quinta-feira, 30 de junho de 2016

Brexit?

Muito se discute sobre o Brexit.

Se foi bom, se foi ruim.

A grande verdade é que... depende.

Essa é uma daquelas decisões cujas ramificações não podem ser totalmente mapeadas a partir do momento que a mesma se torna real.

É algo muito, muito, muito complicado mesmo.

Se vai ser bom ou se vai ser ruim depende dos acordos que serão realizados, de como a saída será efetivada, qual é a reação dos países membros e não membros da UE e ainda qual é reação dos países membros do Reino Unido (Irlanda, Escócia e País de Gales).

Se os acordos comerciais forem bons, então isto levará a novos acontecimentos, podendo até acarretar a saída de outros países da União Européia. Se apenas um grande sair, por exemplo França, a Alemanha poderá ficar em situação privilegiada (ou não).

Então há muitas ramificações possíveis. Nem todas boas e nem todas ruins. Só o tempo dirá com certeza.

Mas...

Se não quisermos certeza, mas apenas probabilidades, então é possível fazer alguns chutes educados.

Por exemplo, podemos fazer alguns chutes educados com relação a Escócia. No plebiscito que tratava da separação, a votação foi 44% a 56%. Já na votação do Brexit a votação foi de 62% a 38%.

Quem votou sim para o não Brexit (Remain) tem duas possibilidades: votou sim para o plebiscito ou não.
p(Remain)=p(Remain|sim)*p(sim) + p(Remain|não)*p(não) = p(Remain|sim)*0.44 + p(Remain|não)*0.56 = 0.62

Quem votou sim para o Brexit tem duas possibilidades: votou sim para o plebiscito ou não.
p(Brexit)=p(Brexit|sim)*p(sim) + p(Brexit|não)*p(não) = p(Brexit|sim)*0.44 + p(Brexit|não)*0.56 = 0.38

A questão é determinar:
p(Remain|sim)
p(Remain|não)
p(Brexit|sim)
p(Brexit|não)
A solução são duas equações

  • p(Remain|não)=1.107142857-.7857142857*p(Remain|sim)
  • p(Brexit|não)=.6785714286-.7857142857*p(Brexit|sim)

O máximo valor de p(Remain|sim) é 1. O que dá que o mínimo valor de p(Remain|não) é 0.32 .Já o máximo valor de (Remain|não) é 1, o que dá o mínimo valor de p(Remain|sim) de 0.14

O mínimo valor de p(Brexit|não) é 0. O que dá que o máximo valor de p(Brexit|sim) é 0.86 .Já o máximo valor de (Brexit|não) é 0.68, o que dá o mínimo valor de p(Brexit|sim) de 0

Assim temos:

  • p(Remain|sim) está entre 0.14 e 1
  • p(Remain|não) está entre 0.32 e 1
  • p(Brexit|sim) está entre 0 e 0.86
  • p(Brexit|não) está entre 0 e 0.68

Sabendo isso temos:

  • p(não|Remain) está entre 0.3 e 0.9
  • p(não|Brexit) está entre 0 e 0.6
  • p(sim|Remain) está entre 0.1 e 0.7
  • p(sim|Brexit) está entre 0.4 e 1

E o que isto quer dizer? O que queremos saber é qual a proporção de votos sim e não em um segundo plebiscito dado quem votou Remain ou Brexit

Ou seja:
p(sim)=p(sim|Brexit)*p(Brexit)+p(sim|Remain)*p(Remain)

Aqui temos combinações

  • p(sim)=0.4*0.38+0.1*0.62 = 0.21
  • p(sim)=0.4*0.38+0.7*0.62 = 0.59
  • p(sim)=1*0.38+0.1*0.62 = 0.44
  • p(sim)=1*0.38+0.7*0.62 = 0.81

Cujo valor esperado é de 51.4%. Isto quer dizer que, caso haja um novo plebiscito, as chances estão do lado da separação da Escócia do Reino Unido.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Narrativa e Realidade - o caso da UnB

Na última sexta-feira a UnB foi invadida por pessoas com slogans fascistas e homofóbicos.

Segundo o próprio correio braziliense, o ato foi organizado por Kelly Bolsonaro (suspeito que não seja parente):
"A Universidade de Brasília (UnB) investiga a atuação de um grupo de manifestantes na noite desta sexta-feira (17/6) que resultou em ataques homofóbicos e racistas a estudantes que estavam no Instituto Central de Ciências (ICC), conhecido como Minhocão. Segundo relatos, os manifestantes chegaram ao local por volta das 20h, gritando palavras de protesto, exigindo a volta da ditadura militar. Eles ainda teriam feito o uso de bomba caseira. A instituição afirma que ainda apura o caso."
Tem até um vídeo com o acontecido


Certamente essa senhora que aparece falando é uma racista homofóbica, não?

Bem... antes do leitor decidir talvez seja melhor ver o mesmo vídeo, só que de outro ângulo.


Agora, o leitor não tem mais certeza, não é?

Claro que o que clarificou o ataque como fascista foi o texto de um dos alunos que viu o incidente:
"Hoje na UnB, aconteceu uma situação assustadora. Um grupo de 15 pessoas entrou no câmpus, vestido com blusas escritas 'Fora PT', 'Bolsonaro presidente' e começou a gritar frases como 'Aqui é lugar de estudar e não de fumar maconha' e ' Vocês são comunistas safados', 'Acabou a mamada'". De acordo com o relato, o grupo ainda ofendeu os estudantes com xingamentos como  "viados"  vagabundos", "comunistas nojentos". Estavam extremamente agressivos e vinha para cima de quem estava passando no ICC com uma postura recheada de razão! No começo de tudo eles soltaram uma bomba, isso mesmo, uma bomba na porta do ICC norte. E logo após uns 10 minutos soltaram outra bomba!!!!!!!! Fiquei extremamente nervoso e com medo. Foi uma cena assustadora. Foram ali para dizer que todos nós éramos vagabundos, maconheiros. A maioria de nós ficamos olhando, perplexos com o que estávamos vendo. E quando um grupo pequeno contrapôs, uma mulher que estava no grupo, tirou com um sorriso frio e nefasto uma arma de choque. Sério, ela tirou e apontou para um estudante. Tinha um dois senhores com cacetetes. E um deles gritou 'Isso é só o começo, vamos voltar"
Bem, adivinhem quem é o aluno em questão no vídeo.

Narrativas, pessoal, narrativas...


terça-feira, 14 de junho de 2016

Narrativa e Realidade - o caso de Orlando

Neste fim de semana uma tragédia horrível aconteceu em Orlando: um atirador matou cerca de 50 pessoas em uma boate gay.

E para piorar, há informações que ele jurou lealdade ao estado islâmico, era filho de afegãos, comprou armas legalmente apesar de ser investigado como terrorista e teve motivações homofóbicas.

Ou seja, um prato cheio tanto para radicais de direita (deportações de imigrantes e ações militares contra o Islã) quanto de esquerda (controle de armas e criminalização da homofobia).

Só que...

A realidade é bem mais complicada.

  1. O atirador era descendente de imigrantes, mas nasceu em Nova Iorque - ou seja, a narrativa de expulsão de imigrantes se complica.
  2. O atirador era segurança e tinha permissão legal para porte de armas - ou seja,a narrativa da necessidade o controle de armas se complica.
  3. O atirador frequentou o clube gay por muito tempo antes do massacre e usava um app para encontros gays - ou seja, há uma possibilidade que ele fosse gay, ainda que secretamente - ou seja, a narrativa da homofobia se complica. 

Então o que sobra?

O que sobra é que a realidade é bem mais complicada e difícil de encaixar nas narrativas que são fabricadas para polarizar opiniões.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Sobre a Última Assembléia de Professores da UnB

Bem, segundo o encaminhamento votado em assembléia ontem, os professores da UnB devem construir uma greve contra o "golpe" contra Dilma.

Essencialmente o que eles decidiram o segundo semestre não deve começar até que Dilma volte ao governo.

Ai, aí... Fica difícil.

Mas ao mesmo tempo é fácil entender a tolice da proposta. Segundo o calendário do impeachment, a votação está prevista para a primeira semana de agosto.

O início das aulas do segundo semestre na UnB se dará na segunda semana de agosto.

Ok. Portanto até o início das aulas já saberemos se Dilma volta ou não. E aí a greve fica como?

  • Se Dilma volta, não faz sentido fazer greve, já que a razão da greve desaparece.
  • Se Dilma não volta, não faz sentido fazer greve, já que o afastamento terá sido ratificado pelo poder legislativo.

Em suma: o resultado do processo de impeachment não será alterado independente dos professores fazerem ou não uma greve após o resultado do processo.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Sobre as autoridades, a mídia, os ativistas e o estupro

Com as confusões a respeito do estupro de uma garota de 16 anos por 33 homens, há muito o que se esclarecer.

Mas o problema é que nem a mídia e nem os ativistas estão fazendo um papel honesto nesta história.

Não me entendam mal: todos estão fazendo o papel que mais se adéqua a agenda de cada um.

Só que ninguém está cuidando dos interesses da vítima.

Vamos ao que realmente aconteceu: a vítima (twitter dela aqui) foi a um baile funk com a intenção de se divertir.

E aí cabe dizer que a vítima era menor de idade e pode ser que estivesse sob efeito de álcool ou entorpecentes. E isto caracteriza o que aconteceu a partir daí como estupro de vulnerável.  Então não há dúvida: sob está ótica é estupro mesmo.

Mas

Há uma série de complicações na história. A primeira é que a vítima já fazia este tipo de festinhas há tempos.

E nunca reclamou, aliás nas suas próprias palavras...

Há ainda evidências que isto teria sido planejado.

E há dúvidas se ela teria mesmo usado drogas ou bebido.

E então o que realmente aconteceu?

Bem, sem uma forma perfeita de olhar o passado, só posso especular uma possível linha do tempo.

Uma linha plausível é que ela foi a festa, possivelmente consumindo álcool e/ou entorpecentes, depois foi ao local da "festa particular", fez o que queria, e depois dormiu. Ao dormir o pessoal a filmou sem roupa e nessa brincadeira o telefone dela desapareceu. E daí, a situação escalou.

A divulgação do vídeo, em conjunto com a advogada ativista só transformou a situação em algo mais midiático.

Então foi estupro? Pelo que foi escrito até agora, o acontecido entra na categoria de estupro de vulnerável. Então, sim! E ela é vítima. Pena que ninguém parece estar zelando pelo bem-estar da vítima.

E esta história está longe de se encaixar no quadro de estupro que normalmente se pinta por aí.