A primeira coisa que devemos fazer no casos desses áudios é estabelecer uma cronologia.
Pelas indicações na transcrição de ambos, as gravações ocorreram depois de 8 de março de 2016.
Isto é porque a popularidade de 18% de Moro em uma pesquisa para presidente que foi divulgada no dia 08/03/16.
Na transcrição da conversa com Jucá, Machado diz: "Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República". Então dá para colocar a data da gravação na vizinhança de 9 a 11 de março
O trecho na conversa com Renan:"Mesma coisa, já deu sinal com a filha do Eduardo e a mulher... Aquele negócio da filha do Eduardo, a porra da menina não tem nada, Renan, inclusive falsificaram o documento dela. Ela só é usuária de um cartão de crédito"
Esta notícia é de 09/03/16.
Já na conversa de Renan temos:"Que aí não entra só o petista, entra o legalista. Ontem o Cassio falou."
E aí eu aposto em 11/03/2016. A data é consistente com a condução coercitiva de Lula.
Então melhores chutes: a conversa de Romero ocorreu no dia 09/03 e a de Renan 11/03
Isto é depois da condução coercitiva de Lula. Mas antes da divulgação dos grampos de Lula por Moro.
Portanto, qualquer análise sobre o conteúdo tem de levar em conta o contexto que as conversas ocorreram depois da condução coercitiva de Lula mas antes da divulgação dos grampos por Moro. Ou seja, não havia ocorrido a mega manifestação pelo impeachment (13/03/2016) e a comissão do impeachment ainda não tinha sido formada (17/03/2016). (a cronologia pode ser vista aqui)
Vamos a uma cronologia das reviravoltas no processo na época das gravações então:
- Delação de Delcídio do Amaral - 03/03/16
- Condução coercitiva de Lula - 04/03/16
- Protestos de 13 de março - 13/03/16
- Lula Ministro - 16/03/16
- Vazam áudios de conversas de Lula e Dilma - 16/03/16
Então, é a luz destes acontecimentos que devemos analisar as transcrições. No caso de Jucá:
"Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá - [concordando] Só o Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá - Com o Supremo, com tudo.
Machado - Com tudo, aí parava tudo.
Jucá - É. Delimitava onde está, pronto.
Machado - Parava tudo. Ou faz isso... Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República?"
Então parar neste contexto pode também ser interpretado como parar o processo de impeachment e não necessariamente fazer o impeachment. Já no caso de Renan:
"MACHADO - E essa é a preocupação. Porque é o seguinte, ela [Dilma] não se sustenta mais. Ela tem três saídas. A mais simples seria ela pedir licença...
RENAN - Eu tive essa conversa com ela.
MACHADO - Ela continuar presidente, o Michel assumiria e garantiria ela e o Lula, fazia um grande acordo. Ela tem três saídas: licença, renúncia ou impeachment. E vai ser rápido. A mais segura para ela é pedir licença e continuar presidente. Se ela continuar presidente, o Michel não é um sacana...
RENAN - A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova..."
Também pode ser interpretado como Temer governando sob a batuta de Lula.
"MACHADO - Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?
RENAN - O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá...
MACHADO - E ele estava, está disposto a assumir o governo?
RENAN - Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra...
MACHADO - Ela não tem força, Renan.
RENAN - Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu?"
Também pode ser interpretado (com um certo sentido) em um Lula primeiro ministro de facto.
"MACHADO - A bola está no seu colo. Não tem um cara na República mais importante que você hoje. Porque você tem trânsito com todo mundo. Essa tua conversa com o PSDB, tu ganhou uma força que tu não tinha. Então [inaudível] para salvar o Brasil. E esse negócio só salva se botar todo mundo. Porque deixar esse Moro do jeito que ele está, disposto como ele está, com 18% de popularidade de pesquisa, vai dar merda. Isso que você diz, se for ruptura, vai ter conflito social. Vai morrer gente.
RENAN - Vai, vai. E aí tem que botar o Lula. Porque é a intuição dele...
MACHADO - Aí o Lula tem que assumir a Casa Civil e ser o primeiro ministro, esse é o governo. Ela não tem mais condição, Renan, não tem condição de nada. Agora, quem vai botar esse guizo nela?
RENAN - Não, [com] ela eu converso, quem conversa com ela sou eu, rapaz."
De novo faz sentido a hipótese do parlamentarismo com Lula primeiro-ministro.
"MACHADO - [...] A meu ver, a grande chance, Renan, que a gente tem, é correr com aquele semi-parlamentarismo...
RENAN - Eu também acho.
MACHADO -...paralelo, não importa com o impeach... Com o impeachment de um lado e o semi-parlamentarismo do outro.
RENAN - Até se não dá em nada, dá no impeachment.
MACHADO - Dá no impeachment.
RENAN - É plano A e plano B.
MACHADO - Por ser semi-parlamentarismo já gera para a sociedade essa expectativa [inaudível]. E no bojo do semi-parlamentarismo fazer uma ampla negociação para [inaudível].
RENAN - Mas o que precisa fazer, só precisa tres três coisas: reforma política, naqueles dois pontos, o fim da proibição..."
Me parece que isto soa como um grande acordo para escapar da cadeia.
"MACHADO - E tem que encontrar, Renan, como foi feito na Anistia, com os militares, um processo que diz assim: 'Vamos passar o Brasil a limpo, daqui para frente é assim, pra trás...' [bate palmas] Porque senão esse pessoal vão ficar eternamente com uma espada na cabeça, não importa o governo, tudo é igual."
Só me faz acreditar em um grande acordão com Lula primeiro-ministro.
"MACHADO - Não dá pra ficar como está, precisa encontrar uma solução, porque se não vai todo mundo... Moeda de troca é preservar o governo [inaudível].
RENAN - [inaudível] sexta-feira. Conversa muito ruim, a conversa com a menina da Folha... Otavinho [a conversa] foi muito melhor. Otavinho reconheceu que tem exageros, eles próprios tem cometido exageros e o João [provável referência a João Roberto Marinho] com aquela conversa de sempre, que não manda. [...] Ela [Dilma] disse a ele 'João, vocês tratam diferentemente de casos iguais. Nós temos vários indicativos'. E ele dizendo 'isso virou uma manada, uma manada, está todo mundo contra o governo.'
MACHADO - Efeito manada.
RENAN - Efeito manada. Quer dizer, uma maneira sutil de dizer "acabou", né."
Para mim essa é a pérola: Dilma se reunindo com os "donos da mídia" para debelar a crise.
Pois é, datas são fundamentais...