quarta-feira, 25 de março de 2009

O lado sujo da informação

Sabendo que conhecimento é poder.

Então como exercer as benesses do conhecimento?

Um dos problemas com o conhecimento é como utiliza-lo. E aí reside a sabedoria. Esta parte da cadeia do conhecimento é que ainda não conseguimos realmente usar direito.

Um exemplo: uma teoria social de amplo conhecimento irá de um modo ou de outro alterar parâmetros na sociedade, rendendo seu uso como inútil. Isto porque os elementos nos quais a teoria está embasada irão modificar seu comportamento de acordo com o conhecimento do estado geral da sociedade.

E ao modificar o comportamento lançam o estado geral em uma jornada desconhecida. Isto não quer dizer que não seja possível construir uma teoria de funcionamento da sociedade.

Apenas não é possível construir uma teoria dinâmica de funcionamento da sociedade. Pelo menos não uma teoria abertamente divulgada.

Entretanto uma teoria de estados de equilíbrio ainda é possível. Isto porque a divulgação de estados de equilíbrio não fornece necessariamente informações que podem alterar o comportamento diretamente. Os estados de equilíbrio não são estritamente pontos fixos, mas pontos nos quais os estados dinâmicos orbitam devido as perturbações.

E nisto os profetas tem razão: profecias claras só podem ter dois possíveis resultados - auto-realização ou fracasso. Portanto são necessárias profecias crípticas e sujeitas a múltiplas interpretações. Este é o modo de prever o futuro em algo complexo como a sociedade... Mesmo que com precisão!

Vamos a um exemplo: todos os meios de comunicação e várias pessoas falam com autoridade que o taxa de juros no Brasil está muito alta.

Isto é verdade

E segundo eles é por isto que os bancos se encontram com juros estratosféricos

Isto é mentira

Então a queda da taxa de juros vai fazer os juros caírem? Sim, mas de qual percentual?

Como falei em outro post a composição da taxa de juros bancária, na realidade a composição so spread é determinada em grande parte pela taxa de inadimplência.

Mas como é calculada a taxa de inadimplência? Ah! Aí tem uma pérola: se o tomador atrasar uma prestação, o banco irá protestar não o valor da prestação mas o valor do empréstimo. E isto vai aparecer como inadimplência.

Qual é a graça? A graça é que aumentando a taxa de inadimplência (mesmo que não seja real), aumenta o spread. E olha que beleza para o banco: não aumentou realmente a inadimplência, mas aumentou o spread.

Como este efeito que era originalmente realizado para compensar a inadimplência, não compensa nada então ele vira lucro!

É um dos efeitos da assimetria de informação: não saber disto faz com que as pessoas lutem as causas erradas. E como o filme dos Watchmen acabem por ajudar ao vilão da estória.

terça-feira, 24 de março de 2009

Volta ao Capital, livro 2

Estou já em mais da metade do Capital, livro 2 de Marx.

Cada vez mais, fico com a nítida impressão que é um livro comentado mas raramente lido.

Este livro trata do processo de circulação do capital. O primeiro tratava do processo de produção do capital.

Quanto mais eu leio, mais furos eu vejo no raciocínio.

Mas pelo menos ele trata da circulação. E esta é uma parte fundamental do processo.

Em poucas palavras, o conceito de mais valia como expropriação da classe trabalhadora é colocado em xeque na análise do processo de circulação. A razão é que a classe trabalhadora é em última análise a classe consumidora dos produtos.

O mais interessante é que Marx vê claramente isto. Ao notar o choque entre a idéia da expropriação e o fato dos trabalhadores serem consumidores, ele realiza uma dança de idéias e palavras que é preciso ler para crer.

Ao final, conclui que isto é uma contradição do Capitalismo.

Ah, a vaidade humana!

Na realidade é uma contradição do aracabouço teórico que ele construiu para explicar o Capitalismo. Ou seja: A contradição está em Marx e não no Capitalismo!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Mais sobre pontos de equilíbrio

Assim como a economia estuda os incentivos e seus efeitos na cadeia de agregação de valor, eu acredito que vários pontos da sociedade podem ser estudados por uma teoria geral de equilíbrio.

Não porque sejamos inexoravelmente deterministas e presos a um conjunto de equações complicadas.

Muito pelo contrário

Acredito que as regras que nós mesmos criamos, como sociedade se for o caso, criam situações e pontos de equilíbrio naturais para a população em geral.

Um exemplo? Leis. Aqui no Brasil temos as chamadas leis que "pegam" e as leis que não "pegam". De onde vem isto? Do Olimpo das leis?

Não, vem de como as leis são reforçadas na população. Criar leis que não podem ser fiscalizadas é pedir para que elas não funcionem.

Mas surge a questão: Mas e a fiscalização da própria população?

Esta não funciona mesmo. A razão vem de como nos comportamos como população. Não temos o hábito de apontar os defeitos dos outros se eles podem nos apontar os nossos. Em outras palavras, tendemos a evitar confrontos desnecessários.

Não precisa acreditar em mim: preste atenção em pessoas que infrigem alguma lei menor (como fumar em lugar proibido) e veja quantas pessoas vão repreende-lo fisicamente.

Mas podem dizer: Perá lá, mas as pessoas pararam de fumar em aeroportos e estão fumando em locais apropriados - a maioria quero dizer.

Humm, isto é quase verdade. Em alguns locais, a maioria das pessoas realmente tende a cumprir a lei. Mas nem todos os locais - bares são um exemplo.

Porque vem este assunto? Por causa da chamada Lei Seca. Não importa que seja muito restritiva, mas que ela só vem sendo cumprida a partir da fiscalização mais cerrada.

Sem esta fiscalização, esta lei iria recair do panteão das leis inúteis. E francamente acredito que isto seja um tremendo erro.

Mesmo assim não é só isto.

Ao se desobedecer leis, criam-se precedentes perigosos. É exatamente o problema do ponto de equilíbrio. Se o ponto de equilíbrio é desprezar determinadas leis, então aonde vai toda sociedade?

E na realidade, impunidade cria exatamente este tipo de ponto de equilíbrio: parcelas das regras são obedecidas em maioria, parcelas das regras são desobedecidas em maioria e parcelas ainda maiores das regras são desobedecidas em minoria.

Um outro exemplo de ponto de equilíbrio (e ao mesmo tempo uma pergunta malvada): se você não sabe sobre algo direito e vem duas pessoas:
- Uma com afirmações categóricas e sem margem para debate sobre o assunto
- Outra com afirmações cautelosas e com transparecendo incerteza sobre pontos do assunto

Qual das duas você confia?

Aposto que muitos vão seguir com a primeira opção.

E estarão erradíssimos.

terça-feira, 10 de março de 2009

E uma moto?

Neste caso vamos pegar um exemplo:

Autonomia de 1 tanque: 180 km
Tanque: 4 litros
Gasolina: R$ 2,50
Custo supondo IPVA de 4% do valor e vida útil de 10 anos: R$ 8800,00

Supondo 100 mil km de uso, temos: 10000/180 tanques * 10 + 8800,00 = R$ 14355,55

Dividindo pela autonomia de 100 mil km temos:

R$ 0.144/km

Isto na realidade mostra de modo claríssimo que o custo do transporte público nas cidades está elevadíssimo.

E por uma perspectiva puramente econômica, faz mais sentido as pessoas usarem motocicletas do que andarem de transporte coletivo.

Um exemplo é o metro de Brasília.

O custo de uma viagem de ida é de R$ 2,00 (indo para 3 reais atualmente). O maior percurso coberto é de cerca de 40 km. Isto significa um custo de R$ 0.05/km para o maior trecho.

Mas para percusos de até 13.89 km, vale mais a pena utilizar a motocicleta do que o metro.

A lição importante a ser tomada aqui é a seguinte: o exagero no custo das passagens de transporte coletivo CRIA condições para o ponto de equilíbrio aonde os usuários passam a utilizar motocicletas.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Quanto custa o seu carro?

Na série de tópicos mais práticos, vamos ver como é o custo de um carro.

Para começar temos de saber a autonomia do carro em km/litro

Depois temos de saber o custo do combustível em R$/litro

Em cima destes dados temos de ter uma estimativa do custo do carro, quanto é a vida útil do carro (em km) e custos adicionais.

E aí podemos calcular o custo do carro em R$/km

Complicado? Vamos a um exemplo:

IPVA: 4% do valor do veículo.
Vida útil: 10 anos (100 mil km)
Custo do veículo com IPVA: 1.48 Valor de venda (por exemplo: R$ 20.000 * 1.48 =29.6 mil reais)
Custo da gasolina: R$ 2.50 por litro (@ 40 litros = R$ 100,00 o tanque)
Autonomia: 15 km/litro = @ 600 km por tanque;

Portanto temos:

Custo total: 500/3 tanques *R$ 100,00 + 30 mil = 46666,67 o que dá perto de R$ 47 mil.

Dividindo pela autonomia de 100 mil km temos:

R$ 0.47/km

Claro que os custos podem aumentar significativamente com o valor do carro. Mas em geral temos algo nesta vizinhança 0.45 a 0.55 Reais por km.

A partir daí dá para se fazer um idéia dos custos de transporte - e claro como diminuí-los

terça-feira, 3 de março de 2009

Agregando Valor

A questão do valor está novamente de volta.

Um ponto que tinha me escapado é sobre como o conceito do valor criado pelo trabalho se aplica ao modo industrial de hoje.

E o que me deixou intrigado foi a questão da "curva do sorriso"

Em poucas palavras, nem todas as partes do processo de produção agregam valor na mesma proporção. Nesta curva, as partes relativas ao projeto e ao marketing agregam mais valor ao produto do que a manufatura em si.

Pode parecer bizarro, mas existem diversos exemplos. Um deles é a Apple. O IPod não é o melhor MP3 Player do mercado. Mas é o de maior fatia.

Isto quer dizer que o valor agregado do IPod é maior do que seus concorrentes. Mas qual a diferenciação entre eles? Ela certamente não se encontra na manufatura. Então temos que a diferenciação está no design e no marketing.

Infelizmente, isto quer dizer que a abordagem mecanicista do trabalho como único criador de valor agregado está no mínimo incompleta. Se formos um pouco menos politicamente corretos, podemos afirmar que ela é um completo equívoco sobre o processo de agregação de valor.

Suspeito que a agregação de valor tem, em última análise, sua determinação pelo preço final de venda em comparação com os custos de desenvolvimento.

Mas talvez esta seja uma característica própria da indústria de informática. Não exatamente aonde o valor é agregado, mas que esta forma de definição de valor ocorra para grande maioria das mercadorias.

Então fica a pergunta malvada: Como se distribui a agregação de valor na cadeia produtiva?