terça-feira, 22 de novembro de 2016

Sobre a PEC 241/55

Ao contrário dos meus pares, eu resolvi ler a famosa PEC.

O que descobri? Bem, traduzindo de forma simples é o seguinte: tirando algumas exceções, o orçamento das diversas áreas de atuação do governo deve ser o do ano anterior mais a projeção de inflação para o ano anterior.

Ou seja, o orçamento passa a ser corrigido pela inflação.

Então a educação e a saúde estão congelados? Nem tanto, a priori o orçamento do ano seguinte é o orçamento do ano anterior com a correção de inflação do ano.

E, claro, o valor pode ser aumentado além disto desde que se estabeleça de onde será tirado o dinheiro para tanto.

E, é isso?

Não acredita? Ok, leia você mesmo:


PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO 

Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal. 

Art. 1º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar com as seguintes alterações: 

“Art. 101. Fica instituído, para todos os Poderes da União e os órgãos federais com autonomia administrativa e financeira integrantes dos Orçamento Fiscal e da Seguridade Social, o Novo Regime Fiscal, que vigorará por vinte exercícios financeiros, nos termos dos art. 102 a art. 105 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.” (NR) 

“Art. 102. Será fixado, para cada exercício, limite individualizado para a despesa primária total do Poder Executivo, do Poder Judiciário, do Poder Legislativo, inclusive o Tribunal de Contas da União, do Ministério Público da União e da Defensoria Pública da União. 

§ 1º Nos Poderes e órgãos referidos no caput, estão compreendidos os órgãos e as entidades da administração pública federal direta e indireta, os fundos e as fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público e as empresas estatais dependentes. 

§ 2º Os limites estabelecidos na forma do art. 51, caput, inciso IV, do art. 52, caput, inciso XIII, do art. 99, § 1º, do art. 127, § 3º, e do art. 134, § 3º, da Constituição, não poderão ser superiores aos fixados nos termos previstos neste artigo. 

§ 3º Cada um dos limites a que se refere o caput equivalerá: 

I - para o exercício de 2017, à despesa primária realizada no exercício de 2016, conforme disposto no § 8º, corrigida pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou de outro índice que vier a substituí-lo, para o período de janeiro a dezembro de 2016; e

II - nos exercícios posteriores, ao valor do limite referente ao exercício imediatamente anterior, corrigido pela variação do IPCA, publicado pelo IBGE, ou de outro índice que vier a substituí-lo, para o período de janeiro a dezembro do exercício imediatamente anterior. 

§ 4º Os limites a que se refere o inciso II do § 3º constarão na Lei de Diretrizes Orçamentárias dos respectivos exercícios. 

§ 5º A variação do IPCA a que se refere o inciso II do § 3º será: 

I - para fins de elaboração e aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual, a estimativa proposta pelo Poder Executivo, e suas atualizações; e 

II - para fins de execução orçamentária, aquela acumulada no período de janeiro a dezembro do exercício anterior, procedendo-se o correspondente ajuste nos valores dos limites previstos neste artigo. 

§ 6º Não se incluem nos limites previstos neste artigo: 

I - transferências constitucionais estabelecidas pelos art. 20, § 1º, art. 157 a art. 159 e art. 212, § 6º, e as despesas referentes ao art. 21, caput, inciso XIV, todos da Constituição, e as complementações de que trata o art. 60, caput, inciso V, deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; 

II - créditos extraordinários a que se refere o art. 167, § 3º, da Constituição; 

III - despesas com a realização de eleições pela justiça eleitoral; 

IV - outras transferências obrigatórias derivadas de lei que sejam apuradas em função de receita vinculadas; e 

V - despesas com aumento de capital de empresas estatais não dependentes. 

§ 7º O Presidente da República poderá propor ao Congresso Nacional, por meio de projeto de lei, vedada a adoção de Medida Provisória, alteração no método de correção dos limites a que se refere este artigo, para vigorar a partir do décimo exercício de vigência da Emenda Constitucional que instituiu o Novo Regime Fiscal. 

§ 8º Para fins de verificação do cumprimento do limite de que trata o caput, será considerado o somatório das despesas que afetam o resultado primário no exercício, incluídos os restos a pagar referentes às despesas primárias.” (NR) 

“Art. 103. No caso de descumprimento do limite de que trata o caput do art. 102 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, aplicam-se, no exercício seguinte, ao Poder ou ao órgão que descumpriu o limite, vedações: 

I - à concessão, a qualquer título, de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração de servidores públicos, inclusive do previsto no inciso X do caput do art. 37 da Constituição, exceto os derivados de sentença judicial ou de determinação legal decorrente de atos anteriores à entrada em vigor da Emenda Constitucional que instituiu o Novo Regime Fiscal; 

II - à criação de cargo, emprego ou função que implique aumento de despesa; 

III - à alteração de estrutura de carreira que implique aumento de despesa; 

IV - à admissão ou à contratação de pessoal, a qualquer título, ressalvadas as reposições de cargos de chefia e de direção que não acarretem aumento de despesa e aquelas decorrentes de vacâncias de cargos efetivos; e 

V - à realização de concurso público. 

Parágrafo único. Adicionalmente ao disposto no caput, no caso de descumprimento do limite de que trata o caput do art. 102 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias pelo Poder Executivo, no exercício seguinte: 

I - a despesa nominal com subsídios e subvenções econômicas não poderá superar aquela realizada no exercício anterior; e 

II - fica vedada a concessão ou a ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita.” (NR) 

“Art. 104. A partir do exercício financeiro de 2017, as aplicações mínimas de recursos a que se referem o inciso I do § 2º e o § 3º do art. 198 e o caput do art. 212, ambos da Constituição, corresponderão, em cada exercício financeiro, às aplicações mínimas referentes ao exercício anterior corrigidas na forma estabelecida pelo inciso II do § 3º e do § 5º do art. 102 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.” (NR) 

“Art. 105. As vedações introduzidas pelo Novo Regime Fiscal não constituirão obrigação de pagamento futuro pela União ou direitos de outrem sobre o erário.” (NR) 

Art. 2º Fica revogado o art. 2º da Emenda Constitucional nº 86, de 17 de março de 2015. Art. 3º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.



Então vamos clarificar: o cerne da PEC é a nova redação do artigo 102: orçamento do ano N+1 = orçamento do ano N corrigido pelo IPCA ou por outro índice.

O artigo 103 trata das punições para quem descumprir a lei: sem aumento e sem concurso público.

Agora vamos aos pontos aonde a PEC não limita o orçamento: transferências constitucionais (artigos 20, 157, 159, 212, 167. Gasto para realização de eleições, outras transferência obrigatórias e capital de empresas estatais independentes.)

Vamos ver do que se trata:

O artigo 20 trata do bens da união. O tal inciso diz: "§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.". Ou seja, o resultado da exploração extrativista continua igual a antes da PEC.

O artigo 21 trata dos deveres da união. E o texto de interesse é esse: "XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)"

O artigo 157 diz "Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal: 
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; 
II - vinte por cento do produto da arrecadação do imposto que a União instituir no exercício da competência que lhe é atribuída pelo art. 154, I."

O artigo 158 diz: "Pertencem aos Municípios:
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem;
II - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º, III; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)     (Regulamento)
III - cinqüenta por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus territórios;
IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.
Parágrafo único. As parcelas de receita pertencentes aos Municípios, mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios:
I - três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seus territórios;
II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos Territórios, lei federal."

Tanto o 157 quanto o 158 tratam das transferências do dinheiro da União aos Estados.

O artigo 159 diz: "Art. 159. A União entregará:    (Vide Emenda Constitucional nº 55, de 2007)
I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre produtos industrializados, 49% (quarenta e nove por cento), na seguinte forma: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 84, de 2014)
a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal;     (Vide Lei Complementar nº 62, de 1989)     (Regulamento)
b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Municípios;     (Vide Lei Complementar nº 62, de 1989)     (Regulamento)
c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei estabelecer;
d) um por cento ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro de cada ano; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 55, de 2007)
e) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de julho de cada ano; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 84, de 2014)
II - do produto da arrecadação do imposto sobre produtos industrializados, dez por cento aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados.  (Regulamento)
III - do produto da arrecadação da contribuição de intervenção no domínio econômico prevista no art. 177, § 4º, 29% (vinte e nove por cento) para os Estados e o Distrito Federal, distribuídos na forma da lei, observada a destinação a que se refere o inciso II, c, do referido parágrafo.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 44, de 2004)
§ 1º Para efeito de cálculo da entrega a ser efetuada de acordo com o previsto no inciso I, excluir-se-á a parcela da arrecadação do imposto de renda e proventos de qualquer natureza pertencente aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, nos termos do disposto nos arts. 157, I, e 158, I.
§ 2º A nenhuma unidade federada poderá ser destinada parcela superior a vinte por cento do montante a que se refere o inciso II, devendo o eventual excedente ser distribuído entre os demais participantes, mantido, em relação a esses, o critério de partilha nele estabelecido.
§ 3º Os Estados entregarão aos respectivos Municípios vinte e cinco por cento dos recursos que receberem nos termos do inciso II, observados os critérios estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e II.
§ 4º Do montante de recursos de que trata o inciso III que cabe a cada Estado, vinte e cinco por cento serão destinados aos seus Municípios, na forma da lei a que se refere o mencionado inciso. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

O artigo 212 inciso 6 trata exatamente da educação: "Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir.
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no "caput" deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213.
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano nacional de educação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
§ 4º Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários.
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) (Vide Decreto nº 6.003, de 2006)
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)"

O texto fala explicitamente do inciso 6: cotas estaduais e municipais da arrecadação social do salário educação.

Já o artigo 60, inciso V das disposições constitucionais transitórias diz: "V - a União complementará os recursos dos Fundos a que se refere o inciso II do caput deste artigo sempre que, no Distrito Federal e em cada Estado, o valor por aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente, fixado em observância ao disposto no inciso VII do caput deste artigo, vedada a utilização dos recursos a que se refere o § 5º do art. 212 da Constituição Federal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)."

Por fim o artigo 167 inciso 5 diz: "V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes;"

Bem, pode-se argumentar que não há informação a respeito da saúde, e que o intocabilidade da educação não está clara. Mas é só isso...

Os Invasores

Já tem cerca de 20 dias.

Desde primeiro de novembro que a reitoria da UnB está invadida.

Eu digo mesmo invadida, e não ocupada. Até porque a reitoria já estava ocupada antes. Os invasores entraram e expulsaram as pessoas que trabalham lá.

A verdade é que este tipo de ação está tendo o efeito contrário ao que se pretendia.

Inicialmente a pauta era a PEC 241/55 e a reforma do ensino médio.

Mas a verdade verdadeira é que é mais um Fora Temer. Um movimento para ganhar espaço político, não tendo o menos interesse na educação ou mesmo na PEC.

O duro é ver meus colegas destilando textos e mais textos sobre a PEC e a reforma do ensino médio.

Claro, nenhum deles leu nem um, nem outro.

Apenas postam opiniões que satisfazem a visão de mundo que querem divulgar.

Isso é um pecado mortal para professores universitários.

Mas...

Em defesa deles, alguns já deixaram de ser professores universitários há muitos anos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Tempos Extraordinários

Pelo que se pode depreender de 2016, estamos vivendo tempos extraordinários.

Não necessariamente bom ou ruim, mas certamente muito incomuns.

Tivemos no Brasil um impeachment, a lava-jato e diversos outros eventos (olimpíada, prisão de ex-governadores). Durante este período, o mundo não só não parou como também "dobrou a aposta".

Tivemos o Brexit, a vitória de Trump e diversas vitórias de forças conservadoras ou ditas a direita.

Também tivemos um decréscimo significativo na confiança da imprensa e gradativa substituição de fontes de notícia tradicionais por fontes de redes sociais ou aplicativos de comunicação pessoal.

Tem sido um ano definitivamente extraordinário.

Se isso é bom ou ruim? Bem aí já é muito mais difícil de quantificar. Eu tenho minhas suspeitas que essa série de guinadas é o desenvolvimento natural de um mecanismo forçante da esquerda mundial. Em poucas palavras: a determinação de uma agenda progressista sem lastro econômico para alguns setores da população (normalmente os que ela diz proteger) acabou por "enterrar" sonhos de sucessão de grande parte da esquerda mundial.

A questão fundamental, que é a mesma em diversos países do mundo é: as forças políticas forçaram uma agenda progressista enquanto parte da população se viu cada vez menos representadas nesta e noutras agendas políticas do status quo.

Como nas democracias liberais, a eleição é rei e rainha do processo, então o machado veio e cortou sem dó nem piedade os representantes que diziam estar defendendo o interesse destas populações.

Em suma: o pessoal foi chutado para fora por falta de representatividade.

Isto também é extraordinário.

Sim, porque ser excluído por falta de representatividade não era algo tão comum no sistema democrático como está sendo agora. Nisto, a saída de Dilma e a entrada de Trump tem algo em comum: uma parcela significativa da população disse "Chega".

Claro que no caso de Dilma havia também uma certa vontade de defenestra-la desde o início do segundo mandato.

Mas a bola de neve foi gradualmente crescendo.

Mas não é só nos Estados Unidos ou no Brasil. Há a questão do Brexit, que segue precisamente a mesma lógica. Suspeito que foi muito mais um grito de "Chega" do que um "Dane-se esta União Eurpopéia", mas as coisas são como são.

O mesmo acorreu na Austria (se não me engano) e França (ontem mesmo).

Isto não é coincidência.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Resultado das Eleições para Reitor da UnB

Tivemos um pleito para decidir os nomes para reitoria da UnB. A vencedora foi a chapa 94 composta pela Márcia Abraão e Henrique Huelva (vice).

Concorreram o reitor atual (Ivan - chapa 96) e a Profa. Denise Bontempo (chapa 93).

Os resultados foram os seguintes:
Chapa 93 (Denise)

  • Docentes: 202
  • Técnicos: 329
  • Estudantes: 538

Chapa 94 (Márcia)

  • Docentes: 750
  • Técnicos: 1512
  • Estudantes: 6136

Chapa 95 (Ivan)

  • Docentes: 850
  • Técnicos: 500
  • Estudantes: 4487

É interessante comparar o resultado com o segundo turno da eleição de 2012:
Chapa 80 (Márcia)

  • Docentes: 732
  • Técnicos: 956
  • Estudantes: 4382

Chapa 86 (Ivan)

  • Docentes: 1051
  • Técnicos: 815
  • Estudantes: 4457

Já a Profa. Denise concorreu somente no primeiro turno da eleição de 2012 e teve os seguintes números:

  • Docentes: 238
  • Técnicos: 325
  • Estudantes: 349

Olhando os resultados, vemos que em 2016 a Profa. Márcia teve um resultado similar ao de 2012 na categoria dos docentes, enquanto o Prof. Ivan teve um resultado similar ao de 2012 na categoria dos estudantes. A Profa. Denise teve um resultado similar ao de 2012 na categoria dos docentes e técnicos.

A diferença em 2016 foi a diminuição da base do número de docentes (em quase 200) comparado a 2012 do Prof. Ivan, e o aumento de mais de 1700 estudantes e 550 técnicos na chapa da Márcia.

Independente da diminuição no número de docentes, vamos ver quanto foram os totais de votantes em 2016 e 2012
Em 2012:

  • Docentes: 1738
  • Técnicos: 1771
  • Estudantes: 8839
Em 2016:

  • Docentes: 1802
  • Técnicos: 2341
  • Estudantes: 11.161

Em termos percentuais
Em 2012:
Márcia

  • Docentes: 41.05
  • Técnicos: 53.98%
  • Estudantes: 49.58%

Ivan

  • Docentes: 58.95%
  • Técnicos: 46.02%
  • Estudantes: 50.42%
Em 2016:
Márcia

  • Docentes: 41.62%
  • Técnicos: 64.59%
  • Estudantes: 54.98%

Ivan

  • Docentes: 47.17%
  • Técnicos: 21.36%
  • Estudantes: 40.20%
É isso.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Brexit?

Muito se discute sobre o Brexit.

Se foi bom, se foi ruim.

A grande verdade é que... depende.

Essa é uma daquelas decisões cujas ramificações não podem ser totalmente mapeadas a partir do momento que a mesma se torna real.

É algo muito, muito, muito complicado mesmo.

Se vai ser bom ou se vai ser ruim depende dos acordos que serão realizados, de como a saída será efetivada, qual é a reação dos países membros e não membros da UE e ainda qual é reação dos países membros do Reino Unido (Irlanda, Escócia e País de Gales).

Se os acordos comerciais forem bons, então isto levará a novos acontecimentos, podendo até acarretar a saída de outros países da União Européia. Se apenas um grande sair, por exemplo França, a Alemanha poderá ficar em situação privilegiada (ou não).

Então há muitas ramificações possíveis. Nem todas boas e nem todas ruins. Só o tempo dirá com certeza.

Mas...

Se não quisermos certeza, mas apenas probabilidades, então é possível fazer alguns chutes educados.

Por exemplo, podemos fazer alguns chutes educados com relação a Escócia. No plebiscito que tratava da separação, a votação foi 44% a 56%. Já na votação do Brexit a votação foi de 62% a 38%.

Quem votou sim para o não Brexit (Remain) tem duas possibilidades: votou sim para o plebiscito ou não.
p(Remain)=p(Remain|sim)*p(sim) + p(Remain|não)*p(não) = p(Remain|sim)*0.44 + p(Remain|não)*0.56 = 0.62

Quem votou sim para o Brexit tem duas possibilidades: votou sim para o plebiscito ou não.
p(Brexit)=p(Brexit|sim)*p(sim) + p(Brexit|não)*p(não) = p(Brexit|sim)*0.44 + p(Brexit|não)*0.56 = 0.38

A questão é determinar:
p(Remain|sim)
p(Remain|não)
p(Brexit|sim)
p(Brexit|não)
A solução são duas equações

  • p(Remain|não)=1.107142857-.7857142857*p(Remain|sim)
  • p(Brexit|não)=.6785714286-.7857142857*p(Brexit|sim)

O máximo valor de p(Remain|sim) é 1. O que dá que o mínimo valor de p(Remain|não) é 0.32 .Já o máximo valor de (Remain|não) é 1, o que dá o mínimo valor de p(Remain|sim) de 0.14

O mínimo valor de p(Brexit|não) é 0. O que dá que o máximo valor de p(Brexit|sim) é 0.86 .Já o máximo valor de (Brexit|não) é 0.68, o que dá o mínimo valor de p(Brexit|sim) de 0

Assim temos:

  • p(Remain|sim) está entre 0.14 e 1
  • p(Remain|não) está entre 0.32 e 1
  • p(Brexit|sim) está entre 0 e 0.86
  • p(Brexit|não) está entre 0 e 0.68

Sabendo isso temos:

  • p(não|Remain) está entre 0.3 e 0.9
  • p(não|Brexit) está entre 0 e 0.6
  • p(sim|Remain) está entre 0.1 e 0.7
  • p(sim|Brexit) está entre 0.4 e 1

E o que isto quer dizer? O que queremos saber é qual a proporção de votos sim e não em um segundo plebiscito dado quem votou Remain ou Brexit

Ou seja:
p(sim)=p(sim|Brexit)*p(Brexit)+p(sim|Remain)*p(Remain)

Aqui temos combinações

  • p(sim)=0.4*0.38+0.1*0.62 = 0.21
  • p(sim)=0.4*0.38+0.7*0.62 = 0.59
  • p(sim)=1*0.38+0.1*0.62 = 0.44
  • p(sim)=1*0.38+0.7*0.62 = 0.81

Cujo valor esperado é de 51.4%. Isto quer dizer que, caso haja um novo plebiscito, as chances estão do lado da separação da Escócia do Reino Unido.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Narrativa e Realidade - o caso da UnB

Na última sexta-feira a UnB foi invadida por pessoas com slogans fascistas e homofóbicos.

Segundo o próprio correio braziliense, o ato foi organizado por Kelly Bolsonaro (suspeito que não seja parente):
"A Universidade de Brasília (UnB) investiga a atuação de um grupo de manifestantes na noite desta sexta-feira (17/6) que resultou em ataques homofóbicos e racistas a estudantes que estavam no Instituto Central de Ciências (ICC), conhecido como Minhocão. Segundo relatos, os manifestantes chegaram ao local por volta das 20h, gritando palavras de protesto, exigindo a volta da ditadura militar. Eles ainda teriam feito o uso de bomba caseira. A instituição afirma que ainda apura o caso."
Tem até um vídeo com o acontecido


Certamente essa senhora que aparece falando é uma racista homofóbica, não?

Bem... antes do leitor decidir talvez seja melhor ver o mesmo vídeo, só que de outro ângulo.


Agora, o leitor não tem mais certeza, não é?

Claro que o que clarificou o ataque como fascista foi o texto de um dos alunos que viu o incidente:
"Hoje na UnB, aconteceu uma situação assustadora. Um grupo de 15 pessoas entrou no câmpus, vestido com blusas escritas 'Fora PT', 'Bolsonaro presidente' e começou a gritar frases como 'Aqui é lugar de estudar e não de fumar maconha' e ' Vocês são comunistas safados', 'Acabou a mamada'". De acordo com o relato, o grupo ainda ofendeu os estudantes com xingamentos como  "viados"  vagabundos", "comunistas nojentos". Estavam extremamente agressivos e vinha para cima de quem estava passando no ICC com uma postura recheada de razão! No começo de tudo eles soltaram uma bomba, isso mesmo, uma bomba na porta do ICC norte. E logo após uns 10 minutos soltaram outra bomba!!!!!!!! Fiquei extremamente nervoso e com medo. Foi uma cena assustadora. Foram ali para dizer que todos nós éramos vagabundos, maconheiros. A maioria de nós ficamos olhando, perplexos com o que estávamos vendo. E quando um grupo pequeno contrapôs, uma mulher que estava no grupo, tirou com um sorriso frio e nefasto uma arma de choque. Sério, ela tirou e apontou para um estudante. Tinha um dois senhores com cacetetes. E um deles gritou 'Isso é só o começo, vamos voltar"
Bem, adivinhem quem é o aluno em questão no vídeo.

Narrativas, pessoal, narrativas...


terça-feira, 14 de junho de 2016

Narrativa e Realidade - o caso de Orlando

Neste fim de semana uma tragédia horrível aconteceu em Orlando: um atirador matou cerca de 50 pessoas em uma boate gay.

E para piorar, há informações que ele jurou lealdade ao estado islâmico, era filho de afegãos, comprou armas legalmente apesar de ser investigado como terrorista e teve motivações homofóbicas.

Ou seja, um prato cheio tanto para radicais de direita (deportações de imigrantes e ações militares contra o Islã) quanto de esquerda (controle de armas e criminalização da homofobia).

Só que...

A realidade é bem mais complicada.

  1. O atirador era descendente de imigrantes, mas nasceu em Nova Iorque - ou seja, a narrativa de expulsão de imigrantes se complica.
  2. O atirador era segurança e tinha permissão legal para porte de armas - ou seja,a narrativa da necessidade o controle de armas se complica.
  3. O atirador frequentou o clube gay por muito tempo antes do massacre e usava um app para encontros gays - ou seja, há uma possibilidade que ele fosse gay, ainda que secretamente - ou seja, a narrativa da homofobia se complica. 

Então o que sobra?

O que sobra é que a realidade é bem mais complicada e difícil de encaixar nas narrativas que são fabricadas para polarizar opiniões.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Sobre a Última Assembléia de Professores da UnB

Bem, segundo o encaminhamento votado em assembléia ontem, os professores da UnB devem construir uma greve contra o "golpe" contra Dilma.

Essencialmente o que eles decidiram o segundo semestre não deve começar até que Dilma volte ao governo.

Ai, aí... Fica difícil.

Mas ao mesmo tempo é fácil entender a tolice da proposta. Segundo o calendário do impeachment, a votação está prevista para a primeira semana de agosto.

O início das aulas do segundo semestre na UnB se dará na segunda semana de agosto.

Ok. Portanto até o início das aulas já saberemos se Dilma volta ou não. E aí a greve fica como?

  • Se Dilma volta, não faz sentido fazer greve, já que a razão da greve desaparece.
  • Se Dilma não volta, não faz sentido fazer greve, já que o afastamento terá sido ratificado pelo poder legislativo.

Em suma: o resultado do processo de impeachment não será alterado independente dos professores fazerem ou não uma greve após o resultado do processo.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Sobre as autoridades, a mídia, os ativistas e o estupro

Com as confusões a respeito do estupro de uma garota de 16 anos por 33 homens, há muito o que se esclarecer.

Mas o problema é que nem a mídia e nem os ativistas estão fazendo um papel honesto nesta história.

Não me entendam mal: todos estão fazendo o papel que mais se adéqua a agenda de cada um.

Só que ninguém está cuidando dos interesses da vítima.

Vamos ao que realmente aconteceu: a vítima (twitter dela aqui) foi a um baile funk com a intenção de se divertir.

E aí cabe dizer que a vítima era menor de idade e pode ser que estivesse sob efeito de álcool ou entorpecentes. E isto caracteriza o que aconteceu a partir daí como estupro de vulnerável.  Então não há dúvida: sob está ótica é estupro mesmo.

Mas

Há uma série de complicações na história. A primeira é que a vítima já fazia este tipo de festinhas há tempos.

E nunca reclamou, aliás nas suas próprias palavras...

Há ainda evidências que isto teria sido planejado.

E há dúvidas se ela teria mesmo usado drogas ou bebido.

E então o que realmente aconteceu?

Bem, sem uma forma perfeita de olhar o passado, só posso especular uma possível linha do tempo.

Uma linha plausível é que ela foi a festa, possivelmente consumindo álcool e/ou entorpecentes, depois foi ao local da "festa particular", fez o que queria, e depois dormiu. Ao dormir o pessoal a filmou sem roupa e nessa brincadeira o telefone dela desapareceu. E daí, a situação escalou.

A divulgação do vídeo, em conjunto com a advogada ativista só transformou a situação em algo mais midiático.

Então foi estupro? Pelo que foi escrito até agora, o acontecido entra na categoria de estupro de vulnerável. Então, sim! E ela é vítima. Pena que ninguém parece estar zelando pelo bem-estar da vítima.

E esta história está longe de se encaixar no quadro de estupro que normalmente se pinta por aí.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Contexto é fundamental

Na análise do contexto das gravações de Renan e Juca é fundamental descobrir algumas informações antes de fazer qualquer julgamento.

A primeira coisa que devemos fazer no casos desses áudios é estabelecer uma cronologia.

Pelas indicações na transcrição de ambos, as gravações ocorreram depois de 8 de março de 2016.

Isto é porque a popularidade de 18% de Moro em uma pesquisa para presidente que foi divulgada no dia 08/03/16.

Na transcrição da conversa com Jucá, Machado diz: "Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República". Então dá para colocar a data da gravação na vizinhança de 9 a 11 de março

O trecho na conversa com Renan:"Mesma coisa, já deu sinal com a filha do Eduardo e a mulher... Aquele negócio da filha do Eduardo, a porra da menina não tem nada, Renan, inclusive falsificaram o documento dela. Ela só é usuária de um cartão de crédito"

Esta notícia é de 09/03/16.

Já na conversa de Renan temos:"Que aí não entra só o petista, entra o legalista. Ontem o Cassio falou."

E aí eu aposto em 11/03/2016. A data é consistente com a condução coercitiva de Lula.

Então melhores chutes: a conversa de Romero ocorreu no dia 09/03 e a de Renan 11/03

Isto é depois da condução coercitiva de Lula. Mas antes da divulgação dos grampos de Lula por Moro.

Portanto, qualquer análise sobre o conteúdo tem de levar em conta o contexto que as conversas ocorreram depois da condução coercitiva de Lula mas antes da divulgação dos grampos por Moro. Ou seja, não havia ocorrido a mega manifestação pelo impeachment (13/03/2016) e a comissão do impeachment ainda não tinha sido formada (17/03/2016). (a cronologia pode ser vista aqui)

Vamos a uma cronologia das reviravoltas no processo na época das gravações então:

  • Delação de Delcídio do Amaral - 03/03/16
  • Condução coercitiva de Lula - 04/03/16
  • Protestos de 13 de março - 13/03/16
  • Lula Ministro - 16/03/16
  • Vazam áudios de conversas de Lula e Dilma - 16/03/16

Então, é a luz destes acontecimentos que devemos analisar as transcrições. No caso de Jucá:
"Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá - [concordando] Só o Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá - Com o Supremo, com tudo.
Machado - Com tudo, aí parava tudo.
Jucá - É. Delimitava onde está, pronto.
Machado - Parava tudo. Ou faz isso... Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República?"
Então parar neste contexto pode também ser interpretado como parar o processo de impeachment e não necessariamente fazer o impeachment. Já no caso de Renan:
"MACHADO - E essa é a preocupação. Porque é o seguinte, ela [Dilma] não se sustenta mais. Ela tem três saídas. A mais simples seria ela pedir licença...
RENAN - Eu tive essa conversa com ela.
MACHADO - Ela continuar presidente, o Michel assumiria e garantiria ela e o Lula, fazia um grande acordo. Ela tem três saídas: licença, renúncia ou impeachment. E vai ser rápido. A mais segura para ela é pedir licença e continuar presidente. Se ela continuar presidente, o Michel não é um sacana...
RENAN - A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova..."
Também pode ser interpretado como Temer governando sob a batuta de Lula.
"MACHADO - Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?
RENAN - O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá...
MACHADO - E ele estava, está disposto a assumir o governo?
RENAN - Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra...
MACHADO - Ela não tem força, Renan.
RENAN - Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu?"
Também pode ser interpretado (com um certo sentido) em um Lula primeiro ministro de facto.
"MACHADO - A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente.
RENAN - Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele...
MACHADO - Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela?
RENAN - Não, [com] ela eu converso, quem conversa com ela sou eu, rapaz."
De novo faz sentido a hipótese do parlamentarismo com Lula primeiro-ministro.
"MACHADO - [...] A meu ver, a grande chance, Renan, que a gente tem, é correr com aquele semi-parlamentarismo...
RENAN - Eu também acho.
MACHADO -...paralelo, não importa com o impeach... Com o impeachment de um lado e o semi-parlamentarismo do outro.
RENAN - Até se não dá em nada, dá no impeachment.
MACHADO - Dá no impeachment.
RENAN - É plano A e plano B.
MACHADO - Por ser semi-parlamentarismo já gera para a sociedade essa expectativa [inaudível]. E no bojo do semi-parlamentarismo fazer uma ampla negociação para [inaudível].
RENAN - Mas o que precisa fazer, só precisa tres três coisas: reforma política, naqueles dois pontos, o fim da proibição..."
Me parece que isto soa como um grande acordo para escapar da cadeia.
"MACHADO - E tem que encontrar, Renan, como foi feito na Anistia, com os militares, um processo que diz assim: 'Vamos passar o Brasil a limpo, daqui para frente é assim, pra trás...' [bate palmas] Porque senão esse pessoal vão ficar eternamente com uma espada na cabeça, não importa o governo, tudo é igual."
Só me faz acreditar em um grande acordão com Lula primeiro-ministro.
"MACHADO - Não dá pra ficar como está, precisa encontrar uma solução, porque se não vai todo mundo... Moeda de troca é preservar o governo [inaudível].
RENAN - [inaudível] sexta-feira. Conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Otavinho [a conversa] foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios tem cometido exageros e o João [provável referência a João Roberto Marinho] com aquela conversa de sempre, que não manda. [...] Ela [Dilma] disse a ele 'João, vocês tratam diferentemente de casos iguais. Nós temos vários indicativos'. E ele dizendo 'isso virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo.'
MACHADO - Efeito manada.
RENAN - Efeito manada. Quer dizer, uma maneira sutil de dizer "acabou", né."
Para mim essa é a pérola: Dilma se reunindo com os "donos da mídia" para debelar a crise.

Pois é, datas são fundamentais...

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Delações e Danações

Uma das delações mais bombásticas foi finalmente homologada. A delação de Sérgio Machado já se tornou dor de cabeça antes mesmo de começar.

Isto porque o próprio Sérgio Machado já divulgou áudios de conversas com Renan Calheiros e Romero Jucá. E aí é que o caldo entorna...

Eu vou colocar alguns trechos dos áudios para comentários e análises posteriores.
Primeiro Jucá.
Os áudios com legenda:

E agora Renan. Eu não sei se são apenas trechos ou o completo.


Com relação a transcrição, temos o seguinte:

Jucá:
Sérgio Machado - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisão de segunda instância], vai todo mundo delatar.
Romero Jucá - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo, e a Odebrecht, vão fazer.
Machado - Odebrecht vai fazer.
Jucá - Seletiva, mas vai fazer.
Machado - A Camargo vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
Jucá - [inaudível]
Machado - Hum?
Jucá - Mas como é que está sua situação?
Machado - Minha situação não tem nada, não pegou nada, mas ele quer jogar tudo pro Moro. Como não tem nada e como eu estou desligado...
Jucá - É, não tem conexão né...
Machado - Não tem conexão, aí joga pro Moro. Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu "desça"? Se eu descer...
Jucá - O que que você acha? Como é que voc...
Machado - Eu queria discutir com vocês. Eu cheguei a essa conclusão essa semana. Ele acha que eu sou o caixa de vocês, o Janot. Janot não vale "cibazol" [algo sem valor]. Quem esperar que ele vai ser amigo, não vai... [...] E ele está visando o Renan e vocês. E acha que eu sou o canal. Não encontrou nada, não tem nada.
Jucá - Nem vai encontrar, né, Sérgio.
Machado - Não encontrou nada, não tem nada, mas acha... O que é que faz? Como tem aquela delação do Paulo Roberto dos 500 mil e tem a delação do Ricardo, que é uma coisa solta, ele quer pegar essas duas coisas. 'Não tem nada contra os senadores, joga ele para baixo' [Curitiba]. Tem que encontrar uma maneira...
Jucá - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
Machado - Tem que ser uma coisa política e rápida. Eu acho que ele está querendo... o PMDB. Prende, e bota lá embaixo. Imaginou?
Jucá - Você conversou com o Renan?
Machado - Não, quis primeiro conversar contigo porque tu é o mais sensato de todos.
Jucá - Eu acho que a gente precisa articular uma ação política.
Machado -...quis conversar primeiro contigo, que tenho maior intimidade. Depois eu quero conversar com Sarney e o Renan, com vocês três. [...] Eu estou convencido, com essa sinalização que conseguiu do Eduardo [incompreensível]. Desvincula do Renan.
Jucá - Mas esse negócio do Eduardo está atacando [incompreensível].
Machado - Mas ele [Janot] está querendo pegar vocês, tenho certeza absoluta.
Jucá - Não tem duas dúvidas.
Machado - Não, tenho certeza absoluta. E ele não vale um 'cibazol'. É um cara raivoso, rancoroso e etc. Então como é que ele age? Como não encontrou nada nem vai encontrar. [inaudível]
Jucá - O Moro virou uma 'Torre de Londres'.
Machado - Torre de Londres.
Jucá - Mandava o coitado pra lá para o cara confessar.
Machado - Pro cara confessar. Então a gente tem que agir como [incompreensível] e pensar numa fórmula para encontrar uma solução para isso.
Jucá - Converse com ele [Renan], converse com o Sarney, ouça eles, e vamos sentar pra gente...
Machado - Isso, Romero, o que eu acho primeiro: que é bom pra gente.
[...]
Jucá - Eu acho que você deveria procurar o Sarney, devia procurar o Renan,e a gente voltar a conversar depois. [incompreensível] 'como é que é'.
Machado - É porque... Se descer, Romero, não dá.
Jucá - Não é um desastre porque não tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar exposto de uma forma sem necessidade. [...]
Machado - O Marcelo, o dono do Brasil, está preso há um ano. Sacanagem com Marcelo, rapaz, nunca vi coisa igual. Sacanagem com aquele André Esteves, nunca vi coisa igual.
Jucá - Rapaz... [concordando]
Machado - Outra coisa. A frouxidão de vocês em prender o Delcídio foi um negócio inacreditável. [O Senado concordou com prisão decretada pelo STF]
Jucá - Sim, pô, não adianta soltar o Delcidio, aí o PT dá uma nota, tira o cara, diz que o cara é culpado, como é que você segura uma porra dentro do plenário?
Machado - Mas o cara não foi preso em flagrante, tem que respeitar a lei. Respeito à lei, a lei diz clara...
Jucá - Pô, pois então. Ali não teve jeito não. A hora que o PT veio, entendeu, puxou o tapete dele, o Rui, a imprensa toda, os caras não seguraram, não.
Machado - Eu sei disso, foi uma cagada.
Jucá - Foi uma cagada geral.
Machado - Foi uma cagada geral. Foi uma cagada o Supremo fazer o que fez com o negócio de prender em segunda instância, isso é absurdo total que não que não dá interpretar, e ninguém fez nada. Ninguém fez ADIN, ninguém se questionou. Isso aí é para precipitar as delações. Romero, esquentou as delações, não escapa pedra...
Jucá - [incompreensível] no Brasil.
Machado - Não escapa pedra sobre pedra.
[incompreensível]
Machado - Eu estou com todos os certificados do TCU, agora me deram, não devo nada, zero. E isso adianta alguma coisa? Então estou preocupado.
Jucá - Não, tem que cuidar mesmo.
Machado - Eu estou preocupado porque estou vendo que esse negócio da filha do Eduardo, da mulher, foi uma advertência para mim. E das histórias que estou sabendo, o interesse é pegar vocês. Nós. E o Renan, sobretudo.
Jucá - Não, o alvo na fila é o Renan. Depois do Eduardo Cunha... É o Eduardo Cunha, a Dilma, e depois é o Renan.
Machado - E ele [Janot] não tem nada. Se ele tivesse alguma coisa, ele ia me manter aqui em cima, para poder me forçar aqui em cima, porque ele não vai dar esse troféu pro Moro. Como ele não tem nada, ele quer ver se o Moro arranca...
Jucá -...para subir de novo.
Machado -...para poder subir de novo. É esse o esquema. Agora, como fazer? Porque arranjar uma imunidade não tem como, não tem como. A gente tem que ter a saída porque é um perigo. E essa porra... A solução institucional demora ainda algum tempo, não acha?
Jucá - Tem que demorar três ou quatro meses no máximo. O país não aguenta mais do que isso, não.
Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá - [concordando] Só o Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá - Com o Supremo, com tudo.
Machado - Com tudo, aí parava tudo.
Jucá - É. Delimitava onde está, pronto.
Machado - Parava tudo. Ou faz isso... Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República?
Jucá - Não vi, não. O Moro?
Machado - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...
Jucá - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional não ganha eleição, não.
Machado - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...
Jucá - É, a gente viveu tudo.

Renan:
SÉRGIO MACHADO - Agora, Renan, a situação tá grave.
RENAN CALHEIROS - Grave e vai complicar. Porque Andrade fazer [delação], Odebrecht, OAS. [falando a outra pessoa, pede para ser feito um telefonema a um jornalista]
MACHADO - Todos vão fazer.
RENAN - Todos vão fazer.
MACHADO - E essa é a preocupação. Porque é o seguinte, ela [Dilma] não se sustenta mais. Ela tem três saídas. A mais simples seria ela pedir licença...
RENAN - Eu tive essa conversa com ela.
MACHADO - Ela continuar presidente, o Michel assumiria e garantiria ela e o Lula, fazia um grande acordo. Ela tem três saídas: licença, renúncia ou impeachment. E vai ser rápido. A mais segura para ela é pedir licença e continuar presidente. Se ela continuar presidente, o Michel não é um sacana...
RENAN - A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova...
[atende um telefonema com um jornalista]
RENAN - A perspectiva é daquele nosso amigo.
MACHADO - Meu amigo, então é isso, você tem trinta dias para resolver essa crise, não tem mais do que isso. A economia não se sustenta mais, está explodindo...
RENAN - Queres que eu faça uma avaliação verdadeira? Não acredito em 30 dias, não. Porque se a Odebrecht fala e essa mulher do João Santana fala, que é o que está posto...
[apresenta um secretário de governo de Alagoas]
MACHADO - O Janot é um filho da puta da maior, da maior...
RENAN - O Janot... [inaudível]
MACHADO - O Janot tem certeza que eu sou o caixa de vocês. Então o que que ele quer fazer? Ele não encontrou nada nem vai encontrar nada. Então ele quer me desvincular de vocês, mediante Ricardo e mediante e mediante do Paulo Roberto, dos 500 [mil reais], e me jogar para o Moro. E aí ele acha que o Moro, o Moro vai me mandar prender, aí quebra a resistência e aí fudeu. Então a gente de precisa [inaudível] presidente Sarney ter de encontro... Porque se me jogar lá embaixo, eu estou fodido. E aí fica uma coisa... E isso não é análise, ele está insinuando para pessoas que eu devo fazer [delação], aquela coisa toda... E isso não dá, isso quebra tudo isso que está sendo feito.
RENAN - [inaudível]
MACHADO - Renan, esse cara é mau, é mau, é mau. Agora, tem que administrar isso direito. Inclusive eu estou aqui desde ontem... Tem que ter uma ideia de como vai ser. Porque se esse vagabundo jogar lá embaixo, aí é uma merda. Queria ver se fazia uma conversa, vocês, que alternativa teria, porque aí eu me fodo.
RENAN - Sarney.
MACHADO - Sarney, fazer uma conversa particular. Com Romero, sei lá. E ver o que sai disso. Eu estou aqui para esperar vocês para poder ver, agora, é um vagabundo. Ele não tem nada contra você nem contra mim.
RENAN - Me disse [inaudível] 'ó, se o Renan tiver feito alguma coisa, que não sei, mas esse cara, porra, é um gênio. Porque nós não achamos nada.'
MACHADO - E já procuraram tudo.
RENAN - Tudo.
MACHADO - E não tem. Se tivesse alguma coisa contra você, já tinha jogado... E se tivesse coisa contra mim [inaudível]. A pressão que ele quer usar, que está insinuando, é que...
RENAN - Usou todo mundo.
MACHADO -...está dando prazos etc é que vai me apartar de vocês. Mesma coisa, já deu sinal com a filha do Eduardo e a mulher... Aquele negócio da filha do Eduardo, a porra da menina não tem nada, Renan, inclusive falsificaram o documento dela. Ela só é usuária de um cartão de crédito. E esse é o caminho [inaudível] das delações. Então precisa ser feito algo no Brasil para poder mudar jogo porque ninguém vai aguentar. Delcídio vai dizer alguma coisa de você?
RENAN - Deus me livre, Delcídio é o mais perigoso do mundo. O acordo [inaudível] era para ele gravar a gente, eu acho, fazer aquele negócio que o J Hawilla fez.
MACHADO - Que filho da puta, rapaz.
RENAN - É um rebotalho de gente.
MACHADO - E vocês trabalhando para poder salvar ele.
RENAN - [Mudando de assunto] Bom, isso aí então tem que conversar com o Sarney, com o teu advogado, que é muito bom. [inaudível] na delação.
MACHADO - Advogado não resolve isso.
RENAN - Traçar estratégia. [inaudível]
MACHADO - [inaudível] quanto a isso aí só tem estratégia política, o que se pode fazer.
RENAN - [inaudível] advogado, conversar, né, para agir judicialmente.
MACHADO - Como é que você sugeriria, daqui eu vou passar na casa do presidente Sarney.
RENAN - [inaudível]
MACHADO - Onde?
RENAN - Lá, ou na casa do Romero.
MACHADO - Na casa do Romero. Tá certo. Que horas mais ou menos?
RENAN - Não, a hora que você quiser eu vou estar por aqui, eu não vou sair não, eu vou só mais tarde vou encontrar o Michel.
MACHADO - Michel, como é que está, como é que está tua relação com o Michel?
RENAN - Michel, eu disse pra ele, tem que sumir, rapaz. Nós estamos apoiando ele, porque não é interessante brigar. Mas ele errou muito, negócio de Eduardo Cunha... O Jader me reclamou aqui, ele foi lá na casa dele e ele estava lá o Eduardo Cunha. Aí o Jader disse, 'porra, também é demais, né'.
MACHADO - Renan, não sei se tu viu, um material que saiu na quinta ou sexta-feira, no UOL, um jornalista aqui, dizendo que quinta-feira tinha viajado às pressas...
RENAN - É, sacanagem.
MACHADO - Tu viu?
RENAN - Vi.
MACHADO - E que estava sendo montada operação no Nordeste com Polícia Federal, o caralho, na quinta-feira.
RENAN - Eu vi.
MACHADO - Então, meu amigo, a gente tem que pensar como é que encontra uma saída para isso aí, porque isso aí...
RENAN - Porque não...
MACHADO - Renan, só se fosse imbecil. Como é que tu vai sentar numa mesa para negociar e diz que está ameaçado de preso, pô? Só quem não te conhece. É um imbecil.
RENAN - Tem que ter um fato contra mim.
MACHADO - Mas mesmo que tivesse, você não ia dizer, porra, não ia se fragilizar, não é imbecil. Agora, a Globo passou de qualquer limite, Renan.
RENAN - Eu marquei para segunda-feira uma conversa inicial com [inaudível] para marcar... Ela me disse que a conversa dela com João Roberto [Marinho] foi desastrosa. Ele disse para ela... Ela reclamou. Ele disse para ela que não tinha como influir. Ela disse que tinha como influir, porque ele influiu em situações semelhantes, o que é verdade. E ele disse que está acontecendo um efeito manada no Brasil contra o governo.
MACHADO - Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?
RENAN - O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá...
MACHADO - E ele estava, está disposto a assumir o governo?
RENAN - Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra...
MACHADO - Ela não tem força, Renan.
RENAN - Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu?
MACHADO - Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito.
RENAN - Tem não, porque vai mostrar as contas. E a mulher é [inaudível].
MACHADO - Acabou, não tem mais jeito. Então a melhor solução para ela, não sei quem podia dizer, é renunciar ou pedir licença.
RENAN - Isso [inaudível]. Ela avaliou esse cenário todo. Não deixei ela falar sobre a renúncia. Primeiro cenário, a coisa da renúncia. Aí ela, aí quando ela foi falar, eu disse, 'não fale não, pelo que conheço, a senhora prefere morrer'. Coisa que é para deixar a pessoa... Aí vai: impeachment. 'Eu sinceramente acho que vai ser traumático. O PT vai ser desaparelhado do poder'.
MACHADO - E o PT, com esse negócio do Lula, a militância reacendeu.
RENAN - Reacendeu. Aí tudo mundo, legalista... Que aí não entra só o petista, entra o legalista. Ontem o Cassio falou.
MACHADO - É o seguinte, o PSDB, eu tenho a informação, se convenceu de que eles é o próximo da vez.
RENAN - [concordando] Não, o Aécio disse isso lá. Que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o...
MACHADO - [Interrompendo] O Cunha, o Cunha. O Supremo. Fazer um pacto de Caxias, vamos passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente. Ninguém mexeu com isso. E esses caras do...
RENAN - Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso.
MACHADO - Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo.
RENAN - A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso.
MACHADO - Acaba isso.
RENAN - E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF].
MACHADO - Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela.
RENAN - Não negociam porque todos estão putos com ela. Ela me disse e é verdade mesmo, nessa crise toda –estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está gripada, muito gripada– aí ela disse: 'Renan, eu recebi aqui o Lewandowski,
querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável'.
MACHADO - Eu nunca vi um Supremo tão merda, e o novo Supremo, com essa mulher, vai ser pior ainda. [...]
MACHADO - [...] Como é que uma presidente não tem um plano B nem C? Ela baixou a guarda. [inaudível]
RENAN - Estamos perdendo a condição política. Todo mundo.
MACHADO - [inaudível] com Aécio. Você está com a bola na mão. O Michel é o elemento número um dessa solução, a meu ver. Com todos os defeitos que ele tem.
RENAN - Primeiro eu disse a ele, 'Michel, você tem que ficar calado, não fala, não fala'.
MACHADO - [inaudível] Negócio do partido.
RENAN - Foi, foi [inaudível] brigar, né.
MACHADO - A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente.
RENAN - Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele...
MACHADO - Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela?
RENAN - Não, [com] ela eu converso, quem conversa com ela sou eu, rapaz.
MACHADO - Seguinte, vou fazer o seguinte, vou passar no presidente, peço para ele marcar um horário na casa do Romero.
RENAN - Ou na casa dele. Na casa dele chega muita gente também.
MACHADO - É, no Romero chega menos gente.
RENAN - Menos gente.
MACHADO - Então marco no Romero e encontra nós três. Pronto, acabou. [levanta-se e começam a se despedir] Amigo, não perca essa bola, está no seu colo. Só tem você hoje. [caminhando] Caiu no seu colo e você é um cara predestinado. Aqui não é dedução não, é informação. Ele está querendo me seduzir, porra.
RENAN - Eu sei, eu sei. Ele quem?
MACHADO - O bicho daqui, o Janot.
RENAN - Mandando recado?
MACHADO - Mandando recado.
RENAN - Isso é?
MACHADO - É... Porra. É coisa que tem que conversar com muita habilidade para não chegar lá.
RENAN - É. É.
MACHADO - Falando em prazo... [se despedem]
MACHADO - [...] A meu ver, a grande chance, Renan, que a gente tem, é correr com aquele semi-parlamentarismo...
RENAN - Eu também acho.
MACHADO -...paralelo, não importa com o impeach... Com o impeachment de um lado e o semi-parlamentarismo do outro.
RENAN - Até se não dá em nada, dá no impeachment.
MACHADO - Dá no impeachment.
RENAN - É plano A e plano B.
MACHADO - Por ser semi-parlamentarismo já gera para a sociedade essa expectativa [inaudível]. E no bojo do semi-parlamentarismo fazer uma ampla negociação para [inaudível].
RENAN - Mas o que precisa fazer, só precisa tres três coisas: reforma política, naqueles dois pontos, o fim da proibição...
MACHADO - [Interrompendo] São cinco pontos:
[...]
RENAN - O voto em lista é importante. [inaudível] Só pode fazer delação... Só pode solto, não pode preso. Isso é uma maneira e toda a sociedade compreende que isso é uma tortura.
MACHADO - Outra coisa, essa cagada que os procuradores fizeram, o jogo virou um pouco em termos de responsabilidade [...]. Qual a importância do PSDB... O PSDB teve uma posição já mais racional. Agora, ela [Dilma] não tem mais solução, Renan, ela é uma doença terminal e não tem capacidade de renunciar a nada. [inaudível]
[...]
MACHADO - Me disseram que vai. Dentro da leniência botaram outras pessoas, executivos para falar. Agora, meu trato com essas empresas, Renan, é com os donos. Quer dizer, se botarem, vai dar uma merda geral, eu nunca falei com executivo.
RENAN - Não vão botar, não. [inaudível] E da leniência, detalhar mais. A leniência não está clara ainda, é uma das coisas que tem que entrar na...
MACHADO -...No pacote.
RENAN - No pacote.
MACHADO - E tem que encontrar, Renan, como foi feito na Anistia, com os militares, um processo que diz assim: 'Vamos passar o Brasil a limpo, daqui para frente é assim, pra trás...' [bate palmas] Porque senão esse pessoal vão ficar eternamente com uma espada na cabeça, não importa o governo, tudo é igual.
RENAN - [concordando] Não, todo mundo quer apertar. É para me deixar prisioneiro trabalhando. Eu estava reclamando aqui.
MACHADO - Todos os dias.
RENAN - Toda hora, eu não consigo mais cuidar de nada.
[...]
MACHADO - E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros.
RENAN - E tudo com medo.
MACHADO - Renan, não sobra ninguém, Renan!
RENAN - Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.'
MACHADO - Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan.
[...]
MACHADO - Não dá pra ficar como está, precisa encontrar uma solução, porque se não vai todo mundo... Moeda de troca é preservar o governo [inaudível].
RENAN - [inaudível] sexta-feira. Conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Otavinho [a conversa] foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios tem cometido exageros e o João [provável referência a João Roberto Marinho] com aquela conversa de sempre, que não manda. [...] Ela [Dilma] disse a ele 'João, vocês tratam diferentemente de casos iguais. Nós temos vários indicativos'. E ele dizendo 'isso virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo.'
MACHADO - Efeito manada.
RENAN - Efeito manada. Quer dizer, uma maneira sutil de dizer "acabou", né.
E o que se pode tirar disso? Bem, isto vamos analisar em outro post.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Twitter, seguir ou não?

Após a turbulência dos últimos dias (essencialmente devido a questão do afastamento da presidente), eu começo a pensar se devo ou não deixar de seguir algumas pessoas no twitter.

Eu explico...

As redes sociais tem um efeito curioso sobre as pessoas. Em geral tendemos a seguir pessoas que pensam mais ou menos como a gente, e isso cria um efeito "bolha" nas nossas opiniões.

Então, para contrabalançar este problema, eu tendo a seguir pessoas com opiniões diferentes da minha.

Mas agora há um problema: muitas dessas pessoas estão visivelmente irritadas pelo afastamento da presidente, e basicamente não sentem que suas mensagens se tornam ofensivas e até mesmo antagonísticas de pessoas que pensam diferente.

Mesmo eu, que não sou particularmente contrário ao afastamento, mas nem por isso sou favorável, me sinto atingindo pela bile e fel destas pessoas. Algumas afrontam a lógica, outros afrontam o direito de pensar diferente, mas todas tem o pensamento enraizado que o ocorrido foi um golpe.

Não foi golpe. Aliás ainda nem foi impeachment.

E claro passam a pecha de golpistas em todos que não concordam com eles.

Está ficando difícil seguir este pessoal.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

O placar final

O afastamento da presidente foi aprovado por 55 votos a 22.

E não é que manteve a proporção de 5/7 e 2/7?

Ou se preferirem 5 votos a favor para cada 2 votos contrários (5 a 2)

Ou seja: regra de 3
5 *11 a 2*11 = 55 a 22.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Momentos constrangedores

Primeiro o contexto: Waldir Maranhão anula votação do impeachment.

Agora o vídeo:


Depois a reviravolta: Waldir Maranhão revoga anulação.

A propósito, sou só eu ou o refrão "Não vai ter golpe! Vai ter luta!" soou mais como "Não, vai ter golpe! Vai ter luta!"

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Previsões sobre a eleição da Adunb

Eu resolvi dar um chute no resultado da eleição da Adunb. A ideia é usar as curtidas no facebook das páginas da três chapas:
E a partir daí dar um chute nos resultados.

O total de votantes da Adunb é em torno de 2,3 mil, mas na última eleição o número de votantes foi de 1189. O resultado foi:
Vamos supor que os percentuais se mantenham:
  • Chapa 1: 178/594 = 30%
  • Chapa 2: 338/594 = 57%
  • Chapa 3: 78/594 = 13%
Se isto se confirmar, as coisas não parecem boas para chapa 1. E isto é uma pena, pois esta é a chapa que eu apoio.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

E as causas?

Hoje li três notícias que me fizeram ficar pensando um pouco sobre os fundamentos do nosso país:


Depois de ler as mesmas e mais um artigo de opinião no correio brasiliense de hoje sobre as causas da lava-jato...

Eu cheguei a uma conclusão: o problema a ser resolvido é outro. Corrupção é sintoma e não causa.

E antes que digam, este não é um texto favorável ao PT ou a corrupção (as vezes parecem sinônimos)

Então vou fazer umas perguntas.

  1. Existe um número ótimo de partidos para uma democracia?
  2. É melhor que o presidente e o vice sejam da mesma coalizão eleitoral?
  3. Existe um sistema de votação melhor para cada país?
  4. Como garantir que o resultado de votação de urnas eletrônicas seja confiável?

Em cima destas perguntas é que eu pretendo me debruçar em posts futuros.

terça-feira, 3 de maio de 2016

O Estranho Caso da Analista de Banco que sabia mais do que o ex-presidente

Há diversas coisas curiosas a respeito do governo Dilma. E eu mesmo já falei de diversas delas.

Mas provavelmente uma das coisas que mais irritam e possivelmente ainda irão gerar lágrimas no futuro é a dissociação do discurso com a realidade.

Não estou falando em suavizar ou "jogar com os fatos" para manter a governabilidade. Eu estou falando de mentir na cara dura mesmo - quando os fatos deixam claro que é mentira sem vergonha mesmo, mas a mentira continua como se nada tivesse acontecido.

Isso é bem humano, mas demonstra uma tendência lamentável a se prender a preconceitos e crenças - algo quase religioso mesmo (e não estamos falando de religiões milenares não, estamos falando de crenças do tipo coelhinho da páscoa, papai noel ou coisa que valha).

Talvez o leitor acredite que estou sendo muito duro, que todos fazem isto, que o PT não inventou isso ou coisa parecida.

Mas, se o leitor permitir, eu vou relembrar uma história acontecida há pouco menos de 2 anos. Em julho de 2014, o Santander enviou a seus clientes premium uma carta alertando sobre o efeito negativo que uma reeleição de Dilma teria na economia.

A reação do governo foi imediata: condenação da carta pela presidente (talvez em um tom meio ameaçador - mas isso pode ser dos meus viéses). E do lado da artilharia pesada, o ex-presidente Lula disse de alto e bom tom que a analista responsável pela carta "não entende porra nenhuma do Brasil":

As palavras foram: Botin, é o seguinte querido. Eu tenho consciência de que não foi você que falou, mas essa moça tua que falou não entende nada de Brasil e não entende nada de governo Dilma. Manter uma mulher dessa em um cargo de chefia? Pode mandar embora.

A analista chefe, Sinara Policarpo, talvez nem tenha sido a autora da carta. Mas o fato é que o Santander e seu presidente pediram desculpas e ela foi demitida (não creio ter sido a única).

Claro que os blogueiros amestrados do governo atacaram o informe e a analista sem descanso.

Mas o tempo é o senhor da razão.

E cá estamos em 2016... Será que o conteúdo da carta se mostrou próximo ao acontecido? Será que a analista cumpriu o seu papel? Será que o banco foi subserviente ao governo? Será que o banco agiu nos melhores interesses de seus clientes? Vejamos o texto:

"Você e seu dinheiro

A economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta corrente. A quebra de confiança e pessimismo crescente em relação ao Brasil em derrubar ainda mais a popularidade da presidente, que vai caindo nas últimas pesquisas, e que tem contribuído para a subida do Ibovespa. Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e um o índice da Bovespa caíra, revertendo parte das altas recentes. Esse último cenário estaria mais de acordo com a deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos. Diante desse cenário, converse com o seu Gerente de Relacionamento Select para alocar seus investimentos da maneira mais adequada ao ser perfil de investimento."

Este comunicado é de julho de 2014.

  • O dólar estava a R$ 2,275 (em 31/07 - com o risco país a 212 pontos) 
  • O juro estava a 10,90% (em 31/07)
  • O Ibovespa estava a 61288,15

Estamos em maio de 2016

  • O dólar está a R$ 3,440 (em 30/04 - com o risco país a 385 pontos)
  • O juro está a 14,10% (Maio)
  • O Ibovespa está a 53561,54

O que indica que a análise enviada aos clientes estava certa. E também deixa claro que:

  1. O analista cumpriu seu papel
  2. O banco foi subserviente ao governo
  3. O banco não agiu no melhor interesse dos seus clientes.

Antes de finalizar quero clarificar alguns pontos. O fato do banco ter demitido os analistas após a divulgação do relatório lança suspeita sobre o banco e seu relacionamento com o governo. A resposta de Dilma foi até bastante comedida e a de Lula demonstra, se havia dúvidas, que ele realmente já incorporou a mentira e a acusação como método.

E a mesma coisa para os sites petistas. Eu vou me despedir com algumas pérolas que mostram que a radicalização não começou hoje, mas já vem de muito tempo.

  1. Conversa Afiada - "Precisamos da reforma política para impedir que o Banco Santander venha e diga para não votar na Dilma. Se é ruim para o Santander é bom para o país"
  2. Viomundo - "O banco espanhol Santander, acusado de ter ligações com a seita ultraconservadora Opus Dei, tirou a máscara de vez."
  3. Mandacaru 13 - "Quando a executiva sem juízo e noção do Santander elaborou um texto de caráter mequetrefe e rastaquera cujo objetivo era “orientar” seus clientes bem de vida quanto aos riscos de empregar suas fortunas no mercado brasileiro por causa de uma vitória eleitoral de Dilma Rousseff e, portanto, do PT. Evidentemente que tal banco estrangeiro está a fazer política e, não, como afirma o colunista de O Globo, Merval Pereira, que o Governo e lideranças, a exemplo de Lula e de Dilma, impeçam que o Santander expresse sua opinião sobre a situação econômica do País."