Um ponto um pouco menos implícito na
última análise é que na realidade o retorno depende da variância. Idealmente
temos um nível de referência de retorno ( – que é a taxa de menor risco – geralmente o
valor de títulos da dívida pública do tesouro). Para que outro investimento
seja atrativo é necessário que seu retorno seja maior que o nível de referência
de retorno (
), mas ao mesmo tempo
este investimento não pode ter variância menor que do nível de referência (do
contrário este seria o novo nível de referência).
Assim, associado a este retorno temos de
ter uma variância maior e com isso o retorno e variância estão ligados entre
si. Podemos pensar em um investimento como uma equação do tipo:
Onde é o valor do investimento no tempo k-1 e
é a taxa de crescimento do investimento. Esta equação é diretamente relacionada com o
modelo de passeio aleatório (Random Walk) usado em diversas áreas da ciência, e
no caso de ações temos o modelo:
Onde equivale a uma média de retorno e
é uma variável aleatória de média zero e
variância determinada. Podemos relacionar as duas expressões fazendo:
Ainda há muita discussão sobre a
aderência desse modelo ao mercado real de ações, e sobre qual distribuição de
variável aleatória é mais adequada. O fato é que além das questões do modelo,
ainda há o fator que provavelmente a média e variância da variável aleatória
não são constantes no tempo (o que complica significativamente o problema). Mas
ainda assim o modelo tem suas vantagens:
Nele a taxa de crescimento é uma variável aleatória com uma média e
variância que podem ser independentes ou não do tempo. Mas, mesmo com essa incerteza
podemos escrever esta mesma expressão em termos do investimento inicial x0:
Isso mesmo sem sabermos a respeito da invariância
da variável aleatória. Podemos reescrever o problema usando:
Chamando:
Temos:
Aqui podemos aplicar alguns teoremas da
estatística para tentarmos obter mais profundidade na solução mesmo com alguns
problemas (correlação entre variáveis e distribuições diferentes). Mas em uma
primeira aproximação podemos aproximar a soma das variáveis aleatórias por uma
distribuição gaussiana:
Essa característica é relevante: uma
forma de ver isso é rearranjando a equação novamente:
Então em uma primeira aproximação, os
retornos são distribuídos segundo uma log-normal. Algumas das características
da log-normal são:
Já a variância é dada por:
Onde e
são a média e o desvio padrão da distribuição
normal
. Esse resultado pode
ser visto como uma primeira aproximação (sem correlações e mudanças pequenas na
variância das distribuições que formam a série temporal).
A priori para utilizar essas informações em
um caso prático temos de considerar intervalos sem grandes mudanças (tempos
calmos – ou seja, média e variância constante). Em princípio, já que temos:
Podemos usar:
Com estas estimativas podemos encontrar
os dados para montar carteiras de investimento. Num exemplo da ação da
Microsoft (de Abril a Outubro de 2025) temos:
Mas esta não é a única forma. Podemos
também usar:
Considerando um ponto de partida:
Daqui podemos estimar a média e variância
da variável aleatória:
Com estas estimativas podemos finalmente
encontrar os dados para montar carteiras de investimento usando os dados do
exemplo anterior:
Esta segunda forma é bem utilizada em
diversos modelos de aplicação. Mas fica claro que a despeito das diferenças na
formulação, os resultados de média e desvio padrão são muito próximos.
Mas como decidir qual das formas
utilizar? Com relação aos valores calculados, as duas são equivalentes. Isso
pode ser visto olhando os dados da variação diária considerando as barras de
três desvios padrões.
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Variação
do preço da ação segundo modelo exponencial |
Variação
do preço da ação segundo modelo simplificado |
Ambos se comportam essencialmente da
mesma forma, mas há um ponto que foge dos três desvios padrões, chegando a
quase cinco desvios padrões. Isso é uma indicação que a suposição de que a taxa
é invariante no tempo não é estritamente verdade, mas para maior parte dos
dados a suposição é razoável (o que pode ou não ser aceitável dependendo da
natureza do uso do modelo). Dada a similaridade até nos valores da média e
desvio padrão, podemos usar o modelo simplificado para fazer previsões de curto
prazo:
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Simulação: dados reais são a linha mais
grossa |
A razão da similaridade é explicada
considerando que a taxa é pequena, assim:
Note que se o intervalo fosse escolhido
de forma a excluir os primeiros dados teríamos um resultado substancialmente
melhor de aderência do modelo. Isso indica claramente que a média e a variância
não são realmente constantes na análise. Mesmo assim, a análise usando o
retorno logarítmico permite ver a densidade de probabilidade (mesmo sabendo que
está é uma aproximação). No entanto temos que lembrar que esta curva é obtida
após a k-ésima operação, o que significa que:
Isto pode ser verificado usando a equação
de valor esperado da mediana:
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Densidade de Probabilidade de retorno |
O que tiramos desta análise? A principal
informação é que o retorno no caso de variáveis aleatórias não depende apenas
da média das variações, mas também da variância. Este tipo de análise também
pode ser usado para obter os intervalos de confiança, o que permitiria
determinar retornos mínimos e máximos dentro de uma dada probabilidade. Mas
nesse ponto temos que lembrar das aproximações realizadas aqui:
1)
Média e variância constantes no tempo
(tempos calmos)
2)
Independência (fraca) entre amostras
3)
Número adequado de amostras para estimar
média e variância
Mesmo com isso, ainda é possível usar o
modelo para fazer estimativas razoáveis. Por exemplo, intervalos do valor da
ação
- 90% - US$ 418,92 e US$ 646,80
- 95% - US$
401,85 e US$ 674,29
- 99% - US$ 370,47
e US$ 731,41
É interessante observar que esse modelo
permite fazer estimativas futuras com intervalos de confiança. Mas isso vamos
ver em mais detalhes em um post futuro.