terça-feira, 31 de maio de 2011

Possivelmente carcinogênico

A OMS passou a classificar o telefone celular como possivelmente carcinogênico. Mas antes de correrem para as montanhas, vale a pena saber o que é isso.

Existe muito marketing e táticas baseadas em medo na história (por incrível que pareça isto é uma tática real). Então vamos colocar a coisa na sua devida perspectiva:
"Results
The evidence was reviewed critically, and overall evaluated as being limited among users of wireless telephones for glioma and acoustic neuroma, and inadequate to draw conclusions for other types of cancers. The evidence from the occupational and environmental exposures mentioned above was similarly judged inadequate. The Working Group did not quantitate the risk; however, one study of past cell phone use (up to the year 2004), showed a 40% increased risk for gliomas in the highest category of heavy users (reported average: 30 minutes per day over a 10‐year period).


Conclusions  
Dr Jonathan Samet (University of Southern California, USA), overall Chairman of the Working Group, indicated that "the evidence, while still accumulating, is strong enough to support a conclusion and the 2B classification. The conclusion means that there could be some risk, and therefore we need to keep a close watch for a link between cell phones and cancer risk." "Given the potential consequences for public health of this classification and findings," said IARC Director Christopher Wild, "it is important that additional research be conducted into the long‐term, heavy use of mobile phones. Pending the availability of such information, it is important to take pragmatic measures to reduce exposure such as hands‐free devices or texting. " The Working Group considered hundreds of scientific articles; the complete list will be published in the Monograph. It is noteworthy to mention that several recent in‐press scientific articles resulting from the Interphone study were made available to the working group shortly before it was due to convene, reflecting their acceptance for publication at that time, and were included in the evaluation. A concise report summarizing the main conclusions of the IARC Working Group and the evaluations of the carcinogenic hazard from radiofrequency electromagnetic fields (including the use of mobile telephones) will be published in The Lancet Oncology in its July 1 issue, and in a few days online"

informação sobre a classificação 2B é importante, pois nela estão os elementos considerados possivelmente carcinogênos: (000331-39-5 Caffeic acid ), (000067-66-3 Chloroform), (000050-29-3 DDT), (000078-79-5 Isoprene), (000091-20-3 Naphthalene), (007440-02-0 Nickel, metallic and alloys), (000050-06-6 Phenobarbital), (007758-01-2 Potassium bromate), (000062-55-5 Thioacetamide) e muitos outros...

Mas chamo a atenção para um Detalhe Importante, no grupo 1 encontra-se (000064-17-5 Ethanol in alcoholic beverage). Então, acho a coisa está finalmente na perspectiva apropriada, ou você vai mesmo parar de beber?

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Chutes Elegantes e Distribuições

Como já disse antes, terminei o livro Guesstimation e estou realmente impressionado com o poder do back-of-the-envelope-calculations.

Vamos a mais um exemplo: o Brasil tem cerca de 190 milhões de pessoas (190.732.694). Mas vamos aproximar por 200 milhões. Qual é o número de eleitores no país?

Bem, considerando que só pessoas acima dos 16 anos podem tirar o título eleitoral e que provavelmente pessoas acima de 65 anos não devem ter interesse em votar, basta estimar o tamanho restante da população.

Vamos colocar a estimativa de vida como 75 anos (é um pouco mais de 73, mas vamos arredondar), e o ínicio da idade para votar em 15 anos.

Então supondo uma distribuição uniforme da população de acordo com a idade temos: (75-15)/75*200

Isto dá 133 milhões de pessoas ( o número real é 135.804.433)

A grande aproximação está na uniformidade da distribuição. Esta é a surpresa...

Vamos ver o total de pessoas:
abaixo de 15 anos: 15/75*200 = 40 milhões (o valor real é próximo de 46 milhões)
Acima de 60 anos: 15/75*200 = 40 milhões (o valor real é próximo a 22 milhões)
Entre 15 e 20 anos: 5/75*200 = 13 milhões (o valor real é próximo a 17 milhões)
Entre 20 e 40 anos: 20/75*200 = 53 milhões (o valor real é próximo a 62 milhões)

Então bizarramente, a aproximação uniforme não dá resultados tão estranhos assim e parece poder ser usada com resultados na mesma ordem de magnitude.

Energia em Reações Químicas

Acabei de ler Guesstimation e lá estava na minha frente a resposta a uma das minhas grandes dúvidas a respeito de física: energia liberada nas reações químicas.

Pois bem, em uma reação química tal como comer comida ou queimar hidrocarbonetos, temos troca de elétrons entre átomos. Em uma reação a energia de troca de um elétrons é cerca de 1.5 eletron-Volts (eV). Isto da cerca de 3e-19 J.

Este conhecimento vem por causa do conhecimento acerca do funcionamento de baterias (as mesmas convertem energia química em energia elétrica).

Além da troca de elétrons temos de saber o número de moléculas envolvidas na reação química. No caso temos de saber o peso atômico de um mole (6e23) da substância em questão. Vamos a um exemplo:

Na gasolina podemos aproximar a composição química por um conjunto adequado de CH2. Nesse caso, a massa do carbono é 12 gramas por mole e a do hidrogênio é 1 grama por mole. Isto quer dizer que 1 kg de gasolina contém aproximadamente 70 moles.

1000/(12+2) = 71.5

Assim a energia de 1 kg de gasolina é:

70 x 6e23 x 2 x 1.5 x 3e-19 = 40e7 Joules (cerca de 40 MJ). No caso real a energia de 1 kg de gasolina é de 45 MJ. Mas considerando as aproximações realizadas (gasolina é CH2 por exemplo), temos um resultado excelente.

Este tipo de informação é interessante pois permite comparar energia de reações químicas com análogos elétricos de modo bastante direto. Um exemplo: uma pilha com 10 Ah corresponde a energia de 54 kJ.

Da mesma forma, como 1 Caloria corresponde a 4kJ, podemos estimar a energia que gastamos em 1 dia, 1 semana, 1 mês ou 1 ano de modo simples e comparar isto com gastos em outros sistemas.

Como consumimos cerca de 2 kCaloria/dia então podemos dizer que isto corresponde a 8MJ/dia (2 kCaloria/dia x 4 MJ/kCaloria). Em 1 ano isto dá praticamente 3 GJ (3e9 Joules).

Então como fazer contas de energia nesta caso.

  1. Conte quais e o número de átomos envolvidos
  2. Verifique qual é a massa atômica de cada envolvido (Hidrogênio 1g/mole, Carbono, 12 g/mole, oxigênio 16g/mole).
  3. Verifique quantos moles estão envolvidos na reação (se temos 1 kg veja quantos moles)
  4. Multiplique o número de moles por o valor de 1 mol pelo número de trocas de átomos por 1.5 elétrons-volts pela energia de 1 elétron-volt.

Outro exemplo: Carvão - 12g/mol - 1000/12 = 83.3. Aproximando por 80 temos:

80 x 6e23 x 1 x 1.5 x 3e-19 = 21 MJ (razoável aproximação)

domingo, 29 de maio de 2011

Paralelismo e Infinitude

Estou em um humor matemático (não no sentido Hahaha). Mas no sentido de curioso.

Fiquei pensando na afirmação "Retas paralelas se encontram no infinito"

Isto é verdade? Bem, a distancia entre duas retas paralelas permanece constante. Para que as retas se encontrem, em algum ponto esta distância deve ser zero.

Considere duas retas paralelas:

y=a*x & y=a*x+b

A distância entre estas retas é dada por:

d=sqrt((x1-x2)^2+(y1-y2)^2)

No ponto aonde elas se encontram x1=x2 e y1=y2 (ou seja os dois pontos devem coincidir). Para x1=x2 temos

y1=a*x1 & y2=a*x2+b=a*x1+b

substituindo temos:

d=sqrt((x1-x1)^2+(a*x1-a*x1-b)^2) = b

É interessante ver que está NÃO é a menor distância entre as retas. A menor distância entre as retas é b*cos(theta) aonde theta = arctan(a) (por geometria é fica mais fácil de ver).

Mas essa idéia traz a questão do ponto de encontro entre curvas. Se eu tenho uma curva g(x) e outra f(x), a distância entre elas para o mesmo x é:

d=abs(f(x)-g(x))

Se colocarmos g(x) =0 ou seja, o eixo y=0 (em duas dimensões) temos que encontrar a distância é o mesmo que encontrar o zero de f(x)  - ou os pontos aonde f(x) toca (ou cruza) g(x)=0.

Note que esta notação serve para explicar o constitui uma raiz complexa. Trata-se do conjunto de coordenadas no plano complexo que faz a distância entre as duas curvas ser zero.

Perímetro sobre diâmetro

Todos conhecemos Pi? Imagino que boa parte sim. Ele é obtido da razão entre o perímetro e o diâmetro do círculo.

Mas você pode calcular a razão entre o perímetro e o diâmetro de qualquer sólido regular de N lados.

Na realidade é dada por uma fórmula simples: N* sin(Pi/N)

Segundo o conceito de limite podemos fazer N tender a infinito. Sabe qual é o resultado? Pi

Este resultado indica que um círculo nada mais é do que um polígono regular com um número infinito de lados.

Vamos só de curiosidade calcular quanto dá a razão entre o perímetro e o diâmetro de vários polígonos regulares

  • N=3 (triângulo) 2.598076212
  • N=4 (quadrado) 2.828427124
  • N=5 (pentagono) 2.938926262
  • N=6 (hexagono) 3.
  • N=7 (heptagono) 3.037186175
  • N=8 (octogono) 3.061467460
  • N=9 (eneagono) 3.078181290
  • N=10 (decagono) 3.090169944
  • N=100 3.141075908
  • N=1000 3.141587486
  • N=10000 3.141592602
  • N=100000 3.141592653
  • N=1000000 3.141592654

E assim vai.

sábado, 28 de maio de 2011

Argumentos Extremos e Preconceito Ideológico

Já mencionei aqui no blog sobre a questão da polêmica do livro didático. Deixando claro: o problema não é tão sério assim. Mas a coisa anda tomando rumos estranhos...

O livro fala sobre a idéia do preconceito socioliguistico. Bem, ele é real mesmo. Mas o problema é outro: o livro deveria abordar a questão de pessoas usarem "nos vai" ao invés de "nos vamos" como se ambas as formas fosse aceitáveis?

Bem... Para um livro com um público do ensino fundamental e médio, receio que esta questão deve ser evitada. O problema é que há uma série de equívocos ideológicos e lógicos que escapam ao leitor e aparentemente aos mestres que escreveram o texto.

No fundo o problema se encaixa no relativismo cultural e paradoxalmente na incapacidade de distinguir argumentos do tipo extremo (certo ou errado, sem nuances no meio). O argumento é que a população fala daquele jeito e é elitismo "impor" a chamada norma culta a eles sem explicar que o que eles falam não está errado.

Há aí dois problemas: o primeiro é do argumento extremo - o que eles falam não está errado. É o caso de  falar alto e rir em um pagode não está errado, mas em uma Igreja está. Este conceito simples e familiar indica que há casos e casos - coisa que os "especialistas" parecem simplesmente ignorar.

Outro problema é o relativismo cultural: sua cultura é tão boa quanto a minha cultura - ou na sua versão mais extrema "Não existe conhecimento errado". Errado - e muito mesmo - tente fazer um paraquedas com o conhecimento "alternativo" e pular de uma torre que logo irá descobrir que realmente existe conhecimento errado.
O problema neste caso é que se imagina que "língua como construção intelectual" não esta sujeito a estas afetações mundanas de certo e errado. Errado novamente - e muito - ao se utilizar o uso culto da língua como categorização para separar pessoas (como por exemplo em um concurso público), estamos explicitamente declarando que existe sim "certo e errado" nesta "construção intelectual".

Mas isso não é o pior de tudo...

O pior de tudo é que ao adotar o lado do "não existe conhecimento errado" e "mundo em preto e branco" torna-se o elitista que se abomina. Em outras palavras: impede pessoas de melhorar sua vida em nome de preconceito ideológico.

Ou seja: segue-se o arco de Anakin Skywalker até Darth Vader.

Queimar Ônibus faz sentido?

Vendo uma notícia no UOL sobre queima de ônibus fico pensando o que pode levar um conjunto de pessoas racionais a queimar um ônibus como forma de protesto.

"É assim mesmo, uma turba tem um comportamento irracional..." Isto é verdade (em parte), mas não conta toda a história. Depredar um ônibus pode ser atribuído a um comportamento irracional, mas depredar demanda tempo, esforço e uma certa vontade de fazer.

Já comportamentos com premeditação, como foi descrito na reportagem, indicam que a explicação da turba irracional não funciona direito. Há uma lógica na cabeça das pessoas que fizeram este ato (suspeito que ela existe em todos).

No caso de depredar ônibus velhos há uma sentido incerto, porém lógico, nisso. Afinal sob determinadas circunstâncias isto se constitui em um protesto legítimo, ainda que ilegal, sobre as condições de transporte coletivo. Não, não estou dizendo que isto é certo... Estou dizendo que não é totalmente irracional, mas não chega a ser totalmente racional.

No caso de ônibus novos, então suspeito que pode realmente existir má fé na jogada. Pode ser de companhias concorrentes de ônibus, pode ser de "militantes" que acreditam na violência como meio de obter o que desejam, podem ser diversos outros motivos...

Fica difícil dizer...

Mas a lição importante é que nem sempre um comportamento aparentemente irracional não está ligado a causas palpáveis.

E se queremos resolver problemas é necessário saber o que os causa. Do contrário, o problema pode aparecer novamente

Pequenas Pérolas do Cinema - X

Voltei a postar depois de uma semana bastante atarefada. Tive de adiar aulas por conta de reuniões e coisas afins. Mas vamos a mais uma pequena pérola do cinema. Hoje é dia do filme de terror Evil Dead.

Para uma versão mais próxima da comédia com a história praticamente igual temos Evil Dead II.

Quem estiver curioso pode ver também o último filme desta séria Evil Dead III - Army of Darkness. Mas um aviso: se o segundo é um filme horror com pitadas de comédia, o terceiro é um filme de comédia com pitadas de horror.

domingo, 22 de maio de 2011

Não acredite em tudo que vê na internet

Caso em questão: cozinhando com o celular. Não demorou muito e surgiu o famoso vídeo sobre celulares e pipoca:

Naturalmente, quem tentou repetir o feito chegou no seguinte resultado.

Então porque não funcionou, se no vídeo o pessoal conseguiu? Simples: o pessoal nunca conseguiu fazer pipoca com celulares

O resultado seria idêntico com bananas

Não caia nessa, pois é só uma campanha de marketing que virou lenda urbana.

sábado, 21 de maio de 2011

Pequenas Pérolas do Cinema - IX

O filme de hoje é o drama de tribunal - And Justice for All

É Al Pacino em um dos seus melhores momentos, bem como uma crítica ácida ao sistema judiciário. Há várias cenas que valem o filme, mas deixo para cada um decidir quais são estas...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fim do mundo?

Não! Com certeza!

21 de maio é o dia do arrebatamento.

Não é mesmo, podem ficar tranqüilos

O problema da "Estatura Moral"

É o problema da hipocrisia. Peço que vejam o vídeo a seguir de Carlos Eugênio da Paz:

Deixo claro: o que ele fez é assassinato. O fato da vítima ter apoiado lado A ou B é irrelevante.

Ele apenas acha que seus crimes são justificados por uma moralidade superior. A moralidade dele e dos companheiros de guerrilha/terrorismo.

E isso não é o pior. O pior é que este tipo de ação teve como conseqüência indesejada o acirramento do conflito. Isso poderia ter sido previsto na idéia de soma de todas as probabilidades.

Estas ações acabaram por contribuir para que a ditadura ficasse mais tempo ainda.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Discurso Histórico de Barack Obama

Hoje tivemos um momento absolutamente histórico: visão do governo dos Estados Unidos para o Oriente Médio.

A íntegra do discurso está aqui. Mais tarde eu coloco um vídeo, se conseguir.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mais sobre a Polêmica do Livro didático

Mais informações sobre a questão do livro:

E o link para o referido capítulo do livro, com a nota do site.

Adicionando o que o Ministro da Educação falou:

A polêmica do livro didático

Esta semana temos mais uma nova polêmica: um livro didático que usa chamada "norma popular da língua portuguesa".

Sabe o que vi da discussão? Poucos efetivamente leram o livro. Eu incluindo...

Então no interesse de melhorar a formação de opinião, eu coloco aqui um dos trechos que anda causando a polêmica.

Minha opinião? O livro não está fazendo este estrago todo. Mas se fizesse estaria completamente errado. Ensinar errado é atrapalhar - mas o livro não ensina propriamente errado, apenas mostra que existe uma diferença entre a norma culta e a popular.

Sim, há um dedinho de preconceito ideológico nesta idéia. Mas juro que não é meu...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Vale a pena limitar mandatos de deputados ou senadores?

Hoje vi no Correio Brasiliense uma proposta popular com o intuito de limitar o número de mandatos dos parlamentares. A idéia seria evitar o político profissional.

Isso me fez pensar...

Primeiro, porque o texto é o mesmo aonde quer que eu leia?

Segundo, qual é o tamanho do problema? Do senado cerca de 7.4% tem mais de 2 mandatos. Na câmara o número é maior: 35%. Mas suspeito que o número de deputados com vários mandatos seguem uma distribuição exponencial (ou de potência).

O texto sugere isto mesmo:

Se a regra do no máximo duas estivesse valendo, 181 deputados, 35% do total, estariam fora da legislatura. Levantamento do número de mandatos dos parlamentares em exercício realizado pelo Correio mostra que a repetição infinita do poder é regra na Câmara. O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) está na mesma cadeira há mais de 40 anos e renovou o mandato de quatro anos 11 vezes. Doze colegas do peemedebista estão na Casa desde o período de redemocratização e 54 superaram os 20 anos de mandato. No Senado, Casa em que mandatos duram oito anos, existe maior rotatividade. Da atual legislatura, seis parlamentares ou 7,4% dos 81 senadores têm mais de dois mandatos. Os mais antigos do Senado são Eduardo Suplicy (PT-SP), Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), Garibaldi Alves (PMDB-RN), com três mandatos, José Agripino (DEM-RN) e Pedro Simon (PMDB-RS), com quatro, e o recordista, José Sarney (PMDB-AP), que registra cinco mandatos

Terceiro: qual o problema que se procura corrigir? É ruim o camarada ser eleito 10 vezes? Mas ele não passa por um processo de escolha - eleição? Ou isto é um indicação de curral eleitoral?

A argumentação não tem muito sentido:
O movimento por no máximo dois mandatos é uma tentativa de mobilizar a sociedade a pressionar os políticos a aceitarem a regra voluntariamente, como forma de assumir compromisso de seriedade perante os eleitores. E os parlamentares que aceitassem o compromisso do no máximo duas estariam mostrando que não veem a função política como meio de enriquecimento pessoal e poder, além de um emprego garantido, resume o manifesto do ativista.
Os movimentos sociais argumentam que a perpetuação do poder representativo é uma das distorções no sistema representativo do país. Na pauta da reforma política proposta pela sociedade, as discussões sobre financiamento público de campanha, coligações partidárias e lista fechada estão diretamente ligadas à criação de regra que vetasse o tempo infinito de permanência no Poder Legislativo. A desqualificação do Legislativo assim eleito abre então espaço para o mecanismo da compra de parlamentares para constituir as ditas maiorias, o que torna os parlamentos um lugar extremamente atrativo para pessoas com nenhuma outra intenção senão a de vender, o mais caro que puderem, seu poder de votar leis e fiscalizar o Executivo, pondera Whitaker.
Pode-se argumentar que é uma forma de minar um curral eleitoral (não é - pois aí pode entrar filho, primo, tio e etc), ou que é uma forma evitar o enriquecimento pessoal e de poder (também não é - a pressão para fazer fortuna só aumentaria diminuindo a chance de perpetuação)

O fato é que não entendi direito qual problema esta medida planeja resolver

Exceto se a existência de políticos reeleitos continuamente constitua um problema. Mas aí tem que explicar porque político reeleito várias vezes é necessariamente ruim.

Pequenas Pérolas do Cinema - VIII

Para começar a semana com uma comédia romântica de primeira: When Harry Met Sally



E a implosão falhou

Bem que se tentou, mas a implosão do Estádio Mané Garrincha falhou - duas vezes.

Ao contrário do que muitos pensam, este Estádio não foi projetado por Oscar Niemeyer, mas por Ícaro e Eduardo Castro Mello. Aliás. Eduardo é o arquiteto da reforma do Estádio.

Bem, falhas de implosão não são impossíveis. Alias é fácil encontrar algumas no Google.

Naturalmente, não fica nada bem a implosão ter falhado 2 vezes mas não é algo exatamente inédito. Eu não tenho certeza das chances de falha, mas imagino que deva ser algo menor do que 10%.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

E o Blogger apagou meus últimos posts

É uma pena. O Blogger entrou em manutenção e apagou meus últimos posts: Chances e Conhecimento e Terremoto hoje na Espanha, mas e em Roma?

Não os irei postar novamente, mas esta interrupção me mostra que o serviço não é exatamente confiável. Talvez seja hora de se considerar mudar para outro serviço de blog

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Post-Scriptum: Voltaram os posts

terça-feira, 10 de maio de 2011

Ecos do Futuro? Ou Padrões na Areia?

Fique longe de Israel em 2017 e Londres em 2021! De onde veio esse aviso? Daqui.

O thread original é de 2009 e diz:

Anonymous 10/15/09(Thu)21:32 No.2844755
Shortly before it shut down, the underground website Baphomet warned everyone to stay away from NYC in 2001, Madrid in 2004, Santiago in 2010, Israel in 2017 and Lodon in 2021.

It also recommended you stock up on supplies before 2022.

Podem procurar, está lá mesmo. Alguém do futuro veio nos avisar?

Nem tanto, se olharmos o padrão teremos que em 2001 e 2004 o que ocorreram foram atentados terroristas, e em 2010 o que ocorreu em Santigo foi um terremoto. E não podemos esquecer que em termos de vítimas, os terremotos do Haiti e China no mesmo ano tiveram números mais assustadores. E nem é preciso falar que não há menção ao terremoto de 2011 no Japão.

Então, o que está acontecendo?

Estamos vendo o que queremos ver, uma ilusão de ordem, de controle, de possibilidade. Na realidade, é possível postar inúmeras mensagens anonimamente ao longo da internet com predições falsas. Dado um número muito grande tudo pode acontecer.

A melhor forma de testar isto é verificar não aonde a previsão acertou, mas aonde ela errou...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Entre a idéia e a realização passa um caminhão

Vi uma notícia de um sistema GPS que inclui na navegação dados relativos ao trânsito. O sistema usa sinal de FM para atualizar o estado do trânsito nas vias.

Concebi um sistema muito similar alguns anos atrás. Fiz algumas estimativas, chegando a conclusão que um sistema broadcast do tipo FM era a melhor opção mesmo considerando a alternativa SMS via canal de celular.

Mas parei por aí...

Estaria eu revoltado por ver um produto que eu mesmo imaginei ser lançado? Não, muito pelo contrário. Fico bastante contente que alguém tenha tido essa mesma idéia e levado para frente. A questão é que já passei por uma situação em que tentei levar um possível produto adiante até a comercialização.

Foi então que vi que o buraco era significativamente mais embaixo.

Esta foi uma lição definitiva no meu modo de ver como o mundo funciona. Há uma diferença muito grande entre pensar e agir, entre imaginar e realizar. Nesta diferença é que está a verdadeira inovação.

Foi também com esta realização que vi que o papel da universidade não era brincar de fábrica. A universidade pode (e deve) inovar, mas sua missão não é constituir uma empresa para explorar determinado nicho. A missão é educar, mais do que isso buscar e difundir conhecimento - e no processo formar pessoas.

Com o estudo de probabilidade também ficou claro para mim que existem oportunidades (ou chances) que podem ou não serem aproveitadas, mas não há garantias que as mesmas terão sucesso. Com o auxílio de reguladores é até bastante possível criar um determinado mercado e mesmo explora-lo de modo bem sucedido.

Mas não há garantias que esta situação seja durável (ou mesmo sustentável).

terça-feira, 3 de maio de 2011

Certo por Linhas Tortas?

O que acontece quando se usa a ferramenta errada para resolver um problema?

O que me motivou a me perguntar sobre isso? Temos esta notícia como ponto de partida. A notícia trata do trancamento de uma ação de tentativa de furto em um supermercado com vigilância eletrônica. O que me chamou a atenção foi o seguinte parágrafo:


Ao decidir, a Turma aplicou jurisprudência dela própria (firmada, entre outros, no julgamento do HC 107264, relatado pelo ministro Celso de Mello), que considera crime impossível a tentativa de furto quando os objetos almejados se encontravam sob monitoramento eletrônico constante e, também, o fato de que não chegou a haver nenhuma lesão, porque a tentativa de furto se frustrou.

Isto por si só é uma jóia do nonsense: não houve lesão pois a tentativa de furto se frustrou.

Não, não estou pregando que este tipo de delito leve a uma penalidade maior. Estou chamando a atenção que o monitoramento eletrônico frustrou o furto e por esta razão não houve lesão. Isto foi baseado em jurisprudência do tribunal. Os detalhes estão aqui.

Tentar não é crime? Talvez os valores envolvidos no crime sejam irrisórios (cerca de R$ 390,00) em comparação aos custos processuais. Mas decidir que a tentativa não é crime? Pelo que li do texto da jurisprudência anterior foi justamente o valor que determinou este curso de ação (e não exatamente o monitoramento eletrônico).

Eu entendo este tipo de raciocínio, no fundo a ação é irrisória mas aí é complicado determinar o que é irrisório (principalmente em um sistema com custos processuais crescentes). Só que desta forma usam uma justificativa (o monitoramento frustrou o delito) para resolver a questão.

E existem outros tipos de monitoramentos eletrônicos. E existem outros tipos de delitos...

O que acontece quando temos delitos mais graves frustrados por monitoramento eletrônico? E o monitoramento funciona sempre?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pen Drives no lugar de cadernos?

Parece uma boa idéia? Talvez, mas não agora. Em uma notícia recente:
Previsto para ser inaugurado no próximo dia 07, o Colégio Estadual Erich Walter, localizado em Santa Cruz, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, foi escolhido para ser o piloto da Escola Padrão Verde da América Latina. O projeto, que conta com painéis solares, área para reciclagem, reaproveitamento de água da chuva e pen-drives no lugar dos cadernos, foi desenvolvido pelos arquitetos da Arktos - Arquitetura Sustentável, Maria José De Mello Gerolimich e Rafael Tavares de Albuquerque.
...
Friso a parte a respeito da substituição de cadernos por pen drives. A idéia em si é boa, desde que estejamos falando do uso de sistemas do tipo tablet para leitura e escrita. Mesmo assim, o tablet em si não é uma boa forma para demandas mais ativas (quem tem um iPad pode verificar por si mesmo).

Quanto a parte de leitura, um tablet realmente pode ser bastante inovador e substituir em parte livros e apostilas.  Nesta categoria eu uso o kindle. Como vantagens posso citar que o gasto de energia é muito baixo, há possibilidade de navegação na internet (restrita ainda assim) e podem ser armazenados diversos livros sem perda de qualidade. Os livros podem ser marcados, com o dicionário integrado a leitura é mais simples e há mesmo um mecanismo de busca (que não usei por enquanto).

Mas mesmo o kindle tem aplicativos para diversas plataformas.

O problema é que é um livro (ou uma forma razoável de leitura), mas daí a utiliza-lo como caderno ainda há uma longa distância. Mesmo outros tipos de tablets não se prestam muito bem a funcionar como cadernos com canetas especiais (que se perdem com facilidade). Então usa-se uma interface do tipo QWERTY (que geralmente é via tela e não teclado) como entrada.

Então, a idéia de substituir cadernos por pen drives pode ser uma daquelas idéia belissimamente estúpidas. Em nome da ecologia se complica a vida do estudante - por razões não claramente divinizadas (imagino que a questão de substituir cadernos por livro está ligada a questão do uso da celulose na fabricação de papel - sendo que no Brasil a celulose vem de plantações especiais)

Desse tipo de idéia não há falta no mundo...

domingo, 1 de maio de 2011

Distribuições Extremas e Competição

Depois de ler o livro de Taleb fiquei pensando sobe a ligação entre distribuições extremas e competição. Afinal, olhando os argumentos me parece que o sistema gaussiano iria falhar principalmente em competições aonde "o vencedor leva tudo".

Um exemplo de competição de ganhador único e totalmente aleatória é o torneio de moedas. Essencialmente, neste torneio o vencedor será aquele que acertar o maior número de lances de cara ou coroa. Para um torneio de 10 fases são necessários 1024 participantes. Vamos supor que cada um traga R$ 1,00 para o jogo. Quem ganhar leva tudo.

No final, se tivermos uma situação de "vencedor leva tudo" 1 pessoa levará R$ 1024,00 e o restante zero. Mas podemos tornar a coisa mais interessante supondo que ao invés do vencedor levar tudo que o perdedor levasse 25% do prêmio.

Assim nas rodadas teríamos

  1. 512 Ganhadores com R$ 768,00 e 512 perdedores com R$ 256,00 (R$ 0,50 para cada 1)
  2. 256 Ganhadores com R$ 576,00 e 256 perdedores com R$ 192,00 (R$ 0,75 para cada 1)
  3. 128 Ganhadores com R$ 432,00 e 128 perdedores com R$ 144,00 (R$ 1,125 para cada 1)
  4. 64 Ganhadores com R$ 324,00 e 64 perdedores com R$ 108,00 (R$ 1,6875 para cada 1)
  5. 32 Ganhadores com R$ 243,00 e 32 perdedores com R$ 81,00 (R$ 2,53125 para cada 1)
  6. 16 Ganhadores com R$ 182,25 e 16 perdedores com R$ 60,75 (R$ 3,796875 para cada 1)
  7. 8 Ganhadores com R$ 136,6875 e 8 perdedores com R$ 45,5625 (R$ 5,6953 para cada 1)
  8. 4 Ganhadores com R$ 102,5156 e 4 perdedores com R$ 34,17188 (R$ 8,542969 para cada 1)
  9. 2 Ganhadores com R$ 76,88672 e 2 perdedores com R$ 25,62891 (R$ 12,81445 para cada 1)
  10. 1 Ganhador com R$ 57,66054 e 1 perdedor com R$ 19,22168 (R$ 19,22168 para cada 1)


Então teríamos uma distribuição a seguir
  • 1 pessoa com R$ 57,66045 (total R$ 57,66045)
  • 1 pessoa com R$ 19,22168 (total R$ 19,22168)
  • 2 pessoas com R$ 12,81445 cada (total R$ 25,62891)
  • 4 pessoas com R$ 8,542969 cada (total R$ 34,17188)
  • 8 pessoas com R$ 5,6953  cada (total R$ 45,5625)
  • 16 pessoas com R$ 3,796875 cada (total R$ 60,75)
  • 32 pessoas com R$ 2,53125 cada (total R$ 81,00)
  • 64 pessoas com R$ 1,6875 cada (total R$ 108,00)
  • 128 pessoas com R$ 1,125 cada (total R$ 144,00)
  • 256 pessoas com R$ 0,75 cada (total R$ 192,00)
  • 512 pessoas com R$ 0,50cada (total R$ 256,00)

Isto fica mais interessante ao dividirmos as faixas pelo montante total de dinheiro, assim temos a concentração do dinheiro nas faixas
  • 16 pessoas (1,5625%) com R$ 182,25 (17,7979%)
  • 240 pessoas (23,4375%) com R$ 293,75 (38,4521%)
  • 768 pessoas (75%) com R$ 448,00 (43,75%)
Este número pode ficar mais conhecido se dividirmos em duas faixas (25% e 75% das pessoas)
  • 256 pessoas (25% do total) tem R$ 576,00 (56,25% das riquezas)
  • 768 pessoas (75% do total) tem R$ 448,00 (43,75% das riquezas)
Ou seja, temos uma distribuição extrema surgindo exatamente de uma competição puramente aleatória.