quinta-feira, 26 de maio de 2016

Contexto é fundamental

Na análise do contexto das gravações de Renan e Juca é fundamental descobrir algumas informações antes de fazer qualquer julgamento.

A primeira coisa que devemos fazer no casos desses áudios é estabelecer uma cronologia.

Pelas indicações na transcrição de ambos, as gravações ocorreram depois de 8 de março de 2016.

Isto é porque a popularidade de 18% de Moro em uma pesquisa para presidente que foi divulgada no dia 08/03/16.

Na transcrição da conversa com Jucá, Machado diz: "Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República". Então dá para colocar a data da gravação na vizinhança de 9 a 11 de março

O trecho na conversa com Renan:"Mesma coisa, já deu sinal com a filha do Eduardo e a mulher... Aquele negócio da filha do Eduardo, a porra da menina não tem nada, Renan, inclusive falsificaram o documento dela. Ela só é usuária de um cartão de crédito"

Esta notícia é de 09/03/16.

Já na conversa de Renan temos:"Que aí não entra só o petista, entra o legalista. Ontem o Cassio falou."

E aí eu aposto em 11/03/2016. A data é consistente com a condução coercitiva de Lula.

Então melhores chutes: a conversa de Romero ocorreu no dia 09/03 e a de Renan 11/03

Isto é depois da condução coercitiva de Lula. Mas antes da divulgação dos grampos de Lula por Moro.

Portanto, qualquer análise sobre o conteúdo tem de levar em conta o contexto que as conversas ocorreram depois da condução coercitiva de Lula mas antes da divulgação dos grampos por Moro. Ou seja, não havia ocorrido a mega manifestação pelo impeachment (13/03/2016) e a comissão do impeachment ainda não tinha sido formada (17/03/2016). (a cronologia pode ser vista aqui)

Vamos a uma cronologia das reviravoltas no processo na época das gravações então:

  • Delação de Delcídio do Amaral - 03/03/16
  • Condução coercitiva de Lula - 04/03/16
  • Protestos de 13 de março - 13/03/16
  • Lula Ministro - 16/03/16
  • Vazam áudios de conversas de Lula e Dilma - 16/03/16

Então, é a luz destes acontecimentos que devemos analisar as transcrições. No caso de Jucá:
"Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá - [concordando] Só o Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá - Com o Supremo, com tudo.
Machado - Com tudo, aí parava tudo.
Jucá - É. Delimitava onde está, pronto.
Machado - Parava tudo. Ou faz isso... Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República?"
Então parar neste contexto pode também ser interpretado como parar o processo de impeachment e não necessariamente fazer o impeachment. Já no caso de Renan:
"MACHADO - E essa é a preocupação. Porque é o seguinte, ela [Dilma] não se sustenta mais. Ela tem três saídas. A mais simples seria ela pedir licença...
RENAN - Eu tive essa conversa com ela.
MACHADO - Ela continuar presidente, o Michel assumiria e garantiria ela e o Lula, fazia um grande acordo. Ela tem três saídas: licença, renúncia ou impeachment. E vai ser rápido. A mais segura para ela é pedir licença e continuar presidente. Se ela continuar presidente, o Michel não é um sacana...
RENAN - A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova..."
Também pode ser interpretado como Temer governando sob a batuta de Lula.
"MACHADO - Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?
RENAN - O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá...
MACHADO - E ele estava, está disposto a assumir o governo?
RENAN - Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra...
MACHADO - Ela não tem força, Renan.
RENAN - Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu?"
Também pode ser interpretado (com um certo sentido) em um Lula primeiro ministro de facto.
"MACHADO - A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente.
RENAN - Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele...
MACHADO - Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela?
RENAN - Não, [com] ela eu converso, quem conversa com ela sou eu, rapaz."
De novo faz sentido a hipótese do parlamentarismo com Lula primeiro-ministro.
"MACHADO - [...] A meu ver, a grande chance, Renan, que a gente tem, é correr com aquele semi-parlamentarismo...
RENAN - Eu também acho.
MACHADO -...paralelo, não importa com o impeach... Com o impeachment de um lado e o semi-parlamentarismo do outro.
RENAN - Até se não dá em nada, dá no impeachment.
MACHADO - Dá no impeachment.
RENAN - É plano A e plano B.
MACHADO - Por ser semi-parlamentarismo já gera para a sociedade essa expectativa [inaudível]. E no bojo do semi-parlamentarismo fazer uma ampla negociação para [inaudível].
RENAN - Mas o que precisa fazer, só precisa tres três coisas: reforma política, naqueles dois pontos, o fim da proibição..."
Me parece que isto soa como um grande acordo para escapar da cadeia.
"MACHADO - E tem que encontrar, Renan, como foi feito na Anistia, com os militares, um processo que diz assim: 'Vamos passar o Brasil a limpo, daqui para frente é assim, pra trás...' [bate palmas] Porque senão esse pessoal vão ficar eternamente com uma espada na cabeça, não importa o governo, tudo é igual."
Só me faz acreditar em um grande acordão com Lula primeiro-ministro.
"MACHADO - Não dá pra ficar como está, precisa encontrar uma solução, porque se não vai todo mundo... Moeda de troca é preservar o governo [inaudível].
RENAN - [inaudível] sexta-feira. Conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Otavinho [a conversa] foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios tem cometido exageros e o João [provável referência a João Roberto Marinho] com aquela conversa de sempre, que não manda. [...] Ela [Dilma] disse a ele 'João, vocês tratam diferentemente de casos iguais. Nós temos vários indicativos'. E ele dizendo 'isso virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo.'
MACHADO - Efeito manada.
RENAN - Efeito manada. Quer dizer, uma maneira sutil de dizer "acabou", né."
Para mim essa é a pérola: Dilma se reunindo com os "donos da mídia" para debelar a crise.

Pois é, datas são fundamentais...

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Delações e Danações

Uma das delações mais bombásticas foi finalmente homologada. A delação de Sérgio Machado já se tornou dor de cabeça antes mesmo de começar.

Isto porque o próprio Sérgio Machado já divulgou áudios de conversas com Renan Calheiros e Romero Jucá. E aí é que o caldo entorna...

Eu vou colocar alguns trechos dos áudios para comentários e análises posteriores.
Primeiro Jucá.
Os áudios com legenda:

E agora Renan. Eu não sei se são apenas trechos ou o completo.


Com relação a transcrição, temos o seguinte:

Jucá:
Sérgio Machado - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisão de segunda instância], vai todo mundo delatar.
Romero Jucá - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo, e a Odebrecht, vão fazer.
Machado - Odebrecht vai fazer.
Jucá - Seletiva, mas vai fazer.
Machado - A Camargo vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
Jucá - [inaudível]
Machado - Hum?
Jucá - Mas como é que está sua situação?
Machado - Minha situação não tem nada, não pegou nada, mas ele quer jogar tudo pro Moro. Como não tem nada e como eu estou desligado...
Jucá - É, não tem conexão né...
Machado - Não tem conexão, aí joga pro Moro. Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu "desça"? Se eu descer...
Jucá - O que que você acha? Como é que voc...
Machado - Eu queria discutir com vocês. Eu cheguei a essa conclusão essa semana. Ele acha que eu sou o caixa de vocês, o Janot. Janot não vale "cibazol" [algo sem valor]. Quem esperar que ele vai ser amigo, não vai... [...] E ele está visando o Renan e vocês. E acha que eu sou o canal. Não encontrou nada, não tem nada.
Jucá - Nem vai encontrar, né, Sérgio.
Machado - Não encontrou nada, não tem nada, mas acha... O que é que faz? Como tem aquela delação do Paulo Roberto dos 500 mil e tem a delação do Ricardo, que é uma coisa solta, ele quer pegar essas duas coisas. 'Não tem nada contra os senadores, joga ele para baixo' [Curitiba]. Tem que encontrar uma maneira...
Jucá - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
Machado - Tem que ser uma coisa política e rápida. Eu acho que ele está querendo... o PMDB. Prende, e bota lá embaixo. Imaginou?
Jucá - Você conversou com o Renan?
Machado - Não, quis primeiro conversar contigo porque tu é o mais sensato de todos.
Jucá - Eu acho que a gente precisa articular uma ação política.
Machado -...quis conversar primeiro contigo, que tenho maior intimidade. Depois eu quero conversar com Sarney e o Renan, com vocês três. [...] Eu estou convencido, com essa sinalização que conseguiu do Eduardo [incompreensível]. Desvincula do Renan.
Jucá - Mas esse negócio do Eduardo está atacando [incompreensível].
Machado - Mas ele [Janot] está querendo pegar vocês, tenho certeza absoluta.
Jucá - Não tem duas dúvidas.
Machado - Não, tenho certeza absoluta. E ele não vale um 'cibazol'. É um cara raivoso, rancoroso e etc. Então como é que ele age? Como não encontrou nada nem vai encontrar. [inaudível]
Jucá - O Moro virou uma 'Torre de Londres'.
Machado - Torre de Londres.
Jucá - Mandava o coitado pra lá para o cara confessar.
Machado - Pro cara confessar. Então a gente tem que agir como [incompreensível] e pensar numa fórmula para encontrar uma solução para isso.
Jucá - Converse com ele [Renan], converse com o Sarney, ouça eles, e vamos sentar pra gente...
Machado - Isso, Romero, o que eu acho primeiro: que é bom pra gente.
[...]
Jucá - Eu acho que você deveria procurar o Sarney, devia procurar o Renan,e a gente voltar a conversar depois. [incompreensível] 'como é que é'.
Machado - É porque... Se descer, Romero, não dá.
Jucá - Não é um desastre porque não tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar exposto de uma forma sem necessidade. [...]
Machado - O Marcelo, o dono do Brasil, está preso há um ano. Sacanagem com Marcelo, rapaz, nunca vi coisa igual. Sacanagem com aquele André Esteves, nunca vi coisa igual.
Jucá - Rapaz... [concordando]
Machado - Outra coisa. A frouxidão de vocês em prender o Delcídio foi um negócio inacreditável. [O Senado concordou com prisão decretada pelo STF]
Jucá - Sim, pô, não adianta soltar o Delcidio, aí o PT dá uma nota, tira o cara, diz que o cara é culpado, como é que você segura uma porra dentro do plenário?
Machado - Mas o cara não foi preso em flagrante, tem que respeitar a lei. Respeito à lei, a lei diz clara...
Jucá - Pô, pois então. Ali não teve jeito não. A hora que o PT veio, entendeu, puxou o tapete dele, o Rui, a imprensa toda, os caras não seguraram, não.
Machado - Eu sei disso, foi uma cagada.
Jucá - Foi uma cagada geral.
Machado - Foi uma cagada geral. Foi uma cagada o Supremo fazer o que fez com o negócio de prender em segunda instância, isso é absurdo total que não que não dá interpretar, e ninguém fez nada. Ninguém fez ADIN, ninguém se questionou. Isso aí é para precipitar as delações. Romero, esquentou as delações, não escapa pedra...
Jucá - [incompreensível] no Brasil.
Machado - Não escapa pedra sobre pedra.
[incompreensível]
Machado - Eu estou com todos os certificados do TCU, agora me deram, não devo nada, zero. E isso adianta alguma coisa? Então estou preocupado.
Jucá - Não, tem que cuidar mesmo.
Machado - Eu estou preocupado porque estou vendo que esse negócio da filha do Eduardo, da mulher, foi uma advertência para mim. E das histórias que estou sabendo, o interesse é pegar vocês. Nós. E o Renan, sobretudo.
Jucá - Não, o alvo na fila é o Renan. Depois do Eduardo Cunha... É o Eduardo Cunha, a Dilma, e depois é o Renan.
Machado - E ele [Janot] não tem nada. Se ele tivesse alguma coisa, ele ia me manter aqui em cima, para poder me forçar aqui em cima, porque ele não vai dar esse troféu pro Moro. Como ele não tem nada, ele quer ver se o Moro arranca...
Jucá -...para subir de novo.
Machado -...para poder subir de novo. É esse o esquema. Agora, como fazer? Porque arranjar uma imunidade não tem como, não tem como. A gente tem que ter a saída porque é um perigo. E essa porra... A solução institucional demora ainda algum tempo, não acha?
Jucá - Tem que demorar três ou quatro meses no máximo. O país não aguenta mais do que isso, não.
Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá - [concordando] Só o Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá - Com o Supremo, com tudo.
Machado - Com tudo, aí parava tudo.
Jucá - É. Delimitava onde está, pronto.
Machado - Parava tudo. Ou faz isso... Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República?
Jucá - Não vi, não. O Moro?
Machado - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...
Jucá - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional não ganha eleição, não.
Machado - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...
Jucá - É, a gente viveu tudo.

Renan:
SÉRGIO MACHADO - Agora, Renan, a situação tá grave.
RENAN CALHEIROS - Grave e vai complicar. Porque Andrade fazer [delação], Odebrecht, OAS. [falando a outra pessoa, pede para ser feito um telefonema a um jornalista]
MACHADO - Todos vão fazer.
RENAN - Todos vão fazer.
MACHADO - E essa é a preocupação. Porque é o seguinte, ela [Dilma] não se sustenta mais. Ela tem três saídas. A mais simples seria ela pedir licença...
RENAN - Eu tive essa conversa com ela.
MACHADO - Ela continuar presidente, o Michel assumiria e garantiria ela e o Lula, fazia um grande acordo. Ela tem três saídas: licença, renúncia ou impeachment. E vai ser rápido. A mais segura para ela é pedir licença e continuar presidente. Se ela continuar presidente, o Michel não é um sacana...
RENAN - A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova...
[atende um telefonema com um jornalista]
RENAN - A perspectiva é daquele nosso amigo.
MACHADO - Meu amigo, então é isso, você tem trinta dias para resolver essa crise, não tem mais do que isso. A economia não se sustenta mais, está explodindo...
RENAN - Queres que eu faça uma avaliação verdadeira? Não acredito em 30 dias, não. Porque se a Odebrecht fala e essa mulher do João Santana fala, que é o que está posto...
[apresenta um secretário de governo de Alagoas]
MACHADO - O Janot é um filho da puta da maior, da maior...
RENAN - O Janot... [inaudível]
MACHADO - O Janot tem certeza que eu sou o caixa de vocês. Então o que que ele quer fazer? Ele não encontrou nada nem vai encontrar nada. Então ele quer me desvincular de vocês, mediante Ricardo e mediante e mediante do Paulo Roberto, dos 500 [mil reais], e me jogar para o Moro. E aí ele acha que o Moro, o Moro vai me mandar prender, aí quebra a resistência e aí fudeu. Então a gente de precisa [inaudível] presidente Sarney ter de encontro... Porque se me jogar lá embaixo, eu estou fodido. E aí fica uma coisa... E isso não é análise, ele está insinuando para pessoas que eu devo fazer [delação], aquela coisa toda... E isso não dá, isso quebra tudo isso que está sendo feito.
RENAN - [inaudível]
MACHADO - Renan, esse cara é mau, é mau, é mau. Agora, tem que administrar isso direito. Inclusive eu estou aqui desde ontem... Tem que ter uma ideia de como vai ser. Porque se esse vagabundo jogar lá embaixo, aí é uma merda. Queria ver se fazia uma conversa, vocês, que alternativa teria, porque aí eu me fodo.
RENAN - Sarney.
MACHADO - Sarney, fazer uma conversa particular. Com Romero, sei lá. E ver o que sai disso. Eu estou aqui para esperar vocês para poder ver, agora, é um vagabundo. Ele não tem nada contra você nem contra mim.
RENAN - Me disse [inaudível] 'ó, se o Renan tiver feito alguma coisa, que não sei, mas esse cara, porra, é um gênio. Porque nós não achamos nada.'
MACHADO - E já procuraram tudo.
RENAN - Tudo.
MACHADO - E não tem. Se tivesse alguma coisa contra você, já tinha jogado... E se tivesse coisa contra mim [inaudível]. A pressão que ele quer usar, que está insinuando, é que...
RENAN - Usou todo mundo.
MACHADO -...está dando prazos etc é que vai me apartar de vocês. Mesma coisa, já deu sinal com a filha do Eduardo e a mulher... Aquele negócio da filha do Eduardo, a porra da menina não tem nada, Renan, inclusive falsificaram o documento dela. Ela só é usuária de um cartão de crédito. E esse é o caminho [inaudível] das delações. Então precisa ser feito algo no Brasil para poder mudar jogo porque ninguém vai aguentar. Delcídio vai dizer alguma coisa de você?
RENAN - Deus me livre, Delcídio é o mais perigoso do mundo. O acordo [inaudível] era para ele gravar a gente, eu acho, fazer aquele negócio que o J Hawilla fez.
MACHADO - Que filho da puta, rapaz.
RENAN - É um rebotalho de gente.
MACHADO - E vocês trabalhando para poder salvar ele.
RENAN - [Mudando de assunto] Bom, isso aí então tem que conversar com o Sarney, com o teu advogado, que é muito bom. [inaudível] na delação.
MACHADO - Advogado não resolve isso.
RENAN - Traçar estratégia. [inaudível]
MACHADO - [inaudível] quanto a isso aí só tem estratégia política, o que se pode fazer.
RENAN - [inaudível] advogado, conversar, né, para agir judicialmente.
MACHADO - Como é que você sugeriria, daqui eu vou passar na casa do presidente Sarney.
RENAN - [inaudível]
MACHADO - Onde?
RENAN - Lá, ou na casa do Romero.
MACHADO - Na casa do Romero. Tá certo. Que horas mais ou menos?
RENAN - Não, a hora que você quiser eu vou estar por aqui, eu não vou sair não, eu vou só mais tarde vou encontrar o Michel.
MACHADO - Michel, como é que está, como é que está tua relação com o Michel?
RENAN - Michel, eu disse pra ele, tem que sumir, rapaz. Nós estamos apoiando ele, porque não é interessante brigar. Mas ele errou muito, negócio de Eduardo Cunha... O Jader me reclamou aqui, ele foi lá na casa dele e ele estava lá o Eduardo Cunha. Aí o Jader disse, 'porra, também é demais, né'.
MACHADO - Renan, não sei se tu viu, um material que saiu na quinta ou sexta-feira, no UOL, um jornalista aqui, dizendo que quinta-feira tinha viajado às pressas...
RENAN - É, sacanagem.
MACHADO - Tu viu?
RENAN - Vi.
MACHADO - E que estava sendo montada operação no Nordeste com Polícia Federal, o caralho, na quinta-feira.
RENAN - Eu vi.
MACHADO - Então, meu amigo, a gente tem que pensar como é que encontra uma saída para isso aí, porque isso aí...
RENAN - Porque não...
MACHADO - Renan, só se fosse imbecil. Como é que tu vai sentar numa mesa para negociar e diz que está ameaçado de preso, pô? Só quem não te conhece. É um imbecil.
RENAN - Tem que ter um fato contra mim.
MACHADO - Mas mesmo que tivesse, você não ia dizer, porra, não ia se fragilizar, não é imbecil. Agora, a Globo passou de qualquer limite, Renan.
RENAN - Eu marquei para segunda-feira uma conversa inicial com [inaudível] para marcar... Ela me disse que a conversa dela com João Roberto [Marinho] foi desastrosa. Ele disse para ela... Ela reclamou. Ele disse para ela que não tinha como influir. Ela disse que tinha como influir, porque ele influiu em situações semelhantes, o que é verdade. E ele disse que está acontecendo um efeito manada no Brasil contra o governo.
MACHADO - Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?
RENAN - O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá...
MACHADO - E ele estava, está disposto a assumir o governo?
RENAN - Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra...
MACHADO - Ela não tem força, Renan.
RENAN - Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu?
MACHADO - Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito.
RENAN - Tem não, porque vai mostrar as contas. E a mulher é [inaudível].
MACHADO - Acabou, não tem mais jeito. Então a melhor solução para ela, não sei quem podia dizer, é renunciar ou pedir licença.
RENAN - Isso [inaudível]. Ela avaliou esse cenário todo. Não deixei ela falar sobre a renúncia. Primeiro cenário, a coisa da renúncia. Aí ela, aí quando ela foi falar, eu disse, 'não fale não, pelo que conheço, a senhora prefere morrer'. Coisa que é para deixar a pessoa... Aí vai: impeachment. 'Eu sinceramente acho que vai ser traumático. O PT vai ser desaparelhado do poder'.
MACHADO - E o PT, com esse negócio do Lula, a militância reacendeu.
RENAN - Reacendeu. Aí tudo mundo, legalista... Que aí não entra só o petista, entra o legalista. Ontem o Cassio falou.
MACHADO - É o seguinte, o PSDB, eu tenho a informação, se convenceu de que eles é o próximo da vez.
RENAN - [concordando] Não, o Aécio disse isso lá. Que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o...
MACHADO - [Interrompendo] O Cunha, o Cunha. O Supremo. Fazer um pacto de Caxias, vamos passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente. Ninguém mexeu com isso. E esses caras do...
RENAN - Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso.
MACHADO - Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo.
RENAN - A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso.
MACHADO - Acaba isso.
RENAN - E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF].
MACHADO - Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela.
RENAN - Não negociam porque todos estão putos com ela. Ela me disse e é verdade mesmo, nessa crise toda –estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está gripada, muito gripada– aí ela disse: 'Renan, eu recebi aqui o Lewandowski,
querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável'.
MACHADO - Eu nunca vi um Supremo tão merda, e o novo Supremo, com essa mulher, vai ser pior ainda. [...]
MACHADO - [...] Como é que uma presidente não tem um plano B nem C? Ela baixou a guarda. [inaudível]
RENAN - Estamos perdendo a condição política. Todo mundo.
MACHADO - [inaudível] com Aécio. Você está com a bola na mão. O Michel é o elemento número um dessa solução, a meu ver. Com todos os defeitos que ele tem.
RENAN - Primeiro eu disse a ele, 'Michel, você tem que ficar calado, não fala, não fala'.
MACHADO - [inaudível] Negócio do partido.
RENAN - Foi, foi [inaudível] brigar, né.
MACHADO - A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente.
RENAN - Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele...
MACHADO - Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela?
RENAN - Não, [com] ela eu converso, quem conversa com ela sou eu, rapaz.
MACHADO - Seguinte, vou fazer o seguinte, vou passar no presidente, peço para ele marcar um horário na casa do Romero.
RENAN - Ou na casa dele. Na casa dele chega muita gente também.
MACHADO - É, no Romero chega menos gente.
RENAN - Menos gente.
MACHADO - Então marco no Romero e encontra nós três. Pronto, acabou. [levanta-se e começam a se despedir] Amigo, não perca essa bola, está no seu colo. Só tem você hoje. [caminhando] Caiu no seu colo e você é um cara predestinado. Aqui não é dedução não, é informação. Ele está querendo me seduzir, porra.
RENAN - Eu sei, eu sei. Ele quem?
MACHADO - O bicho daqui, o Janot.
RENAN - Mandando recado?
MACHADO - Mandando recado.
RENAN - Isso é?
MACHADO - É... Porra. É coisa que tem que conversar com muita habilidade para não chegar lá.
RENAN - É. É.
MACHADO - Falando em prazo... [se despedem]
MACHADO - [...] A meu ver, a grande chance, Renan, que a gente tem, é correr com aquele semi-parlamentarismo...
RENAN - Eu também acho.
MACHADO -...paralelo, não importa com o impeach... Com o impeachment de um lado e o semi-parlamentarismo do outro.
RENAN - Até se não dá em nada, dá no impeachment.
MACHADO - Dá no impeachment.
RENAN - É plano A e plano B.
MACHADO - Por ser semi-parlamentarismo já gera para a sociedade essa expectativa [inaudível]. E no bojo do semi-parlamentarismo fazer uma ampla negociação para [inaudível].
RENAN - Mas o que precisa fazer, só precisa tres três coisas: reforma política, naqueles dois pontos, o fim da proibição...
MACHADO - [Interrompendo] São cinco pontos:
[...]
RENAN - O voto em lista é importante. [inaudível] Só pode fazer delação... Só pode solto, não pode preso. Isso é uma maneira e toda a sociedade compreende que isso é uma tortura.
MACHADO - Outra coisa, essa cagada que os procuradores fizeram, o jogo virou um pouco em termos de responsabilidade [...]. Qual a importância do PSDB... O PSDB teve uma posição já mais racional. Agora, ela [Dilma] não tem mais solução, Renan, ela é uma doença terminal e não tem capacidade de renunciar a nada. [inaudível]
[...]
MACHADO - Me disseram que vai. Dentro da leniência botaram outras pessoas, executivos para falar. Agora, meu trato com essas empresas, Renan, é com os donos. Quer dizer, se botarem, vai dar uma merda geral, eu nunca falei com executivo.
RENAN - Não vão botar, não. [inaudível] E da leniência, detalhar mais. A leniência não está clara ainda, é uma das coisas que tem que entrar na...
MACHADO -...No pacote.
RENAN - No pacote.
MACHADO - E tem que encontrar, Renan, como foi feito na Anistia, com os militares, um processo que diz assim: 'Vamos passar o Brasil a limpo, daqui para frente é assim, pra trás...' [bate palmas] Porque senão esse pessoal vão ficar eternamente com uma espada na cabeça, não importa o governo, tudo é igual.
RENAN - [concordando] Não, todo mundo quer apertar. É para me deixar prisioneiro trabalhando. Eu estava reclamando aqui.
MACHADO - Todos os dias.
RENAN - Toda hora, eu não consigo mais cuidar de nada.
[...]
MACHADO - E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros.
RENAN - E tudo com medo.
MACHADO - Renan, não sobra ninguém, Renan!
RENAN - Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.'
MACHADO - Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan.
[...]
MACHADO - Não dá pra ficar como está, precisa encontrar uma solução, porque se não vai todo mundo... Moeda de troca é preservar o governo [inaudível].
RENAN - [inaudível] sexta-feira. Conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Otavinho [a conversa] foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios tem cometido exageros e o João [provável referência a João Roberto Marinho] com aquela conversa de sempre, que não manda. [...] Ela [Dilma] disse a ele 'João, vocês tratam diferentemente de casos iguais. Nós temos vários indicativos'. E ele dizendo 'isso virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo.'
MACHADO - Efeito manada.
RENAN - Efeito manada. Quer dizer, uma maneira sutil de dizer "acabou", né.
E o que se pode tirar disso? Bem, isto vamos analisar em outro post.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Twitter, seguir ou não?

Após a turbulência dos últimos dias (essencialmente devido a questão do afastamento da presidente), eu começo a pensar se devo ou não deixar de seguir algumas pessoas no twitter.

Eu explico...

As redes sociais tem um efeito curioso sobre as pessoas. Em geral tendemos a seguir pessoas que pensam mais ou menos como a gente, e isso cria um efeito "bolha" nas nossas opiniões.

Então, para contrabalançar este problema, eu tendo a seguir pessoas com opiniões diferentes da minha.

Mas agora há um problema: muitas dessas pessoas estão visivelmente irritadas pelo afastamento da presidente, e basicamente não sentem que suas mensagens se tornam ofensivas e até mesmo antagonísticas de pessoas que pensam diferente.

Mesmo eu, que não sou particularmente contrário ao afastamento, mas nem por isso sou favorável, me sinto atingindo pela bile e fel destas pessoas. Algumas afrontam a lógica, outros afrontam o direito de pensar diferente, mas todas tem o pensamento enraizado que o ocorrido foi um golpe.

Não foi golpe. Aliás ainda nem foi impeachment.

E claro passam a pecha de golpistas em todos que não concordam com eles.

Está ficando difícil seguir este pessoal.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

O placar final

O afastamento da presidente foi aprovado por 55 votos a 22.

E não é que manteve a proporção de 5/7 e 2/7?

Ou se preferirem 5 votos a favor para cada 2 votos contrários (5 a 2)

Ou seja: regra de 3
5 *11 a 2*11 = 55 a 22.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Momentos constrangedores

Primeiro o contexto: Waldir Maranhão anula votação do impeachment.

Agora o vídeo:


Depois a reviravolta: Waldir Maranhão revoga anulação.

A propósito, sou só eu ou o refrão "Não vai ter golpe! Vai ter luta!" soou mais como "Não, vai ter golpe! Vai ter luta!"

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Previsões sobre a eleição da Adunb

Eu resolvi dar um chute no resultado da eleição da Adunb. A ideia é usar as curtidas no facebook das páginas da três chapas:
E a partir daí dar um chute nos resultados.

O total de votantes da Adunb é em torno de 2,3 mil, mas na última eleição o número de votantes foi de 1189. O resultado foi:
Vamos supor que os percentuais se mantenham:
  • Chapa 1: 178/594 = 30%
  • Chapa 2: 338/594 = 57%
  • Chapa 3: 78/594 = 13%
Se isto se confirmar, as coisas não parecem boas para chapa 1. E isto é uma pena, pois esta é a chapa que eu apoio.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

E as causas?

Hoje li três notícias que me fizeram ficar pensando um pouco sobre os fundamentos do nosso país:


Depois de ler as mesmas e mais um artigo de opinião no correio brasiliense de hoje sobre as causas da lava-jato...

Eu cheguei a uma conclusão: o problema a ser resolvido é outro. Corrupção é sintoma e não causa.

E antes que digam, este não é um texto favorável ao PT ou a corrupção (as vezes parecem sinônimos)

Então vou fazer umas perguntas.

  1. Existe um número ótimo de partidos para uma democracia?
  2. É melhor que o presidente e o vice sejam da mesma coalizão eleitoral?
  3. Existe um sistema de votação melhor para cada país?
  4. Como garantir que o resultado de votação de urnas eletrônicas seja confiável?

Em cima destas perguntas é que eu pretendo me debruçar em posts futuros.

terça-feira, 3 de maio de 2016

O Estranho Caso da Analista de Banco que sabia mais do que o ex-presidente

Há diversas coisas curiosas a respeito do governo Dilma. E eu mesmo já falei de diversas delas.

Mas provavelmente uma das coisas que mais irritam e possivelmente ainda irão gerar lágrimas no futuro é a dissociação do discurso com a realidade.

Não estou falando em suavizar ou "jogar com os fatos" para manter a governabilidade. Eu estou falando de mentir na cara dura mesmo - quando os fatos deixam claro que é mentira sem vergonha mesmo, mas a mentira continua como se nada tivesse acontecido.

Isso é bem humano, mas demonstra uma tendência lamentável a se prender a preconceitos e crenças - algo quase religioso mesmo (e não estamos falando de religiões milenares não, estamos falando de crenças do tipo coelhinho da páscoa, papai noel ou coisa que valha).

Talvez o leitor acredite que estou sendo muito duro, que todos fazem isto, que o PT não inventou isso ou coisa parecida.

Mas, se o leitor permitir, eu vou relembrar uma história acontecida há pouco menos de 2 anos. Em julho de 2014, o Santander enviou a seus clientes premium uma carta alertando sobre o efeito negativo que uma reeleição de Dilma teria na economia.

A reação do governo foi imediata: condenação da carta pela presidente (talvez em um tom meio ameaçador - mas isso pode ser dos meus viéses). E do lado da artilharia pesada, o ex-presidente Lula disse de alto e bom tom que a analista responsável pela carta "não entende porra nenhuma do Brasil":

As palavras foram: Botin, é o seguinte querido. Eu tenho consciência de que não foi você que falou, mas essa moça tua que falou não entende nada de Brasil e não entende nada de governo Dilma. Manter uma mulher dessa em um cargo de chefia? Pode mandar embora.

A analista chefe, Sinara Policarpo, talvez nem tenha sido a autora da carta. Mas o fato é que o Santander e seu presidente pediram desculpas e ela foi demitida (não creio ter sido a única).

Claro que os blogueiros amestrados do governo atacaram o informe e a analista sem descanso.

Mas o tempo é o senhor da razão.

E cá estamos em 2016... Será que o conteúdo da carta se mostrou próximo ao acontecido? Será que a analista cumpriu o seu papel? Será que o banco foi subserviente ao governo? Será que o banco agiu nos melhores interesses de seus clientes? Vejamos o texto:

"Você e seu dinheiro

A economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta corrente. A quebra de confiança e pessimismo crescente em relação ao Brasil em derrubar ainda mais a popularidade da presidente, que vai caindo nas últimas pesquisas, e que tem contribuído para a subida do Ibovespa. Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e um o índice da Bovespa caíra, revertendo parte das altas recentes. Esse último cenário estaria mais de acordo com a deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos. Diante desse cenário, converse com o seu Gerente de Relacionamento Select para alocar seus investimentos da maneira mais adequada ao ser perfil de investimento."

Este comunicado é de julho de 2014.

  • O dólar estava a R$ 2,275 (em 31/07 - com o risco país a 212 pontos) 
  • O juro estava a 10,90% (em 31/07)
  • O Ibovespa estava a 61288,15

Estamos em maio de 2016

  • O dólar está a R$ 3,440 (em 30/04 - com o risco país a 385 pontos)
  • O juro está a 14,10% (Maio)
  • O Ibovespa está a 53561,54

O que indica que a análise enviada aos clientes estava certa. E também deixa claro que:

  1. O analista cumpriu seu papel
  2. O banco foi subserviente ao governo
  3. O banco não agiu no melhor interesse dos seus clientes.

Antes de finalizar quero clarificar alguns pontos. O fato do banco ter demitido os analistas após a divulgação do relatório lança suspeita sobre o banco e seu relacionamento com o governo. A resposta de Dilma foi até bastante comedida e a de Lula demonstra, se havia dúvidas, que ele realmente já incorporou a mentira e a acusação como método.

E a mesma coisa para os sites petistas. Eu vou me despedir com algumas pérolas que mostram que a radicalização não começou hoje, mas já vem de muito tempo.

  1. Conversa Afiada - "Precisamos da reforma política para impedir que o Banco Santander venha e diga para não votar na Dilma. Se é ruim para o Santander é bom para o país"
  2. Viomundo - "O banco espanhol Santander, acusado de ter ligações com a seita ultraconservadora Opus Dei, tirou a máscara de vez."
  3. Mandacaru 13 - "Quando a executiva sem juízo e noção do Santander elaborou um texto de caráter mequetrefe e rastaquera cujo objetivo era “orientar” seus clientes bem de vida quanto aos riscos de empregar suas fortunas no mercado brasileiro por causa de uma vitória eleitoral de Dilma Rousseff e, portanto, do PT. Evidentemente que tal banco estrangeiro está a fazer política e, não, como afirma o colunista de O Globo, Merval Pereira, que o Governo e lideranças, a exemplo de Lula e de Dilma, impeçam que o Santander expresse sua opinião sobre a situação econômica do País."