quinta-feira, 30 de junho de 2011

Finalizando o mês com uma boa música

 La Donna É Mobile
 Luciano Pavarotti - La Donna E' Mobile .mp3
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E não podia de dar uma chance aos amantes do canto em si:
La donna è mobile
Qual piuma al vento
Muta d'accento
E di pensiero
Sempre un amabile
Leggiadro viso
In pianto o in riso
È mensognero
La donna è mobile
Qual piuma al vento
Muta d'accento
E di pensier
E di pensier
E di pensier
È sempre misero
Chi a lei s'affida
Chi le confida
Mal cauto il cor
Pur mai no sentesi
Felice appieno
Chi sul quel seno
Non liba amor
La donna è mobile
Qual piuma al vento
Muta d'accento
E di pensier
E di pensier
E di pensier 

terça-feira, 28 de junho de 2011

Nunca é uma coisa só

Saiu na revista Piauí o relatório completo da queda do Vôo Gol 1907 em 2006.

Vou transcrever alguns pedaços aqui que acho relevantes.
"...

Se Lepore e Paladino tiveram grande parcela de culpa no desastre do Gol 1907, a responsabilidade dos controladores de voo brasileiros não foi menor. Em seu laudo, um dos apêndices do relatório do Cenipa, o NTSB americano salientou, adequadamente, que Lepore e Paladino tentaram, sem sucesso, entrar em contato com o Cindacta 1 por pelo menos quinze vezes na meia hora que antecedeu à colisão.
Os operadores do Centro de Controle Aéreo de Brasília simplesmente não selecionaram em seus equipamentos as frequências 123,3 e 133,05 mega-hertz, previstas nas cartas aeronáuticas para aquele setor e usadas pelos pilotos do Legacy. Se a seleção tivesse sido feita no console, conforme ditavam as normas, o nível errado de voo e o desligamento do transponder teriam sido detectados e a colisão não ocorreria.
Entre os erros graves cometidos pelo Cindacta 1, um dos principais foi o de não ter chamado o Legacy assim que os sinais do transponder desapareceram das telas de radar. Isso ocorreu às 19h02 Zulu, ou seja, 54 minutos antes do choque com o Boeing da Gol.
Outra causa contribuinte do acidente foi a instrução dada, pela torre de São José dos Campos, para que o Legacy seguisse até o Aeroporto Internacional de Manaus no nível de voo 370, o que significava voar a maior parte do percurso na contramão. Embora se deva supor que nenhum piloto, em pleno juízo, vá considerar como última palavra uma autorização de nível de cruzeiro para uma distância (2,7 mil quilômetros) e um tempo de voo (três horas e 34 minutos) tão grandes, essa permissão descuidada e errada foi usada na defesa de Lepore e Paladino.
O inglês deficiente dos controladores de voo, aliado à apatia dos pilotos americanos em lidar com a fraseologia muitas vezes incompreensível dos operadores brasileiros, fez com que ambos os lados procurassem se comunicar o mínimo possível. Inúmeras oportunidades para a correção do nível de voo e para o restabelecimento das emissões do transponder foram perdidas por causa desse descaso.
Para Lepore e Paladino, faltou airmanship. Para os controladores, entre diversas outras coisas, um melhor treinamento em inglês. Só como exemplo, a última avaliação dos operadores de São José dos Campos nesse quesito havia sido feita em 2003. Nela, cinco dos profissionais obtiveram resultado “não satisfatório”. Mas nenhum deles foi afastado do serviço. Continuaram se “comunicando” com pilotos estrangeiros. O mesmo aconteceu com o pessoal do Cindacta 1. Segundo a própria Aeronáutica, Jomarcelo Fernandes dos Santos, o sargento que assumiu primeiramente o Legacy no console, tem conhecimento limitado da língua inglesa.
Entre as causas do acidente, há que se considerar também a liberação prematura, por parte da Embraer, da aeronave para traslado, tendo em vista que Joe Lepore e Jan Paladino tinham poucas horas de voo noequipamento Legacy. O mais prudente era que ambos fossem acompanhados, entre São José dos Campos e Fort Lauderdale (ou, no mínimo, entre São José e Manaus), por um piloto da própria Embraer.
Não foi preciso muito tempo, nem muito estudo, para se apurarem as causas do desastre: imperícia e negligência dos pilotos do jatinho, imperícia e negligência dos controladores de voo e afobação do fabricante (Embraer) e do operador (ExcelAire) na hora de entregar e de receber o avião. Esses ingredientes combinados foram responsáveis pela morte das 154 pessoas que viajavam no Boeing."

O fato é que o acidente não teve causa única e nem um único culpado. A lição que deve ficar é que raramente há apenas um único culpado, exceto quando decidimos arbitrariamente nomear um (os americanos, o governo brasileiro, o capitalismo, ou o que valha).

A verdade é que existem parcelas de merecimento em todos estes eventos, sejam eles bons ou ruins. E certamente um dos responsáveis é aquele camarada que você encontra toda vez que olha no espelho. Ele não costuma ser responsável por 100% do que acontece de bom ou de ruim com você, mas em determinados casos a parcela de atribuição pode ser bastante elevada.

Por que você não conversa um pouco com ele sobre isso?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Coisas que você pensa que sabe

Quem inventou a lâmpada elétrica? Thomas Alva Edison? Ah, não é bem assim não...

Esta é uma lição importante: Edison fez a primeira lâmpada elétrica economicamente viável para comercialização. E não a primeira lâmpada elétrica (nem mesmo foi a única na competição).

A honra da primeira lâmpada elétrica começa em Humphry Davy e segue uma lista de diversos "inventores". Mas no final, foi Edison que ficou com a vitória. Como as primeira lâmpadas usavam filamentos de platina, o resultado não tinha muita aplicação prática.

A razão? Bem, podemos listar várias. Mas na minha opinião o diferencial é a comercialização. Este efeito é mais comum do que se originalmente imagina. Aliás, dois dos presentes na lista dos inventores (Henry Woodward e Mathew Evans) venderam a sua patente de lâmpada elétrica para Edison.

Esta situação é alarmantemente mais comum do que se imagina. O conceito de "História é escrita pelos vencedores" é muito presente na narrativa dos acontecimentos. Outras invenções tiveram destino similar devido a diferença entre inventar e tornar de uso prático.

Da minha parte, considero que tornar de uso prático tem valor tão grande (talvez até maior) do que inventar. Mas aparentemente sou minoria...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Na mesma linha do narcisismo na internet

Eu não posso deixar de relatar sobre um efeito particular que toda juventude sente. Este efeito é o velho "Vamos mudar o mundo fazendo manifestações".

Se eu soar como um velho rabugento, peço que perdoem, mas devido a uma série de eventos absolutamente bizarros relacionados à percepção juvenil de correlação e causalidade, eu ando meio sem paciência para algumas coisas.

Então vamos ao que interessa.

A grande verdade é que a ação da juventude é renovadora. Sim, é verdade! Mas não é só isso: ela causa confusão e desorganização. E isto pode até vir a ser uma coisa boa, mas costuma ter o efeito contrário do que o esperado (senão ramificações sequer próximas do esperado). Posso dar dois exemplos de ações juvenis que causaram muita confusão e potencialmente mais mal do que bem: a invasão da reitoria da UnB e o movimento Fora Arruda.

E naturalmente existem pessoas, por sua natureza de ave de rapina, ou por ignorância mascarada de inteligência que tentam atribuir a própria agenda à das pessoas em manifestação. A quantidade de exemplos deste  comportamento é impressionante. Temos hoje casos assim ligados a análise das revoluções de primavera dos países árabes e mesmo de marchas e manifestações aqui Brasil.

Claro que, como todas as pessoas, os participantes são mais permeáveis aos elogios do que as críticas.

Sumarizando:
É assim que os participantes da manifestação enxergam seu movimento

É assim que ele realmente é

Não é a questão de não fazer nada, mas entender o que deve ser feito...

O que realmente está por trás das Brigas na Internet

A triste verdade é que a internet funciona como um filtro desumanizador e seletivo do mundo. Isto invariavelmente tende a fortalecer determinadas tendências narcisistas presentes em praticamente todos e diminuir os controles naturais que temos para discussão mais amenas.

Em outras palavras, as pessoas que discutem até brigar estão tentando provar que:

E para quem não entendeu, aqui tem um link para a letra da música do Luni.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Solstício de Inverno - aqui ao sul do Equador, pelo menos

E em homenagem uma trilha sonora apropriada
 mp3-slovo.ru - Vivaldi - Four Seasons - Winter .mp3
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Mas em homenagem ao pessoal do hemisfério norte, também coloco a trilha apropriada para ocasião

 mp3-slovo.ru - Vivaldi - Four Seasons - Summer .mp3
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sábado, 18 de junho de 2011

Do bom senso e da lógica

Em tempos de marchas é de se esperar consistência nos pedidos. Mas francamente, parece que isto não é mais necessário.

Teremos neste sábado as marchas da liberdade e das vadias. Creio ser importante colocar alguns pontos do manifesto da marcha da liberdade e o manifesto da marcha das vadias.

Vamos aos casos - Manifesto da Marcha da Liberdade:

"...Todos aqueles que não se intimidam, e que insistem em não se calar diante da violência. Contamos com as pernas e braços dos que se movimentam, com as vozes dos que não consentem. Ligas, correntes, grupos de teatro, dança, coletivos, povos da floresta, grafiteiros, operários, hackers, feministas, bombeiros, maltrapilhos e afins. Associações de bairros, ONGs, partidos, anarcos, blocos, bandos e bandas. Todos os que condenam a impunidade, que não suportam a violência policial repressiva, o conservadorismo e o autoritarismo do judiciário e do Estado. Que reprime trabalhadores e intimida professores. Que definha o serviço público em benefício de interesses privados.

Ciclistas, lutem pelo fim do racismo. Negros, tragam uma bandeira de arco-íris. LGBTT, gritem pelas florestas. Ambientalistas, cantem. Artistas de rua, defendam o transporte público.

Pedestres, falem em nome dos animais. Vegetarianos, façam um churrasco diferenciado!

Nossas reivindicações não têm hierarquia. Todas as pautas se completam na perspectiva da luta por uma sociedade igualitária, por uma vida digna, de amor e respeito mútuos. Somos todos pedestres, motoristas, cadeirantes, catadores, estudantes, trabalhadores. Somos todos idosos, índios, travestis. Somos todos nordestinos, bolivianos, brasileiros, vira-latas...."

Percebam: não há pauta única! O interesse é juntar o maior número de pessoas possível. E fazem uma série de suposições que não necessariamente são verdadeiras (que todas a categorias listadas são "progressistas" - quando mesmo o termo progressista está em discussão).

Bem, aqui cabe mencionar que comecei esta postagem na sexta-feira 17/06/11. Mas eu só pude retoma-la no sábado 18/06/11. Neste sábado já ficou claro que a marcha da liberdade falhou em Brasília. Já a marcha das vadias fez mais sucesso.

Então para finalizar, vou colocar um trecho do manifesto da marcha das vadias.

...Em Brasília, marchamos porque apenas nos primeiros cinco meses desse ano, foram 283 casos registrados de mulheres estupradas, uma média de duas mulheres estupradas por dia, e sabemos que ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos; marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de transporte público do Distrito Federal, que nos obriga a andar longas distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para proteger as várias mulheres que são violentadas ao longo desses caminhos.
No Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas por ano, e mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço; marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens; marchamos porque vivemos em uma cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo em “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procurado a violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas; marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos; marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porque hoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual....

Quero deixar claro: este texto é bem mais focado do que o da marcha da liberdade. Não entro no mérito de estar certo (há controvérsias sobre o que se deseja atingir - a questão do público alvo salta a mente: será uma esta marcha irá diminuir a incidência de estupros em uma unidade sequer?).

Mas no mundo de hoje aonde percepção é realidade talvez este abordagem pragmática não tenha espaço

Pequenas Pérolas do Cinema - XIII

O filme de hoje é Reds. Serve como homenagem e lição de história para os participantes de marchas Brasil afora.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Mais sobre as Marchas

Ontem, o STF deliberou sobre a legalidade da Marcha da Maconha (rebatizada de Marcha da Liberdade - talvez por motivos de copyright (?)).

O interessante é que a decisão do STF reflete o conceito de liberdade de expressão:

Em decisão unânime (8 votos), o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a realização dos eventos chamados “marcha da maconha”, que reúnem manifestantes favoráveis à descriminalização da droga. Para os ministros, os direitos constitucionais de reunião e de livre expressão do pensamento garantem a realização dessas marchas. Muitos ressaltaram que a liberdade de expressão e de manifestação somente pode ser proibida quando for dirigida a incitar ou provocar ações ilegais e iminentes.

O fato é que existe um sério problema lógico envolvendo o conceito de liberdade de expressão. É o famoso problema do barbeiro:

O paradoxo considera uma aldeia onde, todos os dias, um barbeiro faz a barba de todos os homens que não se barbeiam sozinhos e não faz a barba de quem se barbeia sozinho. Isso vale para todos que estão na aldeia. Ora tal aldeia não pode existir:
  • Se o barbeiro é um homem que não se barbeia sozinho, então ele deve fazer a barba a si mesmo imediatamente, tornando-se um homem que se barbeia sozinho.
  • Se agora ele é um homem que se barbeia sozinho, então ele deve parar imediatamente de fazer a própria barba, tornando-se um homem que não se barbeia sozinho.
A regra resulta num paradoxo, pois o barbeiro ao mesmo tempo deve e não deve fazer a própria barba, não podendo se decidir sem quebrar a regra.
Em outros termos: é possível usar a liberdade de expressão para exigir o fim da liberdade de expressão? São duas condições contraditórias. Em parte pela complexidade de conceituar liberdade, em parte pelo problema que pode ser descrito como:
  1. Liberdade de expressão é poder manifestar sua opinião sobre qualquer tópico
  2. Minha opinião sobre a liberdade de expressão é que a mesma não deve se aplicar a qualquer tópico
Para os que não entenderam, a minha segunda afirmação contradiz diretamente a primeira. Mas se a primeira é verdadeira, então a segunda também deve ser verdadeira. E isto gera um paradoxo lógico.

O paradoxo é resolvido quando modificamos a primeira afirmação:
  1. Liberdade de expressão é poder manifestar sua opinião sobre qualquer tópico, exceto sobre a negação da liberdade de expressão.
Parece simples, mas ao mesmo tempo dá a impressão que estamos de algum modo restringindo a liberdade de expressão. Isto é verdade, mas apenas no sentido que a estamos tornando-a logicamente consistente.

Naturalmente, paradoxos como este são convenientemente esquecidos ou colocados em segundo plano quando interesses pessoais ou coletivos tomam importância nas decisões.

Por que me interessei por isto? Por que li uma graphic novel bastante interessante: Logicomix.

Recomendo a todos...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Divulgando a ocupação da reitoria por alunos da FCE

A FCE é o campus avançado da UnB na Ceilândia. Não sou favorável a ocupações, mas acredito que a demanda dos estudantes é justa. Então coloco aqui o live-stream

Jabuticaba também é Fruta

Existe no Brasil a teoria da jabuticaba. Em poucas palavras:

Teoria da jabuticaba é tudo aquilo que só existe no Brasil, como essa saborosa fruta selvagem da respeitada família das mirtáceas (myrciaria jaboticaba). Isso significa, para ser rápido, pertencer a uma família de “explicações sociais” única e exclusiva neste planeta Terra, situação inédita no plano universal, que consiste em propor, defender e sustentar, contra qualquer outra evidência lógica em sentido contrário, soluções, propostas, medidas práticas, iniciativas teóricas ou mesmo teses (em alguns casos, até antíteses) que só existem no Brasil e que só aqui funcionam...

Esta idéia singular, porém estranhamente familiar. No fundo este conceito é baseado no provérbio:

Explanations exist; they have existed for all time; there is always a well-known solution to every human problem — neat, plausible, and wrong. (H.L. Mencken)

A verdade é que resolver um problema não é necessariamente uma atividade aonde é necessário inventar, descobrir ou desenvolver uma solução única e inovadora. Ao contrário, via de regra é melhor adaptar uma solução conhecida, consolidada e testada.

Claro que existem soluções inovadoras brasileiras. Mas pensar que "ser brasileiro" é pré-requisito de uma boa solução é um equívoco.

Um exemplo aonde parece ser necessário rever o conceito de "soluções nacionais" é justamente a educação. Talvez seja hora de perceber que existem outras frutas além da jabuticaba - muitas delas igualmente deliciosas e que podem matar a necessidade

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mas foi com a melhor das intenções!!!

Como já mencionei em postagens anteriores, por vezes boas intenções podem levar a resultados muito desagradáveis.

Caso em questão: o blog A Gay Girl in Damascus... Hoje foi descoberto que o blog em questão era totalmente falso. A "garota" em questão era um senhor de 40 anos fazendo pós-graduação em Edimburgo.

O autor Tom MacMaster foi se enrolando, enrolando, enrolando até que resolveu colocar tudo em pratos limpos. Vou colocar as mensagens dos dias 6 de junho e 12 de junho. Dá para ver que é um daqueles casos em que a melhor das intenções pode acabar piorando o problema.

06 de junho de 2011
Atualização sobre Amina
Fui ao telefone com os seus pais e tudo o que podemos dizer agora é que ela está ausente. O pai dela está desesperadamente tentando descobrir onde ela está e quema levou.

Infelizmente,  pelo menos 18 formações diferentes da polícia na Síria, assim comovárias milícias e gangues de partido diferente. Não sabemos o que a levou por issonão sei a quem pedir para recuperá-la. É possível que eles são forçados a suadeportação.

De outros familiares que foram presos , acreditamos que ela é susceptível de serlançado muito em breve. Se eles quisessem matá-la, eles teriam feito isso.

Isso é o que todos nós estamos orando.

Vou postar as atualizações assim que eu tiver.

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12 de junho de 2011
Desculpas aos leitores
Eu nunca esperei este nível de atenção. Enquanto a voz narrativa pode ter sido de ficção, os fatos sobre este blog são verdadeiros e não induzir em erro quanto àsituação no terreno. Eu não acredito que eu tenha feito mal a ninguém - Eu sinto que eutenha criado uma voz importante para as questões que me sinto fortemente.

 espero que as pessoas prestem mais atenção ao povo do Oriente Médio e suaslutas no ano de revoluções. Os eventos que estão sendo moldadas pelas pessoas que vivem numa base diária. Eu tentei somente para iluminá-los para uma audiência ocidental.

Essa experiência tem, infelizmente, apenas confirmou os meus sentimentos em relação à cobertura muitas vezes superficial do Oriente Médio e da difusão de novas formas de orientalismo liberal.

No entanto, tenho sido profundamente tocada pelas reações dos leitores.

Melhor,
MacMaster Tom,
Istambul, Turquia
12 junho de 2011 ..

O único autor de todos os posts neste blog ..

domingo, 12 de junho de 2011

Pequenas Pérolas do Cinema - XII

Hoje é dia de Le Grand Bleu. Não consegui encontrar o trailer francês, então segue uma montagem francesa e o trailer americano.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Boa notícia na telefonia celular

Recebi uma notícia muito interessante: o preço do minuto do celular caiu e o número de minutos falados aumentou. Isto é muito interessante e possui ramificações curiosas... Mas primeiro a notícia:

O preço médio do minuto da telefonia celular no Brasil caiu 44% nos últimos dois anos e, no mesmo período, o tempo que os usuários brasileiros passam falando ao telefone subiu 42%.

De acordo com dados da consultoria Teleco, o preço médio do minuto da telefonia móvel, com impostos, caiu de R$ 0,39 no fim do primeiro trimestre de 2009 para R$ 0,22 em março de 2011. No mesmo período, o tempo médio mensal de uso do celular subiu de 77 minutos para 110 minutos.

Com esta informação é possível fazer uma estimativa do "melhor" valor para o minuto para maximizar o lucro por usuário. Parece incrível mas é uma das aplicações da derivada.

No caso podemos aproximar esta curva relacionando minutos por usuário e preço do minuto de ligação por uma equação de primeiro grau (y = a*x+b):

y = -194.1176471*x+152.7058824

Esta não é a melhor curva ou sequer a melhor aproximação, mas serve para os propostos em questão. Qual é o melhor valor para a operadora? R$ 0,393/minuto. Neste caso teremos o retorno médio por usuário de R$ 30,03 (não era bem a notícia que você esperava, não?).

Mas não se preocupe, a coisa é mais complicada do que parece pois estamos trabalhando com valores médios. Neste site temos informações mais detalhadas por operadora.

Mais sobre isso mais afrente - mas já adianto que o ponto ótimo da TIM parece ser com R$ 0.22/minuto

A triste vida de um torcedor político

A vida do chapa-branca não é fácil. Principalmente quando o próprio governo se encarrega de desmontar os raciocínios luta-de-classes-fortes-opressores-contra-fracos-oprimidos que se tenta forçar no leitor (esse pobre desavisado?).

Bem, muitos leitores podem ser desavisados, outros podem ser ignorantes, uma parcela certamente é honesta, mas há os que mentem para os outros e para si mesmos.

Caso em questão? O artigo Palocci e a Falácia do Fogo Amigo.

Em poucas palavras, o blogueiro tenta desconstruir a idéia que Palocci caiu por causa do fogo amigo. O fato é que as críticas mais sérias vieram justamente do partido do governo. Mas o artigo do blogueiro tenta escapar da conclusão inescapável - e não consegue.

Mas vamos a uma análise do texto em detalhes:

Antonio Palocci pertence a um certo tipo de petismo que foi se consolidando nos anos 90 e que nós poderíamos resumir com a imortal metáfora de Chico Buarque. Falam grosso com o Paraguai e fininho com Washington. Ou, traduzindo para os termos da política nacional: tratoram na hora de conversar com a esquerda e se esmeram em amabilidades quando o papo é com a direita. Seu grande representante atual é Cândido Vacarezza, e Palocci era a suma mais acabada do modelo. Amado e admirado pela direita demo-tucana, que pode ser antipetista mas não é cega ao ponto de deixar a estrelinha embaçar-lhe a visão de um aliado de classe, Palocci era o fiador, o amigo dos banqueiros, o garante da tão propalada “estabilidade”. Curiosamente, quando esse tipo de petista cai, por exemplo por enriquecimento suspeito sem explicações convincentes, o tombo é debitado na conta da esquerda.
O ponto central na questão acima é que Palocci não era realmente "um membro da nossa distinta estirpe", mas um intruso. Note a dissociação entre o "petismo dos anos 90" e seja lá o existe hoje (mas supostamente é "mais avançado" - tudo nas entrelinhas, naturalmente).

Há duas coisas que acontecem no Brasil quando cai um ministro petista: Ricardo Noblat comete uma barriga e a culpa da queda é atribuída à esquerda. Não falha nunca. Ontem, horas depois que até as cinzas do que era a vegetação do Mato Grosso já sabiam que o Ministro seria defenestrado, Noblat anunciava em seu Twitter que Palocci “tem tudo para ficar”. Era a confirmação de que o ribeiro-pretano havia caído mesmo.
Este parágrafo é mais para achincalhar o Ricardo Noblat e reforçar o ponto do parágrafo anterior. Isto é claro porque estritamente falando o texto é apenas um fragmento de texto mostrando como o referido jornalista é "imperfeito", já que o segundo ponto ("duas coisa que acontecem...") já havia sido falado no parágrafo anterior. Em uma nota mais pessoal, o texto ainda é equivocado, pois Noblat foi justamente um dos primeiros a assinalar a queda no ministro.

A mais sensata das expectativas – a de que um ministro do Partido dos Trabalhadores explicasse como multiplicou por 20 o seu patrimônio em quatro anos, como ganhou em um só mês R$ 10 milhões em consultorias já tendo sido nomeado Ministro da Casa Civil, como e em que condições foi consultor de gigantescos grupos privados em pleno exercício de mandato legislativo e tendo acabado de sair do Ministério da Fazenda — foi tratada, em algumas comarcas, como traição ao petismo e adesão ao malfadado “PiG”. E eu aqui ingenuamente achando que encher as burras de dinheiro misturando o público com o privado é que era uma traição ao espírito original do Partido dos Trabalhadores. Como disse muito bem o Renato Rovai no seu post de hoje, a degradação e o histórico de manipulação da imprensa brasileira gerou uma contrarreação que consiste em basicamente escolher um lado e cegar-se para os fatos.
Aqui é o velho problema de ganhar dinheiro. Segundo os "socio-fundamentalistas" ganhar dinheiro é evidentemente coisa de bandido. Naturalmente, neste ponto a memória seletiva entra em "enhanced-mode" e esquecem até do que anda fazendo o maior símbolo do governo petista anterior. Ora neste ritmo, com palestras praticamente mensais, o ilustre símbolo irá acumular o que Palocci conseguiu em parcos 8 anos. Mas isso é naturalmente esquecido...

O problema é que, cegando-se para os fatos, você começa a confundir os lados também.
A Folha de São Paulo sequer fez investigação sobre Palocci. A informação lhe caiu no colo, vinda, segundo alguns, da Secretaria de Finanças de SP, ligada ao tucanato. Em nenhum momento a veracidade do fato foi sequer questionada.  Como afirmou o Rodrigo Vianna na época, o fato de que a Folha seja seletiva e não publique o mesmo tipo de matéria sobre, por exemplo, o patrimônio de Aécio não mudava em nada a veracidade do fato. Palocci ficou calado durante 20 dias. De forma inábil, o Planalto escalou Gilberto Carvalho, no começo da crise, para decretar que o caso estava encerrado, quando ele mal começava. Naquele momento, Rovai já cantava a pedra de que isso, em política, não se faz. Quando finalmente resolve falar, Palocci escolhe uma entrevista exclusiva ao Jornal Nacional e outra entrevista exclusiva à Folha de São Paulo. Não explica nada. Entre os semanários, foi a Carta Capital quem deu matéria de capa sobre o fato, enquanto que a Veja praticamente o ignorou. E são os críticos de Palocci os aliados do “PiG”? Uai, que PiG é esse? A conta não fecha.
Então, depois de denunciar esta cegueira coletiva (?), o blogueiro praticamente deixa claro e transparente que os críticos do Palocci não são do PiG. O que isto quer dizer? Que não é a oposição que está provocando a confusão em torno de Palocci, mas o outro lado (o que praticamente confirma a tese que o blogueiro tenta de todo modo negar: que o cerne do problema é justamente o "fogo amigo").

Finalmente, a acusação de ser “a esquerda de que a direita gosta” e a “esquerda que faz o jogo da direita” cumpriu seu ciclo de 360º para incluir … toda a esquerda! Com a exceção, claro, dos defensores incondicionais de um agente público que se torna milionário fazendo consultorias a gigantescos grupos privados em pleno exercício de mandato legislativo, pós-Ministério da Fazenda, e depois de já nomeado Ministro-Chefe da Casa Civil.  É uma curiosa definição de esquerda de que a direita não gosta.
E aqui, ele faz força para não se contradizer, mas novamente cai em tentação - "toda esquerda com exceção" não é toda esquerda. Mas isto pouco importa, pois o centro do argumento (?) é que esta esquerda que faz o jogo da direita não é esquerda, mas direita. Esta inábil manipulação caí no defeito da hipocrisia (sempre ela) e da memória seletiva (que é útil de vez em quando): quando os interesses da "esquerda" e da "direita" são convergente cada um diz que o outro está fazendo o seu jogo, mas quando são divergentes cada um acusa o oposto de ser igual a Hitler.

A presunção de inocência é um princípio do Direito, não da política. No Direito, o ônus da prova cabe a quem acusa. Na política, o ônus da prova cabe a quem está com as costas contra a parede. Simples assim. Não há moral nem direito na política. Só a pura relação de forças. E o fato cabal da correlação de forças da política brasileira de hoje é que nem a esquerda do PT nem o PSOL tem peso para derrubar um Ministro-Chefe da Casa Civil. Se o tivessem, talvez o Brasil não estivesse pagando o que paga aos banqueiros e o Código Florestal não teria sido tratorado pela aliança stalinisto-latifundiária.
Já aqui faz-se uma concessão com a verdade: realmente na política não há obrigatoriedade da presunção da inocência. É injusto? Certamente, mas é como as coisas são. Já o fato cabal que na correlação de forças nem a esquerda do PT nem o PSOL terem peso para derrubar um Ministro, isto não pode ser provado. É bastante provável que haja aspectos desta correlação (com respeito a determinados ministros ou membros do governo) em que esta afirmação seja verdade. Mas também é bastante provável que haja casos em que esta afirmação seja falsa. O fato da esquerda do PT e o PSOL não terem impedido a aprovação do código florestal parte do princípio, falso, de que esta correlação é estática e igual para todos os aspectos da governabilidade. O fato é que esta correlação é dinâmica e diferenciada para os diversos setores do governo.

Em português castiço: não é porque conseguiram derrubar Palocci que iriam aprovar o código florestal, ou mesmo derrubar a ministra da cultura.

Portanto, progressista, não insulte a inteligência do seu leitor, e a própria que lhe reste, falando em “psolistas infiltrados”, “Ptsolistas”, “fogo amigo” e bobagens do gênero. A queda de Palocci só reitera um princípio histórico do capital: ele admite novos-ricos, mas somente enquanto estes lhe sejam úteis. Quando deixam de sê-lo, são largados impiedosamente à beira da estrada. O capital não tem amigos, só interesses.
Por fim, depois de toda esta argumentação inexistente, de toda macarronada de frases de efeito, do não tão sútil veneno para com os adversários, o blogueiro urge ao leitor que não aceite ter sua inteligência insultada por acreditar no que os adversários (inimigos?) propalam.

A contrário, o blogueiro pede exclusividade no privilégio de insultar a inteligência do leitor.

Tiradinhas sem graça

Para país que já teve Buscetta, Cesare é pinto...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Tático versus Estratégico

Esta sempre foi uma distinção que me causava confusão.

Mas aqui estão boas definições: Estratégia então está ligada a planejamento antes da ação

Estratégia representava a função do comandante militar de organizar suas forças antes de uma batalha
 Tática estava ligada à habilidade de arranjar e manobrar os exércitos durante uma batalha. 

Estratégia então está ligada a planejamento antes da ação, enquanto tática está ligada a execução da ação. No caso a estratégia consiste em fornecer ao "agente" uma aplicação eficaz dos recursos a ele disponibilizados. Já a tática trata de como usar estes recursos ao longo da execução da ação.

Isto pode parecer coisa miúda, mas tem muitas ramificações. Uma estratégia que subestime ou superestime os elementos disponíveis na ação é ineficiente e até potencialmente danosa.

Já a tática se enquadra mais na idéia de "se virar com o que esta disponível", ou seja tem um que de improvisação. Mas isto também não é bem arraigado na cultura brasileira?

terça-feira, 7 de junho de 2011

Forçando a Barra & Passando dos Limites

Infelizmente aconteceu: violência em uma tentativa de invadir o gabinete do reitor. Por mais razão que os estudantes tivessem no seu pleito, eles perderam nesta ação. Duvidam? Vejam o vídeo e tirem suas conclusões.

A informação que tenho até agora é que os prejudicados (que deixaram de ser mocinhos e agora assumiram o papel de vilões) são no total 24. Destes, 10 são irregulares - e não deveriam estar lá. O restante (14) estão em uma situação que precisa ser resolvida.

Isso tudo começou a escalar já faz algum tempo, mas ao colocar fogo em um container de lixo perto da CEU, a coisa foi se complicando. Tendo culminado com a prisão de dois estudantes.


Mas este é um daqueles problemas que as pessoas complicam:



E a ação de ontem não ajudou em nada o pleito deles e, francamente, deixou uma má impressão quanto ao comportamento dos mesmos.

Em tempo, há controvérsias sobre a reforma - mas ela já é demandanda há muito tempo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mais marchas - parece que voltaram mesmo, com uma vingança

Agora temos a marcha das vadias - fruto de um conselho de um policial canadense.

Ah, e estão querendo fazer uma aqui em Brasília no dia 18 de junho.

Internet + Criatividade = ?

Vejam que mesmo coisas simples, mas criativas podem ser muito interessantes

Em defesa de testes duplo-cego

O teste duplo-cego pode ser uma das ferramentas mais úteis na análise de dados. Ao contrário do que se diz tanto os pesquisadores quanto os pesquisados podem sofrer efeitos de polarização quando se trata de investigações científicas.

Mesmo quando se fala em avaliações acadêmicas, o teste duplo-cego permite a isenção que hoje em dia é tão difícil de ser encontrada. Naturalmente, quando digo que ele permite a isenção isto quer dizer que se o mesmo for conduzido adequadamente, a isenção é possível.

Este não é o caso quando somente um dos lados fica no desconhecimento (single-blind). Neste caso não há como garantir possibilidade de isenção. A polarização do observador não tem modo possível de ser evitada.

Então se quisermos realmente, de verdade mesmo, tornar as nossas avaliações mais isentas é necessário introduzir a noção de avaliação duplo-cego ao sistema. Neste modelo, nem o avaliado, nem o avaliador saberiam de quem é a avaliação em questão.

Isto serve tanto para fins acadêmicos, quanto para outras finalidades mais delicadas (como por exemplo: avaliação de escolas, universidades ou mesmo de pós-graduações).

Gostaria de crer que a decisão de não utilizar testes duplo-cegos é apenas devido as dificuldades metodológicas.

Mas infelizmente eu não acredito nisso...

domingo, 5 de junho de 2011

Com a palavra: Muniz Sodré

Encontrei este texto de Muniz Sodré que gostaria de compartilhar com todos. Não concordo 100% em tudo, mas o miolo geral é o mesmo que eu penso.


Um espectro ronda a sociedade e o Poder, não certamente o do comunismo – como anunciara Marx em seu célebre Manifesto, essa obra-prima de analítica social conjugada em jornalismo –, mas o espectro do “ex-comunismo”. É como se os representantes ou as lideranças das velhas facções da esquerda tivessem chegado ao Poder para descobrir que não é exatamente o que pensavam ou então que, para exercê-lo, tivessem de esvaziar a identidade do que foram: agora são ex-militantes, ex-trotskistas, ex-socialistas etc. A identidade vazia é nada menos do que espectral.
Basta o observador colocar a lupa sobre uma crise ou um escândalo trombeteado pela mídia para se dar conta da incidência do prefixo na caracterização dos personagens. Se em vez da lupa e do caso restrito assestar um binóculo sobre a paisagem social mais ampla vai se deparar igualmente com a irradiação semiótica do prefixo, a exemplo das seitas religiosas que proliferam nessa base: ex-alcóolatras, ex-drogados, ex-bandidos e o que mais houver.
Não estamos seguros quanto à sua força explicativa, mas é de qualquer forma significativa a presença desse prefixo nos personagens e nas situações que singularizam a história nacional contemporânea e culminam em acontecimentos de jornal. Assistimos à metástase do “ex”: o “ex-tudo”, que, aliás, já aparecia em Pós-tudo(1984), o conhecido poema concreto de Augusto de Campos, como o esvaziamento de tudo. Na vida em curso, é como se a história tivesse de ser lavada, do jeito que se “lava” dinheiro escuso, para dar margem ao arrependimento ou ao apagamento do antigo fogo da transformação social pela água morna dos “arreglos” político-sociais.
Imoralidade e cinismo
Essa evacuação das identidades fortes parece corresponder a uma espécie de anemia social, que o nipo-americano Francis Fukuyama confundiu com “fim da História”. Nos avatares contemporâneos das sociedades liberais e tecnodemocráticas, registra-se a perda progressiva de energia de tudo aquilo que movimentava o socius tradicional: as grandes causas públicas, as ideologias revolucionárias, as lutas sindicais, as utopias do progresso ilimitado, a representatividade política. Não exatamente “fim” da História, portanto, mas algo como o fenômeno do “ex-histórico” atuando na involução de formas clássicas como “o político” e “o social”.
Por que involução?
Num livrinho de três décadas atrás (À l´ombre des majorités silencieuses ou la fin du social, “À sombra das maiorias silenciosas ou o fim do social”), Jean Baudrillard (1929-2007) explicava que, quando a política surge na Renascença, a partir da esfera religiosa, era inicialmente apenas um jogo de signos, uma pura estratégia que não se atrapalhava com nenhuma “verdade” social e histórica.
O espaço político, diz ele, “é inicialmente da mesma ordem que o do teatro maquínico da Renascença, ou do espaço perspectivista da pintura, que se inventa naquele momento (...) O cinismo e a imoralidade da política maquiavélica estão aí: não no uso sem escrúpulo dos meios com o qual a confundiram na acepção vulgar, mas na desenvoltura frente aos fins”. Só depois do século 18, desde a Revolução francesa é que a política se investe de “verdades” ou referências sociais: o povo, a vontade do povo etc.
Agora, a involução: na medida da crise contemporânea da representação política e do esvaziamento das referências sociais clássicas (povo, classe, proletariado), a referência maior seria hoje a da maioria silenciosa, “essa entidade nebulosa, essa substância flutuante cuja existência não é mais social, e sim estatística, e cujo único modo de aparecimento é o da pesquisa de opinião”, escreve Baudrillard. A análise mira, em princípio, a realidade européia, mas se adapta perfeitamente ao que atualmente ocorre nos países ditos “emergentes”, como o Brasil. O cinismo e a imoralidade da política tomam o lugar das aparências de “verdades”, como em suas origens renascentistas, apenas sem o refinamento maneirista de Maquiavel.
Lula em campo
Findo o reino da vontade e da representação, entra em cena o domínio das médias estatísticas que pilotam o processo eleitoral como o condutor de uma locomotiva, capaz de transformar o eleitor numa Maria-vai-com-as-outras. Tem-se, assim, a ex-vontade, a ex-representação e a ex-política: metamorfoses, alguém diria, mas não as ambulantes cantadas por Raul Seixas – metamorfoses paralíticas, já que apenas aprofundam o status quo.
Em termos nacionais-concretos, fora do arrazoado em que transpira um certo pessimismo típico do pensamento pós-modernista europeu, o que a “síndrome do ex”tem a ver com a conjuntura atual em sua relação com a imprensa?
Em primeiro lugar, a chamada de atenção para o fenômeno patético da depauperação dos poderes republicanos diante das frações pouco visíveis das classes dirigentes (construtores e empreiteiros de um lado; financistas de outro), junto às quais os ex-incendiários (os ativos militantes de outrora) se tornam “fiadores” do governo formal. O combalido movimento sindical vê, à distância, suas ex-lideranças em cargos importantes. Nas sombras, prosperam as identidades ambíguas, como, aliás, reconhece a nota do Palácio do Planalto a propósito do escândalo em pauta: “ex-ministro vale muito”.
Em segundo, a curiosa visibilidade do ex na cena pública como cogestionário de questões importantes. O Globo (24/5) deu grande destaque à carta dos oito ex-ministros do Meio Ambiente à presidente Dilma Rousseff, em que dez ex-comandantes da área ambiental condenam a proposta do Código Florestal, votado no dia seguinte pela Câmara dos Deputados. Segundo a imprensa, na hora da votação, o deputado comunista (ex?) Aldo Rebelo, relator do código, rogou a Deus pela aprovação do projeto.
Para coroar a sucessão de acontecimentos, o ex-presidente da República entrou em campo disposto a botar ordem na articulação política do Planalto. Ocupou as manchetes de jornais, como se diz no Rio, “na moral”.
E la nave va...