quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

O mundo nos tempos de pandemia

 Este post está muito, muito atrasado.

A verdade é que descuidei do blog. Descaso, preguiça, resignação, raiva - o leitor pode escolher o motivo.

Mas nos tempos de COVID, a verdade inconveniente ficou visível: é tudo mentira...

Sim, as certezas, os planejamentos, a confiança... tudo faz de conta.

E o mais triste de tudo: existe um acordo implícito para não apontar os problemas.

Vamos por partes

O primeiro sinal que tudo era enganação foram os modelos matemáticos da pandemia. Eu até fiz algumas simulações com modelos SIR simplificados. E a primeira coisa que notei foi que ninguém falava do tempo que a pandemia iria durar. Nas minhas simulações, com os dados inicialmente disponibilizados o tempo estava na casa das centenas de dias.

O primeiro gráfico do problema - segundo ele, em 60 dias teríamos 46 milhões de infectados

Mas quando eu apliquei a UT ao problema a curva mudou:

E mudou muito - note que o pico mudou de 60 dias para 150-170 dias.

Bom, e como isso se compara com a coisa real?

O pico de casos por dia é de 7000 - aproximadamente 2000 vezes menor do que o projetado

Como o modelo podia estar tão errado? Bem, o modelo só tem dois parâmetros R0 (número básico de reprodução) e T0 (tempo de infecção), ou seja não leva em conta possíveis medidas de mitigação.

Então, na esperança de melhorar a predição, eu inclui medidas de mitigação.

Mas aí surge o problema: incerteza no efeito destas medidas. Mesmo assim prossegui. E o melhor resultado que tive foi o seguinte.

Ainda sim o número de infectados máximo é de 4 milhões - ainda 650 vezes maior que o real

Então eu percebi que o problema não era apenas meu, mas de todo mundo (veja aqui, aqui e aqui). Todos estavam operando as cegas, tomando decisões sem dados suficientes (o que não é incomum) e mudando as decisões sem dados suficiente (o que é incomum). Podemos culpar esperança, confiança - o que for mas a verdade é simples:

Predizendo como baratas tontas.

E muita gente acreditou, ou fingiu acreditar