segunda-feira, 30 de abril de 2012

Coisas que Mentimos para Nós Mesmos - 23

Há muito tempo, eu aprendi uma frase ótima no antigo Planeta Diário:
O futuro do pretérito a Deus pertenceria!

Sempre lembro dela quando leio algo que é claramente especulação. Um exemplo é um texto de Fernando Rodrigues sobre Brasília. O pedaço que é especulativo é este aqui:

3) Interiorizar o desenvolvimento – construir a nova capital no Centro-Oeste ajudaria a desenvolver economicamente a região, até então pouquíssimo povoada. Assim seria consertado o mau costume dos portugueses, que até fizeram incursões pelo interior, mas gostaram mesmo de se instalar apenas no litoral.
Comentário do Blog: esse foi o argumento mais sensato. Mas a teoria não saiu do papel. Aos 52 anos, Brasília só sobrevive graças ao dinheiro público da União. O Centro-Oeste é uma região agrícola que não dependeu em nada da chegada da capital federal para o interior de Goiás, para um local inóspito e inabitado (nem índios se interessavam pelo local onde hoje é Brasília).Houve ainda um efeito colateral terrível: a degradação da região urbana no Rio, que certamente não teria enfrentado tanta degradação e presença de grupos criminosos se a capital da República tivesse permanecido por lá.
A verdade é que não é nem remotamente possível imaginar o que aconteceria se Brasília não tivesse sido construída. Todo o comentário do Blog é pura especulação. Saber o que teria acontecido se este ou aquele fato não tivesse ocorrido é puro exercício de imaginação.

Mas será que não há um modo de fazer esta especulação pelo menos mais científica?

Sim, há! Eu já mencionei antes no blog que poderíamos avaliar casos assim como uma soma de histórias. A idéia é imaginar os possíveis caminhos e desdobramentos da realização ou não de uma ação.
O exemplo no caso de Brasília é o PIB. Como seria o PIB da região centro-oeste se Brasília não tivesse sido construída? Seria maior? Seria menor? Seria igual?

indicações que provavelmente seria menor. Isso dá para ver aqui:

Participação PIB 1950 1960 1970 1980
Centro-Oeste 1,79 2,46 3,87 5,39
Norte 1,71 2,23 2,16 3,34
Nordeste 14,65 14,78 11,71 11,96
Sul 16,29 17,77 16,71 16,97
Sudeste 65,55 62,76 65,55 62,34
Brasil 100,00 100,00 100,00 100,00

De 1950 a 1960, a participação do Centro-Oeste no PIB subiu 37%, já de 1960 a 1970 o aumento foi de 57%. Hoje a participação na economia é de cerca de 8%. Esta outra tabela também é bem significativa:

REGIÃO 1950 1960 1970 1980
Centro-Oeste 1.218.864,40 2.919.369,30 9.633.658,40 35.720.042,40
Norte 1.164.866,70 2.644.151,90 5.380.920,50 22.138.911,30
Nordeste 9.958.847,30 17.553.028,40 29.126.921,30 79.249.554,20
Sul 11.078.898,10 21.106.141,90 41.580.262,50 112.488.170,40
Sudeste 44.568.858,30 74.535.362,30 163.098.997,50 413.095.048,40
Brasil 67.990.334,80 118.758.053,80 248.820.760,20 662.691.726,70

Ela mostra o PIB atualizado para reais do ano 2000. De 1960 até 1980, o PIB nacional cresceu 458% e o do Centro Oeste cresceu 1123%. Quem também cresceu foi a região Norte (lembram-se da Belém-Brasília?). Hoje o PIB do Centro Oeste é de cerca de 279 bilhões.

Então, o que aconteceria se não houvesse Brasília? Difícil dizer, mas podemos supor que o Centro-Oeste e o Norte iriam seguir com o crescimento médio do país. Neste caso, consideramos apenas o crescimento de 1950 até 1980 do Sul e do Sudeste. Com isso temos uma taxa de 844% de 1950 até 1980. Então temos aqui, o Brasil de 1980 sem Brasília:

REGIÃO 1950 1980
Centro-Oeste 1.218.864,40 10.293.094,12
Norte 1.164.866,70 9.837.093,10
Nordeste 9.958.847,30 84.100.702,73
Sul 11.078.898,10 93.559.333,49
Sudeste 44.568.858,30 376.376.119,66
Brasil 67.990.334,80 574.166.343,10

O que acontece se consideramos também o Nordeste? Bem, não há melhoria nenhuma.

REGIÃO 1950 1980
Centro-Oeste 1.218.864,40 8.730.639,16
Norte 1.164.866,70 8.343.857,47
Nordeste 9.958.847,30 71.334.516,13
Sul 11.078.898,10 79.357.360,49
Sudeste 44.568.858,30 319.243.567,61
Brasil 67.990.334,80 487.009.940,86

Com isso podemos fazer finalmente uma estimativa mais próxima da "soma de histórias". Supondo a probabilidade de Brasília existir ou não como 50% (cara-ou-coroa) chegamos a

PIB_Esperado=p(não existir Brasília)*PIB(Sem Brasília)+p(existir Brasília)*PIB(Com Brasília)

PIB_Esperado= 0,5*574.166.343,10+0,5*662.691.726,70 = 618.429.034,90

Como o PIB com Brasília é maior que o PIB da soma de histórias, então a presença de Brasília alterou o PIB positivamente.

Podemos é claro brincar com as probabilidades - desde considerar Brasília muito improvável (o que faz o PIB esperado tender ao valor sem Brasília - e faz o impacto positivo de Brasília maior ainda), ou podemos considerar Brasília como muito provável (o que faz o PIB Esperado tender ao PIB com Brasília e diminui o impacto da cidade no valor do PIB - mas ao mesmo tempo torna a criação de Brasília como inevitável).
Fazendo este exercício de estudo de caso então se poderia ao menos tomar algum tipo de posição. Naturalmente além do PIB temos outros indicadores: densidade demográfica, consumo de energia, rodovias, etc...

domingo, 29 de abril de 2012

Projeto Questor

Hoje trago uma pérola da TV completa: Projeto Questor

O filme é um piloto para uma série que nunca decolou. Mas é interessante ver o robô como um ente mais moral do que o ser humano. Há rumores de um remake, mas nada apareceu até agora.

sábado, 28 de abril de 2012

Pequenas Pérolas do Cinema - 57

Hoje é dia de Butch Cassidy and the Sundance Kid.
O filme é meio que baseado em personagens reais: Bucth Cassidy e Sundance Kid
Talvez algumas das mais famosas cenas do cinema esteja neste filme. Julgue você mesmo.
A cena da bicicleta
A cena do pulo no abismo
E o final
Um dos legados mais inesperados é que há um festival de cinema com o nome de um dos personagens.
O filme é um western moderno, aonde há uma certa subversão dos cliches - bem ao estilo dos anos 70.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Não Acredite em Tudo que Lê por aí

Mas eu admito que está cada dia mais difícil.

Caso em questão:

Drink a base de sêmen humano é sucesso nas baladas brasileiras


O sêmen utilizado pode ser doado pelo consumidor ou alguém indicado por ele
Uma tendência das boates holandesas chegou ao Brasil se tornando a nova sensação das baladas vips. O drink “Semence de la vie” é atualmente um dos mais comercializados segundo estatística da ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).
Um mix de amarula, cherry brandy, gin, sêmen humano e yakult virou febre na Europa e agora já é moda no Brasil. Com custo variando entre R$ 50 e R$ 120 o “Semence de la vie” eleva o estado mental de quem ingere quase que imediatamente. Esta virtude faz do drink uma excelente opção para quem está de dieta de restrição calórica e deseja entrar no clima da balada sem ter que secar baldes de cerveja ou garrafas de uísque.
O sêmen utilizado na confecção do drink pode ser doado pelo consumidor (ou alguém indicado por ele), mas de maneira geral o ingrediente é conseguido por meio de fornecedores cadastrados e com exames de saúde que atestam a plena isenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Pesquisas da ABRASEL apontam que mulheres representam que 67% do consumo deste drink. Os 33% de consumidores se dividem entre 21% de homossexuais e 12% de heterossexuais. Para Carlos Magno Brizola, presidente interino da International Bartenders Association, “ainda existe um machismo muito forte no Brasil que faz um homem achar que pode ter sua virilidade arranhada apenas por consumir o sêmen de um outro homem. Isso precisa acabar. É preciso aprender a se desfazer dos preconceitos para degustar novas sensações etílicas e gastronômicas”.
Segue a receita para fazer em casa esta delícia:
Semence de la vie100 ml de amarula
100 ml de cherry brandy
150 ml de gin
1 colher de chá de sêmen humano (recém colhido)
3 unidades de Yakult de 65ml
Acrescente gelo picado
Misture os ingredientes numa coqueteleira, mexa bem por 5 minutos e sirva em copo longo.
(tirado daqui)

Naturalmente, a notícia é falsa. A ABRASEL diz com todas as letras:
25/04/12 - Nota de Esclarecimento da Abrasel
A Abrasel esclarece que as informações que circulam em blogs e redes sociais, sobre o drink “Semence de la vie”, são totalmente inverídicas e infundadas. A Abrasel jamais fez qualquer pesquisa sobre o assunto.

O problema é que esta ficando cada dia mais difícil determinar o que é mentira do que é realidade. E isso, meus caros, é o que este blog humildemente tenta fazer.

No caso, deixo uma sugestão: sempre olhem a fonte.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Gastando Calorias

Bem, estou fazendo exercícios. Recomendação médica...
Mas isso não me impede de pensar um pouco sobre o uso de energia que temos ao exercitarmos. Como ainda estou me readaptando a exercitar, estou fazendo 20 minutos de caminhada em uma esteira. A esteira é razoavelmente sofisticada.

E então, a esteira indica quantas Calorias foram gastas. Imagino que deve ter algo apenas indicativo, mas o valor mostrado é de cerca de 120 Calorias. Dividindo isto por 20 minutos, temos 6 Calorias/minuto (o que dá 360 Calorias por hora).

1 Caloria (que na realidade é 1kcal = 1000 calorias) corresponde a aproximadamente 4.19 kJ. Logo, minhas 120 Calorias resultam em cerca de 500 kJ. Se ao contrário de andar, eu corresse então este gasto seria 2.3 vezes maior (perto de 1.1 MJ).

Mas vamos pensar em termos de potência. 6 Calorias por minuto corresponde a 0.1 Calorias por segundo ou 418.7 J/s (perto de 420 W - devo dizer que o valor me parece alto, eu teria chutado por volta de 42 W e não 420 W, mas afinal o corpo em repouso gasta continuamente 100 W, então...).
De qualquer modo, se o consumo diário de alimento de uma pessoa é 2400 Calorias, então serão necessários 400 minutos (6 horas e 40 minutos) diários para gastar isso no ritmo de 360 Calorias por hora. Já se for correndo, então o tempo diminui para pouco menos de 3 horas.

Fico curioso em saber quanta energia é armazenada em estado permanente (café da manhã, almoço e jantar).

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Procurando um Carro Voador?

Conheça o WASP (Williams Aerial System Platform).
Sim, isto voa mesmo.

Ele foi desenvolvido para o exército americano e depois evoluiu para o X-Jet.

Agora, já que estas coisas já existiam em 1970, como é que não temos ainda carros voadores?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Gramsci Homeopático - Parte 1

Decidi trazer alguns textos de Gramsci e comentá-los aqui mesmo. O objetivo é difundir um pouco sobre o pensamento dele aqui no Blog. Ele explica muita coisa que ocorre aqui no Brasil.


OS JORNAIS E OS OPERÁRIOS
Antonio Gramsci
1916

Origem da presente Transcrição: Desconhecida
Transcrição de: Alexandre Linares para o Marxists Internet Archive.
HTML de: Fernando A. S. Araújo para o Marxists Internet Archive, Junho 2005.
Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org), 2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License

É a época da publicidade para as assinaturas. Os diretores e os administradores dos jornais burgueses arrumam as suas vitrines, passam uma mão de tinta pela tabuleta e chamam a atenção do passante (isto é, do leitor) para a sua mercadoria. A mercadoria é aquela folha de quatro ou seis páginas que todas as manhãs ou todas as tardes vai injetar no espírito do leitor os modos de sentir e de julgar os fatos da atualidade política que mais convém aos produtores e vendedores de papel impresso. Estamos dispostos a discorrer, com os operários especialmente, sobre a importância e a gravidade daquele ato aparentemente tão inocente que consiste em escolher o jornal que se pretende assinar?


Note aqui que o sentido da palavra burguês já não é o mesmo de dono dos meios de produção (ou expropriador da mais valia). Gramsci liga a existência dos jornais aos burgueses. Agora já não são apenas donos de fábrica, mas donos dos jornais também (soa conspirativo? É, com certeza um pouco sim)

É uma escolha cheia de insídias e de perigos que deveria ser feita com consciência, com critério e depois de amadurecida reflexão. Antes de mais, o operário deve negar decididamente qualquer solidariedade com o jornal burguês. Deveria recorda-se sempre, sempre, sempre, que o jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um instrumento de luta movido por idéias e interesses que estão em contraste com os seus. Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma idéia: servir a classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora. E, de fato, da primeira à última linha, o jornal burguês sente e revela esta preocupação. Mas o pior reside nisto: em vez de pedir dinheiro à classe burguesa para o subvencionar a obra de defesa exposta em seu favor, o jornal burguês consegue fazer-se pagar pela própria classe trabalhadora que ele combate sempre. E a classe trabalhadora paga, pontualmente, generosamente. Centenas de milhares de operários contribuem regularmente todos os dias com seu dinheiro para o jornal burguês, aumentando a sua potência. Porquê? Se perguntarem ao primeiro operário que encontrarem no elétrico ou na rua, com a folha burguesa desdobrada à sua frente, ouvirão esta resposta: É porque tenho necessidade de saber o que há de novo. E não lhe passa sequer pela cabeça que as notícias e os ingredientes com as quais são cozinhadas podem ser expostos com uma arte que dirija o seu pensamento e influa no seu espírito em determinado sentido. E, no entanto, ele sabe que tal jornal é conservador, que outro é interesseiro, que o terceiro, o quarto e quinto estão ligados a grupos políticos que têm interesses diametralmente opostos aos seus. Todos os dias, pois, sucede a este mesmo operário a possibilidade de poder constatar pessoalmente que os jornais burgueses apresentam os fatos, mesmo os mais simples, de modo a favorecer a classe burguesa e a política burguesa com prejuízo da política e da classe operária. Rebenta uma greve? Para o jornal burguês os operários nunca têm razão. Há manifestação? Os manifestantes, apenas porque são operários, são sempre tumultuosos, facciosos, malfeitores.


Note aqui que há conjuntamente uma enorme miopia dos donos de jornal (perdendo uma excelente oportunidade de aumentar o mercado) e a extensão da teia conspirativa traçada por Gramsci (os jornais deixam de lado sua competição por mercado para ajudar os industriais - que não os sustentam, por falar nisso). E para deixar bem claro que o que ele fala está errado: há notícias nos jornais aonde o jornal está claramente do lado dos trabalhadores. (veja aqui, aqui e aqui). Mas há vezes em que toma o lado dos empresários (patrões, etc). Você poderia dizer que a esquerda passou dessa fase, mas aí claramente você não lê este camarada.

O governo aprova uma lei? É sempre boa, útil e justa, mesmo se não é verdade. Desenvolve-se uma campanha eleitoral, política ou administrativa? Os candidatos e os programas melhores são sempre os dos partidos burgueses. E não falemos daqueles casos em que o jornal burguês ou cala, ou deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público trabalhador. Apesar disto, a aquiescência culposa do operário em relação ao jornal burguês é sem limites. É preciso reagir contra ela e despertar o operário para a exata avaliação da realidade. É preciso dizer e repetir que a moeda atirada distraidamente para a mão do ardina é um projétil oferecido ao jornal burguês que o lançará depois, no momento oportuno, contra a massa operária.


Note aqui que há a idéia que o jornal é sempre chapa-branca. Isso não só é ruim para as vendas (acaba com a credibilidade), como também demanda cumplicidade de jornalistas, articulistas, editores e uma grande número de profissionais. Gramsci demoniza o jornal (e por tabela outros meios de comunicação). Soa familiar?

Se os operários se persuadirem desta elementaríssima verdade, aprenderiam a boicotar a imprensa burguesa, em bloco e com a mesma disciplina com que a burguesia boicota os jornais dos operários, isto é, a imprensa socialista.
Não contribuam com o dinheiro para a imprensa burguesa que vos é adversária: eis qual deve ser o nosso grito de guerra neste momento, caracterizado pela campanha de assinaturas, feitas por todos os jornais burgueses. Boicotem, boicotem, boicotem!


Por fim, apesar deste texto ser de 1916, dá para ver de onde veio o roteiro que vemos hoje entre a esquerda e os jornais. Claro não posso deixar de apontar a deliciosa reversão que dá mais sabor a toda a história: Quem atualmente acusa os jornais de serem instrumentos de enganação da classe trabalhadora é justamente o governo. Precisamente quem Gramsci acusava de ser o maior conspirador.


Não dá para inventar um enredo como esse!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Coisas que Mentimos para Nós Mesmos - 22

Você sabe o que é um Ludita?
Bem, os Luditas (Luddites) quebravam as máquinas nas fábricas para protestar contra a substituição da mão de obra de operários por máquinas. O movimento foi supostamente encabeçado por Ned Ludd, o qual acabou intitulando o mesmo.
No fundo temos aí o conflito da manufatura: máquina versus mão de obra humana. Bastante poético e bem ao gosto dos "revolucionários de plantão".
Naturalmente, há aí elementos contraditórios, pois as mesmas máquinas permitiam manufaturas mais baratas e acessíveis a população. E isto quer dizer que os "quebradores de máquinas" não estavam fazendo aquilo para o bem da população, mas para o seu próprio. Ou pelo menos assim parecia.

Mas, por este prisma, no fundo, no fundo, somos todos um pouco Luditas.

A medida que nos sentimos confortavelmente instalados nos nossos nichos, e apesar de desejarmos um pouco de aventura e mudanças, não queremos nada muito extremo (como redefinir o que deve ser nosso trabalho, ou mesmo nossa rotina). A verdade é que, com o tempo, nos adaptamos ao nosso nicho.

A forma mais discutida é o ludismo tecnológico - ou seja uma forma de technophobia. Mas nem de longe é a forma única. A propósito, todos temos um pouco dela. Talvez a primeira forma que tenha tomado seja a do monstro de Frankenstein, de Mary Wollstonecraft Shelley (aliás vale a pena ler sobre ela) - e isto apesar do romance não tratar diretamente deste tema, mas de outros.
Eu suspeito que este tipo de comportamento: resistir a mudanças no nicho que se está adaptado é algo muito mais profundo e antigo. Suspeito ainda que o famoso ditado "incendiário na juventude, mas bombeiro na velhice" é uma outra forma de caracterizar este comportamento.
Então, a medida que nos adaptamos ao nosso nicho, nos tornamos cada vez mais refratários a grandes mudanças. Mas de modo reverso, enquanto estamos tentando nos adaptar ao nosso nicho (ou mesmo encontrá-lo), não há grandes receios de tentar mudar o status das coisas.

Ou seja, ficar confortável é o fim do desejo sincero de mudança radical...

E isto naturalmente significa que se você encontra alguém confortavelmente adaptado ao seu meio, desconfie quando o mesmo expressar seu grande desejo de fazer revoluções.

domingo, 22 de abril de 2012

Se lembram da canção?


No velho Oeste ele nasceu,
E entre bravos se criou,
Seu nome lenda se tornou,
Bat Masterson, Bat Masterson.
Sempre elegante e cordial,
Sempre o amigo mais leal,
Foi da justiça um defensor,
Bat Masterson, Bat Masterson.
Em toda canção contava,
Sua coragem e destemor,
Em toda canção falava,
Numa bengala e num grande amor.
É o mais famoso dos heróis,
Que o velho oeste conheceu,
Fez do seu nome uma canção,
Bat Masterson, Bat Masterson.
Seu nome lenda se tornou,
Bat Masterson, Bat Masterson.
Seu nome lenda se tornou,
Bat Masterson, Bat Masterson.

Como devem ter imaginado, a pérola da televisão de hoje é Bat Masterson. Um seriado do final da década de 50 que passou aqui pelo Brasil até bem dentro dos anos 70.


Na realidade, o seriado é baseado em uma pessoa real.

O personagem apareceu ainda em muitos filmes, além da série de televisão. Mas francamente, esta era uma das séries que eu sempre lembrava - mas por causa da música título.

sábado, 21 de abril de 2012

Pequenas Pérolas do Cinema - 56

Hoje é dia de um grande filme (que foi sugestão do Karlos); Ben-Hur

O filme conta a história de vida de Judah-Ben-Hur, que viveu na mesma época de Cristo e sofreu diversas perseguições não apenas por ser judeu, mas por uma série de acidentes. O filme é baseado em um livro de 1880. A trilha sonora é do famoso Miklós Rózsa.

O livro gerou várias versões. Além da versão de 1959, temos a versão de 1907.

Uma versão de 1925.

Um desenho animado de 2003

E por fim uma minisérie de 2010.

Mas a versão que eu me lembro é a de 1959. Eu cheguei a vê-la somente na televisão, mas imagino que no cinema deve ter sido glorioso (felizmente pelo menos eu cheguei a ver os 10 mandamentos no cinema).

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O que significa um plebiscito

Um plebiscito é uma consulta ao povo antes de uma lei ser constituída, apresentando propostas que podem ser aprovadas ou rejeitadas. Na UnB tivemos há pouco tempo uma consulta que foi nominada como plebiscito.

Não é na verdade o caso.

O que aconteceu foi uma consulta aos professores sobre que forma de escolha para reitor é a preferida. Isto quer dizer, que como é uma consulta, não há força de lei na mesma. O importante era indicar para os diversos representantes em colegiados superiores como é que os demais professores pensavam.

Isto pode ser sumarizado no seguinte texto:
Segundo o chefe de gabinete da Reitoria da UnB, Davi Diniz, o plebiscito não tem peso real para a decisão. “Essa mobilização é um instrumento de pressão dos setores, mas é natural. A questão é que a decisão por fazer ou não uma consulta pública às categorias é soberana do Consuni. Na última eleição, por exemplo, não ocorreu oficialmente”.
Ou seja, o maior peso desta consulta é justamente uma forma pressão sobre os setores. Sabendo como os professores dos respectivos centros pensam dificulta o posicionamento pessoal dos representantes nos colegiados superiores. Isto ainda não os impede de tomar posições pessoais, mas no advento destas fica difícil sustentar que se "é representante" quando se vota de forma contrária a sua representação.

Bem, a questão é que a paridade perdeu. Somente na faculdade de educação é que a paridade venceu, mas apenas por um voto. Isto pode visto aqui:

Resultado final do plebiscito (Fonte: ADUnB)

70/15/15ParidadeUniversalIndiferenteNulo
Seção I - ADUnB266200
Seção I - Separados405000
Seção II - IDA218200
Seção III - FS/FM638500
Seção IV - ICC SUL13519402
Seção V - ICC NORTE15643300
Seção VI - FA245000
Seção VII - FT9613000
Seção VIII - FE2122200
Seção IX - FCE165110
Seção X - FGA390020
Seção XI - FUP1913001
Seção XII - IB712110
Seção XIII - IQ321100
TOTAL7591502143
TOTAL PERCENTUAL81,00%16,01%2,24%0,43%0,32%
TOTAL DE VOTOS937

Então no total de 937 votos, 759 escolheram o sistema 70/15/15, 150 escolheram a paridade, 21 o sistema universal, 4 são indiferentes, e 3 votaram nulo.

Claro que isto levou a diversas reações. Temos aqui um vídeo feito pelo UnB-TV

No caso dos funcionários, há uma crítica indireta à consulta. Na crítica, o coordenador do SINTFUB afirma:
"Já esperávamos por este resultado, pois não houve tempo para debate junto à comunidade universitária. O pedido foi feito, mas a ADUnB preferiu agir sozinha e realizar o plebiscito. O resultado é esse: a descontrução da democracia na UnB", avalia o coordenador geral do Sintfub, Antônio Guedes.
Naturalmente há nesta crítica a sugestão implícita que de debates com os professores iriam mudar o rumo das votações. No entanto, há um juízo de valor indireto do coordenador sugerindo que os professores estão iludidos, não pensaram direito, ou simplesmente estavam desinformados. No fundo o resultado não foi o que ele esperava e com isso ele está esperneando da forma que pode.

Um outro grupo mais organizado levou ao ar a argumentação que como não foram todos os professores que votaram, então o resultado é espúrio. O problema é que em eleições aonde o voto é facultativo, o número de votantes costuma ficar entre 30% e 40% do total de votantes. Então 36% de presença está bem próximo do que se espera de uma consulta aonde votar é facultativo.

Aqui mais uma vez o problema é que o resultado não é o que esperavam.  E aqui se os fatos mostram o contrário do que se acredita, então mudam-se os fatos.

A verdade é que estes grupos não estão interessados no resultado que contradiz suas expectativas. Note que isto não é exclusivo de um grupo A ou B. Este comportamento é bastante comum em vários grupos. Este tipo de visão de mundo que costuma gerar os debates a favor. Não sabe o que é isto? Deixe eu dar um exemplo:

Ok, você viu alguma opinião contrária? Não? Pois é isso é típico de um debate a favor.

Entretanto, o comportamento científico é julgar a teoria baseado nas evidências (na realidade era montar a teoria depois das evidências, mas aí também seria esperar demais das pessoas). Quero que você preste atenção no depoimento a seguir.

E como é que fica a opinião dos professores da FAV neste caso?