segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Probabilidade de Chuva

Hoje fui trabalhar e usei a bicicleta como meio de locomoção. Isto eu já venho fazendo há algum tempo. Mas o que diferiu do normal hoje é que antes de sair eu dei uma olhada na previsão do tempo para o dia.

E lá tinhamos: 16-17 h - 40% de probabilidade de chuva & 17-18 h - 50% de probabilidade de chuva.

Bem, ainda assim eu fui de bicicleta. E não choveu.

No fundo foi sorte. Mas o que isso queria realmente dizer? Bom, 50% de chance é realmente o mesmo que as chances de cara ou coroa. Pode ou não acontecer, e dado que no domingo tivemos uma quantidade razoável de chuva então era meio claro que possivelmente choveria.

Mas há uma lição aqui: probabilidade não é certeza. E o fato de ter chovido no dia anterior razoavelmente e ter a probabilidade de 50% para um determinado horário é basicamente um indicador que as chances de chuva não são tão grandes assim quanto 50% fazem parecer...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Médias, Máximos e Mínimos

Um ponto que eu mesmo vivo esquecendo é que a média de uma distribuição divide a mesma em duas partes iguais.

Assim, se eu escolher um número de uma distribuição qualquer arbitrariamente, então há uma chance de 50% deste número ser maior que a média e uma chance de 50% deste número ser menor que a média. Bem, estritamente falando esta descrição é a da mediana e não da média - mas vamos considerar as duas iguais por aqui por enquanto.

O leitor pode pensar: "Duh!". Mas há mais informações que podemos obter aqui. Se tirarmos dois números X1 e X2 podemos considerar a média M e dizer:
p(X1 menor que M) = p(X1 maior que M) = 1/2
p(X2 menor que M) = p(X2 maior que M) = 1/2

Para simplificar vamos considerar X1 menor queX2 (pode ser ao contrário - não importa).Ao combinamos as duas alternativas temos algo interessante (se não há correlação entre os eventos):
p(X1 menor que M e X2 menor que M) = p(X1 menor que M)*p(X2 menor que M) = 1/4
p(X1 maior que M e X2 maior que M) = p(X1 maior que M)*p(X2 maior que M) = 1/4
p(X1 menor que M menor que X2) = 1/2

Isto pode ser dito da seguinte forma: chance da média estar entre X1 e X2 é 50% a chance da média estar fora disso é 50%. Mas a chance de ser maior que X2 é 25% e a chance de ser menor que X1 é 25%.

Como isso é possível? Note que p(X1 maior que M) (probabilidade de X1 ser maior que é média) é exatamente a mesma coisa que p(M menor que X1) (probabilidade da média ser menor que X1). E que p(X2 maior que M) (probabilidade de X2 ser maior que a média) é exatamente a mesma coisa que p(M menor que X2) (probabilidade da média ser menor que X2).

Então o que é p(X1 maior que M e X2 maior que M)? É a mesma coisa que p(M menor que X1 e M menor que X2). E pela independência (na realidade, pela não correlação) temos que isso é igual a p(M menor que X1)*p(M menor que X2) = p(X1 maior que M)*p(X2 maior que M) = 1/4 (ou seja a probabilidade que a média seja menor que X1 e menor que X2). Do outro lado temos p(M maior que X1)*p(M maior que X2) = p(X1 menor que M)*p(X2 menor que M) = 1/4 (ou seja a probabilidade que a média seja maior que X e maior que X2).

Assim, o que sobra é a probabilidade que a média esteja entre os dois valores sorteados - que é 50%.

A coisa começa a ficar interessante quando aumentamos a quantidade de números sorteados. Ao chegarmos a 10 temos 511 em 512 chances que a média esteja entre o maior e o menor número sorteados. Isso corresponde a 99.8% de chance que a média esteja entre o maior valor sorteado e o menor valor sorteado. Isso porque estamos calculando a probabilidade que a média não satisfaça uma das duas situações:
- Probabilidade da média ser menor que o menor valor sorteado = probabilidade da média ser menor que todos os valores sorteados.
- Probabilidade da média ser maior que o maior valor sorteado = probabilidade da média ser maior que todos os valores sorteados.

E isto somado a probabilidade que a média esteja entre o menor e o maior valor sorteado cobre todos os eventos possíveis (ou seja dá 1). Portanto para N sorteios:
p(Xmin menor qu eM menor que Xmax) = 1-2/2^N = 1- 1/(2)^(N-1) = 0.98 (para N=7)

E qual é o interesse disso? Bom, podemos fazer coisas mais curiosas se encontrarmos os valores mais altos e mais baixos e fazer alguns cálculos com eles. Por exemplo com relação ao segundo menor valor Xmin2 e o segundo maior valor Xmax2 temos:
p(Xmin menor que M menor que Xmax) = 1 - 2/2^N-2*N/2^N = 1- (N+1)/(2)^(N-1) = 0.88 (para N=7)

E assim por diante. Então pense nisso: ao se obter uma sequência de dados aleatórios da mesma distribuição podemos estimar aonde está a média olhando o máximo e o mínimo - com razoável grau de certeza!

domingo, 22 de setembro de 2013

Sobre a Invasão da Reitoria

Esta semana tivemos uma invasão na reitoria. Felizmente, as partes negociaram uma saída e tudo se encerrou com poucas confusões.

Mas tenho algo a ser dito sobre esta invasão. Primeiro, caro leitor, chamo o evento pelo seu nome correto: invasão. O uso do nome ocupação é um daqueles truques mentais que já falei tanto neste blog: inadvertidamente achamos que ao ocupar-se dá-se uma conotação positiva ao evento.

Ah, mas não tem conotação positiva? Fica difícil ter quando se usa violência para conseguir "ocupar" o espaço Excetuando os casos aonde o Estado de direito resolve mesmo ocupar (e via de regra há um caminho judicial para isso), o uso da violência dificilmente pode ser caracterizado como "violência do bem".

Sim, eu entendo que muitos alunos foram levados a isso pela mentalidade de multidões, que apenas uns poucos agiram de má fé, mas nada disso, absolutamente nada disso muda o fato que a violência foi usada de forma a se atingirem os objetivos da invasão. E a resposta moralmente correta é que os invasores assumam a responsabilidade pela violência ocorrida.

Isso em um mundo perfeito... Já no mundo real, os envolvidos continuaram a dizer que não se arrependem de nada, que fizeram mas outros fazem pior (olha o Tu quoque aí, minha gente!), mas irão fugir da responsabilidade como o diabo foge da cruz.

Mas em defesa deles, posso argumentar que caráter é algo muito complicado de desenvolver e não é realista esperar que todo mundo o tenha (talvez pedaços, não sei...). Bom, não vale a pena entrar em um monólogo de uma nota só. Vou apenas dizer um fato muito óbvio: a razão pela qual concordamos em regras, é que elas evitam arbitrariedades - e, como o leitor deve bem saber, arbitrariedades podem ser cometidas por qualquer lado ou pessoa com recursos suficientes.

E não acredite nas arbitrariedades do bem: elas vem do mesmo lugar que o Coelhinho da Páscoa.

Por fim deixo aqui uma entrevista bastante lúcida do reitor.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Enrole-se quem Quiser

Nestes tempos de internet é muito fácil cair em esparrelas... Mas ao mesmo tempo fica mais fácil detectar várias enrolações que correm por aí.
Governo, Médicos... Todo mundo enrolando...
Uma em particular que vários já caíram é sobre o programa Mais Médicos ser uma resposta as Manifestações ocorridas em Junho.
Well... Não é tanto fugir, mas apenas não comparecer...
Não são. A idéia de trazer médicos estrangeiros para o Brasil é ANTERIOR às manifestações...
Os médicos brasileiros não entenderam o poder das imagens...
As idéias por trás do Mais Médicos são de maio de 2013 (na realidade até mais antigas...): "As negociações para o envio dos médicos cubanos para o Brasil foi iniciada pela presidente Dilma Rousseff, em janeiro de 2012, quando visitou Havana, a capital cubana. Ela defendeu uma iniciativa conjunta para a produção de medicamentos e mencionou a ampliação do envio de médicos cubanos ao Brasil, para apoiar o atendimento no SUS (Serviço Único de Saúde)."
Pouco importa se isto é verdade ou não no curto prazo: a imagem é o que conta! Aprendi isso da pior forma.
Então como foi que se vendeu a idéia que o Mais Médicos é uma resposta às ruas? Ora caro leitor, isso é muito simples... Há dois mecanismos em ação aqui:
  1. As reivindicações das manifestações de junho foram difusas (menos corrupção, mais saúde, etc... - eu já discuti isso neste blog).
  2. A classe política se valeu de um velho truque de entrevista: o entrevistador faz uma pergunta, mas o entrevistado responde outra coisa - que é do seu interesse divulgar.
Junte isso com um marketing razoável, um jornalismo de segunda categoria (não questiona, apenas reporta como um desmemoriado), e um povo meio ... humm... como direi isso sem ofender?... Hummm... bem brasileiro então.
Assim como Samba e a Feijoada (hummm, será?).
E aí temos a noção sem noção que o Mais Médicos é resposta do governo às ruas, quando na realidade é um plano já bem adiantado.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Previsões de Inflação - agora com os dados de agosto

Mais uma vez chegamos aquele dia do mês: as previsões de Inflação de 2013 - Muito provavelmente entre 5% e 6.7% (com 98% de probabilidade de ser abaixo de 6.7%).

Comparando os resultados só com janeiro (6.32%), incluindo até fevereiro (6.44%), incluindo até março (6.43%), incluindo até abril (6.51%). incluindo até maio (6.39%), incluindo até junho (6.16%), incluindo até julho (5.68%), temos mais uma melhora em agosto (5.43%) - mesmo com o IPCA de agosto um pouco mais alto (0.24%).

Naturalmente o valor esperado não é tudo. Muito mais útil são os intervalos de confiança. No caso atual, com os dados de julho temos uma chance de 0.06% da inflação ficar acima de 7.56% (a chance que a inflação fique acima de 6.7% é de 1.4%). Podemos afirmar que há uma chance de 99.94% da inflação de 2013 ficar abaixo dos 7.58%.

O limite inferior é 4.87% (compare com janeiro - 4.77%, e os acumulados até: fevereiro (5.04%), março (5.17%), abril (5.38%), maio (5.4%), junho (5.31%) e julho (4.98%)). Já o superior teve um progressão similar: 14.96%, 14.28%, 13.46%, 12.73%, 11.82%, 10.78%, 9.5%, e finalmente 8.5% (incluindo agosto). Sendo que valores superiores a 7.56% tem probabilidade inferior de ocorrência 0.006%.

As notícias são boas para economia.Claro que não sou uma firma que faz previsões de inflação, mas se eu tiver que estimar (chute educado) diria o seguinte:

  • 51% de chance da inflação abaixo de 4.9%
  • 88% de chance da inflação abaixo de 5.8%
  • 98% de chance da inflação abaixo de 6.7%
  • 99% de chance da inflação abaixo de 7.6%

E vejamos como o mês que vem...

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Mancadas...

Há poucas coisas tão embaraçosas para um engenheiro ou arquiteto quanto dar uma mancada no projeto.
Um exemplo em particular me vem a mente...
Mas existem mancadas e Mancadas... E a que vem a seguir é com M maiúsculo mesmo. Um prédio em Londres está literalmente cozinhando o que está a sua frente (ou um pouco mais abaixo). O efeito "lente de aumento" é causado pela concavidade do prédio.
Concavidade + Estruturas Espelhadas Gigantes = Raio da Morte?
Essencialmente: o sol manda uma determinada densidade de potência S (W/m2). A superfície refletora do prédio tem uma área A. Isso quer dizer que o prédio refletirá uma potência proporcional a S*A.

Até aí tudo aí tudo bem. Em prédios com bastante alvenaria e poucos vidros, esta proporção é baixa, ou em outras palavras a eficiência de reflexão é baixa. Mas já em prédios com muito vidro, a coisa é na realidade um espelho gigante.

Mesmo assim, tirando a reflexão de um espelho gigante adicional o problema ainda não existe. Por que? Porque a densidade de potência refletida é praticamente a mesma. Então é simplesmente o caso de reflexões do sol em locais inesperados devido a um "efeito espelho".
Física... Sua danadinha!
Mas a coisa muda de figura quando há concavidade. Há um caso específico em que há magnificação. Neste caso a potência S*A fica concentrada em uma área substancialmente menor do que a do edifício. E aí potência elevada (o edifício tem 37 andares - em torno de 120 metros - por cerca de 60 metros. Considerando 250 W/m2 temos uma potência de 1.8 MW. Um forno de cozinha elétrico tem potência de cerca de 1.3 kW).
Não é nem difícil de fazer...
Então você tem um edifício e um forno solar.
Yes it can be a death ray.
A propósito, não culpe os arquitetos ingleses: o design é de outra pessoa.
Como o leitor pode ver, não é a primeira vez que este arquiteto faz isso.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Pior Solução

A Pior Solução é aquela que demonstra de um modo claro e inequívoco que não se sabe direito sequer qual é o problema.

Pois foi essa a posição do governo brasileiro frente a questão Snowden: o governo encomendou aos correios um sistema de e-mail nacional.
Com certeza tem alguma coisa a ver com teletransporte!!!
Isto mostra uma série de problemas, sendo, provavelmente, o maior deles é o total e completo desconhecimento do que seja um sistema de e-mail. Duvida, caro leitor? Então leia isto aqui.

Pode ser que o leitor possa estar perguntando: "Ora RAX, você está se precipitando. Afinal, pode ser apenas que os jornalistas não tenham entendido a explicação do governo. Afinal a "mídia" é mestre em distorcer comentários de todos".

Bem isto seria uma linha de raciocínio lógico não fosse um pequeno obstáculo: pedir aos correios para desenvolver um sistema de e-mail nacional? Aos correios? Sistema de e-mail nacional? Talvez se fosse para ABIN, para o Ministério da Defesa, ou mesmo para o tal gabinete institucional da presidência. Eu posso até ver uma possível linha de raciocínio: e-mail é correio eletrônico, então quem melhor do que os correios para resolver esta questão?

Surely, you must be joking, dear reader!