Bem, como sempre estamos vivendo as consequências das nossa decisões passadas. Estamos em 2025 e já esquecemos não só tudo que passou, mas até como chegamos aqui. Em parte isso é compreensível dado o volume de informações que temos que lidar toda hora.
Mas ao mesmo tempo é revistando o passado que temos chance
de entender uma pouco mais sobre nosso presente. E nesse post em particular eu
quero relembrar algo que escrevi em 2019:
“Bem, aqui na terrinha as coisas andam mais estranhas do
que de costume.
Nesta semana o Supremo Tribunal Federal resolveu multar uma revista em
R$ 100 mil diários devido a uma notícia que comprometia um dos membros da
corte.
A razão foi a mensagem que o tal membro da corte enviou para outro membro da
corte. Em resumo, o argumento é que a notícia é "Fake News"
e portanto deve ter sua disseminação coibida.
O problema é: a notícia não é falsa.
E mais ainda: o documento que comprova que a notícia não é falsa foi retirado
do processo original (aparentemente de modo ilegal - vide aqui).
Então, há uma confusão armada. Os doutos da lei foram pegos de calças curtas, e
ao invés de voltarem atrás, resolveram dobrar as apostas.
Há várias lições a serem aprendidas aqui.
A primeira é que se deve ter muito cuidado com a ideia de se controlar o que é
fake news ou não. O melhor é indicar para as pessoas como identificar, os
efeitos que pode ter e suas consequências. Afinal, se não podemos confiar no
julgamento das pessoas, então em quais julgamentos poderemos confiar?
Designar o que é fake ou não é algo complicado. Astrologia, poder das
pirâmides, poder dos cristais e coisas fins são fake news? Estritamente falando
são, mas ao mesmo tempo podem ser vistas como formas de entretenimento.
A ideia de controlar o que as pessoas tem acesso e o que consomem é algo bem
mais complexo do que era no passado. O monopólio da informação não é mais o
mesmo. E isso é algo que certos "doutos" não conseguiram entender
ainda. É muito fácil que a alcunha de "Fake News! seja usada
indiscriminadamente como uma forma velada de censura.
Segundo: não há nada errado em admitir que errou. O problema, como já disse
antes, é uma vez conhecido o erro, o que se faz a partir disto... Geralmente, a
vaidade ou a noção de auto importância criam entraves para admissão do erro
nestas situações. E isso é ruim.
Terceiro: reputação é algo que se constrói com o passar dos anos. Destruição de
reputação é algo que se consegue em minutos;
Mas, duvido que os envolvidos entendam (ou queiram entender isso)”
Este incidente foi um divisor de águas na atuação do STF, e
quase ninguém se lembra.
E devo relembrar o que eu escrevi:
“A primeira é que se deve ter muito cuidado com a ideia
de se controlar o que é fake news ou não. O melhor é indicar para as pessoas
como identificar, os efeitos que pode ter e suas consequências. Afinal, se não
podemos confiar no julgamento das pessoas, então em quais julgamentos poderemos
confiar?”
Essas linhas forma escritas mais ou menos na mesma época que
as agências de checagem começaram a sair da caixinha (lembram da cartilha
contra racismo da agência Lupa?). Isso caracteriza o mau uso do instrumento
de checagem com o objetivo de avançar uma agenda específica (nem entro no
mérito se a agenda é boa ou não – não é este o problema).
O problema é que mentir ou distorcer a verdade para alcançar
um objetivo (seja bom ou não) destrói a confiabilidade da agência. E aí pouco
importa a intenção se o objeto principal de existência de um instrumento de
checagem foi corrompido. É o velho problema de envenenar o poço: não dá para
usar nada que venha dele daí em diante.
E isso me leva de volta ao STF. Esperar que um tribunal
acerte sempre é tolice, mas esperar que o tribunal nunca erro também é tolice. E
aí temos uma situação curiosa: o
tribunal revogou a censura – portanto reconheceu seu erro. E isso é uma
coisa boa, mas...
O problema é que de lá para cá a censura
meio que tomou conta das decisões do STF. E isso não é uma coisa boa.
Porque essa posição? Não sei... talvez os ministros achem
que se der errado podem voltar atrás mais tarde, como aconteceu com a Lava
Jato. Talvez acreditem que estão absolutamente certos, ou talvez acreditem que dadas
as diversas possiblidades este é o melhor curso a ser tomado. Talvez algo mais
sinistro? No fim isso nem importa tanto assim (lembrem-se: ações tem
consequências, palavras tem no máximo intenções)
Em última análise os motivos nem são tão relevantes assim: houve
uma mudança de direção, e no sentido de restringir a liberdade das pessoas. E olhando
de fora, as decisões parecem ter um lado.