sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Último post do ano

Caros

Este post está aqui para desejar a todos um 2011 cheio de realizações, felicidade, sucesso e muita paz.

Vamos entrar neste novo ano com o espírito renovado!

Um pouco sobre a privatização da telefonia

Este post é um de muitos que irei fazer aos poucos sobre a privatização da telefonia celular. Meu ponto é que a despeito dos problemas, o processo resultou em benefícios para o país.

Hoje falo sobre a questão da tecnologia.

Há muitos comentaristas que falam que o Brasil iria atingir as metas do PASTE. Isso, segundo eles, mesmo sem privatização. Como? Devido à evolução da tecnologia de telecomunicações...

Estas pessoas falam isto porque não entendem de tecnologia e nem como a mesma se insere na realidade. Duvida? Vamos a alguns exemplos - VHS versus Betamax, Apple vs PC, Windows vs OS2...

A verdade é que antes de chegar ao final é IMPOSSÍVEL determinar qual será a tecnologia vencedora. Em outras palavras, a estrada dos sucessos tecnológicos está pavimentada com os restos dos fracassos tecnológicos.

E não dá para esperar para descobrir o vencedor. Os participantes tem de apostar em que cavalo acham que irá ganhar.

No caso da telefonia tivemos vários problemas destes: desde a escolha do AMPS, passando pela disputa entre TDMA e CDMA até desaguar na vitória do GSM como tecnologia de segunda geração e caminho para terceira geração.

E muita gente apostou no cavalo errado.

No entanto, como era uma corrida, os mais bem posicionados puderam modificar suas apostas para terem mais chance de ganhar mercado.

E com isto, algumas dezenas de bilhões de reais puderam ser usados sem que o governo tivesse que tirar este dinheiro de outros serviços à população

domingo, 26 de dezembro de 2010

Vou aproveitar e ensinar um pouquinho sobre contagem de multidões

Primeiro temos que entender que é complicado ter resultados precisos. Podemos ter apenas aproximações na maioria dos casos.

Mas a forma de contar é importante, sendo que há truques para melhorar o desempenho. O primeiro que quero compartilhar é a área ocupada.

Uma pessoa parada ocupa uma certa área em um espaço público. Uma primeira aproximação em multidões é de 1 pessoa por metro quadrado (já falei disto em outros posts), mas em multidões muito densas pode chegar a 2 pessoas por metro quadrado.

Então podemos dividir em três situações
Multidões esparsas - cerca de 1/2 pessoa por metro quadrado ou 1 pessoa a cada 2 metros quadrados.
Multidões normais - cerca de 1 pessoa por metro quadrado
Multidões compactas - cerca de 2 pessoas por metro quadrado

Então o primeiro passo é determinar qual é o tipo de sua multidão. Freqüentemente a multidão não é composta de modo uniforme, então designe percentagens da área em questão aonde a multidão está compacta, normal e esparsa. Por exemplo, em uma área de 100 metros quadrados temos 20% compacta, 40% normal e 40% esparsa. A conta fica:

100 metros quadrados *(0.2*2 pessoas/ metro quadrado + 0.4*1 pessoas/ metro quadrado + 0.4*0.5 pessoas/ metro quadrado) =  100 pessoas

O segundo truque é contar fileiras. Se há 10 fileiras com 10 pessoas temos um total de 100 pessoas. Naturalmente não é isso, mas aí o truque é super-estimar: use as fileiras com maior número de pessoas.

O exemplo do cifrão:

O maior braço tem 6 pessoas, temos 16 braços (tamanhos diferentes) então 16* 6 = 96 pessoas. Se contarmos veremos um total de 79 pessoas.

Um erro aceitável

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Adendo

Recebi um comentário relevante de um anônimo. Mas como política não publico comentários de anônimos (as razões estão colocadas ao longo do blog). No entanto, como o comentário é relevante, eu vou reproduzi-lo aqui:

"Alô Menezes Em multidões o número de pessoas por metro quadrado tranquilamente chega a passar de SEIS.. ABRAÇOS esta tua multidão tá folgada!!! kkkkkkkkkkkkkkkk"

Realmente podemos chegar a bem mais do que 6 por metro quadrado em uma multidão (mas não muito mais que 8 pessoas por metro quadrado). Isto pode acontecer em grandes aglomerações (futebol, concertos, etc...). Para levar isto em consideração basta adicionar mais algumas categorias no caso da contagem.

Felizmente a aproximação de 3 categorias é razoável para multidões em espaços abertos.
[34-crowd4.jpg]
Acima temos mais de 4 pessoas por metro quadrado

Aumento para que?

(Manifestantes - 200 pessoas na conta do jornalista e 79 na minha conta - formando um cifrão)
Estou vendo na internet diversas pessoas convocando para manifestações de repúdio ao aumento dos parlamentares.

Devo dizer que o aumento de quase 100% em um período de estabilidade e baixa inflação é bastante irritante. Ao mesmo tempo esta questão sempre volta a baila a cada 4 anos.

E naturalmente, a miopia e pouca memória das pessoas faz com que tudo se repita novamente (protestos em 2006 e aprovação em 2007).

Eu tenho uma hipótese ainda não verificada que o aumento da próxima legislatura tem de ser aprovado pela anterior. Isto explicaria porque a novela se repete a intervalos de 4 anos.

Mas o problema é que ainda não vi uma explicação decente para isto. Nenhuma.

Eu só vejo ataques de todos os lados. Por que só estamos vendo um lado?

sábado, 25 de dezembro de 2010

Grampo Telefônico - A verdade aparece

Conforme já havia mencionado em diversos posts, esta história dos grampos estava muito estranha.

Pois bem o texto de Ilimar Franco diz textualmente:

A POLÍCIA FEDERAL concluiu que não houve grampo ilegal nos telefones do então presidente do STF, Gilmar Mendes, no episódio em que foi divulgado diálogo com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

E assim, finalmente pode-se chegar a conclusão que a histeria daqueles dias causa vergonha em muita gente hoje em dia. Claro quer hoje os desmemoriados - e são muitos - tentam desfazer o que disseram no passado agora no presente. Felizmente este blog tem uma pá de textos sobre grampo telefônico e com muitos e muitos links.

Desmonta o argumento de qualquer um

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Adendo

Novamente tivemos um comentário anônimo. A política é não publicar comentários de anônimos, mas o ponto colocado é interessante. Então vamos ao que foi dito:

"Alô menezes "Não houve grampo ilegal" É BEM DIFERENTE DE QUE "NÃO HOUVE" GRAMPO. Lógica matemática. abraços"

Sim, a afirmação "não houve grampo ilegal" possui duas conclusões possíveis:

  1. Não houve grampo
  2. Houve grampo legal

Confesso que eu não tinha considerado a segunda alternativa. Mas temos de admitir que se ela for verdadeira, então as conseqüências do ocorrido são ainda piores: afinal quem autorizou o grampo do ministro do STF e/ou senador da república?

Aonde está Wally?

Uma das questões mais complexas sobre a navegação é precisamente determinar a posição aonde o navio se encontra. Isso nos tempos de GPS, navegação inercial e outras coisas mais é relativamente tranquilo.

Mas e nos tempos das caravelas? Sim, certamente os meios para se conhecer a latitude eram bem conhecidos. Mas e a longitude?

Em terra podemos medir a distância percorrida utilizando diversos dispositivos. E claro, as coisas variam se estamos no hemisfério sul ou norte.

Uma forma que imagino ter sido usada em tempos imemoriais é o quanto o dia se estica ao se viajar para oeste e quanto ele se encurta ao se viajar para o leste. Claro que veremos logo que este meio é um pouco tolo em comparação com outros mais interessantes, mas acredito que o seu uso pode explicar algumas coisas.

Em primeiro lugar se temos um barco indo na direção oeste, então em relação à rotação teremos que  o efeito prático é uma velocidade adicional v no caso em questão. Assim, supondo um dia aonde o sol nasça as 6 da manhã e se ponha às 6 da tarde, um barco parado notaria que o dia teve a duração de 12 horas. Mas o barco viajando para oeste a uma velocidade v verá um dia de 12*(1+v/1674.4) horas.

Isto significa um dia 12* v /1674.4 horas mais longo que o normal (0.0072 v). E quanto isto significa em minutos? Um dia 0.43 v mais longo. Assim se v for 10 km/h podemos dizer que o dia terá 4.3 minutos a mais. Naturalmente v é a velocidade média em todo o período de 12 horas.

Na realidade, o interessante é saber o deslocamento e não a velocidade. Bem, o deslocamento d é 12*v. No caso da velocidade de 10 km/h isto é simplesmente 120 km. Mas se não sabemos a velocidade, teremos que o tempo adicional T = 12 *v/1674.4 => = 1674.4*T. Assim se T está em minutos, a fórmula pode ser simplificada para d = 27.91 * T. Para o nosso caso de T = 4.3 minutos temos novamente aproximadamente 120 km.

Claro que isto implica em um relógio cuja precisão é de pelo menos na faixa de segundos. Um erro de 30 segundos no relógio causa um erro próximo de 5 km nesta fórmula.

E claro, já que temos de ter um relógio tão preciso existem meios mais inteligentes de se calcular a posição.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

História só faz sentido com ciência

Esta figura mostra os sistemas de correntes marítimas circulantes nos oceanos da Terra.
Se tentarmos entender as grandes descobertas marítimas dos séculos XV e XVI, o conhecimento destas correntes é absolutamente fundamental.
A razão da circulação das correntes é o conhecido efeito coriolis. Além delas existem os ventos alísios.
O efeito combinado dos dois afeta de modo bastante sério a navegação a vela. Com isto, para passar pelo Cabo da Boa Esperança, era necessária a volta do mar.
O maior efeito prático disto é que os navios à vela precisavam ir até boa parte do atlântico para seguir para a Índia.
E daí, descobrir o Brasil não era exatamente uma coisa improvável.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Telefonia - Por que és tão cara?

Depois de ler sobre como a telefonia celular do Brasil é a segunda mais cara do mundo, resolvi explicar porque isto acontece.

Sim, há razões bem fortes para que isto ocorra (você não acredita que isto fruto apenas dos empresários malvados, acredita?). Bem, vamos aos fatos:

A tarifa brasileira listada como segunda mais cara do mundo é de US$ 0.24/minuto. A África do Sul tem a mais cara (US$ 0.26/minuto), a maioria dos países da África tem uma tarifa não muito distinta da brasileira. Já na Europa temos a Espanha como mais cara (US$ 0.21/minuto) e o Reino Unido como a mais baixa (US$ 0.14/minuto).

A Rússia, México e Estados Unidos tem uma tarifa na faixa de US$ 0.05/minuto. Os mais baixos são China (US$ 0.03/minuto) e Indonésia (US$ 0.01/minuto).

Muito bem, por que a tarifa brasileira é tão cara? Bem, existem vários motivos. Mas os principais são a tributação e a interconexão.

O custo dos tributos pode chegar a 30% do valor da conta telefônica, sendo o ICMS o principal componente (25%). A coisa pode ser mais elevada ainda em determinados casos.

A interconexão é bem mais complicada. Seu valor pode chegar a 35% do valor da conta. O Valor de Uso Móvel (VUM) pode chegar a US$ 0.20/minuto quando é de móvel para fixo e US$ 0.0125/minuto quando é de fixo para móvel.

O fato é 1/4 do valor da conta são tributos e cerca de 1/3 do valor da conta é a diluição da interconexão entre os diversos usuários. Se separarmos os componentes teremos que dos US$ 0.24/minuto, cerca de US$ 0.06/minuto é tributo e US$ 0.08/minuto é interconexão. Resta então US$ 0.10/minuto que seria a tarifa sem interconexão ou tributos.

Infelizmente isto não é factível. Mas se reduzirmos os tributos pela metade e a tarifa de interconexão pela metade teríamos uma tarifa de US$ 0.17/minuto.

Isto já nos colocaria em bom caminho.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

E continua o festival brasileiro de futilidades

Enquanto atiram pedras em FHC e Serra por ódio mesmo, a turma dos jornalistas sem visão deixou passar uma bombinha relativamente grande.

"BRASÍLIA (Reuters) - A equipe de transição anunciou nesta quarta-feira mais quatro ministros do governo Dilma Rousseff, incluindo o novo chanceler, Antonio Patriota.
Também foram confirmadas as escolhas de Fernando Pimentel para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Aloizio Mercadante para a pasta de Ciência e Tecnologia. Nelson Jobim seguirá como ministro da Defesa.
Foi anunciado ainda Giles Azevedo, como chefe de gabinete da presidente eleita."

Até aí tudo bem, se não fossem os telegramas do wikileaks:

"The CDA paid a courtesy call November 18 on Brazilian
Ministry of External Relations (MRE or Itamaraty)
Secretary-General (Deputy Minister) Antonio Patriota.
Patriota has just taken up his duties following three years
as Brazil,s ambassador to Washington. Patriota said he sees
great potential for U.S.-Brazil relations to develop, but
stressed the need for high-level USG visits and a
comprehensive strategic bilateral mechanism in order to avoid
the appearance of neglect and to minimize the negative
affects on U.S.-Latin America relations of the Honduras
situation and the U.S.-Colombia bases agreement. Patriota
raised concerns about a pending Tropical Forests Conservation
Act agreement and defended Brazil,s invitation to Iranian
President Ahmadinejad (reftel). Unlike his anti-American and
obstructionist predecessor, Patriota is eager to engage the
United States. But he will do so on the basis of a
traditional Itamaraty nationalist perspective that remains
cautious and often suspicious regarding U.S. actions and
motives.

Patriota began by saying -- and repeated twice more
over the course of the conversation -- how important it is
for U/S Bill Burns to visit Brazil before the end of the
year, so that Brazil can receive Secretary Clinton and
President Lula early in 2010. He noted that President Lula
will be traveling a great deal in the first semester of 2010,
and that the second semester will be out of the question in
light of Brazil,s October elections. Patriota said the
high-level visits are important for the tone of the
relationship with Latin America as a whole, and Brazil in
particular. They will allow our differences to be seen
within a larger, and overall, positive context. Although he
has been the first to stress quality of contact over
quantity, he said there is a growing sense of neglect, which
is made worse by disagreements over Honduras and the
U.S.-Colombia base agreement. "We need new developments," he
said."

Claro que o atual chanceler está certíssimo. Errados estão os puxa-sacos e espalhadores de boatos que pululam a internet. E nem vou falar de jornalistas "sérios".

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Goodbye Blake Edwards

Breakfast at Tiffany´s
Abertura

Tema Principal

Claro que eu podia ter ido com a Pantera Cor-de-Rosa. Mas estes clips aqui são uma forma diferente de lembrar do grande diretor.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Outra conseqüência dos wikileaks

Uma conseqüência não totalmente inesperada, mas certamente um pouco surpreendente do vazamento pelos wikileaks é o desafio que isto traz para mídia.

Não é apenas o desafio de divulgar e tornar claro o que está sendo vazado. Não, nada disso. A imprensa não tem a menor possibilidade de conseguir transmitir este evento em toda sua magnitude. O caso do papéis do Pentágono são um exemplo claro que este tipo de informação, com todas as suas ramificações, está muito acima da capacidade da imprensa de mastigar para seus leitores (as 4 mil páginas podem ser vistas aqui).

O caso atual é diferente por causa que a magnitude do vazamento praticamente impede o controle editorial sobre o assunto. Na realidade é uma situação de um mercado dos vendedores, ou seja os compradores que se virem. Os veículos de mídia tem de se virar para tentar publicar a informação, caso contrário serão soterrados em uma avalanche de dados - pelos competidores.

E assim se vai a discrição editorial.

O que se vê é a publicação sem recortes ou edição do material. Isto é bom? Bem, para os historiadores eu desconfio que sim.

Mas e o público em geral? Se o passado é um indicador do futuro temos então que os leitores serão soterrados em uma avalanche de informação e sairão dela com suas visões particulares, restritas e editadas do material. Certamente serão muito poucos os leitores de todo o material.

E aí vem uma parte interessante do problema: muito como em outros sistemas sociais, a enorme maioria das pessoas irá obter suas informações de um número relativamente pequeno de fontes (que podem ser blogueiros, jornalistas, jornais, programas televisivos, etc...). Este fenômeno é bastante estudado e tem resultado em trabalhos interessantes.

A conclusão que a maior parte da informação vêm de um conjunto pequeno de fontes é de uma relevância ímpar. Não só joga por terra a idéia que a disponibilização pura e simples de informação é o suficiente para se tomar decisões informadas, como também mostra o caráter social (e com uma boa dose de preconceitos) de como recebemos e tratamos a informação.

Talvez tenha sido um imperativo biológico, talvez tenha sido um acidente de percurso, mas o fato é que a tendência natural das pessoas é acreditar naquilo que normalmente acreditamos e desconfiar do que não nos é familiar.

E isso esta sendo colocado em xeque pela primeira vez em muito tempo. Agora temos acesso não só ao que as nossas fontes de informação dizem, mas o que as fontes originais de informação disseram.

Em alguns casos o quadro não é bonito - em especial dos colegas blogueiros

As análises de alguns sites são de dar dó pela pobreza e ignorância

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A forma das coisas futuras

A questão do wikileaks trouxe questões muito relevantes para como vemos o mundo.

Não, não estou falando dos telegramas. Estou falando da reação do resto do mundo - principalmente dos Estados Unidos.

Olhe que coisa interessante:já surgiram duas mulheres acusando Julian Assange de violação sexual. Em paralelo a isto a Amazon decidiu não hospedar mais a página do wikileaks, paypal extingue conta do wikileaks, e praticamente temos uma espécie de boicote internacional contra o site.

Mas a vingança veio rápida, hackers decidiram se vingar dos perseguidores.

O problema naturalmente são as ramificações disto. As razões para Amazon rescindirem o contrato de hospedagem do site são francamente de uma candura quase imbecil. Os mesmos livros que a Amazon vende não possuem a garantia demandada para o site. A mesma justificativa tola foi usada pelo paypal.

O problema é que este é um vazamento não controlado. Até agora suspeito que muito poucas pessoas tem conhecimento do que continham os 250 mil documentos.

A impressão que dá é que o governo norte-americano está fazendo o impossível para evitar a divulgação do restante do material. E nisto está arranhando seriamente a própria imagem internacional (talvez até mais seriamente que no governo Bush), detonando a imagem de diversos governos aliados, arrasando as chances de declaração de isenção de algumas corporações transnacionais mundo afora (Amazon, Paypal, Visa e Mastercard certamente não terão o mesmo nível de confiabilidade de antes).

Em suma temos um possível retrato que as ações de governos e empresas irão conflitar cada vez mais com a imagem que tentam apresentar.

E no fundo temos uma prova que informação é realmente poder.

E quem divulga a informação quer exercer o controle sobre o que é publicado.

É uma forma de controle, só que frontalmente oposta aos tempos de hiper-transparência.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Mais sobre o caso Finatec

Esta semana tivemos novamente a divulgação que um professor da UnB foi condenado a 10 anos por fraude. O caso ocorreu devido ao uso da Finatec como forma de driblar a lei de licitações.

Isso me deixou chateado. Primeiro porque eu acalentava a esperança que o professor em questão fosse inocentado - na realidade eu acreditava que ele era inocente.

Bem, e ele é inocente? Não sei, mas não posso também escolher duvidar da sentença do juiz só porque não gostei dela. Então vou me abster pensar nisto (claro que poderia tomar uma posição, mas temo que por motivos lógicos esta posição coincidisse com a do juiz, ou pior passasse a depender da hipótese de uma gigantesca conspiração contra o professor).

Claro que existem interesses neste caso, afinal a notícia original é de 25 de outubro e agora está de novo na mídia. Quando uma notícia velha reaparece como nova então há algum interesse para tanto (ou então é jornalismo de qualidade fraca mesmo)

Mas este não é o segundo motivo. O segundo motivo é que algumas pessoas acreditam que isto é motivo para acabar com a Finatec ou pelo menos encerrar o processo de recredenciamento.

A lógica é esta: o professor que dirigia a Finatec foi condenado por fraude, logo a Finatec é corrupta ( e por conseguinte todas as instituições nos moldes da Finatec são corruptas - e preto é branco).

Bem eu nem preciso trazer a lista de falácias lógicas para mostrar o erro do pensamento.

Aqui se está condenado a instituição pela ação do indivíduo. E neste caso pode-se estar super-dimensionando o papel do indivíduo na instituição, sub-dimensionando o papel da instituição sobre o indivíduo ou simplesmente antropomorfizando a instituição (trazendo a mesma características humanas - é muito comum, o pessoal faz isso com o capitalismo, comunismo, governo, a lista é grande).

Mas o fato é que o erro do indivíduo não pode a priori condenar a instituição.

Se seguirmos por esta estrada não vamos gostar de onde vamos chegar

O germezinho do autoritarismo

Já encontrou com uma pessoa que disse assim: "Não sei porque o governo gasta dinheiro com decoração de Natal. Isto é só dinheiro jogado fora!"

É até bastante possível que um dos meus 17 leitores também pensem assim. Não fiquem tristes, eu também tenho estes pensamentos vez por outra.

Mas vamos levar a questão um pouco mais a frente: troque as palavras "decoração de Natal" por "concerto ao ar livre", ou por "desfile militar", ou por "show da vitória/virada". Então, ainda é desperdício de dinheiro?

O ponto é sutil, pois a priori poderíamos incluir qualquer "atividade cultural" no pacote "desperdício de dinheiro". Então pode ser que estivéssemos efetivamente privando a população de cultura.

Aí a coisa fica complicada...

Como justificar racionalmente um gasto de dinheiro em uma "atividade cultural". Bom, imagino que você já foi ao cinema alguma vez na vida (ou teatro, ou dança, ou concerto). Então como você justificou o gasto nesta ocasião?

Claro que nesta linha de raciocínio eu estou trapaceando: enquanto VOCÊ tomou uma decisão de usar seu dinheiro em uma atividade cultural, o uso do dinheiro dos contribuintes em uma atividade cultural não é decidido por todos os contribuintes.

Realmente, é muito raro isto acontecer. Na realidade o uso do dinheiro é decidido pelos representantes do povo - supostamente com no interesse da população. E  aí que a porca torce o rabo...

Enquanto estamos no plano das opiniões está tudo muito bom e razoável. Mas uma vez que passamos do plano das opiniões para o da ação ou mesmo do suporte estamos indiretamente usurpando o poder dado aos representantes pela população.

"Ora bolas, mas se eu vejo que é errado não posso fazer nada a respeito?"

Naturalmente que pode. Mas para ações há conseqüências, para ações existem ramificações.

São situações diferentes uma manifestação popular contra algo considerado errado (por exemplo: um representante popular excedeu sua autoridade ou cometeu um crime) e uma manifestação de um grupo contra algo que consideram errado (por exemplo: gastar dinheiro na decoração de Natal).

No primeiro caso, a manifestação (que pode ser feita por um ou mais grupos) está agindo em defesa da população, mesmo que ela não compreenda isto.

No segundo caso, a manifestação (que pode ser feita por um ou mais grupos) está agindo em defesa do que acha melhor, e a opinião da população realmente não conta nisto.

O segundo caso é o espirro causado pelo germezinho do autoritarismo

Diferenças sutis, porém significativas

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Dá até vontade de dizer

eu bem que avisei. Mas deixo apenas um relato do que aconteceu hoje - talvez como uma forma de lembrar que abrir a caixa de pandora tem conseqüências...

Vejamos o que aconteceu hoje...

Da folha:


Alunos da UnB protestam contra "beijódromo" e gritam "demagogo" para Lula


SIMONE IGLESIAS
DE BRASÍLIA


A inauguração do Memorial Darcy Ribeiro, batizado de "beijódromo", foi marcada por manifestação dos alunos contra o reitor da UnB (Universidade de Brasília), José Geraldo Sousa Júnior e contra a obra. O presidente Lula também foi alvo dos manifestantes.


Sérgio Lima/Folhapress


Alunos com cartazes que pediam hospital, prédios e mais recursos para a educação durante discurso de Lula
Acompanhavam o evento os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e José Mujica (Uruguai).


Enquanto discursava, o reitor foi vaiado e teve que ouvir gritos dos manifestantes, que são estudantes da universidade. "UnB sucateada", "chega de mentira" e "fora repressão" foram algumas das expressões gritadas em coro pelos alunos.


Quando foi discursar, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, pediu um acordo com os manifestantes, que parassem de gritar em respeito a Lula e Mujica.


"A hora é de saudar o mestre Darcy Ribeiro", afirmou Ferreira, que desistiu de discursar por causa do calor. Disse que publicará seu discurso no site do Ministério da Cultura.
Os manifestantes ensaiaram vaiar o ministro e não suspenderam a manifestação.


O beijódromo custou cerca de R$ 8,5 milhões e ficou pronto em poucos meses. Por conta da rapidez das obras, os alunos criticavam o fato de a Casa do Estudante não ter ficado pronta como foi prometido pela reitoria.


A cerimônia foi realizada ao lado do memorial e a cobertura montada pela organização do evento era de plástico transparente, o que deixava vazar o sol para os convidados.


DEMAGOGO


Ao começar a discursar, Lula também foi alvo dos manifestantes. Enquanto falava da biografia de Darcy Ribeiro, os alunos gritavam "demagogo". O presidente pareceu irritado e o volume do microfone foi aumentado, abafando a voz dos manifestantes que foram barrados pela segurança e ficaram do lado de fora das grades que separavam o palco e convidados dos alunos da universidade. "Ô Lula, deixa a galera entrar", gritaram, durante boa parte do discurso presidencial.

Será que Lula gostou?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Provavelmente a melhor interpretação até hoje - tirando um filme



Some day, when I'm awfully low, 
When the world is cold, 
I will feel a glow just thinking of you... 
And the way you look tonight. 

Yes you're lovely, with your smile so warm 
And your cheeks so soft, 
There is nothing for me but to love you, 
And the way you look tonight. 

With each word your tenderness grows, 
Tearing my fear apart... 
And that laugh that wrinkles your nose, 
It touches my foolish heart. 

Lovely ... Never, ever change. 
Keep that breathless charm. 
Won't you please arrange it ? 
'Cause I love you ... Just the way you look tonight. 

Mm, Mm, Mm, Mm, 
Just the way you look to-night. 

Wikileaks - Fazendo minha parte

O site do wikileaks está sem atualizar por causa do cablegate.

Mas a internet é uma caixinha de surpresas - aqui você pode ler sem problemas

Eu não tenho problema com os Estados Unidos, mas neste caso eles estão tomando a decisão errada. Os pais fundadores iriam desaprovar o rumo que o governo tomou neste caso.

They who can give up essential liberty to obtain a little temporary safety, deserve neither liberty nor safety. - Benjamin Franklin

Taxas de Homicídio

Já faz algum tempo que desconfio que as pessoas tendem a acreditar mais nas suas crendices do que nos fatos. E quando falo crendices não estou falando de pessoas de pouca educação... Muito pelo contrário.

Já vi diversas pessoas ditas esclarecidas falando sandices a torto e a direito. E há quem acredite.

Então vamos falar da percepção do perigo do homicídio. As taxas são geralmente por 100.000 pessoas - e a mundial está em 7.6. Isto efetivamente é algo como uma probabilidade menor do que 1 em 10.000 (ou menor que 0.0001%).

Já no Brasil está taxa sobe para 25.2 para cada 100.000. Isso é muito alto em comparação com a Argentina (5.27), Paraguai (12.9) e Uruguai (4.3). Esta taxa coloca o Brasil no número 9 de países com maior taxa de homicídio (atrás apenas de El Salvador, Honduras, Jamaica, Guatemala, Venezuela, África do Sul, Colômbia e Belize).

Mas mesmo dentro do Brasil temos diferenças. Primeiro que as taxas de homicídios para homens (47.7) e para mulheres (3.9) são muito diferentes (inesperado? Nem tanto...).

Segundo que os locais que imaginamos ter altas taxas de homicídio (Rio de Janeiro - 31.2 ou São Paulo - 17.7) são bem diferentes dos locais que realmente tem altas taxas de homicídios (Foz do Iguaçu - 91.2 ou Maceió - 92.4).

Então, este é daqueles casos aonde imaginamos uma coisa e a realidade é outra...

Mais probabilidades

Fiquei encucado com uma questão apresentada no Discovery channel: quão distante você deve estar de uma explosão?

Sim eu entendo que há muitas variáveis em questão, mas imagino que no final é uma questão de área. Ou seja a probabilidade deve ser proporcional a razão de áreas (entre a área coberta pela explosão e a área do corpo em questão.

No caso a área do corpo é Ac e a área coberta pela explosão é pi*R^2.

Então podemos dizer que a probabilidade em R=R1 é Ac/(pi*R^2)

Alternativamente, a razão de probabilidades p(R1)/p(R2) é R2^2/R1^2

Ou em português claro: quando se dobra a distância a probabilidade de ser atingindo é dividida por 1/4.

Claro que isto só vale para explosões simétricas

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O beijódromo e o resto dos campi

Nesta semana será inaugurado o beijódromo.

Como isto aqui é um espaço de opinião meu eu vou dizer o que penso: não era o momento.

A inauguração de uma obra assim com baixa prioridade em tão pouco tempo (?) quando outras obras se atrasam se configura em uma rematado mau gosto. Transmite-se uma expressão de escárnio. A impressão ou percepção é o que fica.

Felizmente o dinheiro para construção veio da Fundação Darcy Ribeiro e do Ministério da Cultura. Mesmo assim, empatam-se recursos da UnB senão na construção então certamente na manutenção.

Enquanto isso, os campi sofrem com atrasos de obras - com destaque para os prazos fictícios que já corroeram a credibilidade quanto ao tempo que as obras irão ainda perdurar.

A idéia de um memorial a Darcy Ribeiro é boa (com todas as reservas que tenho com o mesmo - eu li algumas coisas do referido ex-reitor).

O timing é péssimo. E timing, assim como percepção, é tudo.

E com isto vai aumentando o coro dos insatisfeitos com as decisões tomadas.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Wikileaks

Seria o vazamento um evento cisne negro? Se for então podemos nos preparar para conseqüências inesperadas e de grande impacto.

Para a maioria do público nacional, a política externa é algo não muito bem compreendido. No fundo é a defesa de interesses. Alguns tem maior poder de barganha, outros nem tanto, uns tem mais credibilidade, outros nem tanto... e assim toca-se o barco.

Mas uma constante em todas as negociações entre países tem sido a duplicidade. Há a "verdade pública" e a "verdade de gabinetes". Tudo isto é tácito e bem resolvido nesta esfera do mundo.

O problema é que por vezes, discursos políticos aproveitadores, velhos rancores e simplesmente má sorte podem acabar ditando política interna e política externa. E aí é que o vazamento entra.

Temos uma quebra de barreira entre as verdade pública e de gabinete. E as pessoas não estão muito acostumadas com isto.

Mas não deixa de ser engraçado ver uma superpotência envergonhada do que pode ser divulgado (e sim, isto é uma grande questão). Não podemos nos esquecer que este tipo de informações traz alguns depoimentos muito cândidos que nunca veriam a luz da divulgação pública se tivessem chance.

Então o potencial para confusão está criado. Vou fazer minha parte e divulgar links de informações interessantes a medida que elas surjam.

Começando aqui.

domingo, 28 de novembro de 2010

O cisne negro

O conceito do cisne negro é o de um evento que é raro e tem grande impacto. Essencialmente a idéia está ligada à distribuições com grande distorção e curtosis.

Alguns tipos de distribuição podem ser associados a este tipo de situação.

Ao meu ver, um evento do tipo cisne negro só é mais comum caso tenhamos sucessivos eventos raros que possibilitem a sua ocorrência. Em suma há uma série de eventos raros que devem ocorrer para que um evento do tipo cisne negro ocorra com maior facilidade.

Mas é claro que aí temos a chave do problema: os eventos que podem aumentar a probabilidade de um evento do tipo cisne negro podem ou não ser independentes. E a falha em perceber uma possível dependência pode levar a subestimar a probabilidade de ocorrência de um evento do tipo cisne negro.

Fico imaginando que espécie de eventos que podem ocorrer desta forma, então me vem a mente o conceitos de eventos periódicos cuja combinação de máximos pode levar a problemas. Mas nem de longe precisa ser algo assim... Um problema do tipo cisne negro...

Talvez seja melhor que o criador do conceito recente fale a respeito:


E a continuação:

sábado, 27 de novembro de 2010

Perigos

Com esses dados é possível dizer que a chance de se morto por motivo de agressão é quase doze (12) vezes maior para homens em comparação com mulheres.

Resta calcular as chances de cada uma das causas externas para homens e mulheres.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Viver é perigoso, mas como é mais perigoso morrer?

Neste post vou torcer um pouco os mitos que se vêem rodando pela internet. Mas vou falar mais sobre estes dados em outro post.

Eu estava vendo as tabelas de morbidade do DATASUS. Encontrei alguns dados interessantes.

Cerca de 29 mil pessoas morrem por ano devido ao trânsito no Brasil. Este número está crescendo, mas em compasso com o aumento população. Destas fatalidades cerca de:
  • 34% são pedestres
  • 6% são ciclistas
  • 28% são motociclistas
  • 28% estão em carros
  • 1% estão em caminhonetes
  • 3% estão em caminhões
Já com relação a agressão, temos cerca de 47 mil mortes anuais. Com relação ao gênero:
  • 92% são homens
  • 8% são mulheres
Com relação a cor
  • 32% são brancos
  • 9% são negros
  • 59% são pardos
Com relação a escolaridade
  • 6% não tem
  • 24% tem de 1 a 3 anos
  • 44% tem de 4 a 7 anos
  • 22% tem de 8 a 11 anos
  • 4% tem 12 ou mais anos
Com relação ao estado civil
  • 80% são solteiros
  • 16% são casados
  • 1% são viúvos
  • 3% são separados
Estes números podem ser utilizados para obtermos probabilidades. Mas o mais interessante é realizar as probabilidades cruzadas. Isto eu vou fazer em um futuro post

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Quem é pobre?

Esta perguntinha é mais complicada do que parece. Aonde está a linha?

"O Brasil diminuiu a pobreza", "Milhões saíram da pobreza nos últimos anos"

Estas manchetes são apenas reconstruções de lembranças que tivemos recentemente. Ah, mas aí vem a pergunta: quem é pobre?

Felizmente teve um bocado de gente que se dedicou a isto, mas há diferentes noções sobre o que significa ser pobre.

Neste texto, temos que a linha de pobreza é definida por quem ganha menos do que meio salário mínimo por mês, mas existe o índice de multipobreza que inclui outros fatores.

De qualquer maneira, o IPEA usa o método reportado acima (de meio salário).

Este critério é bem mais rígido que adotado pelo BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento). Mas ainda assim o critério do IPEA ainda é menos detalhado do que o mostrado neste artigo.

O interessante é que para o Brasília a linha de pobreza é uma renda mensal por pessoa de R$ 240,15 e a linha de indigência é de R$ 54,62.

Se olharmos quanto valia o salário mínimo em setembro de 2004 (época do cálculo acima) teremos R$ 260,00.

Ora mas como metade do salário mínimo era R$ 130,00, então como pode a linha da pobreza ser R$ 240,15? podem perguntar alguns...

A resposta é simples: R$ 130,00 é o valor médio no Brasil. Quem fizer a conta com todas as regiões chega aos tais R$ 130,00.

Bem e segundo esta conta quantos são os pobres e indigentes? Em Brasília a estimativa de pobres é de 944.695 (42,4%) e a de indigentes é de 182.684 (8,2%).

E o Brasil como um todo? Segundo a metodologia do IPEA temos 57.698.195 pobres (33,2%) e 13.894.982 indigentes (10%).

Mas se utilizarmos a metodologia do índice multipobreza está escala cai para cerca de 8,5%. Qual usar? Bem, a escala do IPEA leva em consideração alimentação e outras itens.

Uma visão de um julgamento pelos falsos positivo e negativo

Em uma série de posts lá de janeiro eu explorei a questão e a importância do sensitividade e sensibilidade dos testes biológicos.


Em poucas palavras, as duas questões que me chamaram a atenção foram a do falso positivo (o teste indica que sim mas não é verdade) e o falso negativo (o teste indica que não mas é verdade).


No caso temos:

  • P(+|Problema) - constitui o que é chamado de sensitividade do teste.
  • P(-|Não Problema) - constitui o que é chamado de especificidade do teste.

Mas não estamos interessados nisso, estamos interessados em

  • P(Problema|-) - constitui o falso negativo
  • P(Não Problema|+) - constitui o falso positivo

O interessante é que na série anterior o procedimento mais efetivo para se limitar o efeito de falsos positivos e negativos foi o uso dos grupos de risco.

No caso, a pessoa em questão estar ou não no grupo de risco pode ser interpretado de diversas formas. Uma delas é não ser réu primário, ou seja já ter burlado a lei. Outra forma é o que se chama de ter motivo, oportunidade e meios.

Este é um tópico interessante que merece ser revisitado. Depois eu volto a estes pontos

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Espectro de Escassez

Estou lendo uma reportagem a respeito do risco de uma escassez no espectro de freqüências em um futuro próximo.

E realmente é um problema em potencial. De modo simples podemos fazer uma conversão entre o espectro (em Hertz) para taxas utilizando a eficiência espectral. De modo simples é uma conversão de bit/s por Hertz.

Assim se um sistema tem uma eficiência espectral de 1.3 bit/s por Hertz equivale a dizer que em uma banda de 30 kHz transmite-se a uma taxa de 39 kbit/s.

No caso dos sistemas de transmissão de dados celulares há mais em jogo, pois o sítio da transmissão também deve ser fatorado nesta questão.

Em todo caso o fato é o seguinte: mais pessoas demandam mais taxas e mais taxas demandam invariavelmente mais banda para transmissão. O problema é que o espectro de freqüências tem espaço limitado, então o que fazer?

Bom, para começar temos de ver o tamanho do espectro que pode ser usado para comunicações móveis. Na realidade ele tem de ser dividido em 2 - um para uplink  (terminal para rádio-base) e downlink (o reverso).

Ainda há questões de propagação, relação sinal-ruído e muito mais coisas. Mas temos de partir do básico.

Essencialmente temos algo que iria de um tanto menos de 1 GHz até um tanto mais de 2 GHz. Vamos dizer que o comunicação de dados é simétrica (e não assimétrica).

Bem resta então cerca de 1 GHz para uso. Quanto de taxa podemos colocar em 1 GHz? Se supormos uma fabulosa taxa de 16 bit/s/Hz. Neste caso teríamos 16 Gbps.

Eu diria que este seria algo como o limite superior (se colocarmos na fórmula de Shannon chegaríamos a uma relação sinal ruído de cerca de 36 dB - muito difícil pelo que sei do ambiente de comunicação móvel).

Na minha visão, acredito que seria mais factível algo na faixa de 4 Gbps (que resulta em uma relação sinal-ruído de cerca de 12 dB).

Para os níveis de hoje parece bom. Mas e para daqui a 10 anos?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Picuinhas

Existem certos tópicos que inadvertidamente ou não eu já tenho picuinha contra. E um destes pontos é justamente algo que chamo de ciência ideológica. Há bastante divergência sobre o que seja ciência ideológica, mas na minha acepção, o conceito pode ser resumido na idéia que a realidade tem que satisfazer as particularidades da ideologia.

Isto é inacreditavelmente estúpido - mas é tão comum que chega a nem ser percebido. Um dos efeitos mais comuns é o descarte de partes do problema que não satisfaçam a explicação baseada na ideologia. Outro efeito é procurar por sinais que seriam de "validação" da teoria ideológica e não pontos de refutação.

Isto acontece em todos os ramos, mesmo nas ciências ditas exatas (o chamado modelo padrão de física poderia facilmente ter seções incluídas na categoria de ciência ideológica).

Mas a coisa realmente alcança níveis épicos nas ciências humanas. Vou dar um exemplo:

"Não é sem razão que no interior das salas de aula a história muitas vezes foi tida como uma disciplina chata. Isto se deu especialmente devido a pouca relação estabelecida entre o que era ministrado e os problemas concretos vividos pelos alunos. Não existia qualquer convicção de que o aprendizado da história pudesse ajudá-los desvendar e, principalmente, transformar o mundo em que viviam.

O problema é que o passado do historiador não deveria ser – e não é - algo morto, como o fóssil de um dinossauro encravado numa rocha ou exposto num museu. Os fatos, como uma espécie de matéria-prima da história, não são coisas mortas que apenas devem ser coletados e colocados numa seqüência rigorosamente cronológica.

Repito, não é possível estudar uma comunidade humana e seu desenvolvimento histórico como se fosse uma colméia ou um conglomerado de rochas. Estranhamente, este passado continua vivendo e produzindo seus efeitos sobre nós e é, justamente, por isso que deve ser estudado e melhor compreendido.

No caso das ciências humanas – ao contrário das ciências naturais e exatas – não há uma muralha da China separando o objeto a ser estudado (as sociedades) e o sujeito que o estuda (o historiador, o sociólogo etc.), mesmo tratando-se do estudo de agrupamentos que viveram há milhares de anos."

Bem, isto não é verdade. Comunidades e seu desenvolvimento podem ser estudadas como se fossem uma colméia ou um aglomerado de rochas. A diferença é que a descrição é substancialmente mais complicada. Mas a existência da dependência não é garantia de impossibilidade de isenção - apenas torna as coisas mais difíceis, e só.

"Para os antigos historiadores, de tendência positivista, os fatos eram como coisas brutas. Eles estavam permanentemente atrás dos fatos puros, duros e irretorquíveis.

Contra os fatos não há argumentos, gostavam de dizer. Contudo, os fatos não falam por si mesmos, como afirma o senso comum positivista. Segundo o historiador inglês Edward Carr, “os fatos falam apenas quando o historiador os aborda: é ele quem decide quais os fatos que vem à cena e em que ordem e em que contexto”. E conclui: “A convicção num núcleo sólido de fatos históricos que existem objetiva e independentemente da interpretação do historiador é uma falácia absurda, mas que é muito difícil de ser erradicada”.

No entanto, o historiador que se propõe fazer perguntas ao passado não é um ser desencarnado, separado do mundo. Ele é membro de uma determinada sociedade, de uma determinada época, de uma determinada classe social. Ele se encaixa no interior de determinadas ideologias e perspectivas teórico-metodológicas, que, na maioria das vezes, têm um forte sentido classista. Portanto, o historiador não é neutro diante dos conflitos e dos problemas que aparecem à sua frente durante a pesquisa que realiza.

É sua situação no mundo que determina as perguntas e as escolhas cotidianas que faz. Isto, é claro, vai direcionar as respostas que ele procura encontrar. Um historiador liberal-burguês, por exemplo, jamais colocaria a questão: De onde vem a exploração do trabalho? Para ele, o conceito exploração nada teria de científico, não passaria de uma excrescência ideológica - invenção de alguns socialistas inconformados.

A história não é a simples catalogação neutra de fatos ocorridos no passado. A missão dos historiadores é relacioná-los numa totalidade concreta (processo histórico) e, principalmente, interpretá-los. E a interpretação sempre tem por base determinada teoria ou ideologia. A partir dos mesmos fatos podemos construir várias e contraditórias interpretações."

Sim, é absolutamente verdade que contra fatos não há argumentos. Mas quanto a interpretação do significado dos fatos é um problema diferente. A decisão de incluir ou excluir fatos é sim uma interpretação da história. Mas o mesmo não pode ser dito com relação a mera repetição dos fatos ocorridos. O difícil é correlacionar os fatos de modo coerente e científico, fugindo da interpretação instintivamente pessoal. Aí é que começa a desgraça da ciência ideológica - primeiro confundindo o fato com a interpretação do fato e mais ainda duvidando da existência do fato devido a ideologia de quem o relatou.

Mas a coisa piora bastante...

"O historiador marxista tem como objetivo fornecer uma explicação coerente das origens e desenvolvimento das sociedades humanas em suas diversas dimensões. Compreender as inúmeras transformações por que elas passaram. As mudanças sociais devem ser, em última instância, os verdadeiros objetos da história.

As sociedades humanas – como tudo no universo - estão num constante movimento. Elas nascem, desenvolvem-se - conhecem várias fases – e depois fenecessem. Estas transformações podem se dar lentamente – quase imperceptíveis - ou de maneira abrupta, como ocorre nas guerras e nas explosões revolucionárias.

Mas, qual é o motor dessas permanentes mudanças? São as contradições existentes no seio de cada sociedade, que se traduzem naquilo que os marxistas chamaram de lutas de classes."

Aí vem o segundo grande pecado: tentar torcer tudo que se encontra de acordo com a ótica própria - e nisto compremetendo diferentes interpretações futuras. O conceito de luta de classe não é lei universal, muito pelo contrário - é até bem ocidental (sem falar que é equivocado, mas a discussão ficaria mais complicada se fossemos por esta estrada). Então em casos aonde não se enxerga a luta de classes se inventa uma luta de classes (existindo ou não).

Nisto também há outro pecado embutido que é a crença na evolução moral da sociedade ser intrínseca a evolução da sociedade. A "evolução da sociedade" tem tanto sentido moral quanto um gomo de laranja (o gomo de laranja é um produto de processos evolucionários milenares - e não há um pingo de sentido moral nisto). A evolução moral é antes de mais nada uma fantasia nossa...

E nisto o exemplo de caso é bem claro:

"Por isso, as classes dominantes sempre procuraram reconstruir o passado para, no presente, justificar sua própria dominação. Os líderes das nações imperialistas também buscaram se utilizar da chamada história universal para justificar a dominação e a exploração que exerciam sobre outros povos, considerados inferiores.

Vejamos alguns exemplos extremos destas tentativas: os faraós do Egito foram transformados em filhos diletos do Deus Rá, alguns governantes gregos e romanos também foram transformados em descendentes de deuses e heróis olímpicos. Para justificar a escravidão africana, os negros foram considerados descendentes de Cam, o filho amaldiçoado de Noé. Deveriam pagar, através da servidão, pelos pecados de seus antepassados. Estes são apenas exemplos mais descarados da reconstrução mítica da história feita pelos membros das classes proprietárias no poder e seus escribas. Existem outros exemplos mais sutis, menos perceptíveis, mas, nem por isso, menos perversos.

Os deserdados da terra, os povos explorados, escravizados - ou mesmo eliminados - deixaram poucos rastros na história. Os escravos do Egito, Roma e Grécia não nos deixaram nenhuma obra escrita, apresentando seu ponto de vista sobre a situação na qual viviam. Quem escreveu a história dessas sociedades antigas foram homens livres e, na sua quase totalidade, proprietários de terras e de escravos. Alguns imperadores, também, aventuraram-se no oficio de escrever história. É claro que para enaltecer os seus próprios feitos e dos seus antepassados."

Naturalmente que mencionar que a escravidão no período mencionado não era apenas de negros mas de todos, por ser puramente de conquista. Este ponto destrói esta argumentação de samba de afro descendente com desabilidade mental. Mas isto não impede o "historiador" - pois tem um monte de leitores que não sabem disso.

"No Brasil, as coisas não podiam ser diferentes. Aqui, também, não foram os índios e negros escravizados que escreveram a história do país. Afinal, a quase totalidade deles não sabia ler e escrever – era lhes proibido freqüentar escolas. O que sabemos deles, num primeiro momento, nos foram contados por viajantes estrangeiros e jesuítas. Relatos que muitas vezes descreviam o martírio desses povos, mas, em geral, vinham carregados de inúmeros preconceitos e graves incompreensões.

Somente na segunda metade do século XIX, ao começar ser questionada a escravidão, surgiu pela pena dos abolicionistas uma outra história, mais crítica ao passado escravista. Mesmo assim, apesar de sua boa vontade, os abolicionistas não poderiam expressar adequadamente as opiniões dos explorados. E aqui não vai nenhum demérito a eles. Pois, foi através dos óculos desses escritores que começamos conhecer um pouco mais da evolução e vicissitudes de nossa sociedade.

Não quero dizer com isto que se os índios e os negros escravizados soubessem ler e escrever produziriam uma interpretação exata da sociedade na qual viviam. Eles ainda não tinham o instrumental teórico necessários para isso. Mas, com certeza, seus depoimentos nos permitiram ver a realidade por outros ângulos e acabar de montar o quebra-cabeça do que foi a nossa sociedade colonial e escravista. O olhar da senzala jamais será o mesmo da Casa Grande, mesmo que por ela pudesse ser fortemente influenciado. Este, inclusive, o erro daqueles que pretendem generalizar as conclusões de Gilberto Freyre na sua obra magna.

Podemos dizer que somente com o advento do capitalismo e a formação de uma classe operária moderna, que sabia ler e escrever – podendo, assim, produzir seus próprios intelectuais orgânicos -, é que foi possível construir uma história mais coerente das classes exploradas. Apesar disso, por um bom tempo, esta nova história (socialista) tendeu a ser marginal, fora dos grandes circuitos, como as academias e o mercado editorial. Afinal, as idéias dominantes são sempre – ou quase sempre – as idéias das classes dominantes.

Somente tendo a consciência que a história é um espaço de luta de classes, os trabalhadores poderão se dedicar com mais afinco ao seu estudo e elaboração. O domínio da história e da dinâmica das sociedades em que vivem – como das experiências de resistência desenvolvidas por seus antepassados - os ajudará travar, de maneira mais conseqüente, as lutas do presente, avançando rumo ao socialismo.

Saber que as sociedades se transformam – que nada é imutável -, e que o principal instrumento dessas mudanças é a ação consciente dos homens, tem um efeito decisivo no processo de constituição da classe dos trabalhadores, como agente ativo de sua própria história."

Ok, aqui o camarada está francamente de sacanagem. Não dá para levar a sério

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Regra dos Sete, mais ou menos 2 é claro

Este número mágico foi descoberto por George Miller em 1956. No artigo "The Magical Number Seven, Plus or Minus Two: Some Limits on Our Capacity for Processing Information", Miller aponta que a capacidade de guardar pedaços de informações em memória de curto prazo é limitada à 7 (mais ou menos 2).

Este resultado é extraordinário por vários motivos. Primeiro porque indica que existem limitações na quantidade de informação que guardamos na memória de curto prazo. Segundo porque este artigo tem sido utilizado em diversas formas de projeto de interface com os seres humanos.

Quando eu digo isto trato desde da quantidade de informações a serem memorizadas para uma navegação na internet até como um display de informações deve ser usado.

No caso o estudo de Miller tratou dos pedaços de informações que uma pessoa normal conseguiria memorizar sem precisar de papel e lápis. Números de telefone? Bem, se eles passarem de 9 dígitos a coisa vai pegar para maioria.

Uma seqüência de direções? Mesma coisa - mais de 7 ou mais itens então começa a ficar difícil lembrar dos passos. Este tipo de coisa pode ser a razão da brincadeira do telefone sem fio ser tão interessante. Fale mais do que 7 pedaços de informação para o voluntário e a coisa fica complicada para memorizar.

Mas o que são pedaços de informação? Aí podem ser as mais diversas coisas: números, cores, locais, sons, seqüências e coisas afins. Alternativamente, é possível que esta mesma lei inclua argumentações - ou seja, 7 é o máximo nível de encadeamentos lógicos que podemos memorizar sem precisar de papel.

Claro que este número pode ser aumentado com treinamento, mas desconfio que podemos dizer que incialmente nosso buffer de informações tem espaço para apenas 7 itens.

E isto traz uma série de repercussões interessantes: é possível fazer uma pessoa se perder em uma argumentação lógica se forem utilizados mais do que sete níveis de encadeamento. Também é perfeitamente possível que parte da nosso aprendizado evolucionário, ou seja como formamos opiniões, também seja limitado por esta regra dos sete.

O que isto quer dizer? Bem, que talvez o limite de memória para decidirmos se algo é correlacionado ou não é 7. Só isto já vale investigar...

A triste luta contra imprensa chapa-branca

Eu terminei de ler Em Brasília 19 Horas de Eugênio Bucci. Pois bem, já havia mencionado isto em um post anterior sobre isto (os sete pecados capitais da imprensa). Mas existem também os sete pecados capitais do discurso autoritário

Para tornar mais claro vou listar os 7 aqui mesmo:
Os sete pecados capitais do discurso autoritário: 

I - O esquecimento proposital - sonegar a história e ocultar os fatos que não convêm ao argumento. 

II - O coletivo compulsório - Dizer "nós" para impor obediência e intimidar as divergências. 

III - A futrica instrumental - semear a intriga palaciana para prejudicar os que pensam diferente. 

IV - A apologia do aparelhismo - promover - abertamente ou, se necessário, de forma dissimulada - o uso dos meios de comunicação públicos para fins do grupo que governa. 

V - O ódio à imprensa - banir reportagem e profetizar que todo jornalismo será castigado. 

VI - A arrogância sem substância - desdenhar dos outros para desqualificá-lo. 

VII - Condenar a priori - Acusar pelas costas, na escuridão, sem provas e sem tolerar o direito de defesa. 


Além destes existem os sete pecados capitais da imprensa:
  1. Distorção deliberada ou inadvertida; 
  2. culto das falsas imagens; 
  3. invasão da privacidade; 
  4. assassinato de reputação; 
  5. superexploração do sexo; 
  6. envenenamento das mentes infantis
  7. abuso de poder

Bem, vou mostrar um texto aqui publicado ontem na página da UnB. Vejam se o mesmo sofre ou não de alguns dos pecados listados ou no discurso autoritário ou nos pecados da imprensa.

A outra UnB
Ex-aluno e jornalista João Campos fala sobre as mudanças testemunhadas na universidade nos últimos três anos

João Campos - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Quando me formei jornalista pela Universidade de Brasília, há apenas três anos, a UnB era outra. Não via estudantes, professores e técnicos abraçados, como na emocionante luta junto à administração pela manutenção salarial dos servidores, que resultou na greve mais longa da história do país, no primeiro semestre de 2010.
Não via a presença de servidores técnico-administrativos e jovens alunos nas salas de reunião da administração superior. Era coisa rara e, quando ocorria, os segmentos tradicionalmente excluídos das decisões sobre a instituição que ajudam a construir não tinham voz diante da supremacia declarada dos docentes.
Não se via obras para a expansão da universidade. A criação de novos cursos não era assunto nos corredores. Os campi de Planaltina, Gama e Ceilândia, talvez o projeto mais ambicioso e necessário da UnB, estavam aprisionados no papel. A vida circulante em uma das maiores universidades desse gigantesco país, com suas Artes, Tecnologias, Humanidades, Exatas e Ciências da Vida, estava apagada por uma apatia geral e obscura.
Quando convidado para deixar um grande jornal da cidade e agregar a equipe da Secretaria de Comunicação da UnB, há cerca de dois anos, me surpreendi. Encontrei o diálogo que serviu de base para a construção de um modelo inovador e democrático de gestão compartilhada, onde quem é da UnB – independente do grau de escolaridade ou do tempo de casa – consegue ser ouvido.
Encontrei um campus vivo, com suas Aulas da Inquietação, reuniões constantes e legítimas do Conselho Universitário e eventos à altura da UnB, como a Semana Universitária. Encontrei a ética numa gestão transparente, que reduziu drasticamente os gastos, principalmente dos famigerados cartões coorporativos. Encontrei portas abertas para os reclames e protestos de uma comunidade participativa e, acima de tudo, fiscalizadora. Encontrei, principalmente, coragem para abrir o debate e o caminho rumo a construção coletiva de um Congresso Estatuinte para a UnB. 
E encontrei problemas. Vários deles. Como o desafio de promover uma expansão histórica sem perda de qualidade na formação dos estudantes e nas condições de trabalho dos profissionais, a desvalorização dos servidores que carregam o ensino superior nas costas e a dificuldade de regularizar a situação de centenas de funcionários ainda sem vínculos formais com a universidade.
Como jornalista, prezo, acima de tudo, a ética no meu trabalho. Não sou um criador de ilusões para os leitores nem para os meus chefes. Mas não posso fechar os olhos ao que salta à vista nas caminhadas diárias pelos campi. E é por isso que afirmo: dois anos depois de o professor José Geraldo de Sousa Junior e sua equipe assumirem a administração, a UnB é outra. 

Alternativamente, pode-se também analisar isto não como uma peça de jornalismo mas de publicidade institucional. Aí o texto está dentro do que se espera, apenas com a formatação de peça jornalística - neste caso é importante que se reconheça pelo que ele realmente é: propaganda.