ser diferente para cada um) e teria um custo operacional C_L.

O preço de venda das mercadorias seria

V_L=f_L*(D_L+C+L)/N_L = (D_L+C+L)/K_L

Sujeitos a restrição que neste mercado a soma de todos os K_L fosse igual a K e que K_L<=N_L. Na situação original, quem tivesse o menor preço iria vender mais (se todas as mercadorias são iguais). Os demais poderiam comprar menos mercadorias (mas iriam amargar prejuízo quase que imediatamente) ou aumentar os preços.

Como pelas premissas iniciais o comprador procurará gastar o mínimo possível na compra, então o mercado:

a) irá reduzir o número de vendedores se Kb) terão consumidores não atendidos se K>N, independente da necessidade do consumidor

O que mostra que um sistema de troca baseado na inexistência de lucro está FADADO a desaparecer.

Portanto comércio SÓ É POSSÍVEL com a agregação de valor no processo - ou seja com possibilidade de lucro.

Nos capítulos anteriores

Como foi dito no post anterior se o vendedor não quiser ter prejuízo, ele deve cobrar um adicional sobre a mercadoria baseado no número de mercadorias não vendidas.

Isto se ele estiver interessado apenas em não ter prejuízo - ou seja o lucro não é o objeto principal da venda.

Isto naturalmente contraria o conceito de oferta e demanda. Mas a diferença é que o vendedor não visa o lucro, apenas o não prejuízo. Mas um ponto interessante é que neste mundo em que o lucro não é o objeto do vendedor, ainda assim existe agregação de valor na intermediação.

Uma forma adicional de agregar valor é a compra de mercadorias apenas no número exato que sejam todas vendidas. Mais uma vez, temos aí o problema que o número de mercadorias vendidas É uma variável aleatória.

O vendedor não sabe ao certo quantas mercadorias vai vender. Mas ao mesmo tempo, comprando menos mercadorias do produtor, este fica com prejuízo por ter produzido mais do que o necessário.

Mesmo assim podemos imaginar se o vendedor comprasse todas as mercadorias e resolvesse vende-las como ele poderia determinar o preço das mesmas. O melhor modo é na realidade a pesquisa do mercado.

Determina-se através de pesquisa quanto as pessoas estariam dispostas a pagar por um determinado bem. Neste caso, os próprios produtores não tem uma idéia clara ainda se o produto tem mercado ou não.

E ter mercado, no sentido de não existir busca pelo lucro, consiste em não ter prejuízo no processo. Assim, podemos ter que determinados produtos tenham um custo de produção V1. Se o custo de produção V1 for maior que o valor que os consumidores estão dispostos a pagar então não vale a pena produzir.

Mas ao mesmo tempo, pode-se criar a demanda no mercado. Uma das funções da propaganda é justamente estimular esta demanda - pode não chegar a cria-la, mas ajuda.

Mas vamos complicar um pouco mais o modelo para vermos se ele pode acomodar a lei da oferta e da demanda.

Para tentar acomodar este equilíbrio, vamos incluir um custo operacional da parte do vendedor. Este custo tem uma parcela fixa e uma parte que depende do número de unidades.

Portanto temos C=C0+C1*M

Onde M é o número de unidades não vendidas. Portanto para N mercadorias, o custo por mercadorias é [D+C]/N, ou podemos reescrever como:

D/N+C0/N+C1*M/N

Utilizando a fórmula anterior remos:

Valor de venda para zero prejuízo: (D+C0)/N*1/(1-M/N) + C1*M/N *1/(1-M/N)

Neste caso, temos que com M=0, o valor de venda será (D+C0)/N. A medida que sobrarem unidades, o valor de venda irá aumentar para compensar o prejuízo.

O que esta equação mostra é que não há justificativa para diminuição de preços do lado dos custos. Há apenas o menor valor possível que ocorre quando não há mercadorias sobrando.

O que leva a crer que a questão da oferta e demanda tem outro ponto envolvido. O único que consigo imaginar é quando existem mais consumidores do que mercadorias. Neste caso se existem K consumidores e M mercadorias, pode-se imaginar que os preços de venda devem ser função de K/N. Mas que função?

Bem, na suposição que não haja sobra de mercadorias, pode-se supor que o preço de venda seja algo como:

K/N*(D+C0)/N - mas isto apenas para K/N maior do que um.

Mas pelas regras do nosso mercador sem prejuízo tem-se que:

K/N*(D+C0)/N >= (D+C0)/N*1/(1-M/N) + C1*M/N *1/(1-M/N)

Portanto K >= N/(1-M/N) + C1/(D+C0)*N*M/(1-M/N)

Se desconsiderarmos os custos de armazenamento temos:

K>N/(1-M/N).

Este TEM de ser o menor valor de K que garante o não prejuízo. o que quer dizer que deve existir um ponto de equilíbrio nos preços aonde o menor valor é justamente

(D+C0)/N*1/(1-M/N)

Se o número de mercadorias que sobra é sempre zero, então o preço mínimo será:

(D+C0)/N

Mas se este número é diferente de zero então a coisa muda.

O problema deste modelo é que o ponto mínimo é (D+C0)/N e qualquer aumento na demanda irá aumentar o preço de venda. O aumento na produção poderá diminuir o preço de venda DESDE que não sobrem mercadorias.

Mas mesmo com estas simplificações, dá para ver algo interessante dentro do modelo

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Mais de Marx

Estou na minha aventura de "O Capital".

Mais uma vez vejo que, como outros estudiosos, a tentação de supor ter descoberto uma lei universal é muito tentadora. Mas como já disse antes estou me divertindo muito com o livro e aprendendo bastante.

Um ponto importante, a definição de mais valia surgiu agora pela primeira vez. Na realidade quer dizer nada mais do que Valor Excedente. Na discussão sobre o processo de trocas de mercadorias, a primeira menção sobre mais valia surgiu no elo aonde uma pessoa compra uma mercadoria M por um valor D e a vende por um valor D' aonde D'-D>0.

Nesta questão é importante verificar que NINGUÉM irá comprar e revender uma mercadoria só porque acha bonitinho. Há uma diversidade de situações aonde esta pessoa: o intermediário é necessário.

Mas antes de entrar neste ponto, quero falar sobre outro: a questão da troca de uma mercadoria muito mais simples (um meio de circulação). Neste caso o bem em questão é o dinheiro.

Se alguém quiser emprestar dinheiro então necessariamente irá abrir mão de utilizar este dinheiro de outra forma. Portanto, como ele está abrindo mão de algo em função da possibilidade de realizar algo, ele espera uma compensação por isto.

Esta compensação DEVE equivaler a um rendimento que ele teria caso aplicasse este dinheiro.

Mas vamos supor que estamos tratando de uma pessoa que não esteja interessada nesta compensação. Neste caso, o interesse é apenas o de auxiliar ao próximo sem se prejudicar. Para não se prejudicar ele só emprestará o dinheiro se ao final tiver o mesmo montante que originalmente emprestou.

Se ele emprestar uma quantidade total D de dinheiro a N pessoas, então cada uma recebe D/N e ao final do período devolve D/N

Mas o que acontece se um numéro M dá o calote?

Neste caso, o emprestador só receberá (N-M)*D/N, ou seja: (1-M/N)*D

que será necessariamente menor do que D.

Como evitar isto?

O modo mais simples é demandar que o valor a ser pago seja um maior do que D/N.

Este valor deve ser D/(N-M) - que é maior do que D/N.

Deste modo, o emprestador não terá prejuízo nem lucro. Este valor M/N é a chamada taxa de inadimplência, que determinará um pagamento mínimo.

E algo similar ocorre também na cadeia de vendas. Vamos supor que um mercador compre N mercadorias com D dinheiro. Ele não quer levar prejuízo, portanto supondo que um número M de mercadorias não seja vendida, então o preço mínimo para manter o vendedor sem prejuízo é de:

D/(N-M) que é maior que D/N

Assim mesmo SEM LUCRO, cada elemento da cadeia produtiva agrega um custo independente do desejo de lucro de cada um. O único requisito é que cada um NÃO queira ficar no prejuízo.

Assim ganha o produtor, que vende suas N mercadorias por D. Assim ganha o intermediário que vende suas N-M mercadorias por D.

A chave é conhecer quem é M/N.

Mas este mesmo mecanismo pode explicar a existência do lucro. Claro que é apenas uma aproximação, mas é uma aproximação interessante. Prestem atenção:

a taxa de inadimplência M/N é uma variável aleatória. Isto quer dizer que M/N é apenas o valor médio, mas isto por si não é garantia de que o valor médio do preço justo é D/(N-M). O valor médio justo vai depender da distribuição de probabilidade de M/N.

Para entender, vamos calcular qual é o valor esperado quando N/M é o valor médio de uma distribuição uniforme variando de a até b.

Neste caso temos que:

D_médio = D/N *ln[(a-1)/(b-1)]/(b-a)

O que isto quer dizer? Bem, N/M = (b+a)/2. Se a é zero então o valor médio será:

D/N*[-ln(1-b)/b]

Vamos supor que b seja 2*N/M, então o valor esperado para ZERAR o prejuízo é na realidade:

Vy=D/N*[-2*ln(1-M/N)*N/M]

Vamos comparar então Vx=D/N*1/(1-M/N) com Vy para vários M/N. Para simplificar vamos assumir D/N igual a 1.

Se M/N=0.1 Vx=1.1111 Vy=1.1157
Se M/N=0.2 Vx=1.250 Vy=1.2771
Se M/N=0.3 Vx=1.429 Vy=1.5272
Se M/N=0.4 Vx=1.667 Vy=2.0118

Isto quer dizer de modo bastante simples que SE o vendedor NÃO quiser ter prejuízo ELE necessariamente tem de cobrar algo ALÉM do preço individual da mercadoria.

E isto causado apenas pela taxa de inadimplência (ou não venda do item).

Com isto dá para ver que mesmo a cadeia de venda DEVE necessariamente incluir valor DEVIDO aos fatores aleatórios presentes no processo.

Naturalmente, um dos pontos chaves é a distribuição de probabilidade da inadimplência

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

De novo o problema do Valor

Ler Marx está me fazendo bem. Depois de muitos textos anteriores vejo por fim que o problema de como um bem adquire um determinado valor é bem complicado.

A priori, o valor de um bem poderia ser determinado a partir de processos razoavelmente determinísticos. Mas não é bem assim. Então passa-se para o domínio estocástico.

Mas mesmo este domínio estocástico pressupõe que por trás de toda aleatoridade existe um processo determínistico agindo.

Aparentemente isto é apenas um pedaço da verdade.

A decisão de compra tem como fator principal a percepção de valor que o comprador e o vendedor tem do bem.

Mas esta percepção de valor não necessariamente necessita de fundamentos racionais para existir. Como já disse antes, a percepção de valor é função não só do comprador e da mercadoria, mas envolve em algum grau o vendedor também.

Em suma, a percepção de valor é dependente:
- do comprador
- do bem
- do vendedor

O comprador e o vendedor não são meros agentes neste processo.

Quem diria?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A aventura de "O Capital"

Comecei a ler nesta semana a obra máxima de Karl Marx - O Capital

No momento terminei de ler o primeiro capítulo. Falta muito para avançar ainda. Devo dizer que estou surpreso e um tanto quanto impressionado.

A supresa é pelo tamanho da obra. São três partes que foram divididas em seis volumes. Creio que no total devem ter algo em torno de umas 4 mil páginas. Mas isto eu confirmo no final.

Estou impressionado pois tal volume de informações certamente demandou um esforço gigantesco por parte de Marx na elaboração e finalização. E tiro meu chapéu para isto.

Certamente o volume desta obra fez com que muitas pessoas desistissem de ler a mesma e passassem para ter sua informação fornecida por sumários ou interpretações. E isto explica muita coisa.

De modo similar, a forma de escrita de Marx é um tanto quanto difícil de acompanhar. Para explicar um tópico, ele faz giros e volteios - alguns sem sentido, e outros apenas para destilar o fato que tinha um grande conhecimento.

Claro que estou sendo um tanto quanto parcial, afinal pode ser que este estilo fosse perfeitamente aceitável e bastante popular na época da escrita.

Mas não posso negar que sinto uma certa prolixidade e repetitividade no texto até o momento.

O capítulo que li trata do valor, mais especificamente do valor da mercadoria. E isto é algo que me interessa de forma muito profunda. Afinal, pelos meus escritos anteriores deve ter ficado claro que o processo de determinação do valor de troca de uma mercadoria é algo ainda misterioso para mim.

Boa parte do capítulo trata da diferenciação do valor de uso e valor de troca. Isto é mostrado de forma bem abundante e um tanto repetitiva (como já mencionei anteriormente). Ele mostra a questão da equivalência entre as mercadorias em termos do trabalho humano realizado nelas. Devo dizer que imediatamente me lembrei de Adam Smith e suas disgressões na Riqueza das Nações.

Não que o texto de Marx estivesse contrário a Smith, muito pelo contrário. Mas mesmo assim, Marx apresentava como se fosse seu e de mais ninguém. Isto apesar de Smith falar em pontos muito similares.

Francamente a analogia de "20 metros de linho = 1 casaco" foi tocada a exaustão.

E isto tudo porque o valor era determinado pelo trabalho necessário para manufatura da mercadoria (commodity). E o trabalho necessário define o valor de troca da mercadoria.

No entanto, vejo dois problemas com este tipo de análise.

Em primeiro lugar é perfeitamente natural que o trabalho necessário para manufatura (ou colheita, ou qualquer coisa) seja UM dos principais componentes na determinação do valor da mercadoria. Mas infelizmente, não adianta absolutamente nada o manufator achar que sua mercadoria vale X se não existir com quem negociar.

Portanto o valor SOCIAL da mercadoria só pode ser efetivamente determinado frente ao processo de troca. O valor individual é neste caso irrelevante - ele já está contido no trabalho necessário para manufaturar a mercadoria.

O que indica que a determinação do valor se faz mediante uma interação entre o comprador e o vendedor. Provalmente a determinação do trabalho realizado na confecção da mercadoria é o ponto de partida do vendedor, mas nem de longe é o único fator que determina a troca.

O segundo problema é que o trabalho é definido como trabalho humano. E o que acontece com as máquinas e os processos que causam aumento de produtividade e tudo mais?

Mas a bem da verdade, pode ser que estes pontos sejam discutidos mais a frente.

Outro ponto interessante do capítulo é sobre o fetichismo da mercadoria. Em sumário, Marx afirma que há uma dissociação entre o valor de uso e o trabalho necessário para manufatura da mercadoria.

Este pedaço soou mais como uma espécie de profecia auto realizadora do que outra coisa. Algo do tipo "O valor da mercadoria é resultado do trabalho humano, as pessoas não levam em conta isto nas trocas PORTANTO as pessoas esqueceram que o valor da mercadoria é resultado do trabalho humano"

Lindo né? Mas quem disse que o valor da mercadoria É EXCLUSIVAMENTE determinado pelo trabalho humano? Ah, este pedaço fica pendurado no meio do raciocínio.

Na minha humilde visão o valor de troca da mercadoria é determinado por uma função da qual compõe o COMPRADOR (B) e o VENDEDOR (S). O valor de troca INEXISTE antes das operações envolvidas na troca propriamente dita.

O vendedor tem um preço V(S) determinado pelos seus custos na aquisição/manufatura da mercadoria.

O comprador tem um preço V(B) determinado pela sua percepção do valor da mercadoria.

Se V(B) é maior ou igual a V(S) então a troca é realizada, caso contrário a troca não é realizada. O valor da mercadoria será V(B) caso a troca seja realizada ou zero caso a troca não seja realizada.

Claro que o preço é simplesmente a taxa de conversão da mercadoria para moeda e o valor é o valor de troca.

Mas existem alguns pontos interessantes aí:

- O menor preço possível para que a troca seja realizada é V(S). Será que isto quer dizer que o valor na aquisição/manufatura da mercadoria determina em última análise o valor da venda?

Sim e não.

Se existirem vários vendedores e um comprador temos caracterizada um situação de competição entre os vendedores para obtenção de um único recurso: o instrumento de troca do comprador. Nesta situação é bem possível que o valor da troca seja determinado pelo menor V(S) do mercado. Claro que existem situações como cartéis e afins, mas se não houver acordo prévio entre os vendedores então, dadas mercadorias cuja percepção de valor seja igual por parte do comprador, o menor V(S) é o que realiza a troca. Neste caso a percepção de valor dos vendedores é que determina o valor da troca.

Se existirem vários compradores e um vendedor, então o maior V(B) (que tem de estar acima de V(S)) é o que realiza a troca. Neste caso a percepção de valor dos compradores é que determina o valor da troca.

E aí temos novamente a velha questão entre oferta e demanda tão bem discutida por Smith. Portanto o valor de troca não é simplesmente determinado pelo trabalho em si. Mas o trabalho é um fator na determinação do valor de troca.

- Mas a determinação da percepção do trabalho no valor da mercadoria não é um ponto importante e quiça fundamental na teoria do valor?

Sim, mas...

As pessoas envolvidas no processo de manufatura estão realizando o trabalho em troca de alguma compensação. Esta compensação pode ser na forma de mais poder de troca (money) ou algo equivalente. De qualquer maneira, quem possui capital necessário para realizar a manufatura deve antes de mais nada se perguntar se não existe outra maneira mais simples e barata de conseguir mais capital. Então este fator TEM de ser levado em consideração na determinação do valor da mercadoria.

Mas são só impressões que tive até agora. Vamos ver o próximo capítulo

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Papai Noel existe?

Não, infelizmente não.

Em algum ponto na vida de todos passamos da credulidade da existência do bom velhinho para a desconfiança por termos sido enganados.

Mas francamente acredito que deviamos enxergar isto com outros olhos.

Papai Noel existiu sim! Mais precisamente, São Nicolau de Mira existiu. E ele é a figura original da qual nasceu o famoso personagem de Natal.

Neste caso se desejarmos falar a verdade podemos dizer:

O Papai Noel existiu sim, e em homenagem a ele e tudo que ele representou temos a figura que hoje personifica a sua influência.

Bem, eu sei que é meio complicado mas pelo menos é verdade e não uma forma de enganar as pessoas.

Muito curiosa é também a história de como São Nicolau virou Papai Noel. Primeiro temos que entender que o personagem real existiu no século 4 da era Cristã. Isto quer dizer que ainda não tinhamos a Igreja Católica com o poder que depois passou a ter.

E um ponto interessante sobre isto é que a evangelização passa por muitas vezes através do uso de Santos - e como São Nicolau estava perfeito para o trabalho ele foi sumariamente incluído.

Da tradição Nórdica , surgiu o Sinterklaas com a junção com outros mitos. E voila, temos o Papai Noel.

Infelizmente, como na brincadeira do telefone sem fio, cada geração foi adicionando novos e novos elementos a história. E com um pouco de ajuda da criatividade de diversas pessoas temos o mito moderno.

Portanto, papais e mamães modernos, se quiserem dizer a verdade a seus filhos digam que Papai Noel realmente existiu, mas que hoje apenas celebramos a sua memória.

Mesmo que exagerando um pouco...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ai segunda-feira

Neste ponto eu e o Garfield temos algo em comum: uma certa aversão por segundas-feiras.

Mas porque será?

A explicação normal é a lembrança constante do trabalho que me espera esta semana (que com poucas exceções é razoável). Mas a questão é que eu gosto do meu trabalho!

Humm, então porque? Preguiça? É bem possível, mas difícil de precisar. Não é tanto racional, mas emocional (algo que a famosa música do Fantástico costumava fazer comigo).

E então, este post é apenas para dizer que preferia que segunda fosse quinta ou sexta?

Também, mas o objetivo fundamental é mostrar que, como todos, tenho a dominância nas minhas decisões do meu eu emocional.

Aliás, desconfio que todos são mais ou menos assim: decidem com o seu eu emocional (que toma as decisões bastante rápidas) e depois procura justificativa racional para as decisões.

Por este motivo é fundamental evitar, sempre que possível, decisões instântaneas. Na realidade, há muito pouco do que chamamos de raciocínio lógico sendo utilizado neste processo.

O lado emocional é muito poderoso, e desconfio que isto é um traço evolucionário. Provavelmente todas as reações básicas advém de considerações emocionais. Difícil dizer, seria necessário saber o que é ser humano e ser de outro planeta para entender.

Mas reconhecer que a maior parte das decisões são tomadas pelo lado emocional nos permite ter um pouco mais de entendimento sobre o funcionamento das pessoas.

Mesmo a sociedade provavelmente pode ser modelada assim em situações que demandam decisão instantânea. Possivelmente isto poderia explicar alguns comportamentos extremos de multidões.

Já nos governos temos uma história diferente: para cada decisão existem diversas agendas dos mais diversos grupos. Como o governo decide depende das circunstâncias em cada caso. Líderes podem tomar decisões eminentemente emocionais. E os defensores da agenda que é beneficiada por isto irá tentar justificar de todos os modos esta decisão em termos:

a) Racionais - tentando formar uma argumentação coerente por trás da defesa do próprio interesse.
b) Emocionais - tentando cooptar parte da sociedade através de patriotismo, moralismo, bons costumes, destino manifesto ou coisa que valha.

Desgraçadamente temos a tendência a sucumbir aos argumentos emocionais com muito mais facilidade do que aos argumentos racionais.

Isto diz alguma coisa sobre nós mesmos, não?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Sofisticando o Leilão

O modelo do leilão ainda é bastante cru. Existe um aspecto que necessita ser modelado e este leilão do bazar ainda não tem todas as características necessárias.

O problema é o seguinte: a priori, o agente que der o maior lance ganha. Isto quer dizer que o valor atribuído ao sbreble é maior que os outros. Isto não quer dizer que o valor do sbreble seja menor, apenas que a percepção que o agente tem do valor é diferente.

Assim, se todos os fatores permanecerem constantes, o agente que atribuir mais valor ao sbreble ganha o leilão. Dinamicamente, todos os compradores podem ir subindo os lances aos poucos e parar quando julgarem que o valor visto pelos agentes é igual ao valor que eles vêem dos sbrebles.

Assim, existe uma chance que o vencedor acabe pagando menos pelo sbreble que originalmente pensou. Para que isto ocorra basta que os demais participantes tenham uma percepção do valor bem distinta que o vencedor.

Isto traz estimulos para que os agentes participem neste modelo - o modelo é bom para os compradores mas não tão bom para o vendedor.

Alternativamente, cada participante pode escrever o valor que aceita pagar e deixar que o vendedor decida quem irá comprar o sbreble. Isto significa que muito provavelmente o ganhador perde a chance de comprar o sbreble por um valor inferior ao que originalmente pensou.

Portanto, este tipo de compra é um pouco desestimulante para os agentes - o modelo é bom para o vendedor mas não tão bom para os compradores.

Nenhum dos dois modelos de leilão está ligado diretamente ao valor intrínseco do sbreble. Apenas a percepção deste valor.

Mas o que acontece se o valor que cada participante dá ao sbreble se altera a medida que o leilão progride? Isto pode ser feito dinamicamente no primeiro modelo e por turnos no segundo modelo.

Neste caso, a percepção de valor passa a ser influenciada pelo comportamento dos outros agentes. Neste ponto temos que o comportamento dos agentes no processo altera a percepção intínseca que existe do sbreble.

Modelando matematicamente o processo de forma determinística podemos afirmar que:

V(k+1) =k1*R+(1-k2)*V(k)

Aonde R é o capital disponível, k1<1 e k2 é um número também menor que 1 mas maior ou igual k1. Assim o valor final que o comprador esta disposto a pagar é:

V=R*k1/k2 - que é um valor menor ou igual que R, naturalmente.

Podemos pensar que se a percepção do valor do sbreble muda, então também muda o valor de k1, ou a fração que se está disposto a gastar. Mas de forma similar podemos pensar que o que se altera é k2, que está ligado a taxa de variação no valor do lance.

Devido a restrição deste modelo, se k2 é uma variável então teremos que ela sempre será menor do que k1. Portanto podemos simplificar o modelo:

V(k+1) =k1*R+(1-k1/d(k))*V(k). Neste caso teremos que o valor final que o comprador está disposto a pagar é:

V= d * R

Aonde d é uma variável de valor máximo 1. Seu valor será d(V1,..,Vn) ou seja dependente dos demais participantes no processo. Podemos dizer que d(k) irá se alterar na medida que o agente mudar sua percepção sobre o valor do sbreble no leilão.

Ainda assim, uma etiqueta seria mais simples

Leilões

De novo volto aos mercados.

Fico pensando em um modelo simples para tentar representar pelo menos partes do processo de compra e venda de ações.

Talvez tenha encontrado um candidato: um leilão.

Mais especificamente um experimento mental. Suponha que estejamos em um bazar (ou lojinha) e tanto o vendedor quanto o comprador desejam realizar negócio. Mais ainda: vamos supor que o item a ser vendido, um sbrebles (algo imaginário) não tenha o preço marcado.

Temos um processo de barganha. Podemos ter vários tipos de condições iniciais, pode ser que o vendedor de um valor inicial e o a partir daí o comprador oferece um valor menor e os dois regateam até chegar a um valor de consenso (que pode ou não ocorrer). Alternativamente, o comprador pode dar um lance inicial e o vendedor responder com um preço mais alto.

A estratégia do vendedor é obter o valor mais alto possível que compense seus gastos na posse do sbreble. Considere então que o vendedor gastou na posse no sbreble Vposse. Então ele espera conseguir pelo menos Vposse + Vlucro

A estratégia do comprador é obter o valor mais baixo possível que compense o dispêndio da compra. Considere que o comprador acredite que o valor do sbreble é Vcompra.

Só existirá troca se Vcompra > Vposse +Vlucro. O processo de barganha baseia-se na suposição que o comprador não sabe quanto é Vposse+Vlucro. Assim temos que existe uma determinada assimetria no processo, já que o comprador não tem idéia do valor exato do sbreble - apenas uma idéia de quanto ele acredita que ele vale (naturalmente condicionado a sua disposição de gasto).

Naturalmente, o vendedor supõe que Vposse é menor do que Vcompra - do contrário não irá sequer tentar vender.

Este jogo básico de barganha tem na sua raiz a idéia que o vendedor não irá vender para ter prejuízo. Ele tem, de certo modo, algumas informações a mais que o comprador - o conhecimento de Vposse e Vlucro (que começa alto e vai baixando no processo de regatear).

Já podemos ter algumas variações: se existirem dois vendedores temos que a estratégia é vender por um preço acima de Vposse, mas com Vlucro>0. Se os vendedores não combinarem entre si, então o comprador certamente irá comprar pelo menor preço possível e o vendedor terá o menor lucro aceitável (que pode depender de cada vendedor).

Alternativamente, podemos ter dois clientes e neste caso, se os dois competirem pelo sbreble, então o lucro será o mais alto possível estabelecido um teto pela oferta do vendedor.

Mas então chegamos ao modelo mais próximo: o do caso em que o vendedor não estabelece um teto e deixa os clientes ofertarem até chegar a um limite, que certamente será mais alto quanto maior for a noção do valor do sbreble para outro cliente. Neste caso, temos que Vcompra dependerá do comprador em questão.

Portanto temos um leilão, em geral com o preço mínimo estabelecido pelo primeiro lance e o preço de compra estabelecido pelo lance ganhador. O lance ganhador indicará o máximo que qualquer indivíduo da massa de clientes está disposto a pagar pelo sbrebles. Cabe ao vendedor decidir se vende ou não - ele pode esperar e torcer para que a próxima massa de compradores veja o sbreble com maior valor do que a massa atual.

Este modelo é bastante simplificado, mas permite enxergar algumas características do processo de mercado: o maior preço indicará o máximo que agentes do mercado estão dispostos a gastar pelo ativo. O menor preço indicará o mínimo que agentes do mercado consideram como um preço justo pelo ativo. A venda do ativo depende do detentor do ativo e de quanto ele espera lucrar pelo ativo.

A pergunta é existem estratégias para estes casos? Sim e não, o maior preço do ativo provavelmente estará acima do que pode ser considerado preço justo pelo conhecimento médio dos compradores.

O preço será definido pela oferta e procura. O problema é sempre a estimação de quanto vale o ativo - o mesmo problema enfrentado no processo de barganha.

As vezes uma etiqueta de preço torna as coisas tão simples

Mais mitos

De novo assistindo a minisérie de John Adams, passo a me perguntar sobre o papel da mitificação na vida de todos.

O mito é supremo, inabalável

O conhecimento é relativo, traz sempre dúvidas. E é esperado, pois aumentar o conhecimento significa expandir fronteiras. Na realidade passamos a saber mais sobre o que não conheciamos.

Mas o mito, talvez muito ligado ao mesmo mecanismo da religião, se mantém acima da dúvida.

Ao adotarmos o mito substituímos a dúvida pela certeza.

O mito é um reflexo da ignorância - e não um saber cristalizado.

As pessoas se tornam mitos quando deixam de ser pessoas e passam a ser representações.

Podem ser representações de ideais, de aspirações, de sonhos, o que seja.

Mas deixam de ser pessoas - passam a uma categoria diferente. Penso no caso de John Adams, Thomas Jefferson e outros. Outros como Albert Einstein. Possivelmente a mitificação de Einstein como epítome da inteligência e do conhecimento apenas mostre o quão pouco sabemos sobre suas contribuições.

Dizem que as pessoas precisam de modelos. Eu tenho dúvidas. Acredito que as pessoas precisam de esclarecimento. Mesmo a mitologia da infalibilidade científica é calcada no desconhecimento do funcionamento da ciência.

Talvez seja por isto que Newton não tem a mesma mítica de Einstein. Os admiradores de Newton estão mais restritos ao círculo científico, e mais ainda são admiradores muito críticos.

Portanto, ao se deparar com um mito, temos de perceber que o mito fala muito sobre precisamente o que falta em nós.

Não deixa de ser irônico

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Universidade e Sociedade

Uma universidade somente com vistas ao desenvolvimento do conhecimento humano.

Parece bom, não é?

Mas se o conhecimento não é aplicado, então qual é o seu valor?

Um conhecimento sem aplicação não é o mesmo que não ter o conhecimento?

Não é questão de atribuir um valor monetário ao conhecimento - mas o seu uso para sociedade! Um conhecimento cuja a aplicação inexiste é o que?

Este debate é muito antigo. Na realidade é quase tão antigo quanto as universidades. E o mais curioso é que esta visão de conhecimento dissociado de aplicação é do tempo que a universidade era uma espécie de monastério.

E para piorar ainda existe a confusão, real ou imaginária, que a aplicabilidade está ligada a um valor monetário. Nada mais longe da verdade.

A aplicabilidade do conhecimento não significa que todo pedaço recém descoberto deve ter aplicação. Mas que o estudo do conhecimento deve trazer benefícios para toda sociedade.

E isto é complicado em alguns casos. Um exemplo é o estudo dos anjos (Angeologia). O que exatamente temos com isto? Na minha visão, o estudo dos anjos diz mais sobre nós mesmos do que sobre os anjos em questão.

Ou será que importa saber o sexo dos anjos?

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mitificação das pessoas

Esta questão levantada pela mitificação dos presidentes americanos, me leva a pensar sobre a questão da mitificação e demonização em si.

Porque fazemos isto?

Ao criarmos um mito de uma pessoa, criamos um símbolo ou um modelo da pessoa que existiu. É importante notar que o modelo despreza e elimina características indesejáveis para sua compreensão. Assim terminamos com alguém impossível de ter existido.

Da mesma forma na demonização de uma pessoa, o modelo criado retira e elimina todas e quaisquer características que impeçam a percepção do caráter de "mal encarnado" que a figura deve exalar. Assim também terminamos com alguém impossível de ter existido.

Tudo isto é interessante, mas a questão é: porque acreditamos no mito como se ele fosse a verdade?

Temos sim a questão do exemplo: o modelo de uma pessoa . E mais ainda o modelo a ser seguido. Assim nascem as lendas: Achilles, Hector, Alexandre da Macedônia, César, Brutus - todos baseados em figuras reais que foram despidas de sua humanidade na criação de um modelo ou símbolo.

E temos tembém o outro lado do espectro: Gengis Khan, Hitler, Stalin, Mengele, Mussolini. Estes também foram despidos da sua humanidade e transformados em símbolos.

E chegamos ao ponto do tópico: o que recebemos como informação descreve pessoas reais ou apenas representações simbólicas de pessoas - modelos?

Olhando o jornal recentemente fica difícil afastar a certeza que a apresentação não trata de símbolos.

Ao associarmos ideologia X com o mal encarnado ou a ideologia Y com o bem supremo estamos fazendo um desserviço a verdade. É bastante possível que haja superioridade moral ou mesmo total de uma ideologia sobre outra, mas associa-las a grandezas absoultas (bem e mal) é um erro ainda maior.

Devo dizer este tipo de reconhecimento é muito difícil de ser conciliado com o que faço e vejo da realidade.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

John Adams

Este post é apenas para indicar a excelente minissérie da HBO - John Adams

A minissérie trata de um dos personagens mais interessantes do período do nascimento dos Estados Unidos da América (o famoso EUA).

Da minha parte apesar do post ser sobre John Adams, meu predileto na categoria dos primeiros presidente é Thomas Jefferson.

Eu recomendo!

Vale a pena entender as razões por trás do movimento revolucionário americano. Mais ainda vale a pena verificar o quâo revolucionário foi este movimento.

Mesmo assim, a minissérie trata também de alguns traços de cada um dos personagens que torna-os mais humanos.

Infelizmente, devido a uma série de circunstâncias, os participantes da revolução de 1776 ganharam um caráter mítico, o que tornou muito difícil uma exposição mais equilibrada de cada um deles.

Recomendo ainda algumas frases de John Adams

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Justiça para Todos

“I pledge allegiance to the Flag and the Republic for which it stands: one Nation indivisible, With Liberty and Justice for all.”

Este é o "pledge of allegiance" original de 1892 que os cidadãos americanos recitavam em muitas ocasiões cívicas. É algo como o juramento a bandeira aqui no Brasil, mas com conotações mais nacionais do que apenas a bandeira em si.

A questão que quero observar aqui é justamente a questão do "Justiça para Todos"

Será que é possível garantir um julgamento inteiramente justo?

Primeiro temos que definir o que significa justo. Em um modelo bem simplificado, considero um julgamento justo aquele que:

a) Se o réu é culpado que o processo o julgue culpado

b) Se o réu é inocente que o processo o julgue inocente.

Parece simples, mas se olharmos existem alguns problemas. Podemos dividir estes em duas partes:

a) Se o réu é inocente
situação 1: é julgado inocente - ok! sem problemas
situação 2: é julgado culpado - problema!


a) Se o réu é culpado
situação 1: é julgado inocente - problema!
situação 2: é julgado culpado - ok! sem problemas

Então as duas situações que podem ser consideradas injustas são quando um réu tem uma condição e é julgado na condição oposta.

Para o réu em si, a condição de ser culpado e julgado inocente pode parecer boa. Mas certamente não é justa para sociedade.

Bem, e qual é a chance de ter um julgamento justo? Isto é que é o complicado! Mas podemos dizer sem nenhuma dúvida que sempre irá existir um número de pessoas que são julgadas em uma condição quando na realidade são o contrário.

Vamos supor que exista 10% de chance da decisão de um jurado estar errada. Se temos 5 jurados e a decisão é tomada por maioria simples teremos:

(0.1)^3 =0.001 -> 1 julgamento errado em cada 1000 julgamentos.

Se fizermos esta conta para 12 jurados teremos:

(0.1)^7 -> 1 julgamento errado a cada 10 milhões de julgamentos.

Mas se subirmos a possibilidade de julgamento errado para 50% teremos

(2)^-7 -> 1 julgamento errado a cada 128 julgamentos.

Portanto a incerteza pode causar erros no julgamento. Mas como diminuir este problema?

Podemos exigir unanimidade no caso de veredito de culpados. Assim supondo que cada um faz a escolha errada temos:

Caso 1: Inocente mas julgado culpado -> considerando unanimidade teremos 1 erro a cada 4096 julgamentos

Caso 2: Culpado mas julgado inocente - > considerando maioria simples teremos 1 erro a cada 128

Desta forma teremos maior probabilidade de deixar um culpado sair livre do que um inocente ser preso injustamente. Qual a proporção? para cada inocente preso teremos 32 culpados livres. Mas este número pode ser ainda maior (dependendo da probabilidade do reú ter um estado e ser julgado como o outro estado).

Infelizmente as pessoas erram. E justiça para todos é algo por enquanto inatingivel.

A questão chave é justamente o que determinamos como probabilidade de ele ser culpado ou inocente. O máximo que podemos tentar fazer é minimizar a chance de erro.

Se definirmos que é tão errado colocar um inocente na prisão quanto liberarmos um culpado então existem algumas formas de minimizar os erros:

- Votação as cegas: nenhum membro do juri tem contato com o outro e vota sem saber qual é o voto dos demais

- Unanimidade: todas as decisões tem de ser tomadas por unanimidade.

Claro que estas condições trazem problemas: a votação por unanimidade vai fatalmente causar a impossibilidade de decisão - exceto nos casos mais claros (ou que aparentam mais claros para o juri). E a votação as cegas traz diversos problemas logísticos associados.

Em última análise o ônus da decisão termina recaindo sobre os jurados.

Complicado, mas pelo menos é claro que justiça para todos é algo ainda um pouco distante

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Chances e probabilidades

O assunto de probabilidade é algo que me interesso muito. Infelizmente existe muita confusão sobre probabilidade. Mas não é só em relação a população em geral, isto é comum entre as pessoas que trabalham na área.

Efetivamente, da minha parte considero probabilidade uma medida da nossa incerteza sobre um determinado tópico. Mas também podemos vê-la como uma medida da frequência de algo acontecer. São duas interpretações bem características do campo.

Mas vamos ao que interessa: por vezes medimos o risco através da probabilidade. Quando falamos que um evento tem uma chance de 1% estamos dizendo que não seria totalmente inesperado que ele ocorre-se 1 vez a cada 100 tentativas. Em uma população muito grande este tipo de informação através da frequência da ocorrência permite que possamos avaliar riscos.

Assim falamos em 1 em cada 100 vezes (1%), 1 em cada 1000 vezes (0.1%) e 1 em cada 10.000 vezes (0.01%). E isto na realidade quer dizer que temos uma expectativa de não ocorrer de 99%, 99.9% e 99.99% (respectivamente).

Mas as vezes isto não é suficiente. Em certos casos, mesmo que o risco seja pequeno o custo associado a ocorrência do evento torna mesmo catastrófico. Então nestes casos além do risco associa-se um custo.

Mas vamos aos exemplos:

Nos estados unidos isto já está mais ou menos tabulado.

Mas e no Brasil? Como calcular o risco? Bem temos que utilizar os dados a mão. Mas vamos lá, no Brasil temos cerca de 15 a 20 acidentes fatais por 100.000 veículos. A primeira vista este número não ajuda muito , já que não temos informação do total de veículos. Mas ele é independente do crescimento na frota (na verdade não - mas vamos aproximar que sim).

Então como fazer? Bem, partimos do princípio de tentar quantificar a chance de um veículo se envolver em um acidente fatal. Usando o número de acidentes fatais igual a 20 temos 2 acidentes a cada 50.000 veículos ou 1 acidente a cada 25 mil veículos.

A grosso modo a chance de se envolver em um acidente pode ser estimada em 1 a cada 25 mil.

O número nos Estados Unidos é de 1 a cada 19.216. No Brasil temos 1 a cada 25 mil. Isto é mais ou menos esperado dado que o percentual da população que dirige nos EUA é bem maior que no Brasil.

Mas este é o risco anual, e o risco na vida toda?

Para descobrir temos de dividir este risco pela expectativa de vida (vamos supor 70 anos). Isto resulta 1 chance em 357. Nos EUA este número é uma chance em 247!

1 chance em 357 equivale a 99.72% de chance de não ocorrer na sua vida. O que não é perfeito, mas é menos ruim do que parece.

E avião? Esse é cerca de 1 em 5.000 nos EUA (no Brasil será certamente mais baixo). Ou seja, 99.98% de chances de ter uma viagem tranquila.

Então vamos pegar os EUA para fazer uma estimativa dos riscos - chances de NUNCA acontecer com você:

Morte por acidente de veículo motorizado: 98.8%
Morte por acidente em aeronave: 99.98%
Morte por acidente em veículo aquático: 99.98%
Morte por asfixia: 99.8%
Morte por descargas elétricas: 99.99%

Assim, faça como o Monty Phyton - "Always look at the bright side of life"

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Mais números

Além de permitir que entendamos um pouco sobre os processos ditos "naturais", os números também permitem que entedamos um pouco sobre os processos ditos "sociais".

Vamos conhecer o teorma de Bayes.

De modo simples:
\Pr(A|B) = \frac{\Pr(B | A)\, \Pr(A)}{\Pr(B)}  \!
Isto quer dizer que a probabilidade de A dado B multiplicada pela probabilidade de B é igual a probabilidade de B dado A multiplicado pela probabilidade de B. Em outra forma temos isto escrito como:
\Pr(A\cap B) = \Pr(B | A) \Pr(A)=\Pr(A | B) \Pr(B)  \!
Mas o que isto quer dizer?

A probabilidade de A dado B é a probabilidade de A condicional a B. A condição indica que a probabilidade de A pode depender do evento B
P(A \mid B) = \frac{P(A \cap B)}{P(B)}.
Se as duas forem independentes, então a probabilidade A dado B é a probabilidade de A. Um exemplo:

- A probabilidade de tirar qualquer número em um dado é 1/6
- Existem o mesmo número de pares (2,4,6) e ímpares (1,3,5) de 1 a 6 (1,2,3,4,5,6). Portanto a probabilidade de tirar um número ímpar é 1/2

Então se o jogador disse que tirou um número ímpar, a probabilidade de ele ter tirado o 1 é de:

P(A|B)=(1/6) / (1/2) = 1/3

Ou seja ele pode ter tirado o 1, 3 ou 5 (probabilidade de 1/3).

O que isto nos adianta? Bem o teorema de Bayes tem muitos usos na ciência, mas estamos interessados no seu uso nas características humanas. Vamos supor que estamos interessados em saber como uma pessoa vai votar em uma determinada situação.

Um exemplo é um julgamento com jurados. Vamos supor 5 jurados. Para que o réu seja absolvido é necessária a maioria simples (pelo menos três jurados a favor). A probabilidade que cada jurado absolva o réu é de 50% (1/2).

Então a probabilidade que o réu seja absolvido é a probalidade de ser absolvido por pelo menos 3 jurados. Logo

P(Absolvido) =1/2^3 = 0.125

Mas a medida que os jurados votam esta probabilidade se altera, assim:

P(Absolver|Jurado 1 votou inocente) = 0.125/0.5 = 0.25

Se mais um jurado votar inocente a probabilidade de ser absolvido é de 0.25

P(Absolver|Jurado1 e 2 votaram inocente) = 0.25/0.5 = 0.5

Claro que se três jurados votarem favoravelmente:

P(Absolver|Jurado1, 2 e 3 votaram inocente) = 0.5/0.5 = 1

Este tipo de resultado pode parecer não intuitivo, mas tem muitas possibilidades. Imagine que algumas das características que consideramos inerentes a nós mesmos dependam de alguma forma do que percebemos dos nossos semelhantes.

Algo do tipo, se fulano e sicrano decidem a mesma coisa, será que minha decisão não será condicionada ao que eles decidirem? Mais ainda se um evento que consideramos de probabilidade baixa ocorrer várias vezes, isto não vai mudar a nossa percepção de quão baixa é esta probabilidade?

Um exemplo: vamos supor que nossa opinião sobre um determinado assunto é determinada pela exposição positiva ou negativa que temos nos meios de comunicação. Qual você acha que será sua opinião se vários destes meios colocam uma imagem positiva?

No caso temos a mesma situação do julgamento, só que o julgamento é realizado baseado no veredito que cada veículo apresenta. Assim se trocarmos o termo jurados por jornais ou programas de televisão, temos uma situação que pode ser definida pelo teorema de Bayes.

Claro que tudo isto considerando que a opinião é formada por um julgamento de exposição.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Magia dos Números

Ah! Os números...

Os números permitem que possamos adquirir compreensão a respeito dos mais diversos tópicos. A bem da verdade, fofoca-se que ciência torna-se realmente evoluída quando é possível quantificar o objeto de estudo.

Da minha parte eu discordo deste ponto. Acredito que a característica principal da ciência é a capacidade de abstrair o tópico e permitir a possibilidade de entender quais alternativas são mais benéficas ou não. Em outras palavras: dada a situação X e a situação Y - quais são as ramificações destas situações. Se a ciência não consegue fazer isto, então por enquanto ainda está em nível de categorização - em outras palavras ainda está perdida no seu objeto de estudo.

Mas voltemos aos números...

Parte da magia dos números está justamente em sua aplicabilidade. É possível utilizar números para entender melhor como podemos tornar nosso saber mais útil.

Um exemplo: qual o número ideal de pessoas em um comitê?

A matemática pode nos dizer isto! Incrível, não?

Vamos fazer um pequeno experimento:

- Se criamos um comitê com N pessoas, esperamos que estas pessoas discutam entre si até chegar a uma conclusão necessária para a finalização do comitê. Bem, se cada membro do comitê interage com todos os demais em um processo de conversação temos que 1 membro conversa com N-1 membros. O outro membro, se tiver conversado com o anterior conversará com N-2 membros. Assim vai até que teremos o número total de conversações:
T= N-1+N-2+N-3+...+0
Sem perda de generalidade podemos escrever esta soma da seguinte forma:
T=1+2+3+...N-1

Ora, isto é uma progressão aritmética. E a soma será:
T=N*(N-1)/2

Isto quer dizer que o número de conversações será proporcional a N^2-N.

Assim temos que:
- Um comitê de 3 pessoas tem 3*(3-1)/2 = 3 interações
- Um comitê de 6 pessoas tem 6*(6-1)/2 = 15 interações
- Um comitê de 9 pessoas tem 9*(9-1)/2 = 36 interações
- Um comitê de 12 pessoas tem 12*(12-1)/2 = 66 interações

O que isto ensina? Ora dobrar o número de pessoas do comitê aumenta o número de interações quase que quadraticamente. Se o comitê de 3 pessoas gasta uma quantidade de tempo T0 para chegar a um consenso e supondo que este consenso é chegado ao final do número de interações (uma suposição muito simplista) então podemos afirmar:

- Um comitê de 3 pessoas leva um tempo T0 para chegar a um consenso
- Um comitê de 6 pessoas leva um tempo 5*T0 para chegar a um consenso
- Um comitê de 9 pessoas leva um tempo 12*T0 para chegar a um consenso
- Um comitê de 12 pessoas leva um tempo 22*T0 para chegar a um consenso

Este número pode piorar muito se forem necessárias diversas interações para se chegar a um consenso. Ou seja, via de regra aumentar o número de pessoas em um comitê vai fazer com que o tempo gasto pelo comitê aumente significativamente.

Esta é uma aproximação grosseira, mas indica um ponto interessante: o aumento do número de participantes tende, caso haja interações entre todos eles, a causar uma demora na análise de qualquer assunto.

Na realidade, nem todos os participantes efetivamente interagem entre si. Na realidade, em comitês grandes ocorre o fenômeno da criação de grupos, do efeito manada e de outras características muito interessantes.

Vamos supor um comitê de 6 pessoas em que hajam 2 grupos de três. Neste caso teremos a interação entre os grupos (1) mais a interação em cada grupo (3+3). O que resulta em um número de interações de 7.

O mesmo exercício pode se feito para um comitê com 3*K pessoas. Teremos K grupos. Assim teremos 3*K interações (dentro de todos os grupos) mais K*(K-1)/2 interações. Logo o número total de interações é:

T= 3*K+K*(K-1)/2

Em termos dos participantes dos grupos, se cada grupo em N/K participantes então teremos:

T=N/K*(N/K-1)/2+K*(K-1)/2

Logo
- Dois comitês de 3 pessoas leva um tempo 7*T0/3 para chegar a um consenso
- Três comitês de 3 pessoas leva um tempo 4*T0 para chegar a um consenso
- Quatro comitês de 3 pessoas leva um tempo 6*T0 para chegar a um consenso

E este número É menor que o caso em que todos interajam entre si. Portanto o que aprendemos hoje:

- Se temos de tomar uma decisão por comitê então:
a) quebre o conjunto de participantes em K subcomitês
b) designe um membro representante de cada subcomitê para interagir com outros membros representantes de outros subcomitês
c) Faça que os membros representantes do subcomitês sejam responsáveis por decidir a conclusão conjunta

Tudo isto vai fazer com que o tempo gasto seja substancialmente menor do que se fizessemos um único comitê com todos os participantes.

Não falei que os números podem facilitar nossa vida?

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Livro Código

Voltamos a brincadeira do telefone sem fio!

Agora temos mais condição de entender como se passa o processo de decodificação e codificação.

Em primeiro lugar temos um livro código da decodificação. De modo bastante simples, o que o livro código faz é indicar as ligações entre os símbolos que compõem a mensagem e os símbolos (ou conceitos) que cada um utiliza para entender o significado da mensagem. Assim:

Símbolo Mensagem -> Livro Código -> Símbolo ou modelo na mente do decodificador

Além deste livro código para decodificação, temos o livro código para codificação. Este livro código trata de associar símbolos (ou conceitos) com um ou mais símbolos que eventualmente comporão a mensagem codificada. Portanto:

Símbolo ou modelo na mente do codificador -> Livro Código -> Símbolo Mensagem

Na brincadeira do telefone sem fio temos ainda uma fila, que representa uma memória de armazenamento. Via de regra, esta memória fica antes do livro código para o codificador. Para simplificar podemos chamar um livro de livro_decod e o outro de livro_cod. Portanto podemos colocar a nossa fila logo antes do livro_cod.

A organização da fila e a ordenação de saída irão depender de cada codificador. Da mesma forma, as associações presentes do livro_cod e livro_decod também dependem do indivíduo.

Pelo que observei no meu comportamento, o meu problema na brincadeira do telefone sem fio está justamente no gerenciamento da fila. Se esta for muito curta, então temos de escolher representações adequadas para não perdermos informação. E naturalmente se a fila é longa ou curta depende essencialmente da complexidade da mensagem.

Um exemplo: mensagens curtas podem ser guardadas e transmitidas sem muita distorção. Já mensagens longas são resumidas e enviadas em uma representação resumida.

Da mesma forma que existem livros_cod e livros_decod na brincadeira do telefone sem fio, temos este tipo de livros também nos diversos canais de transmissão da informação. A priori, temos sempre uma versão reduzida da informação formatada para ser consistente.

Mas será assim na realidade?

Ah, quem dera. Na realidade, não só a informação é incompleta como também truncada. Você pode imaginar o tipo de distorção que temos na transformação de uma informação incompleta e truncada em algo consistente.

Sim... Isto envolve interpretação, resumo e outras coisitas mas

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Pontos de equilíbrio

Mesmo nas trocas de informações mais distorcidas, temos de esperar que existam pontos de equilíbrio para os papeis de cada um dos atores.

Isto não só esperado mas essencial para o processo.

Infelizmente, dado que a dinâmica social aponta para seus agentes que encontrem uma posição adequada, então nada mais natural que os participantes no processo de informação se orientem a partir destas posições.

Mas matematicamente o que é uma posição adequada?

Em um sistema dinâmico, podemos inferir que esta posição é a que o agente em questão cumpre alguma função determinada (pode ser utilidade, conforto, mínima energia - o que seja).

A determinação desta função não só depende do agente em estudo, mas do efeito e relacionamento do mesmo dentro da sociedade. Um exemplo de possíveis pontos de equilíbrio pode advir do estudo matemático de populações.

Existe uma modelo - Lotka -Volterra - que define uma relação entre presa e predador:
\frac{dx}{dt} = x(\alpha - \beta y)
\frac{dy}{dt} = - y(\gamma - \delta  x)
Mas existe também o caso de competição entre espécies:
{dx_1 \over dt} = r_1x_1\left({K_1-x_1-\alpha_{12}x_2 \over K_1}\right)
{dx_2 \over dt} = r_2x_2\left({K_2-x_2-\alpha_{21}x_1 \over K_2}\right)
Este conjunto de equações descreve uma dinâmica fortemente baseada na equação logística.

O mais curioso a respeito disto é a existência do termo de interação entre a espécie 1 e a espécie 2. Este termo apresenta-se de forma negativa pois trata-se de uma competição por um mesmo recurso. Caso haja uma só população, tem-se a equação logística:
\frac{dP}{dt}=rP\left(1 - \frac{P}{K}\right)
O valor máximo desta população é justamente P=K. No caso da equação anterior, o valor máximo de cada variável dependerá fortemente da outra variável.

Eu volto depois para este post.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Distorcendo o pepino

Como reconhecer distorção na informação, então?

Bem, a priori toda informação fornecida por qualquer veículo já vem formatada segundo a resposta natural do veículo. Isto incluí:
- Editoração da informação
- Entrega (delivery) do conteúdo
- Salvaguardas para credibilidade

Todos estes pontos estarão incluídos na informação, e claro distorcerão em maior ou menor grau a mensagem que espera-se entregar.

Além disto, que é perfeitamente aceitável dado o veículo, temos ainda os atores que tomam parte no fato que gera a informação. Devido a problemas intrínsecos da nossa espécie, parece-me que com frequência espera-se que os atores encontrem-se em oposição quando a interpretação do fato - e portanto a mensagem - é criado.

Portanto, se for o caso segue um pequeno manual de como identificar possíveis distorções na informação:

Passo 1) Identifique os atores. Se é o governo e empresários, o mercado e os participantes ou qualquer um que seja tente identificar quem são os participantes, além do veículo, na criação da interpretação do fato.

Passo 2) Identifique os interesses dos atores no fato. O fato beneficia ou prejudica alguns dos atores? Ele beneficia alguém em particular? Ele prejudica alguém em particular?

Passo 3) Identifique o papel dos atores na interpretação e criação da mensagem. Na exposição da mensagem, todos os atores estão adequadamente representados? Alguém se sobressaí? Alguém saí prejudicado nas suas visões? Atores com escritório de mídia, ou mesmo agências de comunicação social costumam divulgar resultados na melhor luz possível.

Passo 4) Verifique se a mensagem induz a contraposição dos atores em papéis estereotípicos. Se alguém é apresentado como "mocinho" e outros atores como "bandidos", então certamente existe um viés (correto ou não) de representação na escala ética.

Passo 5) Este é o mais importante: uma vez identificados os atores, seus interesses no fato, o papel de cada um na elaboração da mensagem e se há contraposição de "bem" versus "mal" tente nivelar os papéis dos atores na mensagem para que cada um não fique sob luz particular.

Naturalmente, todos estes passos são muito difíceis e complicados de serem executados para toda e qualquer notícia. Portanto, um ponto que pode ajudar é tentar identificar a fonte da informação ou pelo menos o ponto original de onde ela surgiu.

A informação distorcida com vistas a atender interesses de atores em particular irá sem dúvida aparentar ser impossível de ser contrariada. Em outras palavras, ela terá toda a cara de spin!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Publicato é vero?

Você acredita em tudo que saí em jornal ou na televisão?

Não devia. Mesmo as informações acima de qualquer suspeita tem possibilidade de estarem truncadas ou mesmo distorcidas.

Na realidade, tirando a possibilidade de óbvia manipulação, mesmo com a melhor das intenções e fontes, existe a possibilidade real de distorção da informação. Isso se deve não a uma conspiração de alto nível para nos manter "no escuro", mas a própria natureza do sistema que criamos para distribuir e divulgar a informação.

Em primeiro lugar, temos que entender que as informações que nos são relatadas passam por um processo de decodificação, checagem e recodificação. Em outras palavras, o meio que informa também formata a informação.

Uma notícia relatada em jornal é completamente distinta, em seu formato, da mesma notícia relatada em um meio como o rádio ou televisão. Existem ainda restrições de espaço e restrições de tempo envolvidas na distribuição da informação.

Mais ainda, a notícia tem de ser introduzida de forma de despertar o interesse do receptor da informação. Para isto o próprio veículo se encarrega de introduzir na mensagem "pedaços" que acredita serem de interesse do receptor.

Como perceber isto? Bem ,o modo mais simples é tentar ser frio o suficiente para notar os óbvios "lembretes" na mensagem de como esta informação é relevante para o receptor. A maior parte dos lembretes é definida pela percepção que o veículo tem da sua audiência.

Isto pode ser determinado por pesquisas, respostas de leitores, ou seja diversos modos.

No caso do público brasileiro temos:

a) Percepção de jogo sujo em algo que era julgado "acima de qualquer suspeita"
b) Percepção de trapaça por parte de pessoas julgadas "acima de qualquer suspeita"
c) Injustiça patente causada por algum agente "poderoso"

Curiosamente, temos um item faltando desta lista: indiscrições sexuais! Algo que difere na psique brasileira em relação a outros países como os Estados Unidos. Mais curioso ainda é que no país aonde foi cunhada a "Lei de Gerson" tenhamos tamanha reação ao que poucas décadas atrás era considerado natural - "Tem de levar vantagem em tudo, certo?"

Não é culpa da mídia - ela apenas fornece o palco para os "artistas" se apresentarem. Claro que o palco é montado da maneira mais interessante possível, mas isto era natural de ser esperado.

No próximo post vamos ver como fazer para tentar obter informações mesmo quando sofrem distorções

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

De volta a ativa

Depois de uma breve pausa, estou de volta aos temas de interesse. O que me lembra:

- Temos um texto muito interessante sobre bullshit no blog Ciência Brasil. Digo que ele traz um parelelo interessante com um texto anterior do blogueiro que vos fala (Os Farsantes da Informação e Spin ou a Arte de falar Meias Verdades)

- Crise é algo natural ou criado? Será que as sementes das crises estão dentro do sistema de produção utilizado?

- Evolução, teoria do mundo pequeno e autovalores: mais matemática na busca de pontos de equilíbrio

- A informação pode ser reconstruída após sucessivas distorções? E se estas distorções forem aleatórias?

- Incerteza a respeito de algo indica desconhecimento. Mas será que este desconhecimento não trás informações valiosas a respeito do assunto em questão?

Mais sobre isto em posts futuros...

Bem, volto em breve

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Bases do espaço emocional?

Já que temos bases do espaço vetorial, será que também as nossas respostas não podem ser caracterizadas a partir de um conjunto mínimo de emoções?

O conceito é interessante, mas pelo menos por enquanto, apenas fantasioso. Então neste espiríto vamos considerar que ao invés de analisarmos o caráter humano, desejamos apenas criar uma nova raça em um jogo de computador.

Neste caso qual seria o conjunto mínimo de emoções? Temos algumas pistas:

- Emoções opostas tem de ser apenas extremos de uma mesma base: um exemplo são emoções como a tristeza e a alegria não podem ocorrer simultaneamente. Ou seja, elas são opostas. Isto indica que as duas são apenas extremos da mesma emoção.

- Estas emoções poderiam se combinar entre si: um exemplo é a famosa situação: mistura de duas emoções indica que as podem ser decompostas em emoções básicas (e friso o plural).

- Estas emoções devem ser muito poderosas, impedindo até o processo racional: dado que estas emoções (ou pelo menos um subconjunto delas) temos em comum com os animais, o seu desenvolvimento deve ter milhares, senão milhões de anos. Isto faz com que elas tenham, provavelmente, um enorme poder sobre a reação dos indivíduos.

Ok. Então qual seriam estas emoções básicas?

Existem controversias quanto a isto. Mas pelas características anteriores temos:

* Medo - indo de absolutamente destemor até pavor intenso
* Empatia - indo de desprezo absoluto até a admiração (e quiça amor)
* Prazer - indo do desprazer mais intenso até o êxtase

Estas seriam bastante claras como básicas. Além disto teríamos já com menos clareza:

* Curiosidade - indo do desinteresse até a obsessão
* Tristeza - indo da felicidade extrema até a depressão profunda
* Angústia - indo do otimismo puro até o estado pré-suicida

Desconfio que estas bases se formaram mais ou menos com a evolução da espécie.

Bases de um espaço vetorial

Na matemática, uma das formas de resolver problemas em que as variáveis estão interligadas é representar as variáveis através do uso de bases do espaço vetorial que definem as variáveis do problema.

Em termos matemáticos duas variáveis [X1] e [X2] podem ser vistas como combinações lineares das bases [B1] e [B2]. De modo simples:

[X1]=a11*[B1]+a12*[B2]

[X2]=a21*[B1]+a22*[B2]

Isto pode ser representado na forma matricial

[X]=[A][B]

Logo as bases podem ser encontradas através de uma inversão de matriz

[B]=inversa([A])[X]

E daí?

As bases identificam de modo claro as variáveis do sistema. Pode-se argumentar que as bases, que podem ser escolhidas de modo arbitrário, podem ser definidas de forma a garantir a independência entre as variáveis. Isto significa que o produto interno entre as bases é zero:

Transposta([B1])[B2]=0

De modo simples, isto garante a independência entre as variáveis.

E o que isto tem a ver? Em bom português, a escolha de variáveis que caracterizem a base garante que está se escolhendo:

a) O número mínimo de variáveis

b) As variáveis que são importantes

Como se garante a independência? Ora, através da ortogonalidade entre as variáveis. Em poucas palavras, a ortogonalidade (que pode ser vista como descorrelação), indica que uma variável não pode ser obtida a partir da outra.

Isto quer dizer que uma diretriz importante na escolha de variáveis do problema a ser resolvido é garantir que uma variável não pode ser obtida a partir de outra.

Por fim chegamos a questão central deste post: quais são as emoções fundamentais (básicas). O conceito é que as demais emoções podem ser obtidas em função destas emoções fundamentais. Uma característica destas emoções fundamentais é a sua comonalidade com outros membros do reino animal. A priori, estas emoções devem ter sido formadas durante o processo de seleção natural que todos foram submetidos.

Assim, provavelmente o que conhecemos como emoções primitivas são exatamente as emoções mais potentes e, arrisco-me a dizer, irracionais. Suspeito ainda que estas emoções são exatamente aquelas aonde o processo racional pode atrapalhar - ou seja são aquelas ligadas ao mecanismo de "flight or fight".

Mais sobre isso eu falo depois

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Na ponta dos pontos de equilíbrio

Então educação de qualidade é definida a partir da concepção de seu valor na sociedade. Apesar de este ponto poder parecer utilitarista demais, acontece exatamente o contrário. O que se define como de valor para sociedade é que define o que deve ser uma educação de qualidade.

Vamos aos termos...

Uma educação fundamental deveria permitir que o indivíduo trouxesse valor para a sociedade pelo menos em um nível básico. Mas, o que acontece é que o ensino fundamental é focado na criança. E isto muda praticamente tudo, pois a vida de uma criança não deveria ter como objetivo funcionar como um indivíduo produtivo na sociedade. Então dado que o aumento do valor funcional não pode ser o objetivo, só resta definir como educação de qualidade aquela que permite aumentar a compreensão do funcionamento da sociedade (e naturalmente seu papel neste funcionamento).

Em termos de conhecimento, dado o estágio de integração que nos encontramos, isto significa matemática, a língua materna, possivelmente uma segunda língua (não sendo absolutamente necessária), noções de geografia do país e do globo, noções de história local, regional, nacional e do globo, noções do funcionamento social (grupos, empresas, organizações e sistemas). Assim uma pessoa com estes tipos de conhecimento pode formar opiniões e entender em grau relativo o funcionamento do mundo ao seu redor.

Devido a plasticidade desta idade, talvez seja interessante focalizar no ensino de literatura de modo mais abrangente - mas não existem garantias.

Já o ensino médio tem na sua saída , adolescentes que podem vir a participar da sociedade dentro de profissões ou seguir rumo ao aperfeiçoamento de um ensino superior. Pessoalmente, não vejo as duas coisas como mutuamente excludentes. De qualquer modo, saindo do ensino médio, o indivíduo já deve ter em mãos conhecimento suficiente para contribuir de modo mais efetivo com a sociedade. Isto pode-se dizer que inclui algum contato com atividades profissionais durante o período de ensino médio.

Em termos de conhecimento, as disciplinas devem fornecer embasamento para um entendimento mais profundo, porém abrangente do funcionamento, estrutura e regras da sociedade. Portanto devem ser cobertas noções de legislação, noções de administração (inclusive a financeira), noções de economia, noções de ciência (física, química e biologia), língua materna e uma segunda língua, matemática em diversos níveis com aplicações e possivelmente diversas disciplinas sociais (filosofia, história, noções de sociologia, comunicação e antropologia). Certamente existem outras disciplinas, mas fica difícil apontar todas.

Essencial a este quadro é a noção que os indivíduos saídos do ensino médio tem de possuir conhecimento (e alguma habilidade) para poder contribuir em agregar valor na sociedade (ou seja, trabalhar em um ofício).

Já o ensino superior tem de ter como objetivo a formação de pessoal bastante especializado. Este pessoal deve ter a capacidade tanto de agregar conhecimento como fonte de aumento de valor como o de desenvolver e realizar ofícios bastante especializados e de alto valor agregado. Neste ponto deveríamos ter cursos com o foco em áreas de grande conhecimento específico, alta produtividade e responsabilidade.

Nota-se que existe uma troca entre o grau de especialização e o tempo para a realização do ofício específico. Isto quer dizer que em geral, ofícios que demandam alto grau de especialização também demandam muito tempo de treinamento.

Esta estrutura tem de funcionar de tal forma a se adaptar às mudanças que normalmente ocorrem em uma sociedade.

Daí, uma educação de qualidade só pode ser definida a partir do valor que ela tem para sociedade.

É como as coisas são.

Infelizmente, não é isto que se houve em discursos. A razão é que detalhes como estes (o que é uma educação de qualidade) atrapalham o uso de características emocionais no discurso. E estas características são o que por vezes caracterizam um discurso como efetivo.

Mas eu falo sobre isto outra hora

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Educação de Zabrapouf? O que é isso?


Já que nas sociedades humanas, as métricas utilizadas influenciam o ponto de equilíbrio do sistema, fica uma pergunta: como decidir qual é a melhor métrica?

Em última análise, os participantes irão:
a) tentar cumprir a métrica
b) reclamar da métrica
c) tentar desqualificar a métrica

Mas falamos tanto de qualidade e não sabemos expressar exatamente o que dizemos. Ou seja, o que caracteriza esta qualidade? No caso específico de ensino: o que é uma educação de qualidade?

Enquanto a qualidade não for adequadamente caracterizada em um discurso, então esta será apenas uma palavra, um símbolo sem significado. Poderiamos usar ao invés da palavra qualidade, a palavra zabrapouf.

Então você quer uma educação de zabrapouf?

Na minha visão, a qualidade TEM de estar associada a um ponto de equilíbrio na sociedade. E portanto a métrica deve ser definida a partir deste ponto de equilíbrio. Mais ou menos como na questão anterior das publicações (apesar, de na realidade o que se tenta é medir a qualidade da ciência/pesquisa realizada - e não a qualidade das publicações).

E qual o ponto de equilíbrio? Se formos por uma visão de custos poderíamos dizer que:

"Educação de qualidade é aquela que maximiza a capacidade de incrementar o valor agregado da contribuição de cada indivíduo."

Por uma visão menos economicista poderíamos dizer que:

"Educação de qualidade é aquela que maximiza a capacidade de contribuição de cada indivíduo."

Portanto, seja de um modo ou de outro é necessário definir uma métrica que emule esta capacidade de contribuição (complicado) ou a capacidade de incrementar o valor agregado (mais simples).

Um exemplo: uma educação que gerasse uma população de Homeros seria uma contribuição excepcional para literatura e cultura mundiais, mas todos iriam morrer de fome. De modo similar, uma educação que gerasse uma população de agricultores seria ótima para sobrevivência, mas a sociedade seria apenas uma coleção de vilas rurais.

Assim, ao invés de demandar o cumprimento rigoroso de uma agenda torna-se fundamental que exista flexibilidade para atender a toda uma gama de possíveis contribuições no aumento do valor agregado da população. Ah! Escolhas... A existência de escolhas é fundamental para uma educação de qualidade.

Isto por si já exclui currículos rígidos e fixos.

Em outro ponto, uma educação de qualidade tem que garantir a chance de integração do indivíduo na sociedade. Logo, esta tem de fornecer pelo menos as ferramentas básicas para que o indivíduo se integre na sociedade com o máximo de facilidade. Isto implica em ter pelo menos um entendimento rudimentar do mundo e seu funcionamento (geografia, história, artes, ciência).

Isto também quer dizer que este indivíduo deve ser capaz de exprimir suas opiniões e idéias de modo claro. Em outras palavras, ele tem de ter habilidade na comunicação (língua, matemática).

Mas nenhuma destas habilidades vale muito sem que a pessoa tenha a oportunidade de manifestar sua capacidade de agregar valor na sociedade. Isto implica que uma educação de qualidade tembém deve ter um braço nas atividades de um exercício (seja profissional, seja vocacional, ou outro - o importante é integrar as habilidades desenvolvidas no aprendizado - teoria - com a aplicação das mesmas em situações na sociedade - prática).

E esta capacidade de aplicar estas habilidades desenvolvidas pode funcionar como métrica.

Mas é tudo divagação....

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Métrica e o Ponto de Equilíbrio

Um dos problemas das métricas usadas na quantificação de índices (pontos, publicações, orientações) é que o uso da mesma altera a forma como a atividade é realizada.

Este fenômeno é bem característicos de sistemas que alteram os seus parâmetros quando sofrem algum estímulo.
Em português claro, este tipo de sistema se adapta para a função que desejada.

Bem, e quais são estes sistemas? Resposta: todos os sistemas aonde temos participação direta no funcionamento.

Ao contrário de outras sociedades não humanas (e existem muitas), o fato de participarmos do sistema é razão suficiente para alteramos nossa forma de interação baseado na métrica.

E qual o problema? Bem, de modo bem simples, vamos modificar nosso comportamento para satisfazer uma determinada métrica. Mesmo que esta modificação invalide o que a métrica está tentando caracterizar.
O que fazemos é alterar nosso ponto de equilíbrio em função da métrica adotada. E isso é um problema: modificamos a medição ao tentarmos caracterizar seu valor.

Um exemplo: publicação de artigos (em periódicos ou afins).

Métrica 1: Número de periódicos definido por média fixa - arbitra-se o que se considera um valor mínimo de publicações por ano e considera-se um escore a partir deste ponto. A partir daí tem-se um exemplo supondo que 7 publicações seja bom

Nota Número de publicações
0 menor que 4.5
1 entre 4.5 e 5.5
2 entre5.5 e 6.5
3 entre 6.5 e 7.5
4 entre 7.5 e 8.5
5 entre 8.5 e 9.5
6 maior que 9.5

Ok, e qual é o problema?

O problema é que as pessoas que estão competindo entre si nesta métrica irão fazer de tudo para ter a nota mais alta possível. Como o tempo destes participantes é finito eles:
a) Irão fazer artigos com o maior número de participantes possíveis - isto minimiza o tempo que cada um tem de dedicar ao artigo
b) Dividir os resultados de trabalhos no maior número de artigos possíveis.
c) Provavelmente a qualidade média dos artigos irá piorar

Resultado: Maior número de artigos com qualidade inferior

Métrica 2: Número de periódicos definido por média móvel- obtém-se a distribuição anual e classifica-se a partir dos quartis. Como fazer isto? Vamos supor que a média de publicações anual de uma determinada área é X por autor. Ao se estudar uma amostra significativa contendo diversos autores, chega-se a um desvio padrão de Y.
A partir daí se faz a métrica (exemplo):

Nota Número de publicações
0 menor que X-3Y
1 entre X-3Y e X-2Y
2 entre X-2Y e X-Y
3 entre X-Y e X
4 entre X e X+Y
5 entre X+Y e X+2Y
6 entre X+2Y e X+3Y
7 maior que X+3Y

Então, tem-se uma nota de 0 a 7 que serve como métrica para classificação entre o que é um mau publicador (nota inferior a 3.5) e um bom publicador (nota superior a 3.5).

Ok, e qual é o problema?

De novo as pessoas que estão competindo entre si nesta métrica irão fazer de tudo para ter a nota mais alta possível. E como a qualidade não é medida nesta métrica, ela também irá sofrer.
Resultado: Maior número de artigos de qualidade inferior (também).

Qual a solução? Bem cada métrica levará a um ponto de equilíbrio particular. Neste caso, vale mais a pena caracterizar o ponto de equilíbrio de interesse e encontrar os fatores que podem levar a este ponto. Se o interesse é aumentar o número de publicações de qualidade, então a métrica não pode contar somente o número de artigos - mas o número de artigos de qualidade.
Como fazer isto? O modo mais simples é caracterizar a métrica por um fator multiplicativo por artigo. E este fator multiplicativo pode ser definido a partir do ambiente de publicação (pode ser o famoso fator de impacto).

Exemplo: dois artigos publicados em dois meios - um com fator de impacto 1 e outro com fator de impacto 10. O primeiro conta como 1 artigo apenas e o outro como 10 artigos. A partir daí podem ser imaginadas diversos tipos de métricas que levem em conta a qualidade e não somente a quantidade. Pode-se calcular um fator de impacto equivalente por autor - baseado nos artigos que escreveu e no meio em que foram publicados.
No fundo as soluções são simples, a questão é encontrar a solução sabendo-se aonde quer chegar e não o contrário.