A Consultec também está bem
enrolada:
"Consultec já tinha tido gabarito vazado na Bahia
Publicada em 02/10/2009 às 00h00m
Amélia Vieira e Danile Rebouças - Da Agência A TardeSALVADOR - No vestibular deste ano, a Universidade Estadual da Bahia (Uneb) teve o gabarito das provas elaboradas pela Consultec - a mesma responsável este ano pelo Enem -, mas a informação vazou e as provas foram adiadas dois dias antes da sua aplicação. Nove meses já se passaram e a universidade não tem uma resposta sobre a forma como o conteúdo sigiloso se tornou público e quem são os responsáveis pela fraude. Mesmo assim, a empresa venceu a licitação novamente e continua à frente do processo. O vestibular 2010 também será realizado pela Consultec, nos dias 6 e 7 de dezembro.
Responsável pelas investigações da fraude no ano passado, a delegada Carmen Dolores, do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio, afirmou que aguarda laudo pericial do Departamento de Polícia Técnica (DPT) para finalizar o inquérito e, então, encaminhar para o Ministério Público.
- Como o material foi extenso, ele ainda não foi encaminhado - disse, sem definir prazo para o encaminhamento e dizendo que agora cobrará pressa no laudo.
A direção da Uneb disse, na época da fraude, que só comentaria o assunto com o fim das investigações. Nesta quinta-feira, a universidade informou que não recebeu novos dados sobre o assunto e justificou a vitória da Consultec no processo licitatório, mesmo após o vazamento, por ter se mostrado a mais competente em termos técnicos.
"A Consultec não tem muitos concorrentes"
Com exceção do ano de 1998, a Consultec venceu todas as licitações para elaborar o vestibular da Uneb entre 1996 e 2010. A empresa de consultoria também realiza há mais de dez anos processos de seleção das outras três universidades estaduais da Bahia.
" O processo é feito por um grupo, e falhas podem ocorrer. Todos têm responsabilidade "
A coordenadora de educação superior da Secretaria de Educação (SEC) da Bahia, Gelcivânia Silva, disse que as instituições têm autonomia pela lei estadual de licitação para dirigir o processo de contratação de empresas para a elaboração das provas.
- Vence aquela que tiver melhor técnica e menor preço. A Consultec não tem muitos concorrentes - disse ela, destacando que a secretaria acompanha o orçamento das universidades e recebe relatórios do Tribunal de Contas do Estado. - Até então nunca recebemos do tribunal qualquer tipo de queixa em relação aos processos seletivos.
Adelaide Rezende, sócia-diretora da Consultec, disse nesta quinta-feira que não poderia falar sobre o vazamento das provas do Enem "para não comprometer a investigação".
- O processo é feito por um grupo, e falhas podem ocorrer. Todos têm responsabilidade - afirmou ela, que refuta a possibilidade de os candidatos ao vestibular da Uneb estarem inseguros quanto à idoneidade do processo. - No ano passado refizemos a prova e deu tudo certo.
Também em dezembro do ano passado, a Consultec plagiou 20 das cem questões de um concurso para médicos recém-formados, o que levou ao adiamento da aplicação das provas. As questões copiadas eram das especialidades de ginecologia e obstetrícia e foram retiradas de duas provas aplicadas no ano passado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Entretanto, a Comissão Estadual de Residência Médica (Cerem), responsável pela contratação da Consultec, não se considerou lesada e não acionou empresa judicialmente. O processo seletivo do dia 6 de dezembro foi anulado e uma nova prova foi aplicada em 18 de janeiro deste ano, com oferta de 300 vagas de residência em hospitais públicos, privados e filantrópicos da Bahia, disputadas por mais de mil médicos.
Consultec opta pelo silêncio
A Consultec optou pelo silêncio ao ser questionada sobre a fraude na prova do Enem, mesma estratégia adotada ao ser procurada para se pronunciar sobre o vazamento da prova da Uneb, que veio à tona dois dias antes da aplicação do exame, em 21 de dezembro do ano passado. A empresa foi responsável pelos dois projetos seletivos sob suspeita. Segundo a sócia-diretora da instituição, Adelaide Rezende, "por uma questão de alinhamento, a decisão é que todo o pronunciamento oficial será feito pelo MEC".
Ela disse que essa é a posição do Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção (Connasel), único concorrente e vencedor da licitação do MEC para a realização do Enem. O Connasel é encabeçado pela Consultec, integrado ainda pelo Instituto Cetros, de São Paulo, e pela Funrio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Questionada sobre o funcionamento do esquema de segurança, suas etapas e sobre o ponto ela considera mais vulnerável e passível de ter ocorrido o vazamento da prova, Adelaide disse que "pela amplitude do Enem, todo o processo de segurança foi amplificado e os cuidados tiveram maior sofisticação".
Arguida sobre a informação obtida junto ao Inep de que a prova elaborada teria chegado à Bahia via mídia digital e que alguém da Consultec a teria levado à gráfica em São Paulo, ela mais uma vez disse não saber de nada.
- Se o Inep falou então é oficial - limitou-se a dizer.
A recusa de resposta também ocorreu em relação à gráfica. A sócia-diretora afirmou não quis explicar como foi feita e seleção para a escola da Plural Editora e Gráfica, de São Paulo, integrante do Grupo Folha. A Consultec é uma empresa fundada em 1991 pelas professoras e educadoras Itana Marques e Adelaide Rogério de Rezende e é responsável por vestibulares de instituições como a Uneb, Universidade do Sudoeste da Bahia (Uesb), Unifcas e Unijorge. Além disso, organiza concursos públicos para o governo baiano e prefeituras do estado.
Há uma semana, Itana reagiu às suspeitas sobre a Consultec - devido aos problemas ocorridos na organização do vestibular da Uneb - e usou como argumento o fato de a empresa ter sido escolhida pelo MEC para realizar o Enem. Em entrevista à Tarde On-line, disse que "se ainda houvesse suspeita sobre a nossa credibilidade, não teríamos sido aceitos na licitação do MEC". O caso do vestibular da Uneb ainda está sob investigação.
A fim de atestar a idoneidade da empresa, Itana destacou o esquema montado para o Enem deste ano. Cerca de 500 pessoas foram contratadas para o maior processo realizado pela Consultec. "Nos organizamos para cumprir todas as etapas da seleção, incluindo a impressão, empacotamento, distribuição, confecção de cartões dos candidatos, aplicação e processamento dos resultados", detalhou Itana."
Mas há uma certa linha de investigação interessante. Quem der uma olhada no
blog da Renata Cafardo pode ter mais informações sobre o furo do Estadão.
Vale a pena