Existem diversas técnicas para tentar estimar o valor de uma ação (portanto o valor de uma empresa). A questão é bem enrolada e não existe um método exato. Mas antes de entender o valor de uma ação temos de entender como uma empresa realmente funciona.
Então vamos supor que você resolver fazer
uma empresa que faça um produto (por exemplo: canetas). Bom, temos que
conseguir dinheiro para montar a empresa, ou seja alugar ou comprar o local da
fábrica, construir a fábrica, comprar equipamentos, contratar pessoal, pagar
todos os impostos e taxas necessárias, ter uma rede de distribuição e assim por
diante.
Nada desses itens é de graça. Vamos ver
como podemos ter recursos financeiros para montar a empresa:
1.
Você é rico o suficiente: se você tiver
dinheiro suficiente, você pode montar tudo isso sem ajuda de ninguém. Mas o
risco e o controle sobre a empresa são seus. Já se não tiver dinheiro
suficiente é necessário conseguir o dinheiro.
2.
Você não é rico o suficiente: nesse caso
você pode arranjar um ou mais sócios para dividir os custos. Você vai abrir mão de parte do controle e
talvez tenha obrigações a serem cumpridas periodicamente com seus sócios.
Em geral as empresas acabam fazendo uma
mistura das opções de sociedade acima como forma de financiamento. Você tem
empresas com vários sócios, que contraíram empréstimos e que tem ações no
mercado. E infelizmente também temos casos com financiamento direto ou indireto
pelo governo também. Eu não vou entrar na questão de múltiplas fontes diretamente
porque isso só complica a análise inicial.
Então antes de montar sua empresa, você
tem de se perguntar se vale a pena. Os gastos envolvidos na montagem da empresa
e comercialização das mercadorias serão cobertos pelas possíveis receitas? Existe
mercado para o produto? Qual a fatia deste mercado é necessária para que a
empresa se mantenha funcional? Vamos a um exemplo fictício bem simplificado do
mercado de canetas:
·
Gasto inicial: R$ 1 M
·
Despesas recorrentes (ano): R$ 500k
·
Receitas (ano): R$ 800k
Fazendo uma tabela:
|
Ano
|
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
|
Anterior |
R$ 1 M |
R$ 700 k |
R$ 400 k |
R$ 100 k |
R$ 200 k |
|
Despesas |
R$ 500k |
R$ 500k |
R$ 500k |
R$ 500k |
R$ 500k |
|
Receitas |
R$ 800k |
R$ 800k |
R$ 800k |
R$ 800k |
R$ 800k |
|
Resultado |
R$ 700 k |
R$ 400 k |
R$ 100 k |
R$ 200 k |
R$ 500 k |
A cor vermelha indica despesa e azul
indica receita. Então vemos que a companhia sai do vermelho no ano 4 e começa a
crescer a partir do ano 5. Se prosseguirmos teremos um crescimento sem limites
(300k por ano). Teremos que o valor no ano n () é o valor no ano n-1 (
) mais R$ 300 k (
):
Esta é equação básica: se o resultado é
positivo a empresa cresce, se é negativo a empresa acaba. No exemplo a receita
é constante, mas na realidade depende também da fatia do mercado que é servida
pela empresa. Já a despesa provavelmente tem um fator constante, mas o aumento
na receita de vendas provavelmente demandará gastos adicionais com máquinas ou
trabalhadores. Assim na medida que a fatia de mercado aumenta, os gastos e
receitas também irão aumentar. Então, podemos tentar relacionar as receitas e
os gastos com a fatia de mercado que a empresa atua :
Vamos usar a série de MacLaurin para
obter uma expressão linearizada a partir da fatia do mercado que a empresa atua
:
Aqui, f(0) e g(0) são despesas
recorrentes INDEPENDENTES da fatia do mercado que empresa ocupa (exemplo: água,
luz, aluguéis, etc...). Podemos reescrever a equação:
Podemos até escrever agora a equação do
valor sem entrarmos na despesa e receita:
Como o mercado é feito de usuários então
temos a unidades dos coeficientes:
Para clarificar um conjunto possível de
valores que é compatível com o exemplo que usamos é:
Então agora precisamos sair do nosso
exemplo simplificado e começar a incluir os efeitos do mercado que a empresa
serve. Então vamos dizer que o preço de venda de uma caneta seja R$ 1,00/pessoa
e o custo seja R$ 0,36/pessoa. Isso quer dizer que:
Além disso, vamos supor que a empresa não
tem outra fonte de renda além da venda de canetas:
Supondo um mercado constante na faixa de 1.25
milhões pessoas temos:
Efetivamente, os resultados são idênticos
ao da tabela.
Mas aqui usamos um tamanho de mercado
fixo. Na realidade este tamanho é variável, então como encontrar o mercado da
empresa? Bem, podemos usar conceitos de ecologia (capacidade de um ecossistema).
O tamanho do mercado não é infinito,
portanto vamos considerar que o mercado da empresa é F(t) e que o tamanho do
mercado possível para empresa é e o tamanho inicial é
. A representação de
equação diferencial é:
A solução dessa equação é:
A equação também pode ser expressa em
termos de diferenças:
Com uma pequena mudança de variáveis
podemos normalizar o problema:
Assim:
Então temos um sistema com três equações:
Em tese estas três equações podem ser
usadas para determinar o valor desta empresa em qualquer instante de tempo. Podemos
até modificar a equação para incluir emissões de ações e outros tipos de práticas.
Mas em casos reais tudo é mais complicado, pois a taxa de crescimento é variável no tempo e mesmo alguns do fatores
conhecidos (
e
) também podem se
alterar no tempo. Ainda há a questão de competição de vária empresas pelo mesmo
mercado que irá alterar a equação da fatia do mercado.
Esta última parte é importante: o mercado
é acoplado. Na realidade, mesmo que estejamos tratando de empresas de segmentos
diferentes a alocação de recursos finitos em um conjunto finito de empresas
cria um mecanismo de acoplamento.
Este acoplamento tem consequências importantes
e afeta mesmo a distribuição de probabilidade que vimos anteriormente. Mas
antes de chegarmos nesses pontos temos de ver alguns exemplos, e isso fica para
um próximo post.