segunda-feira, 31 de maio de 2010

A qualidade dos dados

Um ponto que é muito importante em qualquer pesquisa é a qualidade dos dados. Em poucas palavras, GIGO (Garbage In Garbage Out)

Este ponto foi levantado, com muita propriedade, pelo meu colega da UnB Prof. Marcelo Hermes

E ele tem razão: se os dados não forem isentos fica muito difícil obter-se um resultado preciso com eles.

Mas o que ele levantou talvez possa permitir uma comparação mais adequada entre as pesquisas dos diversos institutos. E a questão é que a distribuição geográfica talvez seja uma excelente forma de comparar quais as discrepâncias entre as pesquisas.

A distribuição usada pelo DATAFOLHA para as regiões foi:
  • Sudeste - 42%
  • Sul - 14%
  • Nordeste - 28%
  • Norte/Centro Oeste - 15%
Já a utilizada pela pesquisa SENSUS foi:
  • Sudeste - 42.4%
  • Sul - 14.6%
  • Nordeste - 28%
  • Norte/Centro Oeste - 15.1%
 Analogamente podemos fazer um estudo dos perfis de escolaridade:
DATAFOLHA:
  • Fundamental: 45%
  • Médio: 41%
  • Superior: 14%
SENSUS
  • Fundamental: 55%
  • Médio: 32%
  • Superior: 13%
Já aí começamos a ver uma diferenciação que pode levar a resultados diversos. Então vamos as idades:

DATAFOLHA:
  • 16-24: 25%
  • 25-34: 23%
  • 35-44: 20%
  • 45-60: 19%
  • +60: 13%
SENSUS
  • 16-24: 21%
  • 25-39: 32%
  • 40-49: 18%
  • +50:  29%
Claro que há uma impossibilidade de comparação devido aos intervaloes, mas é possível ver algumas discrepâncias entre os números.

Infelizmente também fica difícil avaliar o impacto devido ao uso de percentuais diferentes. Mas por algumas simulações, os dois resultados de maio convergem para valores similares (aonde pode ser comparado - na escolaridade).

Infelizmente a pesquisa SENSUS não permite inferência sobre parte das distribuições marginais como a pesquisa DATAFOLHA. Há a pesquisa da VoxPopuli, que também merece ser estudada.

Resta apenas aguardar a pesquisa do IBOPE para ver se temos ou não confirmação

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Analisando os dados

De todas as maneira que vejo chego a conclusão que Dilma ganhou os votos de Ciro primariamente na faixa dos eleitores que aprovam o governo Lula.

Serra praticamente permaneceu igual e Marina parece ter tido algum ganho em todas as faixas.

O número de votos em branco e nulos diminuiu e o número de Não sabe teve ligeiro aumento.

Agora as coisas ficam interessantes.

Supondo uma trajetória mais ou menos constante, os candidatos podem crescer retirando votos entre si ou das categorias de brancos/nulos e não sabe.

Segundo meus cálculos há cerca de 14% nestas categorias. Destes, praticamente 10% tem avaliação positiva de Lula, 3% tem avaliação neutra e 1% tem avaliação negativa.

Além disto se Serra e Dilma forem ao segundo turno, como tudo indica, há a questão de como serão divididos os votos de Marina Silva. O perfil de seus eleitores é de 7% aprovam Lula, 3% acham o governo neutro e 1% acham o mesmo ruim.

Então na jogada estão cerca de 17% de eleitores que aprovam o governo Lula, 6% que acham seu governo neutro e 2% que acham o mesmo ruim.

Naturalmente como Serra e Dilma estão tecnicamente empatados em 37%, faltam apenas 13% para um deles chegar a vitória.

E a vitória depende de conquistar pelo menos parte dos eleitores que aprovam Lula...

Então atacar Lula e seu governo é estratégia ruim de campanha...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Mais uma forma de ver os dados

Além da comparação das pesquisas com cenário sem Ciro com a situação atual sem Ciro, podemos analisar a partir do caso original com Ciro e verificar como se alteraram os números.

A situação era essa com Ciro em abril:
  • Dilma tinha 27 % - sendo 25% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 2% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 0% que achavam o governo Lula ruim
  • Serra tinha 36 % - sendo 24% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 10% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 2% que achavam o governo Lula ruim
  • Ciro tinha 10 % - sendo 8% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 2% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 0% que achavam o governo Lula ruim
  • Marina tinha 7 % - sendo 5% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 2% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 0% que achavam o governo Lula ruim
  • Brancos e Nulos tinha 10 % - sendo 8% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 2% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 0% que achavam o governo Lula ruim
  • Não sabem tinha 7 % - sendo 4% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 2% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 1% que achavam o governo Lula ruim
Já na nova pesquisa de maio, a situação mudou:
  • Dilma tinha 37 % - sendo 34% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 3% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 0% que achavam o governo Lula ruim
  • Serra tinha 37 % - sendo 24% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 10% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 3% que achavam o governo Lula ruim
  • Marina tinha 11 % - sendo 7% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 3% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 1% que achavam o governo Lula ruim
  • Brancos e Nulos tinha 5 % - sendo 3% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 1% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 1% que achavam o governo Lula ruim
  • Não sabe tinha 9 % - sendo 7% de eleitores que achavam o governo Lula bom, 2% que achavam o governo Lula neutro e praticamente 0% que achavam o governo Lula ruim
Portanto na comparação vemos que:
  • Dilma ganhou 9% em eleitores qua achavam o governo Lula bom, 1% em eleitores que achavam o governo Lula neutro e 0% entre eleitores que achavam o governo Lula ruim
  • Serra ganhou 0% em eleitores qua achavam o governo Lula bom, perdeu praticamente 0% em eleitores que achavam o governo Lula neutro e ganhou 1% entre eleitores que achavam o governo Lula ruim 
  • Marina ganhou 2% em eleitores que achavam o governo Lula bom, 1% em eleitores que achavam o governo Lula neutro e praticamente 1% entre eleitores que achavam o governo Lula ruim
  • Brancos e nulos perdeu 5% em eleitores qua achavam o governo Lula bom, 1% em eleitores que achavam o governo Lula neutro e ganhou 1% entre eleitores que achavam o governo Lula ruim
  • Não sabe ganhou 2% em eleitores qua achavam o governo Lula bom, 0% em eleitores que achavam o governo Lula neutro e perdeu 0% entre eleitores que achavam o governo Lula ruim
Qual é a lição?

Os votos de Ciro foram redistribuídos entre os que sobraram. De que forma?
  1. No caso da avaliação positiva do governo Lula: 9.12% para Dilma, 0% para Serra, 2.28% para Marina, -5.32% para Branco (o número de brancos diminuiu) e 2.27 para não sabe - ao somarmos isto chegamos aos 8.36% de Ciro
  2. No caso da avaliação neutra do governo Lula: 0.86% para Dilma, -0.32% para Serra, 0.85% para Marina, -0.68% para Branco e 0.29% para não sabe - ao somarmos isto chegamos 1% que é diferente dos 2.32% de Ciro. Mas isto é fácil de entender porque...
  3. No caso da avaliação negativa do governo Lula: 0% para Dilma, 1.03% para Serra, 0.51% para Marina, 0.6% para Branco e -0.78 para não sabe - ao somarmos isto chegamos 1.36 que é diferente dos 0.32 de Ciro.
No entanto 1+1.32=2.32% (soma das avaliações neutra e ruim do governo) que é muito próximo de 2.36% (soma das avaliações neutra e ruim do governo).

Então houve transferência de votos de Ciro para os demais candidatos, mas ao mesmo tempo a saída de Ciro causou alterações nas intenções de voto brancas, nulas e não sabe...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Uma forma de ver os dados

Infelizmente não é possível saber exatamente de onde vem os votos de cada candidato. Mas é possível ter uma boa idéia

Quanto a escolaridade:
  • Serra perdeu 2.4 pontos nos eleitores de ensino fundamental, 2.4 pontos nos de ensino médio e 0.36 pontos nos de ensino superior
  • Dilma ganhou 3.4 pontos nos eleitores de ensino fundamental, 3.6 pontos nos de ensino médio e 0.48 pontos nos de ensino superior
  • Marina perdeu 0.48 pontos nos eleitores de ensino fundamental, 0.4 pontos nos de ensino médio e 0 pontos nos de ensino superior
  • Brancos e Nulos perdeu 1.4 pontos nos eleitores de ensino fundamental, 0.8 pontos nos de ensino médio e 0.24 pontos nos de ensino superior
Conclusão: Serra perde 5.16 pontos, Dilma ganhou 7.44, Marina perde 0.88 e Brancos e Nulos perdeu 2.48

Efetivamente nesta análise os votos que Dilma ganhou vieram de todos, mas principalmente de Serra e Brancos e Nulos.

Quanto a faixa etária
  • Serra perdeu 1.1 pontos nos eleitores de 16-24, 1.2 pontos nos 25-34 e 0.6 pontos nos 35-44, 1.4 nos de 45-60 e 0.6 nos de mais de 60

  • Dilma ganhou 1.6 pontos nos eleitores de 16-24, 2.2 pontos nos 25-34 e 0.8 pontos nos 35-44, 0.9 nos de 45-60 e 0 nos de mais de 60
  • Marina perdeu 0.2 pontos nos eleitores de 16-24, 0.5 pontos nos 25-34 e ganhou 0.4 pontos nos 35-44, 0.2 nos de 45-60 e 0 nos de mais de 60
  • Brancos e Nulos perdeu 0 pontos nos eleitores de 16-24, 0.5 pontos nos 25-34 e 0.6 pontos nos 35-44, 0.9 nos de 45-60 e 0.3 nos de mais de 60
  • Não sabe perdeu 0.4 pontos nos eleitores de 16-24, 0 pontos nos 25-34 e ganhou 0.2 pontos nos 35-44, 1.2 nos de 45-60 e perdeu 0.6 nos de mais de 60
Conclusão: Serra perde 4.9 pontos, Dilma ganha 5.5, Brancos e Nulos perde 2.3 e Não sabe aumenta 0.4

Quanto a faixa salarial
  • Serra perdeu 2.6 pontos dos eleitores ganha até 2 salários, 1.6 dos que ganham entre 2 e 6 salários, 0.6 entre 6 e 10 salários e 0.02 acima de 10 salários
  • Dilma ganhou 4.1 pontos dos eleitores ganha até 2 salários, 3.2 dos que ganham entre 2 e 6 salários, perdeu 0.4 dos entre 6 e 10 salários e ganhou 0.07 acima de 10 salários
  • Marina perdeu 0.5 pontos dos eleitores ganha até 2 salários, 1.3 dos que ganham entre 2 e 6 salários, ganhou 1.32 entre 6 e 10 salários e perdeu 0.05 acima de 10 salários
  • Brancos e Nulos perdeu 1.5 pontos dos eleitores ganha até 2 salários, 0.6 dos que ganham entre 2 e 6 salários, 0.4 entre 6 e 10 salários e 0.02 acima de 10 salários
Conclusão: Serra perde 4.8 pontos, Dilma ganha 7, Brancos e Nulos perde 2.6


Quanto a aprovação do governo Lula

  • Serra perdeu 3 pontos nos eleitores de avaliação positiva, 0.6 pontos nos de neutro e 0.15 pontos nos de ruim
  • Dilma ganhou 6 pontos nos eleitores de avaliação positiva, 0.6 pontos nos de neutro e 0.1 pontos nos de ruim
  • Marina perdeu 0.8 pontos nos eleitores de avaliação positiva, 0 pontos nos de neutro e ganhou 0.3 pontos nos de ruim
  • Brancos e Nulos perdeu 2.3 pontos nos eleitores de avaliação positiva, 0.2 pontos nos de neutro e ganhou 0.15 pontos nos de ruim
  • Não sabe ganhou 0.8 pontos nos eleitores de avaliação positiva, 0.2 pontos nos de neutro e perdeu 0.3 pontos nos de ruim
Conclusão: Serra perde 3.8 pontos, Dilma ganha 6.8, Marina perde 0.5, Brancos e Nulos perde 2.3 e Não sabe ganha 0.7

Ou seja: bem complexo mesmo. Mas no geral, Serra perde 4.5%, Dilma ganha 7% e Brancos e Nulos perde 2.5%

Mais uma vez Bayes e as eleições

Mais uma vez, com auxílio de Bayes foi possível discriminar o eleitorado de cada candidato. Mas vamos ver dois momentos diferentes.

Serra (em 14/04/2010)

  • 49% dos eleitores tem ensino fundamental, 40% tem ensino médio e 11% tem ensino superior
  • 19% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 24% entre 25-34 anos, 18% entre 35-44 anos, 24% entre 45-59 anos e 15% tem 60 ou mais
  • 53% dos eleitores ganha até 2 salários, 33% ganha entre 2 e 6 salários, 13% entre 6 e 10 salários e 1% acima de 10 salários
  •  67% acham o governo Lula positivo, 26% acham o governo Lula neutro e 8% acham o governo Lula ruim
Serra (em 20/05/2010)
  • 50% dos eleitores tem ensino fundamental, 39% tem ensino médio e 11% tem ensino superior
  • 19% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 23% entre 25-34 anos, 19% entre 35-44 anos, 23% entre 45-59 anos e 15% tem 60 ou mais
  • 53% dos eleitores ganha até 2 salários, 33% ganha entre 2 e 6 salários, 12% entre 6 e 10 salários e 1% acima de 10 salários
  • 65% acham o governo Lula positivo, 27% acham o governo Lula neutro e 8% acham o  governo Lula ruim
Dilma (em 14/04/2010)
  • 45% dos eleitores tem ensino fundamental, 41% tem ensino médio e 14% tem ensino superior
  • 16% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 26% entre 25-34 anos, 23% entre 35-44 anos, 22% entre 45-59 anos e 12% tem 60 ou mais
  • 51% dos eleitores ganha até 2 salários, 33% ganha entre 2 e 6 salários, 15% entre 6 e 10 salários e 1% acima de 10 salários
  • 93% acham o governo Lula positivo, 7% acham o governo Lula neutro e 0% acham o  governo Lula ruim
Dilma (em 20/05/2010)
  • 45% dos eleitores tem ensino fundamental, 43% tem ensino médio e 12% tem ensino superior
  • 18% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 28% entre 25-34 anos, 22% entre 35-44 anos, 21% entre 45-59 anos e 11% tem 60 ou mais
  • 52% dos eleitores ganha até 2 salários, 35% ganha entre 2 e 6 salários, 11% entre 6 e 10 salários e 1% acima de 10 salários
  • 92% acham o governo Lula positivo, 7% acham o governo Lula neutro e 1% acham o  governo Lula ruim
Marina (em 14/04/2010)
  • 39% dos eleitores tem ensino fundamental, 43% tem ensino médio e 18% tem ensino superior
  • 21% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 26% entre 25-34 anos, 18% entre 35-44 anos, 21% entre 45-59 anos e 14% tem 60 ou mais
  • 45% dos eleitores ganha até 2 salários, 42% ganha entre 2 e 6 salários, 12% entre 6 e 10 salários e 2% acima de 10 salários
  • 70% acham o governo Lula positivo, 24% acham o governo Lula neutro e 6% acham o  governo Lula ruim
Marina (em 20/05/2010)
  • 38% dos eleitores tem ensino fundamental, 43% tem ensino médio e 19% tem ensino superior
  • 20% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 22% entre 25-34 anos, 22% entre 35-44 anos, 23% entre 45-59 anos e 14% tem 60 ou mais
  • 42% dos eleitores ganha até 2 salários, 32% ganha entre 2 e 6 salários, 24% entre 6 e 10 salários e 1% acima de 10 salários
  • 67% acham o governo Lula positivo, 25% acham o governo Lula neutro e 8% acham o  governo Lula ruim
Brancos e Nulos (em 14/04/2010)
  • 49% dos eleitores tem ensino fundamental, 41% tem ensino médio e 11% tem ensino superior
  • 14% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 21% entre 25-34 anos, 23% entre 35-44 anos, 29% entre 45-59 anos e 13% tem 60 ou mais
  • 54% dos eleitores ganha até 2 salários, 34% ganha entre 2 e 6 salários, 11% entre 6 e 10 salários e 1% acima de 10 salários
  • 69% acham o governo Lula positivo, 22% acham o governo Lula neutro e 8% acham o  governo Lula ruim
Brancos e Nulos (em 20/05/2010)
  • 44% dos eleitores tem ensino fundamental, 44% tem ensino médio e 11% tem ensino superior
  • 19% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 21% entre 25-34 anos, 21% entre 35-44 anos, 25% entre 45-59 anos e 13% tem 60 ou mais
  • 51% dos eleitores ganha até 2 salários, 38% ganha entre 2 e 6 salários, 10% entre 6 e 10 salários e 1% acima de 10 salários
  • 57% acham o governo Lula positivo, 28% acham o governo Lula neutro e 15% acham o  governo Lula ruim
Não sabe (em 14/04/2010)
  • 67% dos eleitores tem ensino fundamental, 28% tem ensino médio e 6% tem ensino superior
  • 17% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 17% entre 25-34 anos, 17% entre 35-44 anos, 19% entre 45-59 anos e 29% tem 60 ou mais
  • 70% dos eleitores ganha até 2 salários, 24% ganha entre 2 e 6 salários, 6% entre 6 e 10 salários e 0.4% acima de 10 salários
  • 73% acham o governo Lula positivo, 23% acham o governo Lula neutro e 5% acham o  governo Lula ruim
Não sabe (em 20/05/2010)
  • 67% dos eleitores tem ensino fundamental, 28% tem ensino médio e 6% tem ensino superior
  • 12% dos eleitores tem entre 16-24 anos, 17% entre 25-34 anos, 18% entre 35-44 anos, 32% entre 45-59 anos e 21% tem 60 ou mais
  • 72% dos eleitores ganha até 2 salários, 25% ganha entre 2 e 6 salários, 3% entre 6 e 10 salários e 1% acima de 10 salários
  • 76% acham o governo Lula positivo, 23% acham o governo Lula neutro e 1% acham o  governo Lula ruim
Portanto é claramente visível  que houve algumas modificações de 14/04 até 20/05. Mas algumas lições são importantes:
- A estratificação de Serra permanece mais ou menos a mesma dentro dos 2% de margem de erro.
- A estratificação de Dilma também permaneceu similar exceto com relação a faixa de 6 a 10 salários mínimos que caiu 4%.
- A estratificação de Marina mudou, tendo tido variações na idade, renda e avaliação do governo.
- A estratificação de Brancos e Nulos se alterou significativamente, isto indica que houve variação neste segmento.
- A estratificação de não sabe teve algumas mudanças também.

Como a estratificação de Serra e Dilma não se alteraram, podemos imaginar que uma fração dos eleitores resolveu ir em massa para um dos candidatos. Olhando com calma isto significa:

- Perda de 1% de Serra
- Dilma permanece igual
- Perda de 2% de Marina
- Perda de 8% nos Brancos e Nulos
- Ganho de 2% em não sabe

Variação positiva de 9% para Dilma vinda praticamente toda da variação negativa dos votos Brancos e Nulos.

domingo, 23 de maio de 2010

Nova pesquisa de eleição

Neste sábado saiu mais uma pesquisa Datafolha sobre as eleições 2010. Infelizmente é difícil comparar com a anterior devido ao fato que Ciro ainda não havia saído formalmente.

E o mais curioso é que os dados parecem ter sido um pouco diferentes. Mas não vamos entrar nisto.

Em 15/04/2010 tinhamos:

Dos que avaliam o governo Lula como positivo:

36% votam em Serra
37% votam em Dilma
11% votam em Marina
7% votam em Branco ou Nula
8% não sabem
 
Dos que avaliam o governo Lula como neutro:
55% votam em Serra
11% votam em Dilma
15% votam em Marina
9% votam em Branco ou Nula
10% não sabem

Dos que avaliam o governo Lula como ruim:
62% votam em Serra
2% votam em Dilma
14% votam em Marina
13% votam em Branco ou Nula
8% não sabem

Seguindo a conta temos:

Dilma:
p(vota em Dilma) = p(vota Dilma | governo Lula positivo) * p(governo Lula positivo) + p(vota Dilma |governo Lula neutro) * p(governo Lula neutro) + p(vota Dilma | governo Lula ruim) * p(governo Lula ruim)
= 0.37*0.76+0.11*0.19+0.02*0.05 = 0.3031

Serra:

p(vota em Serra) = p(vota Serra | governo Lula positivo) * p(governo Lula positivo) + p(vota Serra | governo Lula neutro) * p(governo Lula neutro) + p(vota Serra | governo Lula ruim) * p(governo Lula ruim)
= 0.36*0.76+0.55*0.19+0.62*0.05 = 0.4091

Marina:

p(vota Marina) = p(vota Marina | governo Lula positivo) * p(governo Lula positivo) + p(vota Marina | governo Lula neutro) * p(governo Lula neutro) + p(vota Marina | governo Lula ruim)
= 0.11*0.76+0.15*0.19+0.14*0.05 = 0.1191

Por fim o caso dos brancos ou nulos:

p(brancos ou nulos) = 0.07*0.76+0.09*0.19+0.13*0.05 = 0.0768
e o caso dos que não sabem:

p(não sabem) = 0.08*0.76+0.10*0.19+0.08*0.05 = 0.0838

Estes dados são diferentes do que tinhamos anteriormente. Mas vamos trabalhar com eles. Isto quer dizer que podemos colocar os resultados tabulados:

Candidata Dilma: 30%
Candidato Serra: 41%
Candidata Marina: 12%
Brancos e Nulos: 8%
Não sabem: 8%

Agora vamos aos novos dados de 20 de maior de 2010:

Dos que avaliam o governo Lula como positivo:

32% votam em Serra
45% votam em Dilma
10% votam em Marina
4% votam em Branco ou Nula
9% não sabem
 
Dos que avaliam o governo Lula como neutro:
52% votam em Serra
14% votam em Dilma
15% votam em Marina
8% votam em Branco ou Nula
11% não sabem

Dos que avaliam o governo Lula como ruim:
59% votam em Serra
4% votam em Dilma
19% votam em Marina
16% votam em Branco ou Nula
2% não sabem

Seguindo a conta temos:

Dilma:
p(vota em Dilma) = p(vota Dilma | governo Lula positivo) * p(governo Lula positivo) + p(vota Dilma |governo Lula neutro) * p(governo Lula neutro) + p(vota Dilma | governo Lula ruim) * p(governo Lula ruim)
= 0.45*0.76+0.14*0.19+0.04*0.05 = 0.3706

Serra:

p(vota em Serra) = p(vota Serra | governo Lula positivo) * p(governo Lula positivo) + p(vota Serra | governo Lula neutro) * p(governo Lula neutro) + p(vota Serra | governo Lula ruim) * p(governo Lula ruim)
= 0.32*0.76+0.52*0.19+0.59*0.05 = 0.3715

Marina:

p(vota Marina) = p(vota Marina | governo Lula positivo) * p(governo Lula positivo) + p(vota Marina | governo Lula neutro) * p(governo Lula neutro) + p(vota Marina | governo Lula ruim)
= 0.10*0.76+0.15*0.19+0.19*0.05 = 0.1140

Por fim o caso dos brancos ou nulos:

p(brancos ou nulos) = 0.04*0.76+0.08*0.19+0.16*0.05 = 0.0536
e o caso dos que não sabem:

p(não sabem) = 0.09*0.76+0.11*0.19+0.02*0.05 = 0.0903

Então os resultados tabulados são:

Candidata Dilma: 37%
Candidato Serra: 37%
Candidata Marina: 11%
Brancos e Nulos: 5%
Não sabem: 9%

Então podemos finalmente fazer a comparação entre abril e maio:

Dilma em Abril

  • p(governo Lula positivo | vota Dilma) = 0.37*0.76/0.3031 = 0.928 (92.8%)
  • p(governo Lula neutro | vota Dilma) = 0.11*0.19/0.3031 = 0.068 (6.9%)
  • p(governo Lula negativo | vota Dilma) = 0.02*0.05/0.3031 = 0.003 (0.3%)
Dilma em Maio

  • p(governo Lula positivo | vota Dilma) = 0.45*0.76/0.3706 = 0.923 (92.3%)
  • p(governo Lula neutro | vota Dilma) = 0.14*0.19/0.3706 = 0.072 (7.2%)
  • p(governo Lula negativo | vota Dilma) = 0.04*0.05/0.3706 = 0.005 (0.5%)
Vamos agora ao caso de Serra.

Serra em Abril

  • p(governo Lula positivo | vota Serra) = 0.36*0.76/0.4091 = 0.668 (66.8%)
  • p(governo Lula neutro | vota Serra) = 0.55*0.19/0.4091 = 0.255 (25.5%)
  • p(governo Lula negativo | vota Serra) = 0.62*0.05/0.4091 = 0.075 (7.5%)
Serra em Maio

  • p(governo Lula positivo | vota Serra) = 0.32*0.76/0.3715 = 0.655 (65.5%)
  • p(governo Lula neutro | vota Serra) = 0.52*0.19/0.3715 = 0.266 (26.6%)
  • p(governo Lula negativo | vota Serra) = 0.59*0.05/0.3715 = 0.079 (7.9%)
 Ainda falta ver o caso da Marina, dos votos nulos e brancos e dos que não sabem. Mas algumas coisas nos podemos ver com estes dados. Se consideremos uma incerteza de 2% então nenhum dos parâmetros sofreu alteração - e poderíamos dizer que o perfil dos votantes NÃO se alterou. Em outras palavras, a estratificação de voto de Dilma  e Serra permaneceu essencialmente a mesma.

Portanto podemos dizer que dos votantes de Dilma:

- 92% acham o governo Lula positivo tanto em abril quanto em maio
- 7% acham o governo Lula regular tanto em abril quanto em maio
- 1% acham o governo Lula ruim tanto em abril quanto em maio

Do de Serra podemos dizer:

- 66% acham o governo Lula positivo tanto em abril quanto em maio
- 26% acham o governo Lula regular tanto em abril quanto em maio
- 8% acham o governo Lula ruim tanto em abril quanto em maio


Tanto o perfil dos votantes em Serra quanto em Dilma não se alterou. Isto quer dizer que a alteração se deu em outro tipo de característica.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Uma nova oportunidade

Uma pena não estarmos em um mundo perfeito...

Em um mundo perfeito, veríamos que a eleição da Adunb mostrou um retrato esboçado pelas últimas assembléias de professores.

O retrato é o retrato da multiplicidade sem maioria. Em suma da divisão...

Normalmente, estratégias racionais em situações de divisão são baseadas no conceito que não existe uma maioria claramente definida no espaço de votantes.

Isto implicaria que somente políticas de consenso e não confrontacionais teriam chance de sucesso em pleitos submetidos ao universo de votos.

Ou seja, este é um governo definido pelo que une e não pelo que divide.

Já em um universo com clara maioria, temos a situação inversa. Não existe necessidade de composição para amealhar a maioria das opiniões - e o governo passa a ser definido pelo que divide e não pelo que une.

No caso atual resta saber aonde a situação mostrada pela Adunb irá pender

Pelo que nos divide ou pelo que nos une?

Se for pelo que nos une há grandes chances de realização. Se for pelo que nos divide há grandes chances de estagnação

Apuração da Adunb

Estou acompanhando em tempo real a apuração da votação para nova diretoria para Adunb no biênio 2010-2012.

Graças aos esforços do Prof. Paulo César estou acompanhando o ritmo de apuração.

Aqui segue a sequência de tweets:

Cerca de 10:00 - 1a. parcial: 2 urnas apuradas, chapa 1: 66, chapa 2: 77
Entre 10:00 e 11:00 - 2a. parcial: 3 urnas apuradas, chapa 1: 105, chapa 2: 107
Cerca de 11:00 - com 5 urnas apuradas (39% dos votos): chapa1: 204, chapa2: 191
Entre 11:00 e 12:00 - com 6 urnas apuradas (59% dos votos): chapa1 293, chapa2 309, brancos 3, nulos 13

Certo tempo atrás teve o tweet:

Total é 16 urnas. Apuradas: Adunb (aposentados), IdA, FS/FM e HUB. 

A questão importante é notar como o sistema está dividido. Há urnas predominantementes da chapa 1 e da chapa 2. Isto mostra que a universidade está dividida.

Isto é bom? Bem, para ser bem honesto na teoria "Edge of Chaos" este é um ponto onde muitas coisas podem acontecer (maior igualdade entre os possíveis estados - máxima entropia).

A lição interessante é esta: a UnB está dividida. Ao meio...

Update 12:30 - Foram apuradas 9 urnas. Está 390 para chapa 1 a 347 para chapa 2.
Update 12:55 - Foram apuradas 10 urnas. Está 419 para chapa 1 a 399 para chapa 2.
Update 13:08 - Foram apuradas 11 urnas. Está 425 para chapa 1 a 432 para chapa 2.
Update 13:11 - Foram apuradas 12 urnas. Está 448 para chapa 1 a 432 para chapa 2.
Update 14:15 - Foram apuradas 12 urnas. Está 448 para chapa 1 a 457 para chapa 2.
Resultado:  515 votos para chapa 1 e 491 para chapa 2.

Ou seja 51.2% a 48.8% - praticamente idênticos

quarta-feira, 19 de maio de 2010

0=0

Em ciência costuma-se elaborar a construção do conhecimento a partir de hipóteses. Através da investigação destas hipóteses em geral a partir de testes adequados chega-se ao conjunto de conclusões.

Tudo muito bonito. Só que não é bem assim que funciona.

Em geral tem-se o fenômeno real e a partir deles são elaboradas as hipóteses que permitem o equacionamento do fenômenos. Mas o problema é que a elaboração de hipóteses por vezes é contaminada com um conjunto esperado de conclusões

Neste caso todo arcabouço de construção do conhecimento chega a conclusões vazias

Ou como costuma acontecer em matemática 0=0

Isto é diferente de um erro na construção das hipóteses. O problema é o direcionamento das hipóteses para uma conclusão que se deseja chegar.

Isto pode acontecer com muita frequência por causa do uso de axiomas que se provam falsos (o exemplo da mais valia vem a mente). Então nestes casos a construção de hipóteses pode partir de axiomas falsos.

Como evitar isto?

Complicado. O problema é que toda construção de conhecimento parte da identificação das partes importantes para a caracterização do problema.

Mas o que é importante?

Ah! Aí o problema se complica.

Um exemplo clássico da física é a Lei de Newton (força é a variação da quantidade de movimento - na sua forma mais geral).

Mas no caso que a massa é constante, esta relação pode ser simplificada para força é o produto da massa pela aceleração.

Parece simples: apenas duas grandezas definem a força - a massa do objeto e sua aceleração.

Mas se formos medir teremos uma surpresa.

Primeiro há diversas forças atuando na medição além da que nos interessa. Há força gravitacional, empuxo do fluido que o objeto está imerso (no caso o ar), mesmo o fluido oferece uma resistência ao movimento (resistência do ar) e por fim até forças de natureza elétrica podem estar envolvidas (como por exemplo a pressão luminosa).

Para medirmos a força que nos interessa temos de fazer que todos estes efeitos sejam de segunda ordem ou superior. Em outras palavras temos de fazer com que a força que desejamos medir seja algumas ordens de magnitude mais notável que os demais efeitos causados por outros fenômenos.

Mas nem sempre isto é possível.

Nestes casos temos que tentar descorrelacionar os efeitos ou pelo menos elimina-los. Como fazer isto? Existem técnicas de análise muti-variável.

Um exemplo simples pode ser exemplificado pela aplicação da série de Taylor. Vamos supor que um evento E seja função de dois parâmetros A e B. No entanto estamos interessados em verificar como um dos parâmetros afeta o evento.

Considerando uma aproximação linear aonde o conjunto de A seja real e de B tamém (naturalmente o evento tem de ser caracterizado em termos de números reais), temos:

E(A,B)=c1*A+c2*B

Se tivermos como saídas medidas E(A1,B1) e E(A2,B2) temos:

E(A1,B1)=c1*A1+c2*B1
E(A2,B2)=c1*A2+c2*B2

Isto pode ser equacionado e portanto encontram-se os parâmetros c1 e c2 atráves de uma inversão simples.

NO caso de uma série de dados medidos é possível encontrar o relacionamento através de um método de mínimos quadrados.

Mas o interessante é que na forma atual temos que o evento E está inexoravelmente ligado aos eventos A e B. NO entanto poderíamos encontrar uma forma diferente de representação que permitisse a identificação dos fenômenos mais importantes. Um exemplo disto é se definirmos efeitos D1 e D2 que são combinações lineares de A e B

Por exemplo:

D1=1/2*(A+B)
D2=1/2*(A-B)

Desta forma termos que D1 é máximo quando A e B possuem o mesmo sinal e D2 é máximo quando A e B possuem sinais opostos. Ou: D1 é o efeito de soma das características e D2 é o efeito de oposição das características.

Se D1 é predominante significa que o evento E irá ser mais preponderante se A e B estiverem em fase do contrário, caso D2 seja preponderante então A e B terão de ter fases opostas.

Esta mudança de variáveis pode ser particularmente útil em diversos problemas. Uma das principais vantagens é justamente permitir a identificação que A e B estejam correlacionadas.

Mas nem sempre as coisas são tão simples.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Um texto do professor Paulo Celso

Novamente, venho me pronunciar quanto a tão propalada "discussão em assembléia" e construção de um pensamento e ação coletivos" como únicas formas possíveis de se ter um sindicato participativo e democrático.


Pela falta de argumentação lógica e plausível contra esta proposta, me parece mais um dogma, cuja descrença tem sido punida pela atribuição do estigma de anti-democrático e reacionário aos infiéis. Mas como vi na última AG, este dogma só precisa ser obedecido quando convém aos seus seguidores.


Como afirmei na última AG, eu vinha alertando há mais de 2 semanas a necessidade da ADUnB e do seu comando de greve esboçarem uma estratégia para uma saída da greve, pois vários setores dos professores já sinalizavam neste sentido. Que era irresponsabilidade do comando de greve não discutir esta questão e de não ter uma estratégia, pelo menos minimamente delineada, para que este cenário não ocorresse caoticamente.


Infelizmente, alguns destes "colegas de sindicato" insistiam que não era a hora de sair de greve e tentavam me convencer de que a minha atitude era precipitada. Para tanto, apelaram para argumentos passionais, desde o abandono/traição dos técnicos até à falta de coragem e responsabilidade de quem "ousasse" propor sair da greve. Novamente, com ares de "dogma" e "punição".


Nas 3 AG que precederam a última, como o resultado da votação lhes foi oportuno, nenhum deles pensou em rediscutir a questão e definir caminhos possíveis com argumentos racionais, pois estavam do lado que "ganhou" e sairam comemorando destas AG, alguns com atitudes que se assemelhavam a "tripudiar" dos "derrotados" na votação.


Este mesmo grupo sempre discordou da minha proposta de participação virtual/eletrônica em discussões e votações da ADUnB, pois acreditam que este procedimento impossibilitaria uma discussão efetivamente democrática e que só uma assembléia presencial é legítima.


Agora, tenta se desqualificar o resultado de uma AG ENTUPIDA de professores (552 ASSINARAM A LISTA E 535 VOTARAM!), com todos querendo se posicionar quanto a greve! Foi a assembléia mais representativa e legítima dos últimos tempos da ADUnB e querem desacreditá-la?


Imagino que alguns acreditaram que a continuidade da greve iria ganhar no voto e não deixaram se colocar uma proposta de indicativo de encerrar a greve na próxima segunda (17/05) pois era "golpe" e se era para continuar a assembléia de sexta, a votação tinha que ser sobre o mesmo ponto: os favoráveis e os contrários a continuar a greve. Muitos professores que votaram pela continuidade da greve o fizeram pois acreditavam ser precipitado acabar o movimento no mesmo dia da AG, mas se a proposta fosse acabar no dia 17/05 teriam votado pelo fim da greve...


Agora, como o resultado da AG lhes foi desfavorável, este grupo quer: (i) desqualificar os 267 professores que vieram e votaram na AG; (ii) imputar a culpa e a responsabilidade da perda da URP dos técnicos à atual diretoria da ADUnB e aos professores que votaram pelo fim da greve, tentando jogar uma categoria contra a outra, composta de "traidores" do movimento unificado (e tenho certeza que se os professores também perderem no STF seguirão o mesmo caminho); e por incrível que pareça (iii) imputar o caos da volta às aulas à atual diretoria da ADUnB e aos professores que votaram pelo fim da greve, tentando jogar toda a comunidade contra os "irresponsáveis" que votaram pelo fim da greve.


Aguns já haviam anunciado esta "estratégia" na própria AG, desqualificando os professores que "chegam só para votar". Como se o grupo de 267 professores que votaram pelo fim da greve fosse composto de carneirinhos idiotizados manipulados pelo fantasma Todorov-Lauro-Timothy.


ACORDEM! Não existem uma herança ou uma dinastia Todorov-Lauro-Timothista, muito menos seguidores de uma seita. Vocês se agarram a este conceito pela falta de outra argumentação melhor. Uma boa parcela dos que votaram pelo fim da greve são professores recém concursados e que nunca participaram da esfera administrativa da UnB! Existe, sim, um grande número de professores na UnB que tem pontos de vista diferentes dos seus!


Na falta de uma proposta boa (de se acabar com a greve no dia 17/05) votamos na menos pior, a qual, a nosso ver, trará menos prejuízos à categoria. E não tem argumentos emocionais, de fundo catequisador, que nos farão mudar nosso ponto de vista nesta questão (greve) ou a nossa proposta de universidade, com participação de todos os setores da sociedade, ou seja, o primeiro setor que é o PÚBLICO, o segundo setor que é o PRIVADO e o terceiro setor, das OSCIP e congêneres. Aliás, basear a "reconstrução" da UnB só nos 3 segmentos internos é de um corporativismo, no mínimo, pobre...


Aquelas "mãozinhas" que chegam só na hora de votar não concordam com a estratégia de sindicalistas profissionais de se alongar uma discussão na AG para se esvaziar a plenária até que possa se direcionar o resultado da votação alinhado aos interesses de um grupo.


Queriam impedir professores sindicalizados de votar... se isso não é autoritarismo e atitude anti-democrática, me dêem uma definição melhor...


O que aconteceu, caros colegas, foi a irresponsabilidade de um grupo que não aceitou um ponto de vista diferente do seu próprio, pois se enxergam como donos da "Verdade Universal" e "bastiões da ética e moralidade" na UnB e no mundo. Pelo jeito, acreditam que se os colegas foram devidamente "esclarecidos" irão, sem dúvida alguma, ter a mesma opinião que eles... Não aceitam que professores de uma universidade pública possam ter uma opinião discordante deles, e procuram estigmatizá-los para tentar "maquiar" os seus preconceitos com quem "ousa" pensar diferente deles: a "vanguarda armada de defesa da humanidade".


Entendo que deve ser ua situação difícil, pois este grupo não estava acostumado a ter oposição às suas idéias no nosso sindicato e "deitou e rolou" por quase 20 anos anteriores a atual gestão, "legitimados" por assembléias que tinham, às vezes, menos de 20 professores: (i) esvaziando as assembléias com discussões monocromáticas; (ii) constrangendo aqueles que tinham pensamento divergente com vaias, gritinhos e ohares acusadores; (iii) fazendo do nosso movimento uma plataforma politica para fins pessoais, descolada dos interesses da categoria; e (iv) usando a estrutura e recursos do ANDES e da ADUnB para defender e patrocinar fins e ideologias políticas estritamente pessoais, independente das reais demandas dos seus sindicalizados.


É triste constatar que, novamente, ex-dirigentes da ADUnB saem de uma AG que acabou de votar um tema e discordam publicamente do resultado da votação tentando desqualificar a decisão tomada pela categoria (535 VOTANTES!).


Desta vez a situação é pior, pois ainda não perceberam que é muito complicado manter uma unidade de nosso movimento com os outros (técnicos e estudantes) se EXISTE UMA CLARA DISCORDÃNCIA DENTRO DO NOSSO PRÓPRIO SINDICATO. DEMOCRACIA É SABER PERDER UMA VOTAÇÃO E CONSTRUIR UMA NOVA PROPOSTA, COM NOVOS ARGUMENTOS E APOIADORES!


Não interessa a ninguém em sã consciência, de boa-fé e que acredita nas instituições (ADUnB e FUB), dividir a categoria dos professores neste momento com ataques ofensivos e pessoais. Portanto, faço aqui um apelo: se temos a possibilidade de evitar esse caminho, vamos direcionar nossos esforços de forma construtiva para as instituições e não de forma destrutiva para as pessoas.


Se alguém tivesse o objetivo de desmantelar o sindicato, estaria no caminho certo! Mas se pretendemos fortalecê-lo, temos que buscar uma proposta que tenha, visivelmente e realmente, o propósito de estar buscando um consenso mínimo das diferentes demandas dos diferentes grupos da categoria.


Alguém tem uma sugestão além daquela já proposta pelo prof. Jorge Antunes?


Ceticamente,


Paulo Celso

Devo dizer que o Prof. Paulo Celso falou muita coisa que eu tinha engasgada na garganta!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Edge of Chaos

Traduzindo o título significa literalmente a "Beira do Caos"

A idéia por trás deste as fenômenos de transição caracterizados por mudanças de fase. Alternativamente podemos dizer que é a região entre aleatoriedade e caos em que a complexidade é máxima.

Em outras palavras é a região aonde as coisas interessantes realmente acontecem.

Existe alguma controvérsia quanto a possibilidade de sistemas funcionarem na beira do caos.

Mas ao mesmo tempo, em sistemas aonde a entropia é maximizada são sistemas aonde há o maior número de possibilidades ou estados para que os mesmos funcionem. Claro que nem todos os estados são estáveis, mas podemos imaginar que os mecanismos que fazem o sistema funcionar se encarregarão de eliminar respostas destes estados - nem que seja com a proverbial extinção.

Em um sistema com dois estados, esta entropia é maximizada quando os estados são equiprováveis - ou seja ambos tem precisamente a mesma probabilidade de ocorrência. Como neste caso isto significa que a probabilidade é 1/2 (ou 50%). Então a entropia máxima ocorre quando:

-d/dp(p*ln(p)+(1-p)*ln(1-p)) = 0

ou que p=1-p ou p=1/2

Neste caso a entropia é de 0.69315

Se tivermos probabilidades diferentes de eventos então teremos entropias menores. Por exemplo:

p1=1/3 e p2=2/3 resultam em uma entropia de 0.63651, caso seja 1/4 e 3/4 temos uma entropia de 0.56234

Podemos dizer que as chances são iguais em estados de entropia máxima então teríamos o maior conjunto de possibilidade ou sementes de valor inicial para a evolução dinâmica de um sistema.

E em uma votação? No caso, se aplicarmos este conceito a um caso como o da votação em assembléia temos p1=261/529 e p2=268/529. Isto resulta em uma entropia de 0.63060

O que é muito próximo da entropia máxima de um sistema com dois estados. Podemos dizer que temos uma beira de um caos? Sim quando consideramos que os estados existentes são equiprováveis.

O ideal seria que tivessemos mais estados possíveis. Em um sistema com três estados a entropia máxima é perto de 1.1. Já em um de dez estados teríamos algo perto de 2.3.

Em sistemas assim existem várias trajetórias possíveis, algumas delas repletas de grandeza...

Keith Haring

terça-feira, 11 de maio de 2010

Assembléia da Adunb - parte 5

O resultado de ontem foi a finalização da greve de professores. Era uma resultado que eu esperava (eventualmente).

Mas nem por isto não merece críticas deste blog.

Só que as críticas não são com relação a forma de saída. E sim ao objeto do problema: a URP!

Sim, eu vou fazer críticas à concessão da URP. Agora eu posso e não estarei traindo o movimento...

O fato é que há muitos pontos sobre a URP que não se deseja esclarecer, sob pena de "confundir" as cabecinhas que vêem o mundo em termos monocromáticos.

O primeiro deles é sobre a legalidade da URP. Bem, a URP na forma que está sendo aplicada é ilegal mesmo - e isto o MPOG tem alguma razão. Alguma, mas não toda. Há uma série de fatores que complicam esta análise, o primeiro deles sendo uma questão de datas (antecedência no julgamento) e outro que é a autonomia.

O que se julga é se o reitor tinha mesmo autonomia para estender a URP para todos. Isto considerando-se que a vitória judicial foi de alguns. E isso é a questão do STF...

Há ainda um problema de anacronismo. A URP era um indexador de 1987 que terminou em 1989. É justo que professores que ingressaram a partir de 1995 (ou 2005) recebam a mesma? Afinal, eles nem estavam na universidade na época - e alguns mais recentes sequer haviam prestado vestibular na época...

E claro quando se fala em isonomia, esquece-se de modo muito conveniente o passado da UnB e também que o restante dos professores universitários do Brasil também não ganham URP.

Por fim há a questão de como a URP vem sendo paga. A jurisprudência atual é frontalmente contrária ao jeito que as coisas vem sendo feitas na UnB. E isto é difícil de contra-argumentar.

Enfim, não pense que a briga pela URP é uma coisa simples não...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Assembléia da Adunb - parte 4

Então o que irá acontecer nesta segunda feira?

Idealmente, teríamos informes e votação. Na realidade há muitos interesses em dirigir a assembléia para um ou outro caminho.

Existem grupos que desejam finalizar a greve o mais breve possível e outros que não. Dentro dos que desejam finalizar a greve há uma separação entre um trânsito brusco e outro suave do estado de greve para o de atividades.

Já nos grupos de não desejam finalizar a greve há um espectro mais complexo. Aí temos pessoas que apenas querem um pouco mais de tempo (as vezes até para acertar com o movimento dos funcionários) até aqueles que querem greve por tempo indeterminado.

No meio disto temos a ameaça que a greve seja decretada ilegal. Isto implica em corte de ponto, devolução de salários e coisas bem menos palatáveis.

Quero deixar claro que não existe opção sem consequência. Ao sair da greve agora há a chance que isto reflita de modo ruim com os funcionários. Ao continuar na greve há chance para um abraço de afogado.

Para complicar, a pauta em si tem um furo lógico quando pede o cumprimento às decisões judiciais. Enquanto os professores tem uma decisão favorável - uma liminar - o mesmo não é verdade para os funcionários. Na realidade, se olharmos de modo desapaixonado veremos que há uma decisão judicial (do TRF) que pode muito bem ser interpretada como negativa para categoria.

Então temos a situação: os professores tem algum tipo de proteção judicial, mas o mesmo não pode ser dito para os funcionários. Porque e quem são os culpados não adianta discutir agora.

Quais são os riscos envolvidos?

Se a greve terminar amanhã é praticamente certo que a AGU não irá pedir a ilegalidade da greve. Portanto os professores ficam com o que está garantido e não tem de devolver nada. Os funcionários podem interpretar isto como uma traição ao movimento - claro que não é verdade, solidariedade não é contratual. Mas nem por isto as pessoas podem deixar de pensar assim

Se a greve não terminar amanhão é provável que a AGU peça a ilegalidade da greve. E aí as chances são mesmo de devolução dos dias parados. E aí tanto professores quanto funcionários estariam unidos enquanto pagassem o que receberam parados.

Bem, mas nada disto é importante

O importante é extremamente sério é que a assembléia de amanhã tem o potencial para decidir a vida econômico de quase 2000 professores. Mas baseado no histórico anterior, algo como 10 a 20% irão participar da assembléia.

Isto quer dizer que 80% estão dando carta branca para 20% decidirem se vão ter ou não de devolver dinheiro. E parecem estar OK com isto.

Isto é comodismo? Burrice? Falta de compromisso? Negação da realidade?

Eu não sei o que pensar...

domingo, 9 de maio de 2010

Assembléia da Adunb - parte 3

Então chegamos a parte de contraposição de argumentos.

Idealmente isto seria o debate em cima de argumentos aonde se apresentam os lados de cada argumento. Neste caso quem apresenta reforça os pontos fortes do argumento e quem contrapõe ataca os pontos fracos.

Idealmente...

Na realidade o que acontece não é bem a contraposição de argumentos. Infelizmente é mais uma mistura de generalização com especificidades. Neste caso ignoram-se os pontos discordantes ou não de cada argumento e se pivilegia o ataque. Nada demais, talvez haja alguma perda do ponto de vista de clarificação dos argumentos, mas tecnicamente é apenas um modo de "ganhar" a discussão.

O problema é que ganhar a discussão não significa escolher a melhor alternativa. É um resultado similar a um concurso de popularidade - não existe verdade intrínseca embutida nisto.

E aí vale a pena identificar algumas táticas que empobrecem o debate e enriquessem o concurso de beleza:
  • Personalização na argumentação: ao ligar todas as qualidades boas ou ruim de um argumento a uma pessoa ou personalidade, passamos a debater nossos sentimentos com relação aquela pessoa e não o argumento.
  • Generalização suprema: neste caso o argumento oposto é responsável por todas as maldades do mundo. E com isso o argumento concordante é por natureza superior.
Vamos ao exemplo retirado do correio brasiliense:

“Essa atitude é golpista e reacionária vinda de uma diretoria que dominou e saqueou a UnB na sua passagem pela reitoria. O que eles querem é derrubar o Zé Geraldo. É uma postura sabotadora porque eles têm outros interesses que não a integridade da Universidade”.

Isto foi em resposta a nota que foi liberada em assembléia a respeito de uma abordagem jurídica:

"ADUnB Urgente !
Impeachment do Presidente Lula

A diretoria da ADUnB solicitou, na data de hoje, às Assessorias Jurídicas estudar e elaborar processo para entrar no STF petição de Impeachment do Presidente Lula, bem como, prisão do Ministro Luis Adams, Ministro Paulo Bernardo e reitor José Geraldo.

A Diretoria da ADUnB
7 de maio de 2010 "


Muito bem, o que se depreende da argumentação e contra argumentação?
  1. Desqualificação do interlocutor: diretoria que dominou e saqueou a UnB na sua passagem pela reitoria
  2. Concentra-se em um aspecto: O que eles querem é derrubar o Zé Geraldo
  3. Apelo ao emocional:É uma postura sabotadora porque eles têm outros interesses que não a integridade da Universidade
Notem que a resposta não explica porque a nota constitui em uma postura sabotadora e porque isto revela que os interesses passam ao largo da universidade. 

Ou seja não é contra-argumentação, mas apenas um modo de atacar quem publicou a nota.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Assembléia da Adunb - parte 2

A questão da manipulação é uma coisa corriqueira em assembléias.

Infelizmente, a existência de diversas agendas leva a isto. O objetivo é sempre direcionar os resultados da assembléia para coincidir com os resultados desejados. A forma que isto ocorre é que pode variar dependendo do caso.

Frequentemente as pessoas já tem uma noção aproximada de qual posição apoiam. Isto as leva a fortalecer argumentações que fortificam esta posição e desconsiderar argumentações que minam esta posição. Claro que isto não significa que não há meios das mesmas mudarem o seu ponto de vista. Argumentação farta e suficiente de várias fontes tende a fazer com que as pessoas gradualmente revejam seus pontos de vista.

Então o primeiro passo para evitar que as pessoas mudem do ponto de vista A para o ponto de vista B é justamente evitar que surjam argumentos de forma farta, suficiente e de diversas fontes.

Como isto é feito?

Contraposição de argumentos e desclassificação das fontes.

Em suma estas são as ferramentas básicas.

A desclassificação das fontes é essencialmente atacar a credibilidade das mesmas. Quero deixar claro que isto não é contraposição de argumentos. É apenas uma forma não racional de convencimento da audiência.

Se é certo ou errado? Bem, eu acredito que é errado. Mas a verdade é que todo mundo faz isto, mesmo que inadvertidamente. Devido a nossa própria natureza que decide baseada em categorizações e classificações, nos todos somos particularmente susceptíveis a este tipo de abordagem.

A "fulanização" de um argumento é exatamente isto. Quer um exemplo?

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta manhã que é contra o uso da máquina pública no processo eleitoral. É preciso que sejamos definitivamente republicanos neste País, mostrar que é possível passar por um processo eleitoral sem usar a máquina (pública) como já ocorreu."

"FHC também voltou a defender uma maior fiscalização pela Justiça eleitoral da pré-campanha. “O uso da máquina pública é crime. A Justiça tem que atuar com mais firmeza nessa matéria”, declarou."

Temos o mesmo argumento feito por duas pessoas diferentes. A "fulanização" permite respostas das mais curiosas.

  • Se a sentença do Lula for lida para um apoiador de Lula, o apoiador tomará a mesma pelo valor de face.
  • Se a sentença do Lula for lida para um apoiador de FHC, o apoiador irá dizer que é cara de pau.
  • Se a sentença do FHC for lida para um apoiador de FHC, o apoiador tomará a mesma pelo valor de face.
  • Se a sentença do FHC for lida para um apoiador de Lula, o apoiador irá dizer que é cara de pau (ou golpismo ou qualquer coisa que valha).

E isto é a "fulanização" do debate. Note que esta técnica transporta a questão do âmbito do argumento para o âmbito de gostar ou não do interlocutor.

Depois eu falo mais sobre a contraposição de argumentos

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Assembléia da Adunb - parte 1

Ir a uma assembléia da UnB é sempre uma experiência complicada. Nunca estive nas de funcionários, mas já participei das de alunos e professores.

Um dos problemas é que a enorme maioria das pessoas que vão ao pódio falar são professores. Nada de mal a priori, exceto que os professores tem um certo amor pelo som da sua própria voz (eu também sofro ocasionalmente desse mal). Então ficamos com laidainhas infindáveis para chegar até o ponto.

Não me entendam mal, eu tenho apreço por um discurso articulado e interessante. Mas estes casos são exceções e não regra. Então ficamos com discursos minimamente conexos repletos de repetições e um dos pecados mortais da oratória: chavões pre-fabricados.

Esta técnica é muito usada. No fundo ela simplifica o discurso, pois convenhamos fazer discursos de improviso demanda treinamento mesmo se a pessoa possui o dom para tanto. Então vamos no "nós contra eles", "intenções do governo" e coisas afins...

Isto causa algumas pérolas como no caso de um professor - não irei dizer o nome - que no mesmo discurso disse que o reitor era nosso companheiro e um lacaio do governo.

Claro que se ele tivesse escrito teria notado de imediato a tolice do argumento...

Mas não é o único problema. Por vezes a imaginação e a criatividade podem fazer um desserviço ao discursos. Certamente existem muitas pessoas criativas e capazes de tiradas geniais em segundos.

Só que não é sempre que isto acontece...

E ficamos então com a tirada: "Só uma coisa é certa: que tudo pode acontecer".

Troque isto por "Nada é certo" ou "Tudo é incerteza" e temos o mesmo efeito sem parecer floreado demais.

Podem estar achando que estou sendo malvado, mas querem ver como a frase acima pode manter um tom de floreamento sem arruinar o efeito?

"A única certeza é a incerteza", "A incerteza é nossa única certeza" ou mesmo "Só uma coisa é certa: nada é certo". Todas muito bonitinhas com hipérboles e paradoxos na mesma sentença.

Mas isto no fato é uma certa picuinha. Afinal falar em frente a uma audiência de seus pares não é nada fácil...

Humm, para professores? Até que é. Mas o complicado é quando parte da audiência é hostil. E isto que torna a coisa até mais curiosa.

Em um caso como o da URP não há como negar que existe culpa para distribuir a vontade - mesmo entre os professores. Só que isto é um problema. No mundo reduzido de uma assembléia não existe muito espaço para nuances e tons de cinza.

Então os professores tem de ser vítimas neste caso. Mesmo que não sejam, pois afinal não é uma boa estratégia antagonizar uma platéia potencialmente hostil. Pelo menos não se o desejo é convencer parte dela.

Então já temos parte da receita: evitar antagonismos com a platéia, evitar raciocíonios muito complicados - ou seja simplificar ao máximo o problema.

E quando se simplifica ao máximo o problema corre-se o risco de eliminar alguns elementos vitais à compreensão do mesmo. Elementos tais que poderiam levar a decisões diferentes da que o discursante quer atingir.

E então começa a manipulação... Mas eu falo sobre isto em outro tópico

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Eleições 2006 - A popularidade do Presidente afeta o resultado?

Será que a popularidade de Lula influenciou o resultado da eleição de 2006?

Certamente. Mas como foi isso?

Primeiro temos que ver como foi a eleição.

No primeiro turno (dia 1 de outubro) tivemos:

(1º turno) %

Luiz Inácio Lula da Silva (PT, PRB, PCdoB)  48,61
Geraldo Alckmin (PSDB, PFL) 41,64
Heloísa Helena (PSOL, PSTU, PCB) 6,85
Cristovam Buarque (PDT) 2,64
Ana Maria Rangel (PRP) 0,13
José Maria Eymael (PSDC) 0,07
Luciano Bivar (PSL) 0,06
Rui Costa Pimenta (PCO) 0
(votos considerados nulos) 0,00

E como era a popularidade de Lula? No dia 27/09 a popularidade era expressa por:

Bom: 47%
Neutro: 34%
Ruim: 17%

Nestas condições, ao olharmos a pesquisa de 27 de setembro de 2006 temos que:

Lula: 80% dos que votam nele consideram o governo bom, 33% neutro e 2% ruim
Alckmin: 11% dos que votam nele consideram o governo bom, 43% neutro e 70% ruim
Heloísa Helena: 4% dos que votam nela consideram o governo bom, 12% neutro e 13% ruim
Cristovam Buarque: 1% dos que votam nele consideram o governo bom, 2% neutro e 3% ruim
Brancos e Nulos: 1% dos que votam desta forma consideram o governo bom, 4% neutro e 8% ruim
Não sabe: 2% dos que votam desta forma consideram o governo bom, 4% neutro e 2% ruim

Se considerarmos apenas os votos válidos teremos:

Lula: 83% dos que votam nele consideram o governo bom, 36% neutro e 2% ruim

Alckmin: 11% dos que votam nele consideram o governo bom, 47% neutro e 79% ruim
Heloísa Helena: 4% dos que votam nela consideram o governo bom, 13% neutro e 15% ruim
Cristovam Buarque: 1% dos que votam nele consideram o governo bom, 3% neutro e 3% ruim

Ao calcularmos ficamos com:

Lula: 51,6% dos votos válidos, Alckmin com 35% dos votos válidos, HH com 8,85% dos votos válidos e Cristovam com 2% dos votos válidos.

Ao compararmos com o resultado do primeiro turno, temos que Lula ficou razoavelmente perto do esperado (51,6 versus 48,6), Alckimin ficou um pouco mais longe (35 versus 41,6), HH ainda obteve resultado dentro da margem de erro (8,85 versus 6,85) e o mesmo ocorreu com Cristovam (2 versus 2,64).

Na pesquisa realizada na véspera da eleição, houve uma mudança mais significativa: Lula passou a 50%, Alckmin a 38%, HH a 7% e Cristovam a 2%.

Em paralelo a este ponto, foi incluído no questionário os seguintes itens com relação ao debate:

Assistiu ou Ouviu, Assistiu ou Ouviu Inteiro, Assistiu ou Ouviu em parte, Não assistiu e não ouviu.

Como temos três categorias e resultados podemos fazer uma estimativa dos pesos que cada um destes itens tem na pontuação aproximada dos candidatos:

Assistiu ou Ouviu - peso: -2.0
Assistiu ou Ouviu inteiro - peso: -1.0
Assistiu ou Ouviu em parte - peso: 4.0
Não assistiu e não ouviu - peso: 0.0

O fato de termos pesos negativos significa que houve influência negativa da parte do debate. E curiosamente a maior influência negativa foi justamente para quem assistiu ou ouviu (inteiro). Quem não assistiu e não ouviu não foi influenciado pelo conteúdo do debate (como esperado).

Mas e o segundo turno?

No segundo turno Lula teve 60,83% e Alckmin 39,17%. O que mudou?

A última pesquisa disponível é de 24 de outubro de 2006. Nela temos com relação aos votos válidos:

Lula: 86% dos que votam nele consideram o governo bom, 38% neutro e 2% ruim

Alckmin: 11% dos que votam nele consideram o governo bom, 56% neutro e 89% ruim

E quanto era a popularidade do governo Lula naqueles dias?

Bom: 53%
Neutro: 31%
Ruim: 15%

Isto resulta em: Lula com 57,7% dos votos válidos e Alckmin com 36,5% dos votos válidos;
Ao compararmos com o resultado do primeiro turno, temos uma diferença percentual de 3 pontos tanto em Lula (57,7 versus 60,3) quanto Alckimin (36,5 versus 39,17).

Então, em termos de popularidade, o seguinte perfil do eleitor:

27/09/2006 - Lula: 80% consideram o governo bom, 33% consideram neutro e 2% ruim
24/10/2006- Lula: 86% consideram o governo bom, 38% consideram neutro e 2% ruim
27/09/2006 - Alckmin: 11% consideram o governo bom, 43% consideram neutro e 70% ruim
24/10/2006- Alckmin: 11% consideram o governo bom, 56% consideram neutro e 89% ruim

Ao analisar os números da popularidade, podemos ver que o aumento da popularidade custou para Alckmin 2 pontos percentais e rendeu a Lula 3 pontos percentuais (aumentando a diferença entre os dois para 5 pontos percentuais).

Analisar eleições é fascinante, mas muito delicado...