terça-feira, 30 de junho de 2015

Andei sumido, mas não esqueci do blog

A verdade, caros leitores, é que realmente estou um pouco cansado do que vejo na internet. E com isso tenho me limitado mais e mais a produzir ainda mais ruído no mundo online.

Por este motivo tenho limitado até meus posts sobre inflação (que surpresa, o pessoal já está falando de 9% em 2015, pena que eu já estivesse falando disso em abril e mesmo fevereiro com meu modelo bem simplificado).

E então o que dizer do Febeapa no Brasíl? Bem, este é até difícil de comentar.

Mas o fato é estou cada vez mais convencido que grande parte do ódio que vemos nas redes sociais é um fenômeno intrínseco das redes sociais. Ou seja, o espaço de tolerância com a discordância diminuiu pelo menos em parte por causa da difusão das redes sociais.

Por que? Bem, eu não sei, mas posso aventar algumas hipóteses. Creio, por exemplo, que o fato que a rede social permite a identificação de grupos com pensamento similar e que a tendência de redes sociais de sucesso é justamente a visualização de informações que sejam do interesse do usuário, tornam o uso de redes sociais correlacionado com a expansão de grupos com pensamento uniforme.

Isso é até um caso interessante: analisar como é o crescimento das redes sociais em relação ao discurso intolerante e aos grupos uniformes.

Bem, mas vamos ao que interessa: o que me motivou a escrever no blog novamente? Bem um texto sobre um médico no nazismo.

E aí eu vi logo um problema muito característico de todo texto argumentativo que leio ultimamente: o texto seleciona um exemplo e o usa como generalização para uma categoria. É o mesmo que eu encontrar um gato branco e afirmar que todos os gatos são brancos.

Normalmente eu deixo essas coisas passarem, mas o início do texto diz:

"A qualificação para o trabalho, um dos objetivos de nossa educação, segundo a Constituição, não se reduz ao mero treinamento técnico para atender demandas imediatistas do mercado de trabalho. Nem a qualidade dessa qualificação pode ser medida, exclusivamente, pelo desempenho eficaz da tarefa especializada, sem a referência ao contexto social em que é desenvolvida.
A educação para o trabalho e o trabalho para o qual nos qualificamos deveria responder à pergunta moral sobre os valores que os envolvem, sobre os fins para os quais se prestam. Remetem à questão do compromisso que o profissional assume (ou deixa de assumir) com a sociedade.
Precisamos, sem dúvida, formar mais médicos, engenheiros, mecânicos, eletricistas, analistas de sistema, enfermeiros, contadores, numa lista sem fim de ocupações. Precisamos de especialistas em todas as áreas, desde construção de pontes até a cirurgia de mão. Eles são fundamentais. Todavia, para a construção da "sociedade livre, justa e solidária", a que nos propomos -- também de acordo com a Constituição -- não basta o conhecimento técnico e especializado, fechado sobre si. É imprescindível a compreensão crítica sobre os usos que são feitos com esse conhecimento, os interesses aos quais ele serve. Afinal, eles não são neutros. Absolutamente."

Aí eu começo a ficar irritado! A questão da pergunta moral é muito bonitinha, mas raramento se presta a respostas simples. E aí? É imoral no caso do nazismo, mas moral no caso do comunismo? Essa pergunta fica ainda mais relevante quando lê-se o último parágrafo:

"Dizia o Paulo Freire que quanto mais nos capacitamos como profissionais, utilizando o patrimônio cultural que nos fora legado, mais aumenta nossa responsabilidade. A qualificação para o trabalho não deveria se desligar nunca do preparo para o exercício da cidadania, aliás, outro objetivo constitucional da educação."

Humm, me soa mais inventado na linha do "o que Paulo Freire diria" do que uma citação real de Paulo Freire. Mas não precisa acreditar em mim: leia o que ele diz aqui em inglês ou em português.

O que me traz a Paulo Freire... Eu li um dos livros dele e recomendo para todos. Recomendo que todos leiam e tirem suas próprias conclusões. De preferência após um teste para verificar os conhecimentos sobre a leitura e de como aplicar o "método Paulo Freire" para ensinar matemática, física, química e coisas afins.

Depois disso então a gente conversa.

Então quando alguém vem me falar que  " Não pode abrir mão do debate sobre o compromisso que o profissional deve assumir com a melhoria do mundo no qual atua.", eu quero saber realmente, de verdade mesmo, como o dito cujo se posiciona contra situações de violações de direitos humanos - se é implacável com todos que violam, ou dá tratamento mais camarada ao pessoal cujas simpatias ideológicas são similares.

Do contrário é apenas conversa de farsantes