terça-feira, 30 de setembro de 2008

Um quilo de arroz para amanhã

Dólar caiu, Dólar subiu

Bolsa Caiu, Bolsa subiu

Afinal como funciona esta confusão denominada mercado?

As origens são antigas, mas em última análise o mercado de ações está ligado ao valor de compra dos recursos utilizados. No fundo o que cada investidor quer é no mínimo manter o poder de compra de seus recursos.

E é nisto que reside o básico do mercado de ações. O que vale mais no longo prazo: uma nota de R$100,00 ou R$100,00 em uma determinada mercadoria?

Esta mercadoria pode ser qualquer coisa: um percentual de participação em uma empresa, uma determinada quantidade de mercadorias, ou até mesmo uma aposta se determinado evento irá acontecer da forma que espera-se.

Então o princípio básico do mercado é a melhor alocação de recursos.

Mas como explicar esta confusão?

Ah! Mas como saber qual é a melhor alocação de recursos? Não sou onisciente e provavelmente o caro leitor também não.

Daí entra a questão do que cada um acha que é a melhor alocação de recursos. E naturalmente, estamos de novo no domínio da informação.

É com base nas informações que cada um tem que se decide qual é o melhor curso de ação.

Pense na brincadeira do telefone sem fio com dinheiro. Então dá para ter uma idéia do que a difusão da informação errada pode causar.

E acredite, se todos falam a mesma coisa - não importa o quão absurda esta seja - fica-se no mínimo na dúvida se é ou não verdade.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Maravilhas da estatística

É quase chavão o famoso: There are lies, damn lies and statistics

Mas para quem entende do negócio, a incerteza é um prato cheio!

Com ela pode-se afirmar praticamente tudo - desde que não se dê dados suficientes para que se verifique o assunto em profundidade.

Mas mesmo isto é uma benção em disfarce: mesmo as estatísticas mais mal-feitas tem que espelhar algo real - nem que seja uma anomalia.

Mas vamos ao que interessa: como mentir com estatísticas.

1) Amostras inadequadas: basta escolher amostras não representativas para que todo o resultado seja tolice.

2) Relatividade: uso de percentuais é ótimo, desde que saiba o que isto significa. Se 75% dos garotos de 12 anos que usam a internet tem celular, isto está longe de significar que 75% dos garotos de 12 anos tem celular. Primeiro temos que saber qual o percentual dos garotos de 12 anos tem internet. Se este valor for de 20% (o que acho ser muito), então temos 15% dos garotos de 12 anos tem celular.

3) Variáveis enganadoras: este é o claro problema que liga correlação com causalidade. A correlação não tem nenhuma obrigação de indicar isto. 100% das pessoas que bebem água, eventualmente morrem. Isto quer dizer que água é mortal?

4) Exatidão: precisão demais costuma ser um claro indicador que algo está errado. Se temos uma eleição aonde um candidato tem 48.2% das preferências e o outro 52.8% - isto é claramente tendencioso, dado que a maioria das pesquisas tem erro de 3 pontos. A afirmação correta é: os dois candidatos estão estatisticamente empatados.

5) Adjetivos exagerados: isto indica que quem escreveu o texto tem a intenção de impressionar. Então, desconfie...

6) Gráficos: estes são uma praga! É extremamente difícil fazer um gráfico isento. Basta mudar intervalos, agrupar resultados e se pode provar absolutamente qualquer coisa.

Agora, para quem entende do assunto, a estatística pode ser muito esclarecedora.

Mais sobre isto eu posto depois

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Linhas Cruzadas

Depois de me inteirar um pouco sobre o assunto dos grampos na mídia, posso dizer que muita gente não sabe do que está falando.

Até aí nada de mais, afinal é este o estado normal das coisas.

O problema é que estas pessoas estão sendo ouvidas. E com isto causando a maior confusão.

Digo isto a propósito do laudo da polícia federal sobre as famosas "maletas de interceptação". Da minha parte não sabia nem de quais equipamentos se tratavam.

Após ver a lista, fiquei seguro que realmente existe um ruído enorme nesta história. Vamos ao que interessa.

A reportagem da Folha de São Paulo divulga:

O laudo da Polícia Federal sobre as maletas compradas pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em conjunto com o Exército mostra que os equipamentos, apesar de não realizarem grampos telefônicos, têm capacidade de fazer escutas ambientais. O documento afirma que o aparelho Stealth LPX, de posse da Abin, é "típico para uso em interceptações de áudio ambiental".

Segundo o laudo, o Stealth LPX permite acionar um transmissor a partir de uma estação de controle com alcance superior a 200 metros, o que permite captar áudios dentro de uma sala, por exemplo. O documento afirma, no entanto, que o aparelho "não possui capacidade para interceptar, demodular e decodificar" sinais provenientes de telefonia móvel.

Elaborado pelo INC (Instituto Nacional de Criminalística) da PF, o laudo afirma que as maletas não fazem grampos em telefones celulares nem em linhas digitais fixas. "Nenhum dos equipamentos analisados possui capacidade para realizar a decodificação e conseqüente gravação de conversas telefônicas realizadas por meio de sistemas de telefonia fixa digital", diz o laudo.

Além do Stealth LPX, a Polícia Federal também analisou o Oscor 5000 (Omni Spectral Correlator OSC-5000) --aparelho comprado pela Abin por intermédio do Exército. A companhia norte-americana de produtos de inteligência REI (Research Eletronics International) havia enviado à Folha Online documento autenticado nos EUA no qual nega que o Oscor seja usado para fazer interceptações telefônicas.

Fiquei curioso pois pelo que tinha ouvido falar este Stealth LPX era apenas um microfone direcional. Dito e feito, isto pode ser verificado neste site (traduzido do chinês para conveniência).

De forma similar o Oscor 500 é um equipamento de varredura de espectro.

Também nada que possa fazer escutas telefônicas em fixo ou celular.

Bem, isto é quase verdade.

Se a ligação celular for analógica, então o Oscor 500 pode sim fazer a escuta. Mas mesmo isto é longe de ser simples.

Já se for digital, como certamente é o caso, então o Oscor 500 só pode dizer que existe a ligação - sem saber o que é conversado.

Já o Stealth LPX, por ser um microfone direcional, pode realizar escutas ambientais. Isto quer dizer que se uma pessoa estiver utilizando um celular sendo alvo deste microfone, então parte da conversa pode ser gravada.

Mas também não é escuta telefônica.

Pena que não tenha ninguém na mídia para falar isto.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

E se as mensagens forem deliberadamente distorcidas?

Esta é uma pergunta interessante. Afinal o que fazer então?

A primeira providência é tentar ter uma versão mais fiel da mensagem original. Isto significa ir as fontes originais, ou então tentar reconstituir as informações iniciais através de fontes diversas.

Mas isto pode ser um problema, pois com as agências de notícias e os assessores de imprensa a mensagem tende a ser distorcida desde o princípio.

Em termos matemáticos, isto equivale a realizar uma média das informações e tentar obter um valor esperado (ou médio) para mensagem original.

Então é necessário uma segunda providência: a análise do conteúdo. Se existir consistência pode-se concluir que pelo menos parte da mensagem contém elementos suficientes da informação original para extrapolar algumas inferências sobre o conteúdo original.

Neste ponto, as discrepâncias são mais interessantes ainda.

Se pedirmos a duas pessoas para descrever o mesmo evento separadamente, teremos distinções entre os relatos. A maior parte das vezes estas distinções vem da própria interpretação do evento (codificação) e descrição desta interpretação (decodificação).

Mesmo que as duas pessoas relatem o mesmo evento que ambas testemunharam, existirão diferenças na linguagem, sintaxe e ordenação dos fatos.

A coincidência de dois relatos quanto a estes fatores são um claro indicativo de fabricação.

Naturalmente, quanto mais distantes do evento original as pessoas estiverem, mais próxima de uma paródia do evento estaremos. Isto se deve a questão que estas pessoas obtiveram seu conhecimento de relatos de relatos - portanto apenas uma versão.

Mas se as testemunhas descreverem exatamente a mesma coisa, tendo presenciado o evento, então teremos fabricação nos relatos.

Variabilidade é inerente a condição humana (e a própria natureza). A supressão desta indica que temos apenas uma versão dos fatos, ou seja uma mensagem distorcida.

Mais importante do que isto é decidir o que fazer quando se tem o conhecimento da distorção.

Em geral, a melhor abordagem é permitir que a fonte ignore que se sabe da distorção.

Paradoxalmente, isto permite que a fonte introduza as distorções ao seu bel prazer. E assim o receptor tem condições de estabelecer um padrão no comportamento do transmissor.

Assim fica ainda mais fácil descobrir quando a mensagem é distorcida.

É um pouco cínico, mas funciona

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O Fato e a Versão

Na realidade, difícil é encontrar uma mensagem aonde não existam interesses envolvidos.

Aliás, se este for o caso, então provavelmente a mensagem não interessa a ninguém.

E naturalmente, quando existem interesses teremos não apenas os fatos - acontecimentos passíveis de verificação - mas também a versão.

A diferença entre fato e versão é por vezes sútil. Mas em geral, a versão vem sempre acompanhada de uma interpretação, reflexão ou opinião. Um exemplo:

Fato:
- O poder judiciário mandou soltar fulano que tinha sido preso na operação Y, relacionada ao caso X. A razão foi que a prisão foi ilegal.

Interpretação:
- Devido aos aspectos técnicos na realização da prisão, o juiz ordenou a soltura de fulano, envolvido no caso X.

Note que a interpretação:
a) Personaliza a decisão
b) Não informa que a prisão foi ilegal
c) Cria um vínculo direto entre fulano e o caso X.

Este tipo de indução lógica sútil costuma levar a conclusões erradas.

No entanto, este tipo de prática é comum e por vezes é derivada diretamente da fonte da informação.

Ora como a fonte da informação pode ter interesses na questão, nada mais razoável que ela apresente a sua versão para o fato - que as vezes é apenas relatada "ipsis literis". Ou seja, a fonte da informação torna-se a fonte da mensagem.

Nada que seja inteiramente errado.

Inteiramente...

Mas neste ponto, uma meia verdade pode facilmente se tornar uma mentira inteira.

Quando uma mensagem é composta apenas por uma fonte de informação, torna-se simples ser vítima do erro mais básico de todos: ouvir apenas um lado.

Mais ainda, quando apenas um lado apresenta a informação, mais fácil é que a mensagem seja apenas uma versão dos fatos.

As vezes isto é feito mesmo com o interesse da imparcialidade, às vezes nem tanto.

Quando ler um informação aonde: um lado afirma enquanto o outro alega - comece a desconfiar.

A imparcialidade subiu no telhado

terça-feira, 16 de setembro de 2008

E se tiver agenda secreta?

Até agora, todos as características de um sistema de comunicação foram modeladas sem considerar que o transmissor pode ter alguma intenção secundária (ou escondida) no envio da mensagem.

E o que muda quando o transmissor tem este interesse secreto?

Na maioria das vezes a distorção da mensagem é até bastante óbvia.

Mas nem sempre...

O uso da resposta emocional adicionado com repetição e aparência de isenção podem ser uma combinação perfeita.

Isto já tinha sido verificado há muitos anos atrás: enquanto uma abordagem racional dificilmente consegue atingir os objetivos, uma abordagem emocional tem em geral muito mais chance de sucesso.

Portanto, observe como você se sente ao ler uma determinada notícia.

Pode ser a chave para entender qual o lado que querem que você pule.

domingo, 14 de setembro de 2008

Resposta emocional

Então a notícia tem um formato designado para resposta emocional. Como reconhecer isto?

O melhor modo é tentar enxergar como cada um se sente em relação a notícia. Vamos pegar um exemplo e analisa-lo. Neste caso temos o texto da folha "Sigilo telefônico é vendido a menos de R$ 1000,00 no País"

A manchete é preparada para causar uma resposta emocional: choque, indignação e talvez receio.

Já no primeiro parágrafo tem-se:

Pessoas que se dizem detetives particulares ou funcionários de teles cobram menos de R$ 1.000 para fornecer o extrato de ligações e torpedos de assinantes,...

Ora, isto não é sigilo telefônico, mas sim a conta telefônica. Portanto o que a manchete realmente diz é "Contas de Telefone de Assinantes podem ser obtidas por menos de R$ 1000,00"

Claro que a resposta emocional é diferente. Neste caso o choque é substancialmente menor. Provavelmente a indignação seja trocada por um "eu bem que desconfiava".

E por uma questão de lógica é de se esperar que algo assim realmente ocorra. Afinal, temos centenas, quiça milhares de atendentes com acesso a diversos tipos de dados - incluindo em alguns casos contas telefônicas. Se 1% destes for corrupto, então já pode existir um mercado para isto.

Note que isto é completamente diferente de interceptação telefônica. E a reportagem segue falando sobre o progresso dos esforços para controlar o problema das escutas ilegais.

Depois volto com mais exemplos de resposta emocional...

sábado, 13 de setembro de 2008

E em que a brincadeira do telefone sem fio ajuda?

Ah! Aí está a beleza da brincadeira: o modelo permite dizer algumas coisas sobre o processo de comunicação entre as pessoas.

Vejamos...

Da parte da codificação temos: cod(mensagem)=f(receptor, transmissor, mensagem)

Vamos supor que seja possível quantificar cada um destes termos. Por uma técnica matemática conhecida como série de Taylor, esta expressão pode ser aproximada por:

f1(receptor) + f2(transmissor) + f3(mensagem) + f4(receptor,transmissor) + f5(receptor,mensagem) + f6(transmissor,mensagem) + termos de ordem superior.

Claro que é uma simplificação, mas escrevendo os termos de modo mais ou menos explícito permite identificar algumas coisas:

A codificação depende do receptor, do transmissor, da mensagem e de alguns termos:

a) o relacionamento entre o receptor e o transmissor (f4)
b) a percepção do relacionamento entre o receptor e a mensagem (f5)
c) o relacionamento entre o transmissor e a mensagem (f6)

Todos estes termos vão influenciar o formato da mensagem codificada.

No processo de decodificação temos termos semelhantes. A diferença é que a mensagem está codificada (e portanto precisa de decodificação).

Mais ainda: o receptor só saberá qual é a mensagem após decodificá-la.

E o que isto nos ajuda? Bom o termo f6 indica que a formatação da mensagem depende de como a mensagem afeta o transmissor.

Em bom português isto quer dizer que o transmissor VAI levar em conta como a mensagem afeta a si mesmo. Um exemplo claro é que dificilmente um agência de distribuição de informação vai divulgar uma informação que a prejudique.

O termo f5 também indica que o transmissor leva em conta o relacionamento entre a mensagem e o receptor. Portanto, por vezes a formatação pode suavizar ou simplificar a mensagem para que a mesma seja mais palatável (ou menos dependendo do caso).

Outro ponto é que o termo f4 indica que o relacionamento entre o receptor e o transmissor é levado em conta na formatação da mensagem. Assim existe também uma preocupação em manter a confiabilidade entre transmissor e receptor.

Assim neste modelo simples vemos que a formatação da mensagem depende de vários fatores. E estes por si são intrínsecos ao relacionamento entre o transmissor, receptor e mensagem.

Portanto, da próxima vez que ler jornal ou assistir televisão (é mais difícil) note que:

1) A mensagem foi editada para que você continue a ter confiança no transmissor. Assim, é bem possível que a mensagem use algumas falácias de forma muito sútil.

2) A mensagem é editada para que sua resposta a ela seja adequada. Esta resposta pode ser raiva, alegria ou qualquer outra. Portanto parte da mensagem pode estar formatada com o objetivo de provocar uma resposta emocional.

3) A mensagem é editada para que o transmissor não fique sobre uma luz inadequada. Portanto notícias contendo dados perniciosos sobre o transmissor nunca serão divulgados pelo mesmo (raramente temos casos de masoquismo em transmissores).

Pode ser que você duvide, mas estamos em um ponto em que tudo isto é feito quase sem perceber.

Um exercício interessante - parte II


Então sabemos agora que o erro na brincadeira do telefone sem fio está na codificação e decodificação da mensagem.

Portanto, cada participante da brincadeira "trata" a mensagem antes de passá-la ao próximo participante.

Daí temos duas formas possíveis do erro ser introduzido na mensagem:

1) Quando o participante que transmite a mensagem comete erros na codificação.
2) Quando o participante que recebe a mensagem comete erros na decodificação.

Até o momento não importa se o erro foi intencional ou não. Isto vamos ver depois...

Então no que consistem esses processos de codificação e decodificação?

A codificação pode ser entendida como um processo em que a mensagem é representada na forma de símbolos (ou signos) que o receptor pode entender. A decodificação é o processo inverso.

Nestes processos, basta que a codificação ou decodificação não preservem a mensagem para que a transmissão da informação correta seja prejudicada.

Tanto a codificação quanto a decodificação são funções de muitos parâmetros (qualidade do canal, confiança no receptor e no transmissor, e assim por diante). Vamos considerar que a qualidade do canal é boa por si mesma.

Em termos matemáticos:

cod(mensagem)=f(receptor, transmissor, mensagem)=mensagem_codificada

decod(mensagem_codificada) = f(receptor, transmissor,mensagem_codificada)=mensagem

Assim decod(cod(mensagem))=mensagem.

Idealmente

Mas mesmo que o codificador distorça propositalmente a mensagem, o processo se baseia fundamentalmente em enviar a informação (certa ou errada) do modo que melhor satisfaça o decodificador.

Deste modo é claro que o envio da mensagem depende do grau de conhecimento que o transmissor tem do receptor (e vice versa).

E neste ponto é que eu queria chegar: em qualquer mídia a mensagem é formatada pelas partes de acordo com o conhecimento que estas tem das outras partes envolvidas. Exemplos: o meio televisivo tem restrições de tempo, o meio escrito tem restrições de espaço e o meio falado tem restrições de fidelidade.

Ou seja, não existe transmissão isenta de informação.

Afinal, a mídia em questão:

a) vai formatar a informação na forma que supõe ser de máxima relevância para os receptores
b) vai editar a informação baseada em requisitos próprios do meio (espaço, tempo, etc...)
c) vai desconsiderar partes da informação que julga serem pouco relevantes para os receptores

E isto tudo sem considerar a possibilidade de distorção intencional da informação.

É bom pensar sobre isto da próxima vez que receber uma notícia.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Um exercício interessante

Todos sabem da brincadeira infantil do telefone sem fio, não?

Pois é, na realidade, este é um modelo de um sistema de comunicação aonde a passagem de informação é distorcida por cada participante.

Um exercício interessante é modelar matematicamente este tipo de sistema. Porque? Bem, eu chego lá...

Um sistema destes pode ser representado da seguinte forma:
- Temos inicialmente 2 participantes A (André) e B (Barbara)
- A recebe uma informação e a passa para B
- B recebe a informação e passa para A.

Isto pode ser representado por uma matriz identidade rotacionada:
C=[0 1;1 0]

Neste matriz, toda informação recebida por Barbara será integralmente repassada para André.

Isto pode ser visto matematicamente, se considerarmos um vetor informação I=[10;0]. Neste vetor o número 10 é informado a André e este repassa para Barbara:

Instante 1:
C*I=[0;10]

Ou seja Barbara recebe a informação de André.

Instante 2:
C*C*I=[10;0]

Assim André recebe a informação de Barbara. Portanto é só uma multiplicação de matrizes.

Se tivermos mais participantes, podemos também representar por uma matriz. Digamos que sejam 5 os participantes (A, B, C, D e E).

Neste caso:
C=[0 1 0 0 0;0 0 1 0 0;0 0 0 1 0;0 0 0 0 1;1 0 0 0 0]

Considerando
I=[10;0;0;0;0]

Assim no instante 1 (B recebe):
C*I=[0;10;0;0;0]

Instante 2 (C recebe):
C*C*I=[0;0;10;0;0]

Instante 3 (D recebe):
C*C*C*I=[0;0;0;10;0]

Instante 4 (E recebe):
C*C*C*C*I=[0;0;0;0;10]

Instante 5 (A recebe de volta após passar por um ciclo):
C*C*C*C*C*I=[10;0;0;0;0]

Notem que toda a informação é transmitida integralmente, sem nenhum erro.

Mas então de onde vem o erro?

Ah, quem já brincou sabe. O erro está no processo de armazenamento e reprodução da mensagem.

No caso em questão, temos de decodificar a informação e codifica-la novamente para o envio. Se neste processo cometermos um erro, então a mensagem fica comprometida.

Por incrível que pareça é possível modelar isto.

Mas depois eu falo mais sobre isso...

Grampo na UnB? - II


Com um pouco de ajuda consegui mais informações sobre o "grampo" no gabinete do reitor da UnB.

Aparentemente, foram instaladas câmeras e microfones com o propósito de gravar todas as audiências que fossem realizadas no gabinete. E isso não é ilegal.

A medida, que dificilmente pode ser chamada de leviana, serviria para manter um registro de áudio e vídeo adequado para o reitor.

Este tipo de gravação deve ser realizado com anuência do ocupante do gabinete. No caso, o reitor.

Assim, não se trata de um "grampo" ilegal, mas de um serviço de gravação para:

a) Evitar suspeitas ou acusações que fossem levantadas devido a condução incorreta das reuniões.

b) Manter uma memória visual do que foi realizado nas audiência - algo muito semelhante aos gravadores usados em reuniões para elaboração de minutas e atas.

c) Manter todo mundo honesto - ou seja a gravação serve como uma forma de evitar corrupção ou mesmo acusações de corrupção.

Este tipo de atividade já tem precedentes antigos. Vários presidentes norte-americanos utilizam regularmente deste expediente. Muitas vezes com a finalidade de auxiliar na elaboração de memórias ou livros. Um exemplo muito famoso é Nixon. Mas ele nem de longe é o único.

Então, temos a situação: o "grampo" não tinha propósitos sinistros ou de espionagem ilegal.

Mas tudo neste país se torna factóide.

Saudações

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Grampo na UnB?


Segundo a reportagem da folha de São Paulo, a reitoria da UnB teria sido vítima de grampos ambientais.

A denúncia vem de laudo da polícia federal dispondo que tanto o reitor temporário quanto seu chefe de gabinete foram vítimas de escutas ilegais.

Até aí eu li sobre esta história no início do mandato, sob o título: "A UnB investiga escutas clandestinas" .

Porque resolvi tocar neste ponto novamente?

Hummm, eu acho que tem boi na linha!

O problema já era claro na reportagem de junho quando se falava em:

O gabinete da reitoria da Universidade de Brasília (UnB) está vulnerável a escutas feitas, de fora, por meio de uma freqüência de rádio. Essa é a constatação de uma equipe técnica da prefeitura da universidade que examinou o local a pedido do reitor temporário, Roberto Aguiar.

Um teste confirmou que um equipamento simples de recepção é capaz de captar as conversas no gabinete do estacionamento da biblioteca, que fica ao lado da reitoria. A descoberta ? que não pode ser caracterizada como grampo ? ocorreu durante uma operação de manutenção solicitada por Aguiar, logo depois que assumiu o cargo em 15 de abril.

Segundo o secretário de Comunicação da UnB, Luiz Gonzaga Motta, o reitor pediu um exame do forro ? instalado ainda em 1965 ? e das persianas, que estavam danificadas.

Ainda a pedido do reitor, os técnicos fizeram uma varredura para detectar a presença de possíveis artefatos de espionagem, como câmeras, microfones e instalações elétricas camufladas. Nada foi encontrado, mas durante um dos testes realizados descobriu-se a freqüência de rádio que permite quebrar a privacidade do gabinete. Os técnicos da prefeitura universitária pediram prazo de 60 dias para apresentar um laudo conclusivo.

Pois bem, na reportagem atual fala-se em:

Em meio às denúncias de grampos telefônicos envolvendo autoridades federais, o reitor da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Aguiar, já dispõe de uma análise preliminar da Polícia Federal que indica que ele e seu chefe de gabinete, Rodrigo Falcão, também foram vítimas de escutas ilegais.

Mas o mais interessante e bizarro é o seguinte:

Durante as investigações, os peritos descobriram ainda que a fiação que ligava parte das câmeras ficava escondida em uma gaveta (mantida trancada) de um móvel na sala do chefe de gabinete. Ao abrirem a gaveta, os policiais descobriram um bilhete escrito à mão, no qual lia-se: "Nós voltaremos".

Ok. Sou só eu, ou vocês também estão achando este espião muito bobinho?

Saudações

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Crise dos Grampos no Brasil


Muito tem se falado sobre o problema dos "grampos telefônicos" na mídia Brasileira.

As notícias são as mais variadas e as informações são as mais desencontradas possíveis.

Então, vamos ao que interessa: o que é verdade nesta história?

Primeiro as explicações!

Escuta ambiental - são microfones, câmeras ou instrumentos de gravação de aúdio ou vídeo que são instalados com ou sem o conhecimento das pessoas que utilizam o ambiente. Podem utilizar fiação, sinais de rádio-freqüência ou mesmo ópticos para realizar seu propósito. No caso de fiação, então a implementação da escuta demanda acesso ao ambiente por um determinado intervalo de tempo razoavelmente grande (de algumas horas até vários dias).

Escuta telefônica - são aparelhos projetados para converter e enviar sinais usados no telefone para um outro ambiente aonde estes sinais são processados e analisados. Os sinais pode ser acústicos (tipicamente voz) ou elétricos (incluindo rádio-freqüência).

Para se precaver de escutas a receita é simples: não tenha segredos!

Mas, no mundo real...

A escuta do tipo telefônico pode ser feita na central, ou seja com uso dos equipamentos da operadora ou no local aonde se encontra o terminal de comunicação (telefone fixo ou celular).

No caso da escuta ser realizada na central deve existir pelo menos auxílio de pessoal especializado das operadoras. Este tipo de escuta é mais simples que as alternativas - sendo ainda possível de ser autorizado por autoridades do judiciário. Mais ainda, este tipo de escuta fica registradas nos relatórios da central.

No caso do escândalo de escutas que ocorreu na Grécia no início de 2006, o grampo foi realizado nas centrais. Neste caso a Vodafone foi responsabilizada (talvez apenas como bode expiatório), mas ainda assim não se sabe muito bem de quem foi a culpa, já que os relatórios contendo os registros das escutas foram apagados.

Via de regra este tipo de escuta telefônica é o mais simples de ser executado.

A próxima na lista de dificuldade crescente é a escuta telefônica em terminal fixo. Caso o terminal esteja ligado a um PABX ou DG, então a questão é acessar a programação do PABX ou fiação do DG para replicar uma determinada linha telefônica em outro ramal. É preciso ter um conhecimento bem razoável para fazer algo assim sem deixar traços evidentes.

E por fim na lista de dificuldade, temos a escuta telefônica em terminal móvel celular. Neste caso só existem poucas alternativas:

a) Implementa-se a escuta no terminal móvel - ou seja no celular da pessoa em questão. Neste caso é necessário se manter distância sem que a comunicação seja interrompida. Apesar de ser possível inserir um dispositivo com alguma capacidade de gravação (não esqueçamos que o celular É um computador).

b) Utiliza-se alguma forma de enganar o celular para que ele assuma que está se comunicando com uma estação rádio-base quando na realidade está se comunicando com o "grampeador". Esta alternativa é de longe a mais cara e complexa - é necessário ter um equipamento caro (bem mais do que os R$ 40 mil que se falou pela mídia - tente algo na vizinhança de US$ 1 milhão), seguir a pessoa em questão aonde quer que ela vá e ainda por cima ter um conhecimento técnico de espião profissional.

A última alternativa é a que fala das famosas "maletas de interceptação". Ora bolas, fazer isto é caro para caramba e não se compra este tipo de maleta nos anúncios dos classificados. Os fabricantes deste tipo de equipamento só vendem para governos.

Mais ainda: no mundo devem existir cerca de 5 fabricantes!

Dado isto só dá para concluir que tem muita gente falando do que não entende!

Mais um adendo: se você desconfia que está sendo grampeado no seu celular por uma destas maletas pode fazer um teste.

O teste é o seguinte: ligue para vários números internacionais. Se os mesmos aparecerem depois na sua conta de celular, então você não está sendo grampeado pela maleta. O que não quer dizer que não estejam te escutando de um ou outro modo descrito anteriormente

Primeira Postagem

Aos leitores desse blog: Bem-vindos!

Resolvi escrever este blog pois realmente sinto que falta um pouco de verdade pelas bandas virtuais.

Assim, no que eu puder contribuir para esclarecer sem complicar, vou colocar por aqui.

Vamos ver como a coisa vai andar