quinta-feira, 31 de março de 2011

Pequenas Pérolas do Cinema

Decidi incluir uma seção de Filmes com clipes de algumas das jóias do cinema. Na realidade é uma peça de opinião e matéria de debate. Mas eu vou explicar porque gosto dos filmes.

Primeiro da Lista (não é o melhor, mas é uma pequena jóia): The Quiet Earth

Precisamente às 6:12 Zac Hobswan morre. E a terra se torna silenciosa...



O filme trata do mundo sem ninguém. Sem ninguém? Bem, nem tanto... Mas o final..., ah que final!

Por que eu gosto deste filme? Bem, primeiro é uma boa história. Naturalmente ele trata de algo da natureza humana na mais absoluta solidão, como isto afeta o comportamento e como nos definimos pela presença das outras pessoas e assuntos afins.

Mas também trata de culpa, do medo, da incerteza, do valor, da redenção e de expectativas...

No fundo é uma boa história, com vários níveis de profundidade e várias interpretações. Dá para assistir como uma boa diversão e ver novamente com outros olhos.

terça-feira, 29 de março de 2011

Escolhas racionais? Nem tanto...

Há uma corrente econômica e social que se baseia na idéia que os agentes (pessoas) realizam escolhas racionais para tomar decisões. Em cima desta premissa é montado um edifício de argumentos teóricos para determinar o uso racional de recursos. No fundo isto está ligada a idéia de maximização da utilidade.

Mas como sempre, há uma pedra no meio do caminho. Quem disse que nossas escolhas são racionais? A verdade é que percebemos de modo diferente o ganho e a perda. Não é apenas uma questão de maximização do ganho, mas também uma questão de minimização da perda. E a questão é como percebemos perda.

Na teoria o agente tem reações racionais a perda. Mas na realidade não funcionamos assim.

E isto é mais sério do que parece.

Em termos simples, esta questão pode ser enunciada em termos de perdas certas e ganhos prováveis. Mesmo que as duas sejam matematicamente iguais, tendemos a escolher o lado dos ganhos prováveis.

Na realidade é pior: tendemos a escolher o lado dos ganhos prováveis mesmo quando são menos prováveis do que a perda certa.

Quer um exemplo?

Considere que estão passando dois filmes (X e Y) em cinemas próximos. Você queria ver X, mas estava lotado e com isso você compra o ticket para ver Y (que não é tão ruim, mas não é o filme X).


Até aqui está Ok.


Agora no caminho da bilheteria para a entrada do cinema, alguém lhe dá o ingresso de X e vai embora. Você vai ver X (que você não pagou nada) ou Y (que você pagou do seu dinheirinho para ver)?

A grande maioria vai ver Y, mesmo sendo X o filme que originalmente queria ver e mesmo que ECONOMICAMENTE a compra do ticket de Y equivale a compra do ticket de X.

E o mais interessante é que irão surgir literalmente dezenas de explicações para este comportamento aparentemente irracional: a mais comum é "Ah, já comprei este aqui. Depois eu vejo o outro".

É este tipo de comportamento que estimula o crescimento de bolhas econômicas e outras tragédias mais ou menos comuns do dia-a-dia (um exemplo é manter uma decisão ruim só para não se retratar).

Isto é intrínseco à nós mesmos. E temos de reconhecer isto e quando possível consertar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A revolução de Primeiro de Abril

Não, este post não é para falar mal ou bem do acontecido em 1964. O ponto é outro: como as pessoas torcem o que aconteceu de acordo com suas conveniências.

Vamos aos fatos, em 13 de março de 1964, Jango fez seu famoso comício das reformas de base na Central do Brasil. Cerca de 200 mil pessoas estiveram presentes (entre eles um certo estudante chamado José Serra). Fala-se que este foi o estopim para o golpe.

Mas no dia 19 de março uma passeata ainda maior foi realizada em São Paulo. Esta foi a famosa marcha da família com Deus pela liberdade. Só que a passeata foi contrária ao teor do comício de Jango.

Qual é a lição? Havia uma polarização naquela época. Esta polarização não era povo contra militares. Mas "povo contra povo".

Mas não é só isso. Em 2 de abril de 1964 realizou-se no Rio de Janeiro a Marcha da Vitória. Nela participaram cerca de 1 milhão de pessoas.

Ou seja: havia uma pancada de gente civil apoiando a tomada do poder pelos militares. Isto derruba novamente a tese do "povo contra militares" e reafirma a tese do "povo contra povo".

Este esquecimento que o golpe teve apoio popular é proposital. É algo que podemos encontrar hoje na política e mesmo no comportamento geral da sociedade. Falha de caráter? Não creio que chegue a tanto, talvez seja um pouco de vergonha.

Mas a coisa não para por aqui... Bem antes, em 1961 já havia muita gente querendo fazer revolução nos moldes cubanos no Brasil. As sementes do "povo contra povo" foram lançadas bem antes de 1964.

Mais sobre o Filme de Moore

O problema do cinema documental é que ele é um daqueles meios aonde o ponto de vista do cineasta tende a ser aceito como a verdade. Só que é só ponto de vista.

Um exemplo: há diversas cenas de pessoas que perderam suas casas. Mas a enorme maioria foi porque tomaram um segundo mortgage na própria casa. São vítimas? Certamente que sim, são vítimas da dinâmica de uma bolha imobiliária. Mas como todo golpe (confidence scam), não é possível negar a parcela de culpa involuntária na entrada do mesmo.

Tudo isto que falei não tira força de parte da crítica de Moore, afinal as empresas podem eventualmente burlar leis na sua busca do lucro. O caso do seguro dead peasants é bastante emblemático (se o mesmo for realizado sem a anuência do segurado). Mas o documentário por vezes não deixa claro se o seguro foi ou não realizado com esta anuência.

No caso das grandes corporações, o que se vê é a velha mistura entre o público e o privado. O fundo de bilhões de dólares usado no resgate de vários bancos é uma contradição viva da máxima do capitalismo de competição equilibrada (sem jogo sujo). Pior ainda é contrário ao espírito do capitalismo de ganhos e perdas. Ao socializarmos a perda e privatizarmos o ganho não estamos seguindo este espírito.

Ao traçarmos um paralelo entre a competição na ecologia e nos mercados vemos que não há porque esperar que empresas perdurem indefinidamente. Mercados de oportunidade (como o de aluguel de fitas de vídeo) tem data para acabar. Já outros mercados podem até não ter data, mas certamente esquecem de componentes de sazonalidade que modificam a taxa de sucesso destes mercados.

Então, é possível esperar que após um determinado número de anos, uma empresa considerada antes como pilar de sustentação do mercado entre em colapso. O que não é possível prever é quando isto vai acontecer.

No caso dos empregados, o melhor a fazer é manter algum tipo de previdência para caso/ quando isto acontecer, todos tenham alguma forma de sustento adequada. E daí as loucuras de bolhas financeiras costumam falar mais alto do que a racionalidade financeira - e aí empresários e empregados apostos por vezes sem o colateral necessário.

domingo, 27 de março de 2011

Capitalism - a love story

O título já dá uma idéia. É o filme de Michael Moore que vi hoje. Aqui temos um pedaço do trailer.


Naturalmente, mesmo com o valor de entretenimento e crítica, o filme continua sendo uma visão do autor sobre o capitalismo. E com isto não pode ser tomado inteiramente como "a verdade".

Algo que me chamou a atenção foi a confusão entre o capitalismo e democracia. Não existe antagonismo real entre os dois. Não existe porque um é sistema econômico e outro é sistema de governo. O antagonismo é falso, e dentro do próprio filme isto é perfeitamente possível de ver.

Infelizmente, ele passa esta idéia do antagonismo ligando o sistema eleitoral a uma manipulação dos poderosos (cheios de dinheiro na concepção de Moore). Na realidade isto não é exclusivo do capitalismo e já acompanha governos já a muito tempo. No fundo é o velho problema de socializar a miséria e privatizar o lucro.

Este tipo de situação é mais comum quando o Estado ajuda interesses privados ao invés de interesses públicos (se isto soa como uma característica do Brasil, acreditem não é só aqui. Aqui temos o negócio mais descarado apenas).

E no fundo, muitas das críticas de Moore encaixam-se como uma luva na questão do público versus privado. Naturalmente temos de esquecer os tiques de teoria de conspiração, o que aconteceu beirou mesmo o desespero. E o medo vende muito bem mesmo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A solução simples, e frequentemente errada

Nesta quarta teve o julgamento no STF a respeito do ficha limpa. Sem dúvida foi um momento complicado quando a aplicação do mesmo para as eleições do ano passado foi derrubada. Mas aí esta uma lição que temos de aprender de um modo ou de outro.

A lição é simples: problemas tem em geral diversas soluções. Mas dentro destas soluções existe um conjunto que traz novos problemas sem necessariamente resolver a questão original. Normalmente, estas soluções são usadas quando não se conhece direito o problema, se procura resolver o problema errado, ou não se sabe exatamente o que a resolução do problema irá causar.

A idéia do ficha limpa é boa. Mas da forma que foi feita iria eventualmente causar mais dano do que bem. Esta é uma lição difícil de aprender, principalmente quando o benefício imediato é muito bom. E aí vem a regra: se parece muito bom então provavelmente não é.

Então sabemos que a Lei Ficha Limpa tem problemas. Como resolvê-los?

Aqui eu faço algumas sugestões:
  1. A lei não poderá revogar a vontade popular. Em termos simples, isto é a famosa decisão no tapetão. Em suma usa-se o judiciário para "consertar" os erros da vontade popular. Bem, isto não é muito democrático e simplesmente transfere o poder de decidir do eleitor para os juízes.
  2. A lei não pode punir algo que não era crime. Pode-se argumentar o que quiser sobre o ato jurídico perfeito, mas quando se tenta torcer a causalidade, temos uma série de situações que são, apropriadamente, chamada de paradoxos. E uma das características destes paradoxos é que eles tendem a destruir a construção que se deseja preservar (como defender a consistência de uma lei se ela vale para antes de ter sido criada?)
  3. A lei não pode punir sem julgamento. A definição de um ficha suja tem que ser absolutamente clara e transparente não só para sociedade, mas para o conjunto de regras de chamamos de Leis. Se esta definição for estabelecida por um grupo de representatividade limitada, então qualquer pode ser um ficha suja dependendo do grupo que o julgar.
Naturalmente, um grande problema que não é da Lei Ficha Limpa, mas da justiça brasileira é que o ritmo judicial é extremamente lento. Mas aí estamos querendo criar uma lei que funcione como um atalho nestes caminhos. Isto é terreno delicado, mas existem soluções possíveis.
  1. A primeira delas é que a Lei tem de satisfazer a vontade popular. Logo não pode ser usada para cassar políticos após a eleição. Ela só deve ser usada como critério para permitir a inscrição de políticos ao pleito. Assim, o político que não satisfaz os critérios do Ficha Limpa não pode ter sua inscrição homologada.
  2. A segunda delas é que a Lei tem que satisfazer a causalidade. Não se pode impedir a inscrição de alguém que realizou algum ato que era perfeitamente lícito na época que aconteceu e depois passou a ser ilícito por lei posterior. Este é o tipo de estrada que desagua na arbitrariedade.
  3. A terceira delas é que a Lei tem que satisfazer o direito a ampla defesa. Ou seja, só vale para casos que são considerados crimes julgados. Não basta só que o candidato tenha renunciado para escapar de um julgamento anterior. A solução é que na existência de uma denúncia formal, a renúncia deveria desqualificar o candidato até que fosse julgada a pertinência da denúncia (algo não dissimilar ao julgamento in absentia).
Assim, o problema tem conserto. Mas precisa ser consertado

quinta-feira, 24 de março de 2011

Alunos da Faculdade do Gama pedem para resolver o problema

Vocês estão vendo aos alunos da FGA ocupando a reitoria por conta dos atrasos na demora da entrega do campos. E por conta disso mesmo, resolvi incluir um pequeno comentário de Max Gehringer que tem alguma pertinência com a situação.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Notícia Maluca

Eu tenho minhas reclamações com as notícias da SECOM, mas esta aqui bateu o recorde:

Na UnB Ceilândia, os alunos também realizam assembleia sobre a conclusão de sua sede definitiva. Prevista para ser entregue em abril, a construção é de responsabilidade da Novacap. Sem o novo prédio, algumas disciplinas optativas e de laboratórios não podem ser ofertadas. As aulas já começaram e acontecem normalmente

Alguém me explique como fazer sentido desta notícia. Algumas disciplinas optativas e laboratórios não podem ser ofertados, mas as aulas já começaram e acontecem normalmente?

Exatamente qual é o sentido de normal que foi utilizado na sentença?

Papel guardado na gaveta

Já me disseram várias vezes que objetos guardados por muito tempo indicam o grau de sua inutilidade. Bem, eu não concordo muito com isso, mas devo dizer que em termos de informática um arquivo com mais de 2 anos sem acesso muito provavelmente não serve para nada.

E isto me leva a dois pontos: ontem resolvi apagar uma conta que não acessava fazia pelo menos 2 anos. Eu nem fazia idéia dos arquivos que lá estavam. E além do mais, eu tinha acabado de fazer backup. Bem, neste ponto eu tenho que informar algo: no mesmo computador eu tinha outra conta que acessava bastante, não havia nenhum dia que eu não fizesse login.

Pois bem, evidentemente eu apaguei a conta errada.

Felizmente lembrei que havia feito o backup e com isto o problema real era apenas os programas que porventura eu tivesse instalado naquela conta apenas. Bem, depois de racionalizar um pouco eu vi que não havia razão para pânico.

Mas isto me deixou pensando em alguma práticas boas que fiz naquela conta. A mais interessante é que eu não guardava nada na pasta privada, mas na pasta pública. Eu sei que isto torna tudo um pouco mais inseguro, mas definitivamente é uma forma de alívio caso precise acessar o material de outra conta.

O que me leva ao segundo ponto: há práticas que podem ser seguidas de forma a evitar a perda dos dados. A primeira dela é redundância (backups). Mas a mais importante delas é o uso.

Sim, pois se não usarmos então realmente não nos interessa (pode interessar a outros, mas certamente não é nossa prioridade). E a menos que sejamos muito organizados, em pouco tempo não saberemos sequer para que servia aquela informação.

Cada diretório deveria ter uma explicação sobre o que são os arquivos naquele diretório. Ou seja, algo que fosse composto por uma lista descrevendo algumas funcionalidades. Está complicado demais? Que tal desenvolver TAGS para os arquivos? Se os arquivos tem TAGS fica mais fácil de identifica-los.

Naturalmente, todas as alternativas para se evitar a obsolecência de arquivos guardados em computadores envolve alguma dose de trabalho NA CRIAÇÃO DO ARQUIVO.

Pena que somos, na maioria, muito preguiçosos

terça-feira, 22 de março de 2011

Uma época de iluminação

Acredito que vivemos hoje uma época de iluminação. Não pela clareza dos eventos, mas pela contradição de suas interpretação. Paradoxal? Nem tanto...

Pense da seguinte forma: alguém dá uma interpretação para um evento mundial (histórico de preferência - como as revoltas na Líbia). Daí poucos dias depois, há determinado desenvolvimento que contradiz de modo inequívoco a interpretação oferecida anteriormente.

Ao confrontarmos o "interpretador" com a realidade vemos: contemporização, auto-engano, má-fé ou a velha e boa estupidez.

Vamos ao caso da Líbia. Temos gente favorável à intervenção e contrário a intervenção. Mas sabe que grande parte dos dois lados é contra o Kadafi? Yep, mesmo o pessoal contra intervenção é contra Kadafi na sua maioria.

Mas então qual é a proposta deles? Que a queda de Kadafi seja fruto exclusivo da revolta popular - sem auxílio do potências estrangeiras. Mas o problema é que isto não estava acontecendo, Kadafi estava esmagando a revolta (possivelmente matando os rebeldes).

E aí? Como ficam? Ao defender a inação, defende-se o tirano? E os exemplos aonde a inação levou à morte de muita gente (Darfur e Ruanda vem logo à memória). Então inação levará parte da população à morte.

Mas a coisa fica mais interessante: uma ação também deve levar parte da população à morte. Isso sem falar na questão da resolução da ONU (que é completamente maluca - praticamente toma partido em problemas internos da Líbia.

Mas isto não impediu que os tolos de plantão fizessem suas análise tolas.

Só que a pergunta realmente importante é: qual é o caminho do menor mal?

Eu não sei a resposta

Uma nova forma de arte?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Reclamações na Telefonia Celular

Todos falam que a campeão de reclamações é a telefonia celular. Isto é absolutamente verdadeiro e ao mesmo tempo não conta toda a história.

Dependendo de como fazemos os cálculos a telefonia celular pode ficar muito ruim ou muito boa. Como é possível? Bem, nos dados brutos não há menor dúvida: telefonia celular é realmente a líder de reclamações.

No anuário do Procon de SP temos:

  1. Telefônica (Fixo)- com 3134 reclamações
  2. Claro - com 925 reclamações
  3. Eletropaulo - com 863 reclamações
  4. Net  - com 692 reclamações
  5. Oi - com 665 reclamações
  6. TIM  - com 574 reclamações

Então não há margens para dúvidas, certo?

Beemmm, depende... Se olharmos a base de consumidores envolvida veremos que de repente o ranking nacional passa a ter outro significado. Temos que o número passa a ser
  1. TIM - 4.59 reclamações a cada 100 mil aparelhos
  2. Oi - 8.40 reclamações a cada 100 mil aparelhos
  3. Claro - 6.26 reclamações a cada 100 mil aparelhos
  4. Vivo - 1.54 reclamações a cada 100 mil aparelhos
Faça as contas da percentagem de reclamações por aparelhos... Naturalmente vai dar CPI.

Mais de Jaqueline

Não, não estou defendendo o que ela fez. Estou mostrando o que realmente está acontecendo. Em notícia hoje, o integrante do Conselho de Ética da Câmara afirmou:

- Ética não Caduca!

Certíssimo. Mas vamos ao momento "atire a primeira pedra"? Pois bem, o autor da frase deputado Assis Carvalho deveria lembrar que ele mesmo andou mentindo - e sendo descoberto.

Como?

Ora, ele afirmou que não há inquérito policial do STF aonde ele é acusado de suposta prática de delito.

Veja o que ele disse:

Nunca houve, quando da gestão do deputado Assis Carvalho, qualquer forma de apropriação indébita previdenciária. O próprio INSS, em despacho do Processo 10384.007561/2008-91, isentou o gestor Assis Carvalho de qualquer responsabilidade, com base nas leis 11.941/09 e 12.024/09. A consulta ao processo, em caso de dúvida, pode ser feita na Secretaria da Receita Federal.
Não existe qualquer processo no STF contra o deputado Assis Carvalho, mas tão somente um pedido do Ministério Público Federal àquela corte para que pudesse investigar suposta irregularidade, tendo em vista que o deputado tem foro privilegiado.
Por fim, não há motivo para investigação por parte do Ministério Público Federal, considerando ser esta matéria superada e inclusive arquivada no INSS. Desta feita, o deputado Assis Carvalho, por meio de sua assessoria jurídica tomará as devidas providências a fim de extinguir tal procedimento investigatório.


Infelizmente, ele mentiu.


Um pequeno adendo: naturalmente, o deputado pode muito bem ser totalmente inocente de todas as acusações. O ponto aqui é que ele deveria saber que não se deve julgar antes de conhecer todos os fatos - ou pelo menos um conjunto razoável dos mesmos.

Posar como guardião da moralidade é complicado quando existe alguma sombra sobre o manto da ética, a qual poderia ser facilmente ser confundida com uma mancha verdadeira.

E, vejam só, nem falei da questão que o partido dele também tem manchas verdadeira no próprio manto.

O elefante na sala

Ao ler sobre as aventuras de Durval Barbosa e Jaqueline Roriz não posso deixar de pensar no óbvio. A própria promotoria parece que acordou de sua letargia. O vídeo de Jaqueline e o mais recente com o próprio Durval deixam claro o uso dos mesmos com finalidades de extorsão.
Podem ver aqui mesmo

E daí?
Bem, a divulgação destes dois últimos vídeos indicam duas coisas:

  1. A promotoria e a PF não possuem controle nenhum sobre os mesmo. Ou na pior hipótese: são cúmplices de Durval Barbosa
  2. O esquema de extorsão continua funcionando, bem como o uso político das fitas. Como a gravação de Jaqueline é de 2006 não há desculpas sem inclusão de má-fé para vazamento depois da posse ao invés de em conjunto com as demais gravações

E aí fica configurado o seguinte quadro: O interesse dos envolvidos aqui não é resolver o problema e punir os culpados, mas alavancar seus próprios interesses não importando que regras sejam quebradas.

Em outras palavras: não há mocinhos

sábado, 12 de março de 2011

Os acidentes de Carnaval - Probabilidades

Sob a ótica da probabilidade, as chances de vítimas fatais em acidentes não mudaram muito desde 2003. A média fica em torno de 1 vítima fatal a cada 18 acidentes:


  • 2003 - 1 a cada  21.6569
  • 2004 - 1 a cada  16.0544
  • 2005 - 1 a cada  14.3446
  • 2006 - 1 a cada  17.7460
  • 2007 - 1 a cada  16.2621
  • 2008 - 1 a cada  18.7188
  • 2009 - 1 a cada  22.5591
  • 2010 - 1 a cada  22.6084
  • 2011 - 1 a cada  19.5540

A média dá 1 a cada 18.83. Se dividirmos o número total de acidentes pelo número total de vítimas chegamos a 1 a cada 18.72. Se fizermos o cálculo de 2003 a 2010 chegamos a 18.55 e de 2003 a 2009 chegamos a 1 a cada 17.93.

Então podemos assumir que as chances de 1 vítima fatal a cada 18 acidentes são mais ou menos constantes (Talvez 10 a cada 185 fosse melhor, mas a aproximação é razoável).

E com relação a frota? O número é próximo de 1 acidente a cada 18 mil veículos (o que dá para o Carnaval 1 vítima fatal a cada  340 mil veículos).. Mas há mais informações no Portal do Trânsito.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Os acidentes de Carnaval - histórico

Como todos feriados mais longos no Brasil, o Carnaval apresenta a tendência de aumento no número de vítimas fatais durante sua ocorrência

Graças a internet, podemos ver como a coisa vem evoluindo:

  • Em 2003 tivemos 2209 acidentes com 102 mortos
  • Em 2004 tivemos 2360 acidentes com 147 mortos
  • Em 2005 tivemos 2123 acidentes com 148 mortos
  • Em 2006 tivemos 2236 acidentes com 126 mortos
  • Em 2007 tivemos 2358 acidentes com 145 mortos
  • Em 2008 tivemos 2396 acidentes com 128 mortos
  • Em 2009 tivemos 2865 acidentes com 127 mortos
  • Em 2010 tivemos 3233 acidentes com 143 mortos
  • Em 2011 tivemos 4165 acidentes com 213 mortos


Notaram algo? Não? Vamos tentar calcular o coeficiente de correlação entre o número de acidentes e o número de mortos. O resultado é 0.785 - o que indica forte correlação. Mas a reta que descreve esta relação é dada por: número de vítimas = 0.0358 * número de acidentes + 46.96.

E aí a coisa começa a ficar estranha: se o número de acidentes for zero ainda teremos 47 vítimas? Certamente que não. Este problema é de modelagem. Se excluirmos o ano de 2011 teremos uma nova correlação: 0.1734. Esta correlação é baixa, que leva a uma equação bem diferente: número de vítimas = 0.0072 * número de acidentes + 115.49. Se excluirmos 2011 e 2010 a coisa fica ainda mais curiosa: o coeficiente de reflexão passa a ser negativo e igual a -0.0506. Isto para todos efeitos prático significa ausência de correlação. E a equação passa a ser: número de vítimas = -0.0034 * número de acidentes + 140.01.

Este é um indicador que pelo menos até 2009 o aumento no número de acidentes não causava necessariamente o aumento no número de vítimas. Ou seja, o número era mais ou menos estável. Este tipo de análise indica claramente que há mais fatores envolvendo ou favorecendo a ocorrência de vítimas fatais.


Qual seriam os outros parâmetros? Frota de veículos? Se relacionarmos a frota com o número de acidentes veremos uma curva quase quadrática. Então temos um relacionamento entre o número de acidentes e o número de veículos. Mas já quanto ao número de vítimas a coisa não é tão simples. A frota pode ser vista aqui:
  • 2003 - 36090450
  • 2004 - 37249677
  • 2005 - 39858284
  • 2006 - 42810617
  • 2007 - 46256874
  • 2008 - 50754344
  • 2009 - 55567617
  • 2010 - 60583473
  • 2011 - 64817974 (dezembro de 2010)
Talvez haja mais nesse modelo. Talvez exista um ponto de corte aonde um novo regime passa a ocorrer. Isto é difícil de ver aqui. 

quarta-feira, 9 de março de 2011

Crédito, Custos e Capitalismo - o grande X da questão

Conforme já mencionei em outros posts anteriores, há certos elementos da sociedade que não aparecem na análise de "O Capital". Mas um elemento cuja ausência salta a vista é o crédito.

O crédito é central ao modelo capitalista. Mais ainda, o crédito barato é central ao modo capitalista. O fato é que a disponibilidade de recursos baratos para empreitadas é literalmente o cerne da coisa.

Vamos a um exemplo simples: vamos dizer que você precisa comprar um carro. Se seu salário é de R$ 3.000,00 e o carro custa R$ 16.000,00, então claramente você tem um problema. Como resolvê-lo? Há duas possibilidades: ou você economiza ou pede o dinheiro emprestado. Se economizar, dependendo dos seus gastos necessários, você pode comprar o carro em alguns meses/anos.

Vamos dizer que você economize e que dos R$ 3.000,00 você pode guardar R$ 1.000,00 por mês. Vamos supor ainda que ao economizar você ganhe um retorno de 1% para cada mês que você economizou. Então a seqüência é a seguinte:

  • Mês 1: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 1.000,00
  • Mês 2: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 2.010,00
  • Mês 3: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 3.030,10
  • Mês 4: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 4.060,40
  • Mês 5: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 5.100,00
  • Mês 6: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 6.152,02
  • Mês 7: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 7.213,54
  • Mês 8: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 8.285,67
  • Mês 9: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 9.368,53
  • Mês 10: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 10.462,21
  • Mês 11: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 11.566,83
  • Mês 12: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 12.682,50
  • Mês 13: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 13.809,33
  • Mês 14: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 14.947,42
  • Mês 15: economizou R$ 1.000,00 - total acumulado R$ 16.096,90

Então em 15 meses, você teria recursos suficientes para comprar o carro. Muito bem, esta é a primeira opção. Vamos a segunda, você pega um empréstimo de R$ 16.000,00 para comprar o carro. Evidente que o banco irá cobrar juros, mas por simplicidade vamos considerar o mesmo juro fixo de 1% ao mês. Vamos considerar que você só pode pagar também até os R$ 1.000,00 que seu orçamento suporta. Neste caso:

  • Mês 1: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 15.150,00
  • Mês 2: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 14.291,50
  • Mês 3: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 13.424,42
  • Mês 4: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 12.548,66
  • Mês 5: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 11.664,15
  • Mês 6: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 10.770,79
  • Mês 7: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 9.868,50
  • Mês 8: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 8.957,18
  • Mês 9: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 8.036,75
  • Mês 10: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 7.107,12
  • Mês 11: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 6.168,19
  • Mês 12: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 5.219,87
  • Mês 13: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 4.262,07
  • Mês 14: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 3.294,69
  • Mês 15: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 2.317,64
  • Mês 16: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 1.330,82
  • Mês 17: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 334,12
  • Mês 18: economizou R$ 337,47 - faltam R$ 0,00

Portanto, o efeito foi o de pagar R$ 18.000,00 ao invés de R$ 16.000,00 - 12.5% a mais. A desvantagem é que se paga a mais do que deveria pagar se ao invés disso usássemos o método de economizar. Mas a vantagem é que o bem estará imediatamente a disposição.

Muito bem, este é o caso que o bem não irá lhe render dinheiro. Mas vamos dizer que você use este carro como taxi. E como tal ele irá render algo mensalmente (vamos supor R$ 200,00 por mês). Se você usar este valor adicional no pagamento, de repente a idéia de se comprar a crédito (pagando juro não é tão ruim assim). Veja por si mesmo, ao invés de pagarmos R$ 1.000,00 por mês, passamos a pagar R$ 1.200,00 então:
  • Mês 1: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 14.180,00
  • Mês 2: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 13.736,00
  • Mês 3: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 12.661,36
  • Mês 4: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 11.575,97
  • Mês 5: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 10.479,73
  • Mês 6: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 9.352,53
  • Mês 7: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 8.254,26
  • Mês 8: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 7.124,80
  • Mês 9: economizou R$ 1.200,00 - faltam R$ 5.984,05
  • Mês 10: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 4.831,89
  • Mês 11: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 3.668,21
  • Mês 12: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 2.492,89
  • Mês 13: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 1.305,82
  • Mês 14: economizou R$ 1.000,00 - faltam R$ 106,88
  • Mês 15: economizou R$ 107,94 - faltam R$ 0,00

Então de repente, comprar a vista e a prazo deixam de ter diferenças significativas - tudo porque o bem que você comprou passou a render para você. Naturalmente, ao final destes 15 meses, o seu recurso disponível por mês passará de R$ 2.000,00 (lembre-se que você usava R$ 1.000,00 para pagar o banco, além do que o taxi lhe fornecia) para R$ 3.200,00 ao mês. Naturalmente, quanto maior o rendimento do negócio e quanto menor for o juro, menos tempo será necessário para pagar o banco.

Isto não estava no livro

terça-feira, 8 de março de 2011

Custos, Corrupção e Realidade - 8 bi versus 16 bi

Há uma percepção na sociedade brasileira de que o aumento dos custos de construção de obras públicas é devido a corrupção. Parte desta percepção é verdadeira, mas como tudo na realidade, parte dela é falsa.

Paralisar uma obra custa dinheiro. Isto não é causa direta de corrupção: uma paralisação por um longo tempo pode dobrar o custo de uma obra (ou mais). Se esquecermos o custo de mão de obra, equipamentos e outros fatores ponderáveis, sobra o efeito natural de desgaste que uma obra parada sofre - uma depreciação física. Dependendo do tempo que a obra ficar paralisada, a sua continuação pode acabar custando o mesmo que o início de obra nova ou até mais (pode ser necessária alguma demolição).

Então logo a primeira vista, vê-se que existe um equilíbrio entre o conceito de embargar uma obra e o conceito do uso eficiente de recursos públicos. Mas, como tudo por aqui, este problema raramente é investigado em detalhes ou sequer considerado problema (no Brasil resolver um problema não significa necessariamente encontrar e aplicar uma solução para o mesmo).

Mas esta não é a única questão. Estimar custos por si só é um esporte arriscado. Há muita dificuldade em determinar com precisão o custo de algum item. Vejamos um exemplo: a Copa de 2010 teve seus estádios custando o dobro do que inicialmente planejado. Mas isto não é nada comparado aos outros custos envolvidos. Claro que o uso dos Estádios na Copa não teriam como cobrir este custo.

Mas e outros países? Na Copa de 2006, a Alemanha investiu US$ 5 bilhões e teve um retorno aparente de US$ 12 bilhões.

O problema é que ninguém sabe direito como mensurar isto...

Dado que teremos uma Copa quase 8 anos depois da Alemanha e supondo 6% ao ano de inflação, no final de 8 anos temos cerca de US$ 8 bilhões. Isto levando em conta o que custaria na Alemanha.

No caso brasileiro não é nada a se espantar se isto ficar mais perto de US$ 16 bilhões.

Falei anteriormente da paralisação de obras e seu custo. Mas existe o outro lado da questão: acelerar uma obra também custa dinheiro. E pode muito bem custar o dobro ou mais do custo planejado.

No final das contas não há como se escapar: por incompetência, ignorância ou má-fé os custos da nossa Copa certamente serão maiores do que o esperado.

Mas não fique triste, o caso das Olimpiadas é ainda mais sério

segunda-feira, 7 de março de 2011

Teoria da Relatividade ou Teoria da Invariância?

Às vezes um nome é tudo. Pegue por exemplo o nome "Teoria da Relatividade", o que você pensa quando ouve algo assim? Que tudo é relativo?

E aí mora o problema. A Teoria da Relatividade de Einstein poderia ter muito bem se chamado Teoria da Invariância. E estaria dizendo precisamente a mesma coisa. Sabem por que? Porque um conceito central a teoria é justamente a invariância da velocidade da luz.

Yep. É isso mesmo, olhem só os postulados da Teoria da Relatividade:

  1. As leis que governam as mudanças de estado em quaisquer sistemas físicos tomam a mesma forma em quaisquer sistemas de coordenadas inerciais.
  2. A luz tem velocidade invariante igual a c em relação a qualquer sistema de coordenadas inercial.

Notaram que o imaginário do "relativo" não condiz muito bem com os postulados acima. Então aquela história de "tudo é relativo" é papo de quem não sabe do que está falando.

E nem vamos entrar na questão das tolices acerca do significado de que a Teoria da Evolução possui um sentido moral intrínseco.

Robert Cop e a Pirataria

Não há erro no título, eu realmente estou falando de Robert Cop. Ele bem que poderia ser considerado o garoto propaganda para pirataria de produtos (há sites com vários exemplos - alguns hilários)

A maioria destas imitações vêm da China. Mas este ponto é pouco relevante no contexto do problema (exceto, é claro pelo volume envolvido). O meu ponto é mais profundo: por que temos pirataria? Há muitas explicações. Mas o que está por trás da dinâmica é mais interessante: os piratas de produto existem porque há mercado para eles.

Para que desapareçam basta que este mercado seja economicamente inviável. Neste ponto é importante ressaltar que não são necessariamente ações de governo que favorecem a pirataria. Temos uma indústria por trás da mesma e não é uma coisa que possa se dizer que ninguém fazia idéia.

Não! A pirataria existe porque o mercado assim permite. Em poucas palavras, há uma série de regras no sistema que permitem que haja um mercado para produtos piratas. Estas regras podem ter sido determinadas pelos governos ou mesmo pelos participantes do mercado.

Eu suspeito que no fundo temos uma clássica situação de tentativa de monopólio sendo corroída por pessoas menos respeitadoras de regras que não condizem com o funcionamento do mercado em si. Nesta categoria temos toda uma série de produtos que acabam ficando "mais caros" do que o mercado deseja originalmente pagar.

Talvez haja questões mais profundas aí, advindas da questão dos frutos do trabalho e o que consiste no pagamento justo pelos frutos do trabalho (que não abala muito quando se fala de trabalhadores não especializados, mas causa comoções quando são de outro tipo).

No fundo a questão real é: até onde deve ir o copyright?

O Ovo ou a Galinha, ou o dilema Tostines

O público faz a audiência ou a audiência faz o público?

Esta é uma perguntinha difícil. Olhando a internet é possível encontrar gente que afirma categoricamente que a audiência (ou sua medição) é uma forma de influenciar o público e tornar o evento mais popular.

Mas não é de modo algum tão simples assim. Primeiro que este mecanismo de realimentação é muito menos poderoso do que se imagina (você olha o Ibope regularmente?). Há realmente uma componente social nesta situação. Só que não é nada tão poderoso quanto se tentar imaginar.

Se você parar para pensar vai ver que o controle que os teóricos da conspiração afirmam existir não pode ser real (senão ficava fácil mandar as pessoas obedecerem). Mas falta de lógica nunca impediu a propagação dos maiores absurdos..

Então vamos ver: idealmente a audiência é um forma de medir quantas pessoas estão assistindo, mas segundo alguns audiências muito elevadas irão causar aumento no número de pessoas? A primeira pergunta que vem a mente é: a partir de que ponto que isto acontece?

Se a audiência é uma função do público então: aud(pub). Idealmente aud(pub) = k* pub. Mas segundo esta idéia de inter-relacionamento então temos um conjunto: aud(pub) = k*pub e pub(aud) = w*aud

Pela relação de proporcionalidade e bijeção w=1/k. No fundo a segunda relação é a função inversa da primeira:

aud(pub) = k*pub = k*w*aud -> aud = aud

Para que haja esta relação de crescimento mútuo então teríamos de ter algo além da proporcionalidade. Vamos dizer então que aud(pub) = tanh(k*pub)

Para pequenos valores de k*pub, teremos a relação linear, enquanto para valores maiores teremos uma relação mais não linear. O problema é o seguinte: se aud(pub) é um percentual da audiência, então temos dois pontos fixos para satisfazer (0 e 1). No caso quando pub=1, aud =1 e quando pub=0, aud =0

Fica fácil de ver que este tipo de relacionamento é limitante:

Se tivermos uma relação linear aud= a0+a1*pub, neste caso a0=0 e a1=1
Se a a relação for quadrática temos: aud=a0+a1*pub+a2*pub^2. De novo a0=0, mas a1+a2=1 (e este relacionamento irá determinar o restante do problema).

Na medida que a1 for mais próximo de 1, então mais próximo do caso linear estaremos.

Muito bem, então temos esta relação. Ela não satisfaz a idéia que a aferição na audiência modifica a quantidade de pessoas, mas já mostra que pode existir polarização (que pode ser facilmente corrigida utilizando uma amostragem).

Mas é possível ver que para que haja este tipo de modificação na quantidade de pessoas é necessário algum mecanismo de realimentação.

E este mecanismo eu não consigo enxergar...

Então: se alguém lhe disser que uma pesquisa altera o universo amostral pergunte: E como o universo amostral sabe desta pesquisa e o que ela disse?

terça-feira, 1 de março de 2011

O Sujeito Oculto

Este post não sobre português, mas sobre os "responsáveis por nossos problemas".  Adiantando um pouco, se você quer saber os responsáveis por parte do problemas basta olhar no espelho.

É muito tentador culpar um "terceiro ator oculto" pelos problemas. Mas a culpabilidade é muito mais terrena. No fundo, este tipo de explicação é fruto da idéia do "inimigo externo", ou seja culpamos os americanos, espanhóis, portugueses, ingleses, patrões, e afins por problemas arbitrários.

Os exemplos são os mais variados e costumam ocorrer por duas razões: ignorância ou má-fé. Por vezes são criações "ad-hoc" para explicar o que não se conhece, por vezes são bodes expiatórios destinados a distrair todos dos culpados verdadeiros.

Mas qualquer que seja o caso, pode ter certeza de uma coisa: quando estes "sujeitos ocultos" surgem para "explicar" as causas do problema, eles realmente não fazem isto. Eles servem apenas como uma "face" para se atribuir culpa. Nesta triste situação, o mais importante é achar um culpado e não resolver o problema.

No fundo existe um vitimismo inerente na atribuição do "sujeito oculto". Expiamos nossas culpas em um cordeiro transformando em besta sacrificial enquanto permanecemos "puros".

No fundo é mesmo fugir de responsabilidade mesmo..