Nesta quarta sairam duas entrevistas sobre o trote da agronomia. Uma delas é com a
presidente do centro acadêmico de agronomia e a outra é com o reitor.
Olha, independente da minha opinião sobre o trote ou o reitor, por favor leiam a
entrevista repetida a seguir:
Agora você, como eu, entendeu que ele é contra mas não vai fazer nada? E olhe que eu não entendi quase nada do que ele falou...
UnB Agência – O trote da Agronomia passou dos limites?
Reitor – Do ponto de vista da subjetividade, que é uma condição de referência ética, o meu pensamento é que sim. Ainda que tenha havido consentimento, houve redução da dignidade da pessoa, aproveitando-se de uma ilusão de consciência.
UnB Agência – Os calouros afirmam que concordaram em participar do ritual e até pareciam satisfeitos com as brincadeiras. Quando as pessoas percebem se elas estão sendo ou não agredidas?
Reitor – A partir da construção dos padrões éticos de uma comunidade. A perversão não pode ser uma desculpa. Não é porque o masoquista gosta de sofrer que se vai permitir que se continue infligindo o suplício a ele.
UnB Agência – Os envolvidos repetiram diversas vezes que o trote não foi violento. Há uma percepção errônea do que é violência?Reitor – Sim, porque ela é referida por um enfoque que leva em conta um sentido físico de agressão. Mas há uma dimensão simbólica da violência que produz danos irreparáveis e os calouros e os veteranos não estão percebendo o alcance disso. É por isso que eu digo que não se pode aceitar nada que implique em redução da dignidade da pessoa humana.
UnB Agência – Por que a preocupação com punição é tão evidente no debate sobre comportamento? Isso é, de alguma forma, uma reprodução da violência aplicada?
Reitor – É um pouco disso que você está colocando. É também uma dificuldade de assumir a pro-atividade de práticas transformadoras. Há uma nostalgia da palmatória numa sociedade ainda muito hierárquica e uma universidade, como escola que é, tem de trabalhar na confiança de que projetos pedagógicos transformam as pessoas. Não é este o mito de Pinóquio, transformar um boneco de pau numa criança por meio da educação? Isso requer atitude e é por isso que estamos apostando nas ações acadêmicas. O que significa uma plataforma pedagógica de orientação, de educação e não de punição.
UnB Agência – A partir deste trote muda alguma coisa? Ou a UnB vai seguir a linha que já vem seguindo em termos de educação?
Reitor – Essa linha de educação está sendo muito bem sucedida e hoje, predominantemente, as referências para os trotes têm sido as de civilidade e cidadania, com a participação protagonista, sobretudo do DCE. Isso tem sido a expressão mais visível da universidade em reconhecimento de que essas formas de celebração e integração podem ter um significado inclusive lúdico, mas que não tolere a humilhação. Por isso mesmo é que há um inconformismo, um mal-estar sobre o que é, ao meu ver e com minha convicção, ainda um resíduo de uma mudança que já é bastante percebida.
UnB Agência – Vai haver algum encaminhamento específico para o caso?
Reitor – Continuidade do encaminhamento que já está sendo promovido há algumas semanas e que passa por duas orientações educadoras. De um lado construir, por meio de campanhas e de formas pedagógicas, uma reeducação para as atitudes acadêmicas. A segunda, construir de forma participativa, com responsabilidades compartilhadas, um marco regulatório para a convivência acadêmica, que muito provavelmente se insere na definição de um código de ética para a instituição.
Certamente, eu tenho um problema de entendimento e ele de comunicação.